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Lula ainda dará a última palavra

Atualizado 19/06/2024 às 23:59:27

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[20/06/24]

… PBoC da China manteve os juros em 3,45%, nesta 5ªF, quando também o BoE faz reunião de política monetária (8h). NY volta do feriado e devolve liquidez aos mercados, tendo na agenda auxílio-desemprego (9h30), estoques de petróleo (12h) e dois Fed boys. Aqui, o mercado reage ao Copom, que não se dobrou às pressões políticas de Lula e, como queria o mercado, entregou a unanimidade na decisão de interromper as quedas da Selic, com a taxa em 10,5%. Isso parece bom, mas não é uma garantia. O presidente ainda dará a última palavra, ao nomear o sucessor de Campos Neto para assumir o Banco Central a partir de janeiro de 2025, além de dois diretores que serão trocados. Então, o governo terá sete cadeiras no Copom e Lula pode escolher nomes mais alinhados ao que o PT acredita.

… Galípolo e Picchetti, dois cotados para a vaga de RCN, podem ter salvado a sua biografia com o voto técnico pela manutenção da Selic, mas certamente decepcionaram Lula por terem validado a condução ortodoxa da política monetária do atual BC.

… O presidente ainda estará disposto a colocar um deles no comando do BC? Houve “traição” ou a unanimidade foi negociada com Lula?

… Se Haddad convenceu o presidente de que não havia outro voto possível para Galípolo, ele poderá ser confirmado e fica tudo certo. Do contrário, Lula pode surpreender. E neste caso, a unanimidade será de pouca serventia e curta duração porque vem aí um novo BC.

… Nas críticas a Roberto Campos Neto, o presidente levantou a lebre, ao dizer que quer alguém “maduro” e “experiente” para o BC, o que levou a especulações sobre alguns nomes, como André Lara Resende e até mesmo Guido Mantega e Aloizio Mercadante.

… Novos comentários do presidente Lula, de Haddad e do PT podem dar alguma pista se este é um jogo combinado ou não.

… Ontem à noite, após participar de ato em homenagem ao Dia do Cinema Brasileiro, no Rio, Haddad evitou comentar o Copom, dizendo que vai esperar para ler a ata [próxima 3ªF], mas fez questão de afirmar que tem confiança nas pessoas indicadas ao BC.

… Lula também participou do evento, após a posse de Magda Chambriard na Petrobras, mas não se pronunciou sobre o Copom.

… Seja como for, hoje a reação deve ser a esperada na abertura dos negócios, dando continuidade ao ajuste iniciado pelo mercado horas antes de o Copom dar seu resultado, quando juros e dólar devolveram as máximas e o Ibov lutou pelos 120 mil pontos (abaixo).

HAWK – A mensagem do Copom veio “dura”, anotando que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

… Ou seja, o BC sinalizou que manterá a Selic em 10,5% até o fim do ano, sem chance de novos cortes. Por isso, talvez, o texto não tenha falado em “pausa”. No mercado financeiro, as expetativas são de que as quedas serão retomadas em 2025.

… Em dado trecho, o comunicado até mesmo sugere que pode subir o juro, quando afirma que o “Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

… O Copom ainda citou a “ampliação” da desancoragem das expectativas de inflação – e isso é o que se vê na Focus – para dizer que, junto com o estágio lento da desinflação e o cenário global desafiador, demandam moderação na condução da política monetária.

… Não houve mudanças na descrição do ambiente externo, que, para o BC, se mantém “adverso”, em função da incerteza elevada sobre a flexibilização dos juros nos EUA e da velocidade com que se observará a queda da inflação em diversos países.

… Em relação ao cenário doméstico, os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho foram novamente citados como um indicativo de dinamismo maior do que o esperado, assim como as medidas de inflação subjacente “acima da meta”.

… Nas projeções de inflação, o BC elevou o IPCA/24 de 3,8% para 4% e de 2025, de 3,3% para 3,4%, e retomou o cenário alternativo, com a Selic mantida constante ao longo do horizonte relevante, no qual as projeções situam-se em 4% para 2024 e 3,1% para 2025.

… O quadro fiscal mereceu um parágrafo inteiro, no qual o Copom lembra que “uma política fiscal comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros”.

REAÇÕES – Dos economistas do mercado foram as melhores possíveis logo nos primeiros minutos da decisão do Copom.

