Morning Call

A Superquarta imprevisível

Atualizado 20/03/2024 às 01:56:01

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[20/03/24]

Em linha com o previsto, a China manteve o juro ontem à noite. As maiores emoções estão por vir, diante do potencial de surpresa reservado pelo Fed (15h), com coletiva de Powell meia hora depois, e pelo Copom, a partir das 18h30. A Selic será cortada hoje em mais meio ponto, de 11,25% para 10,75%. Mas o comunicado desperta muita expectativa e promete alta volatilidade se eliminar o plural da sinalização de novas doses de queda de 0,50pp do juro nas “próximas reuniões” (maio e junho). Nos EUA, também são os próximos passos do Fed que mais interessam. O mercado está fechado na aposta de que o juro será mantido pela quinta vez consecutiva na faixa de 5,25% a 5,50%, mas quer saber se a primeira queda virá mesmo em junho e quantos cortes mais o gráfico de pontos projetará até o final do ciclo.

… Junho ainda aparece como a precificação mais provável na ferramenta do CME (55,3%) para o início do relaxamento monetário, mas já disputa as chances de perto com julho (49,5%) como o pivô dovish do Fed.

… Outra prova de que o mercado está esperando uma postura mais conservadora do Fed vem da probabilidade majoritária de que os juros caiam 75pb no acumulado do ano, ao invés de 1pb, como se cogitou anteriormente.

… Se o Fed mudar o plano de três quedas da taxa básica e passar a prever só duas, vai ter correria nos negócios.

… Desde os mais recentes dados de inflação ainda pressionados (CPI e especialmente o PPI), o mercado já começou a especular sobre um ciclo mais curto de relaxamento monetário, mas é mais uma aposta de risco do que convicção.

… O consenso entre os economistas em NY é de que o Fed ainda manterá a sua estratégia de três cortes, embora possa começar o ajuste de queda mais tarde, talvez no segundo semestre, diante do caminho acidentado da inflação.

… Há duas semanas, durante depoimento ao Congresso americano, Powell animou com o comentário de que “não estamos longe de termos confiança com a inflação para cortar juros”. De lá para cá, porém, houve alguns sustos.

… Sinais de inflação persistente nos EUA começaram a dar nervoso no mercado de que o Fed possa não estar disposto a assumir o compromisso de ser tão agressivo na derrubada do juro, sob risco de exagerar no passo.

… O Fed já errou feio no passado (era Bernanke), quando ficou atrás da curva, pregando a inflação como um “fenômeno temporário”, que se provou permanente, perigoso e cobrou um alto preço da economia americana.

… Os tempos hoje são outros, mas o desafio da dinâmica inflacionária nunca deixa de se fazer presente.

COM PLURAL OU SEM PLURAL? – O Copom pode entrar numa sinuca de bico em relação ao forward guidance.

… Parte dos profissionais acredita que uma mudança agora é contratar problema para cabeça, antecipando movimentos indesejáveis e desnecessários nos negócios, enquanto outra corrente vê vantagens importantes.

… Na opinião do gestor Luiz Parreiras, da Verde Asset, “não tem ganho nenhum” o Copom mudar o guidance neste momento, porque seria um “convite à volatilidade política, que o BC conseguiu colocar porta afora no ano passado”.

… Já o economista Nicolas Borsoi (Nova Futura) pondera que manter o plural é arriscado. “Caso [o BC] continue sinalizando uma política monetária mais frouxa, será que não corre o risco de seguir desancorando as expectativas?”

… Na sua avaliação, “reforçar o forward guidance numa conjuntura de economia doméstica forte, sinais ruins na inflação e de expectativa de menos cortes de juros nos EUA parece um erro de política monetária.”

… Só pela divergência de pensamentos no mercado já se percebe que, qualquer que venha a ser a decisão do Copom, o assunto é polêmico e pode gerar questionamentos sobre a melhor condução da trajetória da Selic.

… Em termos práticos, se o comunicado mantiver o trecho “nas próximas reuniões”, contratando pelo menos mais dois cortes de meio ponto, não mudará a expectativa de consenso no Focus de juro de um dígito, de 9,00%.

