Diversos

CPI nos EUA calibra apostas para Fed de setembro

Atualizado 12/07/2023 às 01:24:49

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[12/7/2023]


… As promessas em Brasília de que a reforma tributária vai tramitar rápido no Senado ajudaram a desanuviar o ambiente de negócios na tarde desta 3ªF e afastaram o dólar das máximas. Mas o maior desafio da semana para o câmbio vem hoje da inflação ao consumidor nos EUA (CPI), às 9h30. Também o Livro Bege (15h) pode influenciar. Uma alta de 25 pontos-base do juro pelo Fed daqui a duas semanas está dada. Mas setembro é a aposta que vale dinheiro. Os falcões do BC americano continuam projetando a chance de o ciclo se estender, mas as apostas do mercado no CME desafiam o conservadorismo do Fed e precificam só mais um aperto no ano.

… Esta expectativa de uma única alta, ao invés de um ajuste duplo, sairá fortalecida hoje, se o CPI confirmar a previsão de perda de ritmo em junho. Seria o segundo dado dovish em cinco dias nos EUA, depois do payroll.

… O índice cheio do CPI deve desacelerar de 4% em maio para 3,1% em junho, na leitura anual, segundo a mediana do Projeções Broadcast. O núcleo da inflação também aponta fôlego menor, de 5,3% para 5,0%.

… Na margem (comparação mensal), as expectativas dos analistas de mercado apontam para avanço de 0,3% tanto do índice cheio como do núcleo no mês passado, após as altas de 0,1% e 0,4%, respectivamente, em maio.

… É verdade que o CPI não é o indicador predileto de inflação do Fed, que prefere a metodologia do PCE. Ainda assim, o dado não pode ser desprezado, porque o jogo está sendo jogado e a pausa em setembro está no radar.

… Por aqui, os dados do IPCA, nesta 3ªF, mexeram com apostas para a Selic em agosto na curva a termo, que estavam divididas ao meio. A chance de o juro cair menos (0,25 pp) se tornou majoritária (foi de 50% para 60%).

… O indicador oficial do IBGE apresentou em junho deflação (-0,08%) mais moderada do que a mediana das estimativas (-0,10%), com pressão no setor de serviços, onde os preços saltaram de -0,06% em maio para 0,62%.

… No final da tarde, durante evento em Goiás, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Abry Guillen, disse que a inflação de serviços e dos núcleos, “que têm mais inércia”, está no foco do Copom neste momento.

… Ele voltou a citar a dinâmica de desinflação em duas fases: uma maior e mais rápida, que já se encerrou (com os alimentos e bens industriais mostrando comportamento mais benigno), e uma segunda fase, mais lenta.

… Guillen chamou a atenção para a desancoragem das expectativas em prazos mais longos que, segundo ele, “nutrem” o processo de preços e citou o hiato do produto como ponto de preocupação do balanço de riscos.

… Os novos diretores do BC (Galípolo e Aquino) assumem oficialmente os cargos hoje, em cerimônia fechada (10h). Eles chegam ao BC em um momento importante, de virada no ciclo, que levou a Selic até quase 14%.

REFORMA TRIBUTÁRIA – Os mercados domésticos melhoraram à tarde, com o dólar se afastando das máximas e os DIs zerando as altas, depois de Pacheco indicar a intenção de votar o texto até meados do 2º semestre.

… Ele descartou a possibilidade de fatiar a proposta como forma de acelerar a aprovação dos pontos já de consenso entre os setores. “É importante que haja uma inteireza considerando o sistema tributário”, disse.

… Mais tarde, também o senador Eduardo Braga (MDB), escolhido relator da reforma tributária, considerou que o cenário mais provável é de aprovar a matéria no Senado até a metade de outubro, para devolver à Câmara.

… Ele antecipou que o texto vai sofrer ajustes, mas que estima a promulgação da PEC ainda este ano. Braga não quis especificar as mudanças que serão feitas na reforma, que abriu uma crise entre os Estados ricos e pobres.

