Morning Call

Agenda cheia em NY testa cautela com Fed

Atualizado 17/01/2024 às 01:29:07

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[17/01/24]

… Antecipado em Davos, o PIB da China, divulgado no fim da noite de ontem, cresceu 5,2% no 4Tri e em 2023, superando a meta (5%). A produção industrial avançou 6,8% em dezembro, acima do esperado (6,5%). Só não se sabe se o mercado reagirá bem, diante da chance de Pequim descartar novos estímulos com a recuperação da economia, fragilizada pela crise imobiliária. Na zona do euro, hoje tem a inflação do CPI de dezembro (7h) e Lagarde participa, às 12h15, do Fórum Econômico Mundial. Nos EUA, um dia após o Fed boy Christopher Waller ter cortado as asas do mercado sobre a precificação mais dovish para o Fed, a agenda é cheia, com discursos de três dirigentes do BC americano, Livro Bege (16h), produção industrial (11h15) e vendas no varejo (10h30). Aqui, Haddad quer encontrar com Lula hoje e com Lira amanhã para tratar da MP da reoneração da folha.

… O encontro não consta na agenda oficial de Lula desta 4ªF, mas o presidente já está diretamente envolvido nas negociações da MP, que colocou o setor produtivo e o Congresso em pé de guerra com a Fazenda.

… Por telefone, Haddad já conversou com Lira ontem, mas quer se encontrar pessoalmente amanhã. Após a rodada de tratativas, o ministro espera ter até o fim de semana um quadro mais claro sobre o tema.

… Ele não descarta chegar a um desfecho sobre a polêmica da desoneração antes do fim do recesso, em 5/2, e diz que Pacheco pretende reunir a equipe econômica e líderes do Congresso já na primeira semana de retorno.

… As negociações abertas por Haddad são indicativos de que uma devolução da MP está fora de questão.

… Questionado sobre a chance de o governo usar recursos de uma eventual taxação das compras online internacionais para compensar a desoneração, Haddad disse que não ouviu a ideia de Pacheco ou Lira.

… Mas não descartou a hipótese de algum parlamentar apresentar esse encaminhamento no meio das conversas.  

… O Broadcast informou que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) vão ingressar no STF com ação contra a isenção das compras de até US$ 50.

… Em conversa com jornalistas nesta 3ªF, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) afirmou que o governo vai continuar perseguindo os parâmetros estabelecidos para a meta de déficit fiscal zero este ano.

… Em entrevista ontem ao site do BDM (www.bomdiamercado.com.br), o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, elogiou a MP da reoneração e defendeu a manutenção da meta déficit fiscal.

… “Se soltar a meta muito cedo e admitir um déficit de 0,8% do PIB, como o mercado já prevê, não será mais 0,8%, será 1%, 1,5% e até 2%. A meta zero funciona como uma âncora para os gastos públicos”, afirmou.

… Segundo ele, a Fazenda vai tentar ganhar tempo até maio, quando sai o segundo relatório bimestral de avaliação das receitas e despesas, para avaliar a arrecadação e a necessidade de um eventual ajuste da meta.

… Sobre a MP, considerou um “bom caminho”, após a Fazenda ter pensado inicialmente em judicializar o tema.

… “O Congresso deveria ser responsabilizado por aprovar uma lei que coloca um elefante de R$ 25 bilhões em cima do tapete sem previsão orçamentária, do mesmo modo que o Executivo deve responder à LRF”, afirmou.

… Salto disse que a reoneração do setor de eventos (Perse) e, especialmente, o limite às compensações tributárias, incluídos na MP, foram pensados para compensar a reoneração gradual da folha (até 2027).

… Ele discorda da queixa do empresariado de que o governo quer fazer o ajuste em cima do setor produtivo.

… “Calcula-se que as desonerações somem R$ 500 bilhões, meio trilhão, o que é muita coisa se imaginarmos que o Bolsa Família custa R$ 170 bilhões. Não se pode fazer isso em cima do erário público, dos programas sociais.”

“FED METÓDICO E CUIDADOSO” – Na tentativa de dobrar os exageros do mercado, o Fed boy Christopher Waller, que tem poder de voto permanente nas decisões de política monetária, foi muito direto ontem.