… Para Mário Mesquita (Itaú), “deve ajudar a restaurar o compromisso do Comitê com a meta de inflação”.

… Fernando Honorato Barbosa (Bradesco): “Decisão unânime sinaliza que Copom concorda com importância de perseguir meta”.

… Sergio Goldenstein (Warren): “Copom descreve decisão como interrupção do ciclo de cortes e não como um encerramento”.

… Marco Antônio Caruso (PicPay): “Copom foi pragmático e pode ajudar a acalmar o humor do mercado”.

… Victor Neyruti e Yuri Alves (Guide): “Unanimidade ao interromper o ciclo de quedas reforça compromisso com meta de inflação”.

… Everton Gonçalves (ABBC): “Decisão do Copom é congruente com retomada de reancoragem das expectativas”.

… Rafael Cardoso (Daycoval): “Unanimidade no Copom reduz riscos para futuro da política monetária”.

… Ivo Chermont (Quantitas): “Comunicado bem escrito do Copom deve acalmar bastante o mercado”.

… Étore Sanchez (Ativa): “Reafirmamos expectativa de Selic 10,5% até, pelo menos, o início de 2025”.

… Roberto Secemski (Barclays): “Decisão unânime importa especialmente após crítica de Lula a Campos Neto”.

… Andrea Damico (Armor): “Copom unânime é prova que integrantes não foram influenciados politicamente”.

… Ricardo Tadeu Martins (Planner): “Copom se mostrou responsável diante das condições inflacionárias”.

… Alexandre Mathias (Monte Bravo): “Copom indica que Selic deve permanecer em 10,5% até o fim de 2024”.

… Nicolas Borsoi (Futura): “Copom sinaliza que novos diretores estão alinhados em postura de cautela”.

… Luiz Otávio de Souza Leal (G5): “Reação do mercado deve ser positiva, como fechamento de hoje já indicava”.

… Álvaro Frasson (BTG): “Decisão unânime reduz um pouco polarização e aumenta credibilidade do BC”.

… Laiz Carvalho (BNP): “Cenário alternativo mostra que não há espaço para cortar juro no curto prazo”.

… Leonardo Costa (ASA): “Copom mostra neutralidade na maioria dos pontos”.

… Caio Megale (XP): “Nosso cenário é de Selic parada em 10,5% até o fim de 2025”.

… Flávio Serrano (BMG): “Leitura da decisão do Copom é de pausa, e não fim do ciclo”.

… Daniel Cunhas (BGC Liquidez): “Mercado deverá reagir positivamente à decisão do Copom”.

AGENDA – Haddad tem almoço institucional (12h30) com a direção do jornal O Globo. Lá fora, o BC inglês deve manter as taxas de juros inalteradas em 5,25% e abrir espaço para a primeira redução em agosto, antes do Fed.

… Nos EUA, os Fed boys Neel Kashkari (9h45) e Thomas Barkin (17h) participam de eventos.

… Entre os indicadores, o auxílio-desemprego sai às 9h30 e tem previsão de queda de 7 mil pedidos, para 235 mil. No mesmo horário, saem as construções de moradias iniciadas em maio, que devem subir 1,1%.

… Ao meio-dia, a estimativa é que os estoques de petróleo do DoE apontem queda de 2,1 milhões de barris.

DE LAVADA – O placar de 9 a 0 do Copom contrata gap de queda para o dólar, alívio de prêmios de risco na ponta curta do DI e também pode consolidar o Ibovespa nos 120 mil pontos, pelo menos na primeira reação.

… Ontem, depois de uma manhã de pressão na curva dos juros futuros e de investida do dólar para perto da linha dos R$ 5,50, o mercado doméstico deu uma relaxada na reta final do pregão, antecipando o que viria.

… Os negócios resolveram embarcar nos relatos na imprensa, poucas horas antes da decisão de política monetária, de que o Planalto já esperava como desfecho da reunião uma vitória da independência do BC.

… Os juros futuros curtos perderam fôlego e os longos viraram para queda, em dia sem os Treasuries.

… No fechamento, o DI para Jan25 subiu a 10,670% (de 10,655% na véspera); Jan26, a 11,295% (de 11,275%); e Jan27, a 11,575% (de 11,620%). Já o Jan29 caiu a 11,935% (de 12,000%); e Jan31, a 12,070% (de 12,140%).