… Já no caso de o plural ser eliminado, a curva do DI vai sair corrigindo as apostas, para projetar dose menor de queda da Selic (0,25pp) em maio ou em junho. O BNP Paribas não descarta que uma mudança fique para a ata (3ªF).

… Em relatório, o banco reconhece que o BC tem uma decisão difícil, “com bons argumentos de ambos os lados”.

… Os primeiros sinais de que o Copom acabará agora ou logo com o forward guidance foram enviados em falas recentes de Guillen e Galípolo, de que a orientação futura da política monetária é um “esporte de altíssimo risco”.

… Depois, a economia aquecida, com as surpresas do forte crescimento das vendas do varejo e dos serviços em janeiro, além do IBC-Br (+0,60%) e dos 180 mil empregos formais do Caged, reforçaram a discussão.

… Por outro lado, a leitura menos pressionada da inflação de serviços subjacentes no IPCA de fevereiro lançou dúvidas se o BC já deveria dar um fim imediato ao plural nos cortes ou se dá para esperar e “amaciar” o mercado.

CONTINGENCIAMENTO – Os valores que circulam na imprensa são de que a equipe econômica deve determinar na 6ªF um bloqueio entre R$ 5 bi e R$ 15 bi no Orçamento dos ministérios. O número ainda está sendo fechado.

… Mesmo no teto, o volume bloqueado ficaria abaixo dos R$ 25,9 bi previstos em trecho da LDO, mas que vem sendo contestado pela área técnica do TCU, já que configuraria infração à LRF e crime de responsabilidade.

… Tebet descartou recentemente a necessidade de um contingenciamento significativo neste início do ano, diante da surpresa positiva com a arrecadação federal. O governo corre o risco, porém, de estar superotimista.

… Levantamento da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão vinculado ao Senado, mostra que as receitas no 1º bimestre do ano ficaram R$ 12,2 bi abaixo do estimado no decreto de programação orçamentária e financeira.

… Apesar de a frustração de receitas não determinar o nível de contingenciamento necessário para cumprimento da meta fiscal de déficit primário zero, o dado revela que o governo terá um desafio ainda maior, observa a IFI.

… Para o Barclays, a Fazenda vai se valer da melhora da arrecadação para adiar o debate sobre o contingenciamento e a meta fiscal para maio ou julho, meses de divulgação de novos relatórios bimestrais de receitas e despesas.

… Ainda do lado fiscal, o governo fechou um acordo com a bancada evangélica do Congresso e conseguiu uma restrição aos benefícios na chamada PEC das Igrejas, que amplia a isenção tributária para templos religiosos.

… A proposta deve ser votada na semana que vem no plenário da Câmara.

REFORMA TRIBUTÁRIA – Lira disse que pode se reunir hoje à tarde com Haddad para tratar da regulamentação do texto e que quer aprovar as leis complementares ainda neste 1º primeiro semestre, antes do calendário eleitoral.

… Ele cobrou que a Fazenda envie os projetos de regulamentação da reforma tributária e rejeitou a hipótese de estabelecer um relator para intermediar as conversas sobre a proposta antes de receber o texto.

… Pela manhã (9h), Haddad se reunirá com Lula no Palácio do Planalto, juntamente com Tebet, Esther Dweck e Rui Costa. À noite (20h), o presidente da República deve ir ao jantar de aniversário de 44 anos do PT, em Brasília.

MAIS AGENDA – Único destaque entre os indicadores domésticos é a prévia do IGP-M (8h). Na temporada dos balanços corporativos, saem os resultados da Cogna, Allos, Equatorial Energia e Locaweb, após o fechamento.

LÁ FORA – Lagarde (BCE) discursa em conferência às 5h45, após o PPI da Alemanha e CPI do Reino Unido de fevereiro, ambos às 4h. Nos EUA, os estoques de petróleo do DoE (11h30) têm previsão de -1,2 milhão de barris.

CHINA HOJE – Ficaram inalteradas as taxas de juro de referência (LPR) de 1 ano, em 3,45%, e de 5 anos, em 3,95%.

ESPERAR PARA VER – O clima de suspense para a dobradinha Fed-Copom foi denunciado ontem pelo volume baixo de negócios no Ibovespa, pelo dólar, que se protegeu na estabilidade, e pelo recuo limitado da curva do DI.

