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Resumo semanal: 14/04 a 18/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A economia chinesa surpreendeu positivamente no primeiro trimestre de 2025, com crescimento do PIB de 5,4% em relação ao mesmo período do ano anterior — superando a expectativa de 5,2%. Na comparação trimestral, o avanço foi de 1,2%, representando uma leve desaceleração frente aos 1,6% do trimestre anterior. Os dados refletem, sobretudo, os efeitos das medidas de estímulo implementadas por Pequim, ainda antes da entrada em vigor das novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos em abril. Em termos setoriais, a produção industrial registrou alta de 7,7% em março, superando a projeção de 5,9%, impulsionada pelo aumento dos envios antecipados de exportadores preocupados com os impactos tarifários. No varejo, as vendas cresceram 5,9% na comparação interanual, também acima do consenso de mercado, favorecidas pelos estímulos ao consumo. A balança comercial apresentou superávit de US$ 102,6 bilhões, bem acima da previsão de US$ 74,3 bilhões. As exportações, por sua vez, cresceram expressivos 12,4%, indicando aceleração no ritmo de embarques antes do aperto nas relações comerciais.
No Japão, a inflação ao consumidor segue desafiando o Banco Central local (BoJ), com o núcleo inflacionário acelerando em março. O núcleo do índice de preços ao consumidor (que inclui produtos petrolíferos, mas exclui alimentos frescos) subiu 3,2% em relação a março de 2024, superando os 3% registrados em fevereiro e pressionando ainda mais a política monetária. Esta leitura antecede a próxima reunião do BoJ, marcada para os dias 30 de abril e 1º de maio, quando o mercado espera manutenção dos juros em 0,5% e uma provável revisão negativa das projeções de crescimento — influenciada pelas tarifas americanas recentemente elevadas. A inflação mais ampla, medida por um indicador que exclui os preços de alimentos frescos e combustíveis, também acelerou para 2,9%, ante 2,6% no mês anterior. O salto nos preços foi generalizado: gasolina, hospedagens, chocolates e, especialmente, arroz, cujo preço aumentou 92,5% em relação ao ano passado. Apesar disso, os preços de serviços avançaram apenas 1,4%, contra 5,6% dos bens, sinalizando que o choque inflacionário decorre majoritariamente do repasse de custos de matérias-primas.
Europa
O Banco Central Europeu (BCE) reduziu em 0,25 ponto percentual suas taxas de juros de referência, levando a taxa de depósito para 2,25%, em linha com as expectativas do mercado. Essa foi a sétima redução de juros no atual ciclo de flexibilização monetária. A decisão veio em meio ao aumento das incertezas econômicas provocadas pelas recentes tensões comerciais globais, especialmente com os Estados Unidos. O BCE reiterou seu compromisso com uma política monetária “dependente de dados”, sinalizando que novas decisões dependerão do comportamento da inflação e da atividade. Segundo a instituição, o processo de desinflação está bem encaminhado, com a inflação convergindo gradualmente para a meta de 2%. A autoridade monetária também indicou que os juros atuais já se encontram no limite superior da chamada “taxa neutra” — patamar em que a política monetária nem estimula nem freia o crescimento econômico.
Entre os dados divulgados na semana, a produção industrial da zona do euro surpreendeu positivamente, superando as expectativas do mercado. No entanto, o ambiente econômico ainda inspira cautela: a confiança dos agentes econômicos recuou significativamente, passando de 39,8 pontos em março para -18,5 pontos em abril — o menor nível desde dezembro de 2022. De acordo com o BCE, essa deterioração está diretamente relacionada à intensificação das tensões comerciais, que vêm gerando preocupações sobre cadeias de suprimento, competitividade e ritmo da recuperação. Esse contraste entre melhora dos dados reais e piora das expectativas reforça o cenário de incerteza para os próximos meses. A postura mais cautelosa do BCE reflete justamente essa dualidade, buscando calibrar o estímulo monetário sem comprometer a estabilidade de preços ou agravar desequilíbrios. A evolução do comércio internacional continuará sendo um fator-chave para a condução da política monetária europeia.
Oriente Médio
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) revisou para baixo suas projeções de crescimento da demanda por petróleo em 2025, reduzindo a estimativa de 1,45 milhão para 1,3 milhão de barris por dia — um corte de cerca de 10%. A decisão reflete uma maior incerteza sobre o desempenho econômico global diante da escalada nas tensões comerciais, especialmente após o endurecimento da política tarifária dos Estados Unidos. Além disso, a entidade também revisou para baixo as projeções de crescimento das grandes economias para o próximo ano. Segundo relatório da própria Opep, o ambiente de comércio global instável compromete a perspectiva de crescimento no curto prazo. A expectativa de menor demanda pode exercer pressão de baixa sobre os preços do petróleo. Curiosamente, no início de abril, a organização havia anunciado um aumento na produção para maio, surpreendendo o mercado e gerando dúvidas sobre sua estratégia de equilíbrio entre oferta e demanda. Essa dualidade pode ampliar a volatilidade dos preços da commodity nos próximos meses.