… O dólar à vista se afastou da máxima intraday de R$ 5,4827, desacelerando a alta no fechamento para 0,14%, cotado a R$ 5,4418. Apesar do alívio no câmbio, o real atravessa uma fase de desafios com o Fed e o fiscal.  

… A moeda segue depreciada, apesar dos dados do fluxo cambial, que está positivo em US$ 6,337 bilhões este mês, até o dia 14, com entradas de US$ 2,104 bi pela via financeira e de US$ 4,233 bi pelo comércio exterior.

… Lá fora, apesar de o CPI do Reino Unido ter subido em maio (2%) menos que em abril (2,3%), a libra não recuou (+0,06%; US$ 1,2720), porque antecipa juro estável pelo BoE, devido à inflação persistente de serviços.

… O euro mal oscilou (+0,04%; US$ 1,0744) e o iene (158,02/US$) caiu 0,12%, com DXY a 105,239 pts (-0,02%).

CORREU ATRÁS – O otimismo com a aposta (certa) na reta final dos negócios de que o Copom não se dobraria à pressão política se somou à alta em bloco dos bancos e levou o Ibovespa a reconquistar os 120 mil pontos.

… O índice à vista fechou em alta moderada de 0,53%, aos 120.261,34 pontos. O volume financeiro, que já vem secando há muito tempo, foi ainda pior ontem (R$ 14,1 bilhões), comprometido pelo feriado em Wall Street.

… Os papéis das blue chips financeiras surfaram todos na onda positiva: Itaú, +0,78% (R$ 32,13); Bradesco ON (+0,55%; R$ 11,040); Bradesco PN (+0,48%; R$ 12,44) Santander (+0,11%; R$ 27,62); e BB ON, +0,73% (R$ 26,27).

… Já as ações da Petrobras mostraram instabilidade, em dia da posse de Magda Chambriard e de queda do petróleo, que passou por uma leve correção, após ter atingido o preço mais alto em sete semanas.

… O Brent para agosto caiu 0,30%, a US$ 85,07 por barril. Petrobras ON caiu 0,63%, a R$ 37,64, e PN fechou estável (+0,08%), a R$ 35,93. Vale avançou 0,31% (R$ 60,85), contrariando o sinal de baixa do minério (-0,36%).

… Durante cerimônia simbólica de posse de Magda Chambriard na Petrobras, o presidente Lula disse que a Vale foi “rifada” quando privatizada, em 1997, o que a fez ficar “sem ter um dono para ter com quem conversar”.

… Ele ainda cobrou o pagamento de indenizações pelas tragédias em Mariana (2015) e Brumadinho (2019).

… Papéis do setor de frigoríficos estenderam os ganhos da véspera, repercutindo a valorização do dólar e a decisão da China de abrir investigação antidumping sobre importações de carne suína da UE.

… BRF saltou 4,33% (R$ 20,02); Marfrig, +3,03% (R$ 10,88); Minerva, +2,86% (R$ 6,47); e JBS, +1,87% (R$ 29,44).

EM TEMPO… VALE informou que usinas de Salobo 1 e 2 não foram afetadas pelo incêndio na Salobo 3…

… Guidance de produção de cobre para 2024 permanece inalterado após o incidente e não há previsão de impacto nas vendas de cobre no 2TRI…

… Moody’s atribuiu rating de emissor Baa3 à Vale Base Metals Limited (VBM), subsidiária da empresa, com perspectiva estável.

MULTIPLAN concluiu a aquisição de fatia de 9% do shopping center ParkJacarepaguá, por R$ 66 milhões, elevando a sua participação na propriedade para 100%.

FRIGORÍFICOS. Itaú BBA avaliou que a investigação antidumping da China contra a carne suína da União Europeia pode beneficiar os exportadores brasileiros de proteína…

… No entanto, o banco ponderou que o mercado já pode ter precificado essas expectativas, e os efeitos futuros dependerão do andamento da investigação…

… Itaú BBA destacou que a BRF, em particular, poderia emergir como a principal beneficiária, devido à sua significativa exposição à carne suína e possíveis impactos indiretos positivos nas exportações de frango…

… JBS e Marfrig também devem se beneficiar, embora em menor grau, devido à plataforma diversificada da JBS e à exposição limitada da Marfrig à carne suína.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.


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