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É preciso fortalecer o ecossistema brasileiro de cooperativas de crédito independentes
Por Felipe Santiago, CEO da CashWay
Comemoramos em março o Dia da Integração Cooperativista no Brasil. Este ano, ele veio relembrar a importância de fortalecer o cooperativismo de crédito independente, que representa 26% do total da categoria no país.
As Cooperativas de Crédito independentes foram fundadas inicialmente para atender as demandas de crédito de setores e pessoas com pouco acesso ao Sistema Financeiro Nacional. Um bom exemplo disso são as cooperativas de crédito rurais formadas por pequenos produtores, que não tinham acesso ao crédito através dos bancos tradicionais, como os latifundiários.
Para aumentar a relevância das suas solicitações junto aos bancos, os produtores se reuniram em associações para pleitear suas necessidades locais em instituições nacionais, como o Banco do Brasil, por exemplo. Dessa forma, as cooperativas de crédito independentes foram importantes para o desenvolvimento de muitos municípios do interior, principalmente aqueles com economia baseada na agricultura familiar.
Com o desenvolvimento do mercado e a criação de grandes redes, elas continuaram representando esses trabalhadores, mas expandiram também a atuação para diferentes setores da sociedade. Mas as cooperativas independentes permanecem fieis a essa característica fundamental, alcançando municípios e pessoas que outras instituições financeiras não atendem.
O número dessas instituições, no entanto, tem caído nos últimos anos. Segundo dados do Banco Central (BC) o total de cooperativas independentes no Brasil passou de 222 em 2020 para 209 em 2023, uma queda de 5%.
Representatividade
Sou um grande entusiasta de cooperativas. Durante oito anos trabalhando no setor – diretamente na operação, bem como membro da diretoria – pude ver com meus próprios olhos o impacto que elas oferecem a pequenas cidades do interior em todo o Brasil.
É possível ver claramente a economia de pequenas cidades aflorar após a fundação de uma cooperativa, onde anteriormente só existia uma lotérica para pagar contas e nenhuma estrutura bancária. Por isso, a tendência de incorporação de cooperativas independentes por grupos maiores, me preocupa.
Cooperativas integradas a centrais têm a vantagem de receber recursos e tecnologia de forma mais rápida mas, em contrapartida, quando um grupo olha para as necessidades de cidades maiores (não necessariamente metrópoles), elas organicamente terão prioridade com relação a regiões menos favorecidas. Isso cria lacunas e deixa o interior ainda mais distante economicamente. Dessa forma, ela deixa de trazer retorno para a comunidade onde ela foi fundada.
Esse movimento tem ocorrido principalmente pelo fato de não existir uma associação ativa e atuante que represente sua força e suas demandas diretamente ao Banco Central. Por isso, cooperativas integradas a centrais, acabam tendo uma representatividade maior junto ao BC. Ou seja, quanto maior a entidade, maior sua força de representação.
É importante frisar que o Banco Central não é um vilão no tema e que todas as categorias de entidades financeiras merecem a atenção do órgão. No entanto, o fortalecimento do ecossistema de cooperativas de crédito independentes é essencial para acelerar o desenvolvimento econômico no interior e, além disso, garantir que esse público seja atendido de forma democrática.
Além disso, a crescente incorporação de cooperativas faz com que se perca a competitividade, e consequentemente uma queda na qualidade de atendimento. Afinal, uma central nem sempre é capaz de conhecer as demandas específicas do usuário na ponta.
O artigo aqui publicado não representa necessariamente a posição do BDM