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Resumo semanal: 24/03 a 28/03
Por Matheus Gomes de Souza, CEA
Ásia
A semana na Ásia foi marcada pela ausência de indicadores econômicos relevantes, enquanto os mercados acompanharam os desdobramentos das tarifas recíprocas impostas pelos Estados Unidos. A China, maior economia da região, declarou que adotará contramedidas firmes caso os EUA prejudiquem seus interesses com novas sanções. Em resposta, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que estaria disposto a reduzir as tarifas para viabilizar um acordo com a ByteDance, empresa chinesa controladora do TikTok, permitindo a venda do aplicativo utilizado por 170 milhões de norte-americanos. No entanto, Pequim rejeitou a proposta de forma imediata e categórica. Além disso, o índice de preços ao consumidor de Cingapura avançou 0,9% em fevereiro na comparação anual, registrando sua menor alta em quatro anos. O resultado, que ficou em linha com as projeções de economistas consultados pela Reuters, foi inferior ao de janeiro, quando a inflação marcou 1,2%.
Em um movimento estratégico para estreitar laços com a Rússia e adquirir avanços tecnológicos, a Coreia do Norte enviou mais 3.000 soldados para apoiar Moscou na guerra contra a Ucrânia, elevando para 14.000 o total de combatentes norte-coreanos enviados desde outubro do ano passado. Segundo estimativas do exército sul-coreano, cerca de 4.000 desses militares já foram mortos ou feridos, especialmente na região russa de Kursk, próxima à fronteira ucraniana, onde muitos foram alocados. O Serviço Nacional de Inteligência da Coreia do Sul (NIS) atribui as elevadas baixas à inexperiência dos soldados norte-coreanos no uso de drones, que têm sido uma peça-chave no conflito. Ainda assim, o NIS reconhece que, apesar das perdas, as tropas de Kim Jong-un vêm adquirindo conhecimento tático e operacional no manuseio desses equipamentos.
Europa
Nesta semana, os mercados europeus acompanharam a divulgação dos índices de gerentes de compras (PMIs) da zona do euro e do Reino Unido. Na Alemanha e no bloco europeu, os PMIs do setor manufatureiro superaram as expectativas, enquanto os de serviços registraram quedas inesperadas. Já no Reino Unido, o desempenho da indústria decepcionou, contrastando com o avanço do setor de serviços. O Produto Interno Bruto (PIB) britânico cresceu 0,1% no quarto trimestre de 2024 em relação aos três meses anteriores, conforme dados finais do Escritório Nacional de Estatísticas (ONS). O resultado confirmou a estimativa preliminar e ficou alinhado às projeções dos analistas. Na comparação anual, a economia do Reino Unido expandiu 1,5% entre outubro e dezembro, ligeiramente acima da leitura inicial de 1,4%. No acumulado de 2024, o crescimento foi de 1,1%, superando a estimativa anterior de 0,9% e acelerando em relação ao avanço de 0,4% registrado em 2023. Seguindo essa tendência positiva, as vendas no varejo britânico subiram 1% em fevereiro frente a janeiro, contrariando a expectativa de queda de 0,5%. Na comparação anual, o crescimento foi de 2,2%. Já na Espanha, o PIB avançou 0,8% no último trimestre de 2024, confirmando a estimativa divulgada em janeiro. No comparativo anual, a economia espanhola cresceu 3,4%, um pouco abaixo da projeção inicial de 3,5%.
Além disso, Ucrânia e Rússia chegaram a um acordo para suspender ataques no Mar Negro, com o objetivo de garantir a segurança da navegação marítima. Paralelamente, as nações negociam um cessar-fogo parcial que abrangeria infraestruturas energéticas, como refinarias de petróleo, usinas nucleares e estações elétricas. No entanto, Moscou condicionou a assinatura do acordo à remoção das sanções contra seus bancos e exportações agrícolas, exigência que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, classificou como “irrealista”. Poucas horas após o anúncio da trégua no Mar Negro, a Ucrânia acusou a Rússia de atacar um de seus portos, que supostamente estaria protegido pelo pacto, aumentando novamente as tensões na região.
