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Resumo semanal: 07/04 a 11/04

Atualizado 11/04/2025 às 22:03:32

Por Matheus Gomes de Souza, CEA

Brasil

O cenário econômico brasileiro nesta semana foi marcado pela influência das tensões comerciais globais e indicadores domésticos. O dólar encerrou em queda, cotado a R$ 5,8, refletindo expectativas de fluxo positivo ao país, enquanto o Ibovespa avançou 1,05% na sexta-feira. O IPCA de março subiu 0,56%, pressionado principalmente pelo aumento nos preços dos alimentos, especialmente in natura. O dado reforça preocupações inflacionárias mesmo com a desaceleração recente dos combustíveis. O IBC-Br cresceu 0,4% em fevereiro, indicando recuperação da atividade econômica. No mercado de juros futuros, houve queda nas taxas de longo prazo, com alívio na curva de janeiro de 2031 para 14,55%. O ambiente externo, sobretudo a guerra tarifária entre potências, ainda gera volatilidade nos ativos locais.

A valorização dos ativos na semana também foi favorecida por uma percepção de que o Brasil pode se beneficiar com o desvio de fluxos comerciais. Exportadores locais enxergam oportunidades no redirecionamento de demandas internacionais, enquanto o agronegócio brasileiro ganha força nas negociações com mercados asiáticos. Ao mesmo tempo, a política fiscal continua no radar com expectativas sobre cortes de gastos e possível avanço da reforma administrativa. A equipe econômica de Haddad reforçou compromisso com metas fiscais, mas investidores seguem céticos quanto à execução. O clima político se manteve estável, sem grandes ruídos. Por fim, o setor bancário iniciou a temporada de resultados, com lucros robustos em bancos privados, sinalizando resiliência financeira no crédito.

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a semana foi dominada pelas repercussões do agravamento da guerra comercial com a China. O governo chinês aumentou tarifas sobre bens norte-americanos em retaliação direta às tarifas de 145% impostas por Donald Trump. O presidente norte-americano defendeu a medida como proteção ao setor industrial, mas analistas alertam para impacto inflacionário e efeitos negativos no comércio global. Apesar disso, os mercados acionários reagiram positivamente, com S&P 500 e Nasdaq acumulando altas na semana, impulsionados por expectativas de que o Federal Reserve possa postergar novos aumentos de juros. O rendimento do Treasury de 10 anos subiu para 4,496%, refletindo maior aversão ao risco.

Além das disputas comerciais, o mercado monitorou os dados da inflação ao consumidor (CPI), que vieram levemente abaixo do esperado, reacendendo debates sobre a trajetória futura da política monetária. O Fed indicou que aguarda dados mais consistentes antes de qualquer ajuste de juros, mantendo o mercado em compasso de espera. Grandes empresas de tecnologia puxaram os índices para cima, mesmo com o pano de fundo global incerto. O setor industrial e os exportadores, no entanto, mostraram volatilidade. O dólar se fortaleceu frente a moedas emergentes.

Ásia

Os mercados asiáticos enfrentaram forte volatilidade na semana, impulsionados pelo aumento das tensões comerciais entre EUA e China. Em resposta às tarifas impostas por Washington, Pequim anunciou medidas retaliatórias, o que afetou fortemente os índices nos primeiros dias da semana. No entanto, a sexta-feira marcou uma recuperação parcial, com o Hang Seng subindo 1,1% e ações de tecnologia chinesas como SMIC e Hua Hong liderando os ganhos. Ainda assim, o índice de Hong Kong acumulou perda de 8,5% na semana — o pior desempenho desde fevereiro de 2018. O índice de Xangai e o CSI300 fecharam a semana em leve alta, impulsionados por compras técnicas e expectativas de estímulos do governo chinês.

No Japão, o Nikkei também foi afetado pela aversão ao risco global, encerrando a semana com leve queda, enquanto os mercados sul-coreanos e taiwaneses acompanharam o movimento de alta nas techs chinesas nos últimos pregões. Analistas na região destacam que a instabilidade cambial e a redução das exportações são riscos crescentes caso a disputa entre EUA e China se prolongue. O yuan se desvalorizou levemente, e especulações sobre intervenção estatal aumentaram. O Banco do Povo da China reiterou que manterá liquidez adequada e poderá flexibilizar mais as condições de crédito. Investidores institucionais seguem cautelosos, com foco em empresas voltadas ao mercado interno e setores estratégicos como semicondutores e energia.

Europa

Na Europa, os mercados terminaram a semana sob pressão, impactados pelo recrudescimento da guerra tarifária global. As bolsas europeias reverteram ganhos iniciais após a China anunciar retaliação contra os EUA, sinalizando riscos para o comércio internacional. O DAX alemão caiu 0,92% na sexta-feira, enquanto o CAC 40 francês recuou 0,30% e o Ibex 35 espanhol 0,18%. A exceção foi o FTSE 100 de Londres, que subiu 0,64% com dados positivos da indústria britânica. Na semana, os principais índices acumularam perdas significativas: Frankfurt (-1,30%), Paris (-2,34%) e Londres (-1,13%). O euro se desvalorizou frente ao dólar, refletindo incertezas externas e projeções de menor crescimento.

Além do cenário internacional, o foco europeu esteve na revisão das projeções econômicas da Comissão Europeia, que reduziu as expectativas de crescimento para a zona do euro em 2025. A inflação segue persistentemente acima da meta em países como Alemanha e Itália, dificultando o espaço para cortes de juros pelo BCE. O setor industrial europeu apresenta sinais mistos, com melhora em parte da atividade fabril na França e retração na Alemanha. O debate fiscal voltou à tona com discussões sobre o novo arcabouço de regras da União Europeia. Investidores também acompanham de perto o andamento de conflitos geopolíticos e sua influência nos preços da energia, especialmente gás natural importado da Rússia.

Oriente Médio

No Oriente Médio, a atenção se concentrou no mercado de petróleo e nas tensões regionais. Os preços do barril Brent encerraram a semana ao redor de US$ 65, sustentados por maior demanda no hemisfério norte. Ao mesmo tempo, ataques Houthi a navios comerciais no Mar Vermelho continuam a elevar os custos de frete global e a ameaçar a segurança das rotas comerciais. A instabilidade em Gaza e no sul do Líbano persiste, com trocas de ataques entre Israel, Hezbollah e facções aliadas, gerando apreensão nos mercados globais. Os Emirados Árabes e a Arábia Saudita reforçaram compromissos de estabilidade energética.

A Arábia Saudita também anunciou investimentos em energia renovável e hidrogênio verde, parte de sua estratégia Vision 2030, tentando diversificar sua matriz e atrair capital estrangeiro. O Irã, por sua vez, voltou ao centro das atenções com sanções renovadas pelos EUA após movimentações nucleares suspeitas, elevando o risco geopolítico na região. Investidores estão cada vez mais atentos ao papel do Oriente Médio como pivô entre mercados asiáticos e europeus, especialmente no contexto energético e de cadeias logísticas. Com a crescente instabilidade global, a região volta a ser vista como barômetro da segurança energética mundial. O petróleo deve permanecer volátil nas próximas semanas.

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