… Antes do desfecho das duas principais decisões de política monetária para o investidor doméstico, faltou coragem para se arriscar, porque é dos próximos passos nos juros dos EUA e na Selic que depende a dinâmica do fluxo.

… Na 6ªF passada, dado mais recente, os estrangeiros ingressaram com R$ 2,95 bi na B3, a primeira entrada de março. Mas no mês, com saída de US$ 3,8 bi, e no ano, com fuga de US$ 21,2 bi, o saldo segue bem negativo.

… Apesar dos ruídos, como os que envolvem a Petrobras, analistas ouvidos pelo Broadcast dizem que a bolsa brasileira segue atrativa entre os emergentes, o que deve se intensificar no 2º semestre com o Fed mais dovish.

… “Assim que os EUA começarem a cortar os juros, com certeza o fluxo de capital vai voltar para cá. Vai estar mais interessante para o estrangeiro assumir risco. Nossa bolsa está muito descontada”, disse Bruna Allemann (Nomos).

… Ontem, a entrada de fluxo comercial fez o dólar perder força, depois de ter tido uma alta mais firme pela manhã (máxima de R$ 5,0550), seguindo o exterior. No saldo do dia, ficou praticamente estável (+0,08%), a R$ 5,0297.

… Sob o alívios dos juros dos Treasuries, o DI registrou queda, mas tímida para o tamanho da alta recente (0,20pp).

… O juro do DI para Jan25 caiu a 9,975% (de 9,982%). O DI Jan26 cedeu a 9,885% (9,930%). O Jan27, a 10,120% (10,178%); o Jan29, a 10,615% (10,666%); o Jan31, a 10,870% (10,916%); e o Jan33, a 10,970% (11,012%).

… O Focus não trouxe surpresas, mas mostrou um leve ajuste com mais PIB e mais inflação, mix sob escrutínio do Copom nesta 4ªF.

… Houve piora marginal nas medianas do IPCA 2024 (de 3,77% para 3,79%) e 2025 (3,51% para 3,52%), e aumento de 1,78% para 1,80% no PIB 2024.

… As projeções para a Selic ao fim deste ano (9%) e do próximo (8,50%) permaneceram as mesmas.

… Na bolsa, o Ibovespa chegou a bater nos 128 mil na máxima do dia, mas reduziu os ganhos com Petrobras, que descolou do petróleo, novamente pressionada pelo risco de ingerência política.

… O papel ON caiu 1,11%, a R$ 36,57, e o PN cedeu 0,74%, a R$ 36,07. O Ibov subiu 0,45%, aos 127.528,85 pontos, com giro de R$ 20,6 bilhões.

… A forte defasagem dos preços praticados pela petroleira em relação às cotações internacionais também está no foco dos investidores.

… Segundo a Abicom, com a gasolina há 151 dias sem reajuste, a defasagem já chegou a 19%, enquanto o diesel S10, sem reajuste há 84 dias, tem preço 13% menor que no exterior.

… Os cálculos foram feitos com base no fechamento do petróleo Brent na 2ªF. Ontem, as cotações voltaram a subir, com o Brent/maio em alta de 0,56%, a US$ 87,38 por barril, na ICE, e o WTI/maio, +0,69%, a US$ 82,73, na Nymex.

… Apoiada na disparada de 5,35% no minério de ferro em Dalian, Vale (+0,82%; R$ 61,40) ajudou a sustentar a bolsa.

… Embraer liderou os ganhos com 6,55% (R$ 31,57) e atingiu seu maior valor de mercado, de R$ 23,3 bilhões, depois do forte guidance para 2024.

… Segunda maior alta do Ibovespa, Braskem subiu 5,62% (R$ 23,13), em meio a rumores de que a PIC, subsidiária da Kuwait Petroleum Corporation (KPC), mostrou interesse em comprar a petroquímica, segundo o Valor.

… Na ponta negativa, Magazine Luiza (-6,19%; R$ 1,97) devolveu parte da forte alta da véspera, com analistas preocupados com a queima de caixa da companhia.

… Entre os bancos, Santander unit cedeu 1,40% (R$ 28,26); Banco do Brasil, -0,36% (R$ 55,83); Bradesco ON, -0,39% (R$ 12,63); e Bradesco PN, -0,56% (R$ 14,12). Apenas Itaú Unibanco fechou no azul, com +0,14%, a R$ 34,73.