Oriente Médio
No Oriente Médio, a semana foi pouco movimentada no campo econômico, mas trouxe desdobramentos relevantes no cenário geopolítico. Na Turquia, a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal rival do presidente Recep Tayyip Erdogan, desencadeou uma onda de protestos em várias cidades do país. Imamoglu foi detido sob acusações de suborno, manipulação de licitações, liderança de organizações criminosas e apoio a grupos terroristas, alegações que ele nega, classificando-as como perseguição política. Em resposta, manifestações ocorreram em mais de uma dezena de cidades, incluindo Istambul e a capital, Ancara. Segundo o ministro do Interior, Ali Yerlikaya, aproximadamente 1,9 mil pessoas foram detidas nos atos.
Além disso, o Irã respondeu à carta enviada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, ao líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, propondo negociações para um novo acordo nuclear. O ministro das Relações Exteriores iraniano reafirmou que Teerã não participará de negociações diretas enquanto estiver sujeito a pressões e ameaças militares, mas não descartou um diálogo indireto. A carta, entregue ao Irã pelos Emirados Árabes Unidos, estabeleceu um prazo de dois meses para que um acordo fosse alcançado. Enquanto isso, novos desdobramentos no conflito entre Israel e grupos palestinos mantiveram a tensão elevada na região, reforçando a instabilidade geopolítica do Oriente Médio.
Estados Unidos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre automóveis e peças, justificando a medida como uma forma de proteger a base industrial do país. No entanto, autoridades do Federal Reserve (Fed) alertaram que a nova política pode pressionar a inflação, influenciando a decisão do banco central de pausar o ciclo de cortes de juros iniciado na semana passada. O presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, destacou que, se plenamente implementada, a elevação de 10% na tarifa efetiva pode gerar um impacto significativo sobre os preços ao consumidor, elevando ainda mais a inflação.
O cenário inflacionário segue desafiador nos EUA. O índice de preços ao consumidor medido pelo deflator do PCE – principal referência do Fed para a inflação – subiu 0,3% em fevereiro, acumulando alta de 2,5% em 12 meses. Já o núcleo da inflação, que exclui itens voláteis, atingiu 2,8% no mesmo período, superando a meta de 2%. No setor produtivo, a sondagem empresarial PMI de fevereiro trouxe dados mistos: enquanto o setor de serviços superou expectativas ao alcançar 54,3 pontos, o índice industrial decepcionou, registrando 49,8 pontos. Além disso, o componente de expectativas desses indicadores caiu para o segundo menor nível desde outubro de 2022, refletindo preocupações sobre os impactos das novas políticas econômicas. Na mesma linha, o índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan recuou pelo terceiro mês consecutivo. Diante desse quadro, alguns analistas de mercado já começam a prever uma possível recessão no país no segundo semestre deste ano.
Brasil
A ata do Copom reforçou o tom vigilante sobre a inflação, indicando que o ciclo de alta de juros pode não ter terminado. O comitê destacou que os desafios inflacionários persistem, apesar da desaceleração recente no IPCA-15 de março, que registrou alta de 0,64%, abaixo das expectativas. No entanto, a inflação acumulada em 12 meses segue acima da meta, pressionada pelo mercado de trabalho aquecido e pela depreciação cambial. A Selic pode alcançar 15,50%, caso a atividade não desacelere mais do que o esperado. Enquanto isso, o crédito consignado privado começou a operar, facilitando o acesso ao crédito para trabalhadores do setor privado. Em poucos dias, R$ 550 milhões foram liberados, com alta demanda e potencial impacto no consumo. A expansão do crédito pode sustentar o crescimento econômico no curto prazo, mas também representa um risco inflacionário adicional.
O mercado de trabalho segue aquecido, com taxa de desemprego em 6,8% e criação de 432 mil vagas formais em fevereiro, bem acima do esperado. Esse cenário fortalece o consumo e mantém a demanda interna elevada, mas pode dificultar a convergência da inflação para a meta. Na balança comercial, o déficit de US$ 1,0 bilhão em fevereiro refletiu importações mais fortes e atrasos nas exportações agrícolas, tendência que pode persistir no primeiro semestre. Já o governo central registrou déficit de R$ 31,7 bilhões, impactado por fatores sazonais e pela mudança no calendário de precatórios. A arrecadação ainda cresce, mas deve desacelerar junto com a economia, enquanto as despesas seguem pressionadas pelos benefícios previdenciários. Assim, o equilíbrio fiscal dependerá de medidas adicionais para conter gastos, evitando que o quadro fiscal se deteriore ainda mais.