No campo geopolítico, o Hamas rejeitou uma nova proposta de cessar-fogo apresentada por Israel, classificando as exigências como “condições impossíveis”. A proposta incluía um cessar-fogo de 45 dias em troca da libertação de dez reféns e a soltura de palestinos presos, além da retomada da ajuda humanitária. No entanto, o grupo exige garantias para o fim definitivo da guerra e a retirada total do exército israelense da Faixa de Gaza, além de rechaçar a exigência de desarmamento. A crise humanitária na região continua a se agravar: desde o fim da última trégua, em março, mais de 1.600 pessoas foram mortas em Gaza, incluindo dezenas nas últimas 24 horas. Israel também sinalizou que manterá presença militar por tempo indeterminado nas “zonas de segurança” criadas dentro do enclave, ampliando o controle sobre partes estratégicas como Rafah. O impasse aumenta os riscos de escalada regional, com efeitos diretos sobre segurança, diplomacia e mercados globais de energia.
Estados Unidos
Nesta semana, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacou a importância da cautela na condução da política monetária, enfatizando que o banco central precisa garantir que o impacto das tarifas não provoque pressões inflacionárias persistentes. Powell reforçou o compromisso com o duplo mandato da instituição — estabilidade de preços e pleno emprego —, mas ressaltou que, sem o controle da inflação, não há condições para sustentar um mercado de trabalho robusto a longo prazo. Segundo ele, o Fed está em posição confortável para aguardar maior clareza sobre o cenário econômico antes de tomar novas decisões sobre a taxa de juros. Apesar da volatilidade recente, os mercados continuam operando de forma funcional. Powell afirmou ainda que, mesmo diante de incertezas elevadas e riscos negativos, a economia americana segue resiliente. A fala do presidente do Fed foi interpretada como hawkish (mais conservadora) por boa parte do mercado, resultando em um desempenho negativo dos ativos de risco.
No campo da atividade econômica, os dados mais recentes vieram majoritariamente em linha com as expectativas, embora o risco de estagflação continue no radar. A produção industrial dos EUA avançou 0,3% em março, conforme o esperado, mas deve perder fôlego nos próximos meses diante do agravamento da guerra comercial com a China. Já as vendas no varejo surpreenderam positivamente, com alta de 1,4% no mês — o melhor resultado desde janeiro de 2023 —, acumulando crescimento de 4,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. O destaque ficou para o setor automotivo, com expansão de 5,3% nas vendas de veículos, refletindo a antecipação de compras por parte dos consumidores diante da possibilidade de novas tarifas. Em meio a esse cenário, a Casa Branca anunciou que as tarifas aplicadas a certos produtos chineses podem atingir até 245%, incluindo veículos elétricos e seringas. Por outro lado, o ex-presidente Donald Trump indicou que alguns itens de tecnologia, como smartphones e semicondutores, estarão temporariamente isentos dessas tarifas, o que trouxe alívio aos mercados — dada a forte dependência dos eletrônicos chineses na cadeia global de suprimentos.
Brasil
O governo federal encaminhou ao Congresso o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2026, estabelecendo uma meta de superávit primário de R$ 34,3 bilhões, equivalente a 0,25% do PIB. A proposta também estima um superávit de R$ 38,2 bilhões (0,28% do PIB) e projeta que a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) atingirá o pico de 84,2% do PIB em 2029, um avanço de 4,6 pontos percentuais em relação à estimativa anterior. O PLDO prevê metas fiscais crescentes para os anos seguintes: 0,5% do PIB em 2027, 1,0% em 2028 e 1,25% em 2029. Apesar disso, nossas projeções apontam para um déficit primário de R$ 74,8 bilhões em 2026, o que exigiria um esforço fiscal adicional de R$ 110 bilhões para cumprimento da meta. O cenário para 2026 é desafiador, considerando a esperada desaceleração da atividade econômica e da inflação, fatores que tendem a impactar negativamente a arrecadação tributária. Ao mesmo tempo, as despesas devem continuar pressionadas, especialmente com a elevação dos gastos sociais, que seguem crescendo acima da inflação. Embora a possibilidade de mudança na meta fiscal não seja nosso cenário base, ela não pode ser totalmente descartada.
Paralelamente, foi aprovada a criação da faixa 4 do programa habitacional “Minha Casa Minha Vida” (MCMV), destinada a famílias com renda mensal de até R$ 12 mil. Essa nova modalidade contará com taxa de juros anual de 10% e será financiada por um aporte de R$ 30 bilhões, sendo metade proveniente do FGTS e o restante de recursos próprios das instituições financeiras, como poupança e LCI — com a Caixa Econômica Federal liderando a implementação, segundo seu presidente. Estimamos que essa ampliação do MCMV pode impulsionar o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em 0,4 ponto percentual em 2025 e 0,6 ponto percentual em 2026. Esse estímulo aos investimentos deve refletir positivamente no PIB, com impactos estimados de 0,10 p.p. e 0,15 p.p., respectivamente. Esses efeitos, combinados a outras medidas do governo, já foram incorporados ao nosso novo cenário base para a economia doméstica. Como resultado, revisamos as projeções de crescimento do PIB: de 2,0% para 2,3% em 2025 e de 1,0% para 1,5% em 2026, conforme detalhado em nosso último relatório Brasil Macro Mensal.