TECHS RIDE AGAIN – As techs repetiram a dose e puxaram os índices de ações para cima em NY, com a Nvidia (+1,1%) mais uma vez no centro das atenções.

… A aposta é que os novos chips apresentados esta semana vão alimentar um rali que já adicionou US$ 1 trilhão ao valor da empresa este ano.

… Tecnologia e energia, que acompanhou o petróleo, levaram o S&P 500 ao 18º fechamento recorde do ano: 5.178,51 pontos (+0,56%). O Dow Jones subiu 0,83% (39.110,76) e o Nasdaq avançou 0,39% (16.166,79).

… Os Treasuries deram uma força às bolsas. Na véspera da reunião que pode indicar uma postura mais conservadora do Fed no corte de juros, os retornos caíram, movimento atribuído à realização de lucro após seis altas consecutivas.  

… O retorno da note de 2 anos recuou a 4,692% (de 4,737% na véspera) e da note de 10 anos caiu a 4,299% (4,329%). O do T-bond de 30 anos fechou a 4,443% (4,448%).

… O leilão de US$ 13 bilhões em bonds de 20 anos com forte demanda contribuiu para amenizar as taxas, em especial as longas.

… Para o economista-chefe da Fitch Ratings, Brian Coulton, o Fed só deve reduzir as taxas em julho. A última etapa da desaceleração da inflação americana rumo aos 2% pode ser mais difícil do que as anteriores, disse.

… Quanto ao BCE, já faz um tempo que os dirigentes do BC europeu vêm falando abertamente sobre o timing do corte em junho, a começar por Lagarde na entrevista após a última reunião de política monetária há duas semanas.

… Ontem, o vice Luis de Guindos disse que o BCE terá condições de discutir um possível corte de juros em junho, quando estarão disponíveis mais dados. Também o dirigente Pablo Hernández de Cos confirmou este prazo.

… Apesar de o BoJ ter dado fim ao juro negativo, o presidente Kazuo Ueda disse que vai manter as condições monetárias relaxadas. Para a Fitch, o BC japonês vai optar por uma manutenção prolongada entre zero e +0,1%.

… Neste cenário em que o diferencial continua a beneficiar o lado americano, o iene não teve força para se contrapor ao dólar e caiu forte: -1,16%, a 150,90/US$.

… O índice DXY subiu 0,22%, a 103,827 pontos, basicamente influenciado pelo avanço do dólar ante a moeda japonesa, já que euro (-0,06%), a US$ 1,0865, e libra esterlina (-0,02%), a US$ 1,2723, ficaram estáveis.

EM TEMPO… VALE informou que “avaliará oportunamente” os termos de uma ação judicial movida na Holanda contra a sua subsidiária integral, a Vale Holdings BV, pela tragédia ambiental em Mariana (MG)…

… Os autores da ação pedem indenização de € 3 bilhões (em torno de R$ 18 bilhões) por danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, em 2015.

PETROBRAS assinou acordo com Mitsui para avaliação de oportunidades de negócios em baixo carbono.

MINERVA teve duas unidades na Colômbia habilitadas para exportar carne bovina para China.

JSL registrou lucro líquido ajustado de R$ 82,2 milhões no 4TRI, queda de 25,3% na comparação anual; Ebitda ajustado somou R$ 411,2 milhões, alta de 28,8% em relação ao mesmo período de 2022.

VAMOS. Citi manteve recomendação de compra para ação, com preço-alvo de R$ 16; para o banco, companhia apresentou resultados positivos no 4TRI, com destaque para o lucro líquido, que superou as expectativas.

MILLS registrou lucro líquido de R$ 81 milhões no 4TRI, alta de 70,3% na comparação anual; Ebitda ajustado somou R$ 190,9 milhões, avanço de 31,1% em relação ao mesmo período de 2022.

TIM vai distribuir R$ 200 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,0826 por ação, com pagamento em 23/4; ex em 25/3.

WEG aprovou a distribuição de R$ 242,3 milhões em JCP, o equivalente ao valor líquido de R$ 0,0491 por ação, com pagamento em 14/8; ex em 25/3.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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