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Resumo semanal: 21/04 a 25/04
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A China decidiu isentar determinados produtos dos Estados Unidos das tarifas de 125% e orientou empresas locais a identificarem itens essenciais que devem ser liberados de impostos. A medida, segundo fontes corporativas notificadas, evidencia a preocupação de Pequim com os impactos prolongados da guerra comercial. Essa flexibilização, que ocorre após sinalizações conciliatórias de Washington, indica uma possível disposição mútua de conter o conflito que travou o comércio bilateral e intensificou temores de recessão global. Espera-se que as isenções alcancem diversos setores, o que contribuiu para a valorização do dólar e alta nas bolsas de Hong Kong e Tóquio. Segundo Alfredo Montufar-Helu, do China Center do Conference Board, a iniciativa pode ser uma tentativa de reaproximação, embora nenhum dos dois países pareça disposto a ceder primeiro. Pequim ainda não confirmou oficialmente as isenções. Enquanto isso, Donald Trump afirmou à revista TIME que Xi Jinping teria ligado para discutir tarifas, mas a China contestou essa versão.
No Japão, os dados de abril revelaram que a inflação subjacente em Tóquio atingiu o maior patamar em dois anos, impulsionada principalmente pela alta dos alimentos. O aumento representa um desafio para o Banco do Japão (BOJ), que tenta gradualmente abandonar sua política monetária ultraflexível sem comprometer a estabilidade econômica. Os números vieram às vésperas da reunião do BOJ marcada para o fim de abril, quando se espera a manutenção da taxa de juros em 0,5%. Takeshi Minami, economista-chefe do Instituto Norinchukin, prevê que a inflação deve continuar elevada por vários meses. Ele avalia que o banco central será prudente diante dos efeitos das tarifas dos EUA, mas poderá considerar novos aumentos nas taxas se o impacto for administrável. O índice de preços ao consumidor, excluindo alimentos frescos, avançou 3,4% em comparação com abril de 2023. Esse dado reforça a pressão sobre a autoridade monetária para agir com cautela no ajuste de sua política.
Europa
O índice de gerentes de compras (PMI) da zona do euro caiu de 50,9 em março para 50,1 em abril, abaixo da expectativa de 50,2, indicando uma estagnação econômica na região. O resultado sugere que os empresários estão mais cautelosos quanto ao cenário atual, marcado por tensões comerciais globais e elevada incerteza. Essa desaceleração econômica reflete os impactos indiretos da guerra tarifária, mesmo em países que não estão diretamente envolvidos. A Rússia, por exemplo, decidiu manter a taxa básica de juros em 21%, citando a queda nos preços do petróleo e a perspectiva de receitas fiscais mais baixas como riscos relevantes. Embora a inflação esteja começando a recuar, o Banco Central russo se mostra prudente diante do ambiente externo volátil. Moscou, que até agora havia escapado dos principais efeitos das tarifas dos EUA, começa a se preparar para uma possível desaceleração global. A política monetária agressiva da Rússia segue como resposta preventiva ao cenário externo incerto.
No Reino Unido, o varejo surpreendeu positivamente com um crescimento de 0,4% nas vendas de março, marcando o melhor início de ano desde 2021. No primeiro trimestre, o avanço acumulado de 1,6% foi o mais forte em quatro anos, contribuindo com 0,08 ponto percentual para o PIB britânico. Apesar disso, o otimismo é cauteloso: um importante índice de confiança do consumidor caiu ao menor nível desde o fim de 2023. O aumento das contas de energia e a turbulência financeira global têm pressionado o orçamento das famílias e minado a disposição para o consumo. Analistas alertam que o cenário para o varejo ainda é desafiador, com dificuldades para manter margens e investimentos. Na Ucrânia, a pressão diplomática dos EUA ganhou força após Donald Trump afirmar que a Crimeia “ficará com a Rússia” em eventual acordo de paz, gerando críticas. A declaração ocorre em meio a uma nova onda de ataques russos, que deixou mortos e feridos em várias cidades. A tensão entre Washington, Kiev e Moscou continua elevada, com as negociações travadas e sem sinal claro de avanço.
Oriente Médio
As negociações nucleares entre Irã e Estados Unidos devem ser retomadas no sábado, mas o principal impasse agora gira em torno do programa de mísseis iraniano, e não mais do enriquecimento de urânio. Segundo autoridades de Teerã, os EUA aceitaram que o Irã continue com parte de seu programa nuclear, contanto que o país importe urânio enriquecido para uso civil. No entanto, o arsenal de mísseis do Irã continua sendo uma barreira crítica ao avanço diplomático. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que não haverá acordo sem o fim completo do enriquecimento local. Paralelamente, a tensão na Turquia segue elevada após a prisão do prefeito de Istambul, o que impactou os mercados e levou o banco central a elevar os juros de 42,5% para 46%. Apesar da inflação anual ter caído para 38,1% em março, as famílias ainda projetam inflação de 59,3% em 12 meses. O Banco Central turco considera que as expectativas inflacionárias seguem altas e ameaçam o processo de desinflação.