… Virou alvo de disputa a partilha dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional e a governança do Conselho Federativo (que passaria a administrar a arrecadação conjunta de Estados e municípios).

… Braga defendeu que, se não houver mudanças no texto, seria como “inviabilizar a voz de 81 senadores”.

… Assim como Pacheco, ele rejeitou a ideia de fatiar a reforma, que vinha sendo aventada pelo ministro Haddad. “Terá de ser tratada como um todo para que não fique atrofiada de um lado e capenga do outro”, disse o senador.

… Também foi bem recebida pelos investidores ontem a decisão estratégica da articulação política do governo de recuar do decreto que alterou as regras sobre saneamento básico. O gesto evitou uma derrota anunciada no Senado.

… Diante da saída acertada com a oposição, até amanhã serão editados os novos decretos para regulamentar o marco legal do setor. Vão ficar fora do novo texto praticamente todos os artigos derrubados na Câmara em maio.

… Com exceção de um: aquele que prorrogou até 31/12 o prazo para a comprovação da capacidade econômico-financeira das empresas do setor de saneamento. As coisas em Brasília estavam mais pacificadas no recesso branco.

MAIS AGENDA – O IBGE divulga às 9h o volume de serviços, que deve avançar 0,4% na margem em maio (mediana de pesquisa Broadcast), após queda de 1,6% em abril. Às 14h30, saem os dados semanais do fluxo cambial.

LÁ FORA – Em dia de CPI nos EUA, quatro dirigentes do Fed têm eventos públicos: Thomas Barkin (Richmond) fala às 9h30; Neel Kashkari (Minneapolis), às 10h45; Raphael Bostic (Atlanta), às 14h; e Loretta Mester (Cleveland), às 17h.

… Às 15h (mesmo horário do Livro Bege), o Comitê Bancário do Senado vota as indicações de Philip Jefferson para a vice-presidência do Fed e de Lisa Cook e Adriana Kugler para diretoras do BC norte-americano.  

… Às 11h30, os estoques semanais de petróleo medidos pelo DoE têm previsão de queda de 100 mil barris.

… O BC do Canadá decide juro às 11h, após a surpresa da alta de 25 pb em junho, quando se esperava manutenção.

… Durante a madrugada, o BC da Austrália anunciou que reduzirá de 8 para 11 o número de reuniões em 2024.

A MELHOR EQUAÇÃO –Aqui, se a Selic cair menos em agosto e os EUA subirem o juro só mais uma vez, o Brasil terá um quadro mais favorável do ponto de vista do carry-trade do que com o Copom mais dovish e Fed hawkish.

… No câmbio, o dólar resolveu fazer como lá fora ontem e apostou em um CPI mais fraco. Fechou em baixa de 0,43%, a R$ 4,8616, depois de ter batido em R$ 4,9231 na máxima intraday, em meio à saída de k externo na B3.

… Na 6ªF, os estrangeiros tiraram mais R$ 352,882 milhões da bolsa. No mês, já saíram R$ 2,5 bilhões.

… Apesar de o fluxo não estar mais tão promissor, o dólar conseguiu aliviar a pressão da manhã à tarde, ajudado pela melhora do ambiente político, com a promessa de tramitação rápida da reforma tributária no Senado.

… No câmbio futuro, o contrato da moeda norte-americana para agosto caiu 0,93%, cotado a R$ 4,8705.

CALDO DE GALINHA – Do IPCA, como se viu, o principal ponto de pressão veio do setor de serviços, que validou a “parcimônia” pregada pelo Copom e esvaziou as apostas de corte mais agressivo da Selic, de 0,50 pp, em agosto.

… O mercado financeiro projeta agora como majoritária a percepção de que o ciclo de desaperto monetário começará com 0,25 pp, ainda que posteriormente o BC possa acelerar o ritmo de queda do juro.

… Economistas já calculam que a inflação acumulada este ano atinja 5% nos próximos meses e colocam no radar a chance de o IPCA se acomodar abaixo do teto da meta de tolerância do BC, de 4,75%, no final de 2023.

