Entrevistas
Felipe Salto fala da MP que revoga a desoneração e defende manter a meta de déficit zero
[16/01/2024] Da Redação do Bom Dia Mercado
“O Congresso deveria ser responsabilizado por aprovar uma lei que coloca um elefante de R$ 25 bilhões em cima do tapete sem previsão orçamentária, do mesmo modo que o Executivo deve responder à Lei de Responsabilidade Fiscal.” Assim, o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, definiu a prorrogação da desoneração da folha de pagamentos em entrevista ao Bom Dia Mercado, nesta 3ªF.
Segundo Salto, a MP 1.202, que revoga a desoneração da folha e colocou o setor produtivo e parlamentares em pé de guerra contra o governo, foi “um bom caminho”, após a Fazenda ter pensado inicialmente em judicializar a proposta.
As negociações abertas por Haddad em conversa com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e a expectativa de um encontro do ministro com o presidente da Câmara, Arthur Lira, são indicativos de que um acordo começou a ser costurado e que uma devolução da MP está fora de questão.
Felipe Salto diz que a reoneração do setor de eventos (Perse) e, especialmente, o limite às compensações tributárias foram incluídas na MP foram pensados para compensar a reoneração gradual da folha (até 2027). Ele discorda das críticas das entidades empresariais de que o governo está querendo fazer o ajuste fiscal apenas em cima do setor produtivo.
“Calcula-se que as desonerações somem R$ 500 bilhões, meio trilhão, o que é muita coisa se imaginarmos que o Bolsa Família custa R$ 170 bilhões. As críticas [dos empresários] devem se acomodar, eu sou favorável a medidas de incentivo à indústria, mas sou extremamente fiscalista, não se pode fazer isso em cima do erário público, dos programas sociais. Concordo que o governo precisa ter um programa mais eficiente de despesas, mas a longo prazo, que aponte para uma trajetória sustentável da dívida.”
Felipe Salto considera que o grande desafio de Haddad é manter as fontes de arrecadação aprovadas pelo Congresso no primeiro ano do governo Lula e cumprir as regras do arcabouço fiscal, muitas vezes questionada pela ala política do Planalto.
“Respeitar os mecanismos do arcabouço, com o contingenciamento de gastos se for necessário, é importante para a credibilidade fiscal. Assim como é fundamental manter a meta de 2024. Se soltar a meta muito cedo, e admitir um déficit de 0,8% do PIB, como o mercado já prevê, não será mais 0,8%, será 1%, 1,5% e até 2%. A meta zero funciona como uma âncora para os gastos públicos.”
Ouça a entrevista de Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, acessando o link do BDM no Youtube