No mercado de energia, a OPEP+ discute um novo aumento acelerado na produção de petróleo para o mês de junho, após ter ampliado a produção em maio em mais de 400 mil barris por dia — três vezes acima do previsto. A medida gerou atrito entre os membros do grupo, que divergem sobre o cumprimento das cotas e os impactos nos preços. A queda recente no preço do barril, pressionado por fatores como a guerra comercial entre EUA e China, também contribui para o debate interno. Nesta quarta-feira, o Brent caiu mais de 2%, sendo negociado abaixo de US$ 66 — o nível mais baixo em quatro anos. A proposta de novo aumento deve ser decidida por oito países no encontro de 5 de maio. A Arábia Saudita, peça-chave nas articulações da OPEP+, ainda não se manifestou oficialmente sobre a medida. A decisão pode ter forte impacto geopolítico e nas economias dependentes da exportação de petróleo, especialmente diante da atual fragilidade dos mercados globais.
Estados Unidos
Os dados mais recentes da economia americana não indicam recessão no curto prazo, apesar de sinais mistos nos indicadores de atividade. O PMI industrial de abril avançou de 50,2 para 50,7 pontos, superando as expectativas e apontando expansão no setor, o que surpreendeu positivamente os analistas. Por outro lado, o PMI de serviços caiu de 54,4 para 51,4, abaixo do esperado, sugerindo possível perda de fôlego nesse segmento. Ainda assim, o cenário geral segue resiliente e o Federal Reserve continua adotando uma política monetária baseada em dados, mantendo-se cauteloso quanto a novos movimentos nos juros. A divergência entre os setores evidencia uma economia em transição, sem sinais claros de retração. A evolução dos próximos indicadores será fundamental para definir o rumo da política monetária. O foco permanece no balanço entre crescimento sustentável e controle da inflação.
No mercado imobiliário, os dados de março apontaram enfraquecimento nas vendas de imóveis existentes, que caíram 5,9% em relação ao mês anterior e 2,4% na comparação anual. Ainda assim, os preços se mantêm firmes: o valor mediano das vendas subiu 2,7% em 12 meses, alcançando US$ 403.700. O aumento no estoque de imóveis, que chegou a 1,33 milhão de unidades, representa uma alta de 8,1% sobre fevereiro e quase 20% em relação ao ano anterior. Esse movimento pode oferecer algum alívio à demanda reprimida por moradias, mas ainda reflete um mercado apertado, com poucas opções disponíveis. O aumento nos estoques pode ser um sinal positivo para a moderação de preços, embora ainda não haja indícios de queda expressiva. A resiliência nos valores mostra que a pressão sobre o custo de moradia segue sendo um desafio para a política monetária. O setor continua sob os efeitos de juros elevados e baixo dinamismo na oferta.
Brasil
O IPCA-15 de abril avançou 0,43%, em linha com as expectativas, mas reforçou a percepção de que a inflação segue pressionada. No acumulado de 12 meses, a taxa subiu de 5,26% para 5,49%, com destaque para os bens industrializados, cuja alta mensal foi de 0,57%. Mesmo com esse dado acima do esperado, o Banco Central tem comunicado que vê tendência de aceleração pontual nos preços de bens. Ao mesmo tempo, fatores externos como a guerra comercial e a volatilidade do dólar podem aliviar essas pressões inflacionárias adiante. Por ora, a projeção de IPCA em 6% para 2025 segue mantida, mas com viés de baixa. O comportamento dos preços nos próximos meses será decisivo para calibrar a política monetária. A inflação ainda exige atenção, mas não altera significativamente o cenário base.
No câmbio, o dólar recuou para R$ 5,65 após ter começado a semana em R$ 5,80, influenciado por falas de Donald Trump sobre negociações comerciais com vários países, incluindo a China. A volatilidade permanece elevada e nossa estimativa para o fim de 2025 é de R$ 6,00. No front doméstico, a segunda fase do novo crédito consignado começou a operar, agora com liberação direta pelos bancos, o que deve dar impulso ao consumo. O programa já movimentou mais de R$ 8 bilhões e, junto a outras ações do governo, deve ajudar a conter a desaceleração da atividade. Considerando esses estímulos, nossas projeções de crescimento do PIB foram revisadas para cima: de 2,0% para 2,3% em 2025 e de 1,0% para 1,5% em 2026. O crédito ao consumo pode atuar como importante amortecedor para o cenário econômico nos próximos trimestres.