… Apesar de o IPCA não ter exibido alívio suficiente para antecipar um corte de meio de ponto no mês que vem, a ponta curta do DI subiu pouco, com o jan/24 a 12,845% (de 12,812%) e o jan/25 a 10,755% (de 10,744%).

… O restante da curva exibiu viés de queda. No fechamento, o contrato de DI para jan/26 caiu a 10,095% (de 10,117%); jan/27, a 10,120% (de 10,155%); jan/29, a 10,440% (de 10,486%); e jan/31, a 10,610% (de 10,652%).

… A melhora do ambiente também foi autorizada pelas notícias de Brasília de que a reforma tributária pode andar rápido e de que o decreto do saneamento será reeditada sem pontos de conflito com o Congresso.

CORTANDO O BARATO – A queda dos papéis dos bancos e da Petrobras, que descolou da alta do petróleo, além dos sinais de que a Selic deve começar o ciclo caindo menos, impuseram queda do Ibov pelo 2º pregão seguido.

… Sorte foi a Vale (+3,29%; R$ 66,58) ter surfado nas notícias recentes de estímulos ao setor imobiliário chinês, o que contribuiu para moderar a baixa do Ibovespa (-0,61%), aos 117.219,95 pontos, com giro de R$ 27,4 bi.

… A crise imobiliária da China está sufocando a recuperação da segunda maior economia do mundo, alimentando expectativas de que o governo de Pequim tome mais medidas para reanimar a demanda.

… Acionista da Vale, Bradespar apareceu na lista dos melhores desempenhos ontem, em +2,11%, a R$ 22,31.

… Já Petrobras ON caiu 0,78% (R$ 32,87) e papel PN perdeu 1,35% (R$ 29,15), um dia depois de a estatal petrolífera ter iniciado due diligence para eventual tag along na venda de ativos da Novonor na Braskem.

… O movimento vendedor em Petrobras destoou do petróleo. O Brent/setembro se aproximou dos US$ 80, a US$ 79,40 por barril (+2,20%), na ICE, enquanto o WTI para agosto subiu 2,52%, a US$ 74,83, na Nymex.

… Já Prio (ON, +3,06%, a R$ 40,70) e 3R Petroleum (+1,26%, a R$ 32,03) não desperdiçaram a alta do petróleo.

… Os principais bancos fecharam no vermelho: Itaú (-1,76%; R$ 28,44), BB (-1,43%; R$ 48,34), Bradesco ON (-0,90%; R$ 14,38) e Santander (0,77%; R$ 29,50). Estável (+0,06%, a R$ 16,30), Bradesco PN escapou de cair.

… O risco de queda mais moderada da Selic pesou às ações atreladas ao consumo: Azul (-2,61%), CVC (-2,99%), Assaí (-2,04%). Gol recuou 5,88%, após o Goldman Sachs rebaixar a recomendação de compra para neutro.

RESTA UM? – NY se arriscou na aposta de que a inflação ao consumidor (CPI) vai mostrar desaceleração nas pressões e fortalecer a chance de pausa no juro pelo Fed em setembro, depois da alta contratada para julho.

… A percepção de que o ciclo de aperto está com os dias contados sustentou as bolsas em NY. O Dow Jones subiu 0,93%, a 34.261,42 pontos; S&P 500 ganhou 0,67% (4.439,26 pts); e Nasdaq avançou 0,55% (13.760,70).

… Pesquisa realizada pela 22V Research mostra que 65% dos entrevistados acreditam que o núcleo do CPI, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, será menor do que o consenso entre analistas de mercado.

… A desaceleração, entretanto, não será suficiente para impedir o aperto adicional da política em julho: é amplamente esperado das autoridades do Fed que retomem aumentos dos juros no fim deste mês.

… Ferramenta do CME indica que é quase unânime (92,4%) a chance de alta dos juros americanos à faixa de 5,25%-5,50% em julho, com manutenção da taxa neste nível até maio de 2024, quando começariam os cortes.

… Ou seja, o mercado continua apostando que vem só mais um aperto monetário e que depois acabou. O yield da Note de 2 anos subiu ontem, a 4,8811%, de 4,8471%, mas parece ter sido só correção às quedas recentes.  