… Antecipou só três cortes de juro no ano, de 25pb cada, num total de 75pb. O mercado, que especulava sobre até sete quedas e um ajuste acumulado de 175pb, tomou um susto e puxou as taxas dos Treasuries (abaixo).

… Por aqui, com queda na bolsa e pressão no dólar e na curva do DI, os negócios também repercutiram mal o aviso de que o relaxamento monetário nos EUA pode ser menos agressivo do que se imaginava este ano.

… Os comentários de Waller foram os mais detalhados até o momento sobre as intenções do Fed e, apesar de terem balançado o sentimento dovish, o mercado ainda não eliminou do cenário as projeções mais otimistas.

… NY ainda acredita que o juro vai cair em março, embora esta aposta no CME tenha diminuído, de 81,1% para 66,9%, e agora espera que o ciclo total seja de 150pb (antes, a precificação majoritária era de 175pb).

MAIS AGENDA – Três dirigentes do Fed participam de eventos hoje: Michael Barr e Michelle Bowman, ambos às 11h, além de John Williams, às 17h. Depois do que Waller disse nesta 3ªF, todo o cuidado é pouco em NY.

… Entre os indicadores nos EUA, a previsão para as vendas no varejo (10h30) é de alta de 0,4% em dezembro, enquanto a produção industrial (11h15) deve cair 0,1%. Às 12h, sai o índice NAHB de confiança das construtoras.

… A Opep solta o relatório mensal de petróleo (sem horário). Após o fechamento, sai o balanço da Alcoa.

… Aqui, saem as vendas no varejo (9h). Pelo conceito ampliado, que inclui veículos e material de construção, o dado deve crescer 0,3% em novembro (mediana de pesquisa Broadcast). Já o varejo restrito deve avançar 0,1%.

… Do lado da inflação, saem a prévia do IPC-Fipe (5h) e o IGP-10 (8h), que deve desacelerar a 0,46% em janeiro.

O QUE VEM DE FORA ME ATINGE – O mercado doméstico não foi poupado da cautela com a reprecificação do Fed. O dólar flertou com R$ 4,93 na máxima do dia, a curva do DI abriu e o Ibov queimou quase dois mil pontos.

… O índice à vista perdeu 1,69% e fechou abaixo dos 130 mil pela primeira vez este ano (129.294). Uma única ação (SLC, +1,97%, a R$ 18,10), das 87 negociadas pelo Ibov, conseguiu fechar em alta, para dar a medida do desconforto.

… O minério de ferro (-0,64%) não se sensibilizou com a declaração do primeiro-ministro da China, Li Qiang, de que o PIB do país cresceu 5,2% em 2023, acima da meta de 5%. Maior peso do Ibovespa, Vale caiu 1,30%, a R$ 70,62.

… Na contramão da ligeira alta do Brent, Petrobras ON caiu 1,10% (R$ 39,60) e PN, -1,24% (R$ 38,10). Na ICE, o contrato março do petróleo subiu 0,24%, a US$ 78,19. Mas o WTI/fev recuou 0,38%, a US$ 72,40, na Nymex.

… As cotações oscilaram entre uma perspectiva incerta da demanda global, China sobretudo, e as crescentes tensões no Oriente Médio, em especial no sul do Mar Vermelho.

… A unit do Santander liderou a correção entre os bancos, com -1,75% (R$ 29,76), seguida por Bradesco ON (-1,60%; R$ 14,12). O papel PN cedeu 0,88% (R$ 15,73). Itaú Unibanco, -1,41% (R$ 32,98), e BB ON, -0,57% (R$ 55,88).

… A pior queda do dia foi de Soma (-6,18%; R$ 7,13), seguida de Cosan, -6,14% (R$ 18,35) e Azul, -5,28% (R$ 12,92).

… Juros e dólar sentiram o golpe do Fed. O DI subiu desde a abertura, acompanhando os retornos mais pressionados dos Treasuries, e acelerou após Waller, embutindo prêmios de quase 20 pb no miolo e ponta longa da curva.

… O DI para Jan25 subiu a 10,135%, (de 10,054% ontem). O DI Jan26, a 9,810% (de 9,628%). O Jan27 avançou a 9,965% (de 9,761%); Jan29, a 10,360% (10,163%); Jan31, a 10,590% (10,393%); e Jan33, a 10,690% (10,494%).

