Entrevistas
Alfredo Menezes: câmbio pode ter apreciação no 1Tri, mas fechar 2024 em R$ 4,90
Depois de o dólar surpreender o mercado com fechamento abaixo dos R$ 5 no ano passado, a tendência para 2024 é de uma moeda lateral, devendo chegar em dezembro em torno de R$ 4,90/R$ 4,80. Essa é a projeção de Alfredo Menezes, CEO da Armor Capital e ex-tesoureiro do Bradesco e do BCN, que falou sobre o câmbio em entrevista concedida a Rosa Riscala e Tiago Abech, do Bom Dia Mercado.
“Eu não vejo tanta apreciação do câmbio. Vejo uma moeda lateral. Esses R$ 4,90 para o final do ano está bem precificado. No primeiro trimestre, quando o fluxo é muito bom, especialmente nos investimentos diretos, e as contas financeiras mais suaves em termos de saídas, a gente vai ter um momento de apreciação do real, até R$ 4,60, mas volta no final do ano. Não vejo motivo para uma apreciação maior, até porque o agronegócio não deve dar a mesma contribuição para a balança e o nosso diferencial de juros tende a cair no decorrer de 2024.”
Mesmo assim, Alfredo Menezes considera que o mercado está correto em projetar um câmbio abaixo de R$ 5, já que a expectativa é de que o déficit em conta corrente deve se manter em torno de 1,5% do PIB, financiado com folga pelos investimentos diretos. “Se você fala em um dólar de R$ 4/R$ 3,90, está falando de um déficit acima de 3% e a economia mundial não vai financiar um déficit desse tamanho”, disse o gestor da Armor Capital. Segundo ele, o histórico recente dos emergentes tem sido de um déficit entre 1,5% e 2% do PIB.
CARRY TRADE – Alfredo não acredita que o carry trade terá tanto peso para o câmbio em 2024, como influenciou na média do ano passado. “Apesar de a gente ter um juro nominal relativamente alto, o nosso cupom cambial (juros em dólar na moeda local) é bem alto. Claro que o diferencial das taxas ajuda, mas não é o ponto primordial. Até porque a conta financeira do ano passado foi bem negativa.”
FISCAL – Questionado sobre os receios fiscais resgatados pelo mercado com o impasse da MP da reoneração e a nova política industrial, o gestor da Armor Capital concordou que a proposta do BNDES “é muito agressiva”, mas pondera que o banco tem hoje uma “folga enorme”, não só de Brasileia, mas também porque diminuiu muito o desembolso de crédito no governo Bolsonaro.
“Então, o BNDES tem esse espaço para financiar. O medo do mercado é que nós estamos vendo algumas despesas que se tornaram recorrentes sem a contrapartida das receitas, que podem frustrar.” Ele citou como exemplo a tributação dos fundos exclusivos e dos offshores, que pode reduzir a base de arrecadação.
META FISCAL – Sobre uma eventual revisão da meta fiscal, Alfredo Menezes acredita que pode “dar um susto no primeiro momento”, mas será absorvida. “O mercado já espera em déficit em torno de 0,8% do PIB. Já tem isso na conta. É claro que vai cobrar os gastos mês a mês e pode estressar se houver uma expansão maior.”
SUCESSÃO NO BC – Outro foco de atenção este ano deve ser a sucessão do Banco Central, com o fim do mandato de Campos Neto em dezembro, que tende a causar especulações a partir do meio do ano. Alfredo acredita, no entanto, que a governança do BC é forte e prevalecerá. Na opinião dele, a Selic deve ficar em 9%. “Qualquer coisa abaixo de 8,5% seria um cavalo de pau nas expectativas de inflação futura.”