…  A expectativa de alívio no CPI e de um aperto monetário mais suave pelo Fed até o final do ano derrubou o dólar, enquanto BoE e BCE devem seguir com mão pesada, o que tem valorizado as moedas europeias.

… O índice DXY (-0,3%) recuou à mínima em dois meses, a 101,65 pontos. O euro fechou a US$ 1,1010 (+0,08%).

… A libra esterlina atingiu US$ 1,2933 (+0,58%), máxima de 15 meses, após o crescimento salarial do Reino Unido superar as expectativas, aumentando a pressão sobre o BoE para apertar ainda mais a política monetária.

… Em relação ao iene (140,38/US$), o dólar caiu para a mínima de quatro semanas, em queda de 0,7%.

TEMPORADA DE VERÃO – Na sequência dos dados da inflação (amanhã sai o PPI), os investidores mudarão o foco para a temporada de resultados do 2Tri, com JPMorgan, Citigroup e Wells Fargo dando o start na 6ªF.

… Para bancos como JPMorgan e Wells Fargo, que atendem varejo e corporações, o lucro por ação deve saltar mais de 40%, de acordo com estimativas a Refinitiv I; o do BofA deve subir 7% e o do Citigroup deve cair 43%.

… Os resultados de bancos de investimento têm previsão de enfraquecimento. As projeções são de queda de quase 59% do lucro por ação no Goldman Sachs e de 9% no lucro por ação do Morgan Stanley.

… Quando os juros sobem, os credores ganham mais, porém a demanda por empréstimos está diminuindo: os depósitos caíram US$ 141 bilhões em grandes credores no 2Tri, disseram analistas da KBW em nota.

EM TEMPO… PETROBRAS confirmou a assinatura de novo contrato de gás natural com a Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), com vigência a partir de janeiro de 2024 até dezembro de 2034, no valor de R$ 56 bilhões…

… Estatal descartou ir à Justiça para conseguir a licença ambiental que permita explorar a Margem Equatorial. A empresa aposta na articulação política para resolver a questão, segundo apuração do Broadcast.

3R PETROLEUM. BlackRock elevou participação para 5,023%, passando a deter 12.052.415 de ações ON.

ELETROBRAS. Aneel publicou despacho autorizando a empresa a atuar como comercializadora na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) via filial…

EDP BRASIL comunicou que EDP Portugal elevou participação para 87,91% em OPA; leilão movimentou R$ 4,3 bi.

… Já a Eletropar concluiu alienação da totalidade de 1,8 milhão de ações ON que detinha na EDP Brasil em meio ao processo de OPA.

USIMINAS comunicou que a BlackRock vendeu ações e reduziu participação de 10,212% para 9,90% dos papéis PNA.

LIGHT respondeu a questionamento da CVM sobre notícias divulgadas pela imprensa no último domingo, de que Wendell Oliveira assumirá a presidência da companhia, em substituição a Octavio Pereira Lopes…

… Segundo a companhia, não há até agora convocação do conselho para tratar de eleição de diretores.

ITAÚSA. S&P Global iniciou cobertura da holding e atribuiu à companhia rating de crédito corporativo de longo prazo brAAA na escala nacional Brasil, com perspectiva estável.

CURY registrou R$ 1,19 bilhão em vendas no 2TRI, crescimento de 33% na comparação anual, segundo prévia operacional; valor é o maior já registrado pela empresa em um trimestre.

DIRECIONAL. Lançamentos somaram R$ 1,5 bilhão de valor geral de vendas (VGV) no 2Tri, alta anual de 84,3%, segundo prévia operacional; incorporadora teve o melhor trimestre da sua história em termos de VGV lançado.

FLEURY. Moody’s avaliou que combinação de negócios com Hermes Pardini fortaleceu perfil de crédito do grupo.

CLARO teve receita de R$ 11,3 bi no 2Tri, alta de 7,5% na comparação com mesmo período de 2022; Ebitda totalizou R$ 4,79 bilhões no trimestre, alta anual de 10%.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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