Análise

FGV: Balança atinge o maior superávit na série histórica

Atualizado 06/03/2024 às 10:59:40

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Da Fundação Getúlio Vargas, em 21/12/2023

Dada a proximidade com o fechamento da balança comercial de 2023, optamos por apresentar uma síntese dos resultados até novembro e uma análise detalhada será apresentada na edição de janeiro de 2024 do ICOMEX. Antes, porém, iremos destacar alguns pontos que marcaram a agenda do comércio exterior do Brasil , em dezembro.

Em dezembro foi realizada a 63ª Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul. Destacamos três fatos. Foi assinado o acordo Mercosul-Singapura. O país é o oitavo no ranking do destino das exportações brasileiras com participação de 2,3% e o 41º nas importações. Até novembro de 2023, 65% das exportações brasileiras eram de óleos combustíveis e 15% de óleo bruto. É pouco provável, pelo menos num horizonte de curto a médio prazo, que se diversifique essa pauta. O acordo pode ser um facilitador para as empresas brasileiras que utilizam as vantagens tributárias oferecidas pelo país e um sinal do interesse do Mercosul na Ásia. Acordos com as grandes economias da região como a China, Coreia do Sul e Japão, por exemplo, suscitam reações de proteção por parte do setor industrial no Mercosul, em especial Brasil e Argentina, ou tem se mostrado díficeis na conciliação dos interesses defensivos (caso da Índia).

Foi também assinado o Protocolo de Adesão do Estado Plurinacional da Bolívia ao Mercosul. A Bolívia é o 35º  destino das exportações brasileiras e o 30º país de origem das importações brasileiras. As importações de gás natural representam 87% das compras brasileiras e a pauta de exportações é diversificada predominando produtos da indústria de transformação. O país possui diversidade de reservas minerais tradicionais como  zinco, estanho, antimônio, prata e minerais raros como lítio. Sob esse aspecto, a entrada da Bolívia pode estimular parcerias para exploração desses minerais e acordos para transição energética.

O terceiro foi a não assinatura do Acordo Mercosul-União Europeia, que seria um fecho que marcaria o término da presidência pró-tempore do Brasil no Mercosul. Num mundo de incertezas de alianças politicas e econômicas, o acordo teria uma contribuição positiva para o multilateralismo, afastando-se da polarização entre Estados Unidos e China. Do ponto de vista do comércio, garantiria maior grau de previsibilidade para o setor agropecuário, pois as negociações da Organização Mundial do Comércio estão estagnadas.

Para a indústria, as tarifas de importações sobre produtos industriais já são baixas na União Europeia, o maior impacto seria o acesso a bens de capital e intermediários a custos mais baixos que poderiam ter um impacto positivo na redução dos custos de produção da indústria brasileira. Além disso, poderia facilitar parcerias nas áreas de investimentos em transição energética. Outro ponto a destacar: num cenário em que a União Europeia opta por medidas unilaterais que fazem parte da sua agenda de mudança climática, como a taxa de carbono na fronteira (Carbon Border Adjustment Mechanism -CBAM) e listas relacionados de mercadorias produzidas em áreas de desmatamento, um diálogo permanente com a União Europeia é importante. 

Observa-se que as negociações irão continuar, segundo os governos da União Europeia e do Mercosul, mas as incertezas parecem ter aumentado. 

Resultados da Balança Comercial de novembro
A variação do volume exportado na comparação mensal continua positiva e foi de 4,7%, enquanto o das importações repetiu a sua tendência de queda com recuo de 3,2% (Gráfico 1). A variação interanual mensal dos preços foi negativa ao longo do ano, exceto nos dois primeiros meses do ano para as exportações e para as importações, as exceções foram os meses de janeiro e março. Na comparação interanual do mês de novembros, os preços exportados recuaram 4,2% e os importados, 8,3%.(Gráfico 2). 

Na comparação do acumulado do ano até novembro, a variação em valor das exportações foi de 1,0%. Esse pequeno valor se explica pela queda de preços em 7,0% que compensou parte do aumento do volume em 8,7%. No caso das importações, o recuo em valor foi de 11,8%, explicado pela queda de preços ( 9,5%) e de volume, 2,4% (Gráfico 3).

O aumento das exportações está associado ao desempenho das commodities (Gráfico 4). Em volume, as exportações aumentaram 21,2% na comparação interanual do mês de novembro e recuaram em 5,8% para as exportações de não commodities. No acumulado do ano até novembro de 2023 em relação a igual periodo de 2022, a variação do volume exportado das commodities foi de 13,5% e das não commodities, uma queda de 1,7%. Os preços das commodities caem no acumulado do ano em 9,5% e das não commodities aumentam 0,5% (Gráfico 4). 