… O crescimento de 0,4% dos serviços em novembro sobre outubro, abaixo do 0,50% esperado, não afetou os negócios. Ante novembro de 2022, houve queda de 0,30%.

… O Santander Brasil avalia que os números reforçam a projeção de queda de 0,2% do PIB/4Tri. O banco manteve a estimativa para 2023 em +2,8%. Para 2024, aposta em +1,2%.

… No câmbio, o dólar à vista também refletiu o ajuste nas expectativas dos investidores em relação aos próximos passos da política monetária do Fed e subiu 1,22%, a R$ 4,9256. A moeda para fevereiro avançou 1,46%, a R$ 4,9350.

… O BTG Pactual não descarta a possibilidade de real mais apreciado este ano, podendo chegar a R$ 4,70 ou R$ 4,60.

… O cenário do banco pressupõe déficit zero em 2024, com contingenciamento de R$ 24 bilhões, saldo da balança comercial de US$ 90 bilhões e corte do juro americano ainda no 1º semestre.

CHOQUE DE REALIDADE – Nas últimas semanas, os Fed boys já não vinham perdendo uma oportunidade de dizer que o mercado estava exagerando nas apostas de corte do juro, mas a ficha só caiu mais forte ontem com Waller.  

… O rendimento dos Treasuries de 10 anos voltou a superar os 4%, próximo dos picos do dia no fim da sessão, a 4,056% (de 3,941% na véspera). O da Note-2 anos subiu a 4,240% (de 4,131%) e de 30 anos, a 4,302% (4,176%).

… O Goldman Sachs avalia que Waller aumentou as chances de o Fed atrasar o início do ciclo de cortes. Ainda assim, o banco optou por manter a aposta de queda do juro em março, seguida por outras quatro até o fim do ano.

… A perspectiva de um Fed mais hawkish e declarações mais favoráveis ao corte de juros de dois dirigentes do BCE desvalorizaram o euro (-0,68%, a US$ 1,0872).

… O português Mario Centeno defendeu que o momento de relaxar a política monetária no bloco está mais próximo que o previsto. O francês François Villeroy de Galhau reforçou que o BCE provavelmente cortará juros neste ano.

… Mas tudo indica que há uma divisão interna no BC europeu. Na contramão, Madis Muller (Estônia) e Gediminas Simkus (Lituânia) advertiram que o mercado anda otimista demais em relação ao corte de juros.

… Esta semana, Joachim Nagel (Alemanha) e Robert Holzmann (Áustria) já haviam descartado corte no curto prazo.

… A libra (-0,73%, a US$ 1,2632), por sua vez, foi prejudicada pela desaceleração dos ganhos salariais no Reino Unido no trimestre até novembro, para 6,6%, de 7,2% no trimestre até outubro.

… Apesar disso, a Capital Economics vê um BoE ainda hawkish na reunião de política monetária de fevereiro. Um corte de juros, avalia, poderá vir só em junho.

… O iene teve a maior desvalorização entre as moedas fortes. O dólar saltou 1,02%, a 147,23/US$.

… Nas bolsas em NY, a disparada dos juros dos Treasuries impôs perdas apenas moderadas. O Dow Jones recuou 0,62%, aos 37.361,12 pontos. O S&P 500 caiu 0,37% (4.765,98) e o Nasdaq perdeu 0,19% (14.944,35 pontos).

… Apple recuou 1,23%, reagindo à decisão da Suprema Corte dos EUA de rejeitar um recurso da companhia em um processo da desenvolvedora Epic Games.

… Com queda no lucro do 4Tri, Morgan Stanley caiu 4,16%. Já o Goldman Sachs superou previsões de lucro e receita e subiu 0,71% no dia. Bank of America (-2,07%) e Citigroup (-1,43%) foram mal.

EM TEMPO… GOL informou que não há, até agora, qualquer definição sobre a forma de implementação de uma reestruturação de capital da companhia.

CURY. Lançamentos somaram VGV de R$ 856,6 milhões no 4TRI23, alta de 54% s/ 4TRI22; vendas líquidas cresceram 20% no mesmo período, para R$ 904,7 milhões.

SANEPAR iniciou oferta de R$ 600 milhões em debêntures com prazo de seis anos; operação, voltada a investidores profissionais, deve ser liquidada na 6ªF.

INTER anunciou início de oferta de ações que pode chegar a US$ 184 milhões.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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