No mês de novembro, a variação em volume do complexo soja foi de 60,4% e do grupo de petróleo e derivados recuou 13,9%. No entanto como mostra a Tabela 1 as exportações de petróleo e derivados (22,5%) seguida do complexo soja (21,8%) lideram a quantidade exportada no acumulado do ano até novembro. Todos os outros grupos registraram variação positiva, exceto carnes, com queda de 3,1%. Preços caem para todas as commodities, exceto outros agrícolas. 

Os termos de troca continuam mantendo um comportamento estável e a variação entre os meses de novembro foi de 0,7%. No acumulado do ano até novembro, foi 2,8%, com uma variação negativa menor dos preços exportados (7,0%) do que o dos importados (9,5%). Ver Gráfico 5.

A indústria agropecuária liderou o volume exportado no mês de novembro, com variação de 51,9% em relação a igual período de 2022. Como antes mencionado, as exportações do complexo soja aumentaram 60,4% entre os meses de novembro. Se considerarmos, porém somente a soja, o aumento da quantidade foi de 105,8%. A indústria extrativa elevou o volume exportado em 5,2% e o da transformação recuou em 6,1%. Na comparação do acumulado do ano, a agropecuária mantém a liderança com aumento de 25,0% seguida da extrativa, 18,8%, Os preços caem para todos os setores.

A variação no volume, preços e valor das importações em todos os setores foi negativa, seja na comparação mensal ou do acumulado do ano. As únicas exceções, mas com variações pequenas é o aumento de 1% para a indústria de transformação e de 0,7% para a extrativa no mês de novembro.

O Gráfico 8 registra o aumento em 62,0% das importações de bens intermediários da agropecuária em contraste com a queda de 6,5% para a indústria de transformação, sugerindo que o setor agropecuário continua com perspectivas favoráveis para 2024. Especialistas do setor de agropecuária esperam que o país terá a segunda maior safra em 2024, após a de 2023. Mesmo que o volume da agropecuária recue em relação a 2023, o nível da safra será positivo para as exportações. No acumulado do ano até novembro, a variação dos índices é mais favorável para a agropecuária do que para a indústria de transformação. Chama atenção a variação de 31,9% nas importações de bens de capital da agropecuária e a de 2,3% para a transformação. 

A China explicou 52,3% do superávit de US$ 89,5 bilhões da balança comercial do Brasil no acumulado do ano até novembro. Os Estados Unidos contribuíram com a redução do déficit de US$ 13,6 bilhões para US$ 1,6 bilhões e a Argentina com o aumento do superávit de US$ 2,3 bilhões para US$ 4,8 bilhões. Para todos os outros mercados selecionados houve redução de superávit.

O Gráfico 10 mostra a variação no volume exportado pelos mercados selecionados. Destaca-se a liderança da China em termos de volume, com aumento de 29,3%, no acumulado do ano até novembro. Nessa mesma base de comparação, a Argentina registra a segunda maior variação, com aumento de 9,4%%, seguida dos Estados Unidos com variação de 6,4%. Observa-se que o aumento no acumulado do ano para a Argentina deverá cair até o final de 2023, pois, desde agosto, a variação em relação a iguais meses de 2022 tem sinal negativo. Em novembro, o recuo no volume exportado foi de 18,3%. 

No volume importado (Gráfico 11)  é repetida a tendência já observada em meses anteriores. China e demais países asiáticos registram variação positiva nas importações e o restante dos mercados, variação negativa. Chama atenção a queda do volume importado para os Estados Unidos de 21,1% na comparação do acumulado do ano. Esse resultado junto com aumento do volume exportado em 6,4% ajudam a entender a redução do déficit na balança bilateral Brasil-Estados Unidos. Observa-se que a diferença na variação dos preços é pequena, sendo ambas negativas: exportações (7,1%) e importações (6,6%). 

BOX: O que esperar da Argentina?
Na edição do ICOMEX de novembro escrevemos que a vitória de Milei na Argentina levanta preocupações para o comércio externo brasileiro. Os riscos surgiriam com as incertezas trazidas por pronunciamentos durante a campanha presidencial. A saída unilateral do país do Mercosul, se ocorresse traria impactos negativos para as exportações brasileiras beneficiadas com acordos (caso automotivo) e tarifas preferenciais.

O pragmatismo, porém, prevaleceu. Acenos da importância do Brasil para a Argentina foram reiterados pelo novo presidente. Pode ser que o novo governo queira voltar ao tema do fim da união aduaneira ou reforma da tarifa externa comum. Nesse caso é uma pauta que já faz algum tempo ronda o cenário do Mercosul.
Quanto ao futuro da Argentina com as medidas do novo governo é outra questão. De qualquer forma a esperada piora no crescimento da Argentina indica que as exportações brasileiras deverão continuar declinando para o mercado argentino.

Veja o estudo completo da FGV

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