Morning Call

Apoio a Kamala cresce e já anima mercados

Atualizado 22/07/2024 às 23:47:40

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[23/07/24]

… Alphabet e Tesla divulgam balanços após o fechamento em NY, onde as ações das Sete Magníficas se recuperam dos tombos das techs na semana passada. Diante das incertezas eleitorais nos EUA, com a desistência de Biden, os Treasuries e o dólar ainda registraram volatilidade, mas o crescente apoio a Kamala Harris começa a projetar as chances dos democratas em novembro – estimulando o apetite por risco e a alta das bolsas em Wall Street. Aqui, as falas de Lula à mídia estrangeira animaram os investidores antes da divulgação do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas. O presidente garantiu que haverá cortes de gastos “sempre que for necessário” e reforçou o compromisso de seu governo com a responsabilidade fiscal, ajudando a manter um clima positivo para os ativos domésticos.

… O dólar caiu, os juros futuros queimaram prêmios e o Ibovespa só não foi melhor, porque as commodities reagiram mal ao corte tímido dos juros chineses (leia abaixo). Mas as notícias de Washington já surgem como um contraponto para os emergentes.

… Até poucos dias atrás, a vitória de Trump era dada como certa e os mercados já antecipavam o impacto de suas políticas protecionistas. Agora, ainda que o republicano se mantenha como favorito na disputa, Kamala se colocou no páreo e pode virar o jogo.

… As agências internacionais informavam na noite de ontem que a vice-presidente conquistou o número de delegados necessários para assegurar a sua nomeação pelos democratas para a disputa presidencial.

… Cotados para substituir Biden, o senador Joe Manchin e a governadora do Michigan, Gretchen Whitmer, anunciaram a adesão a Kamala Harris e fortaleceram o seu nome para ser confirmado na Convenção do Partido Democrata, no próximo mês.

… Entre outros nomes ilustres do Partido Democrata, ela ganhou o apoio de Nancy Pelosi e do governador de Wisconsin, Tony Evers, que é considerado um estado-chave da corrida presidencial nos Estados Unidos.

… Também em Wall Street, o apoio a Kamala cresce, após a adesão da herdeira Abigail Disney e de Alexander Soros, filho de George Soros, além do empresário Andrew Yang. Em 24 horas, sua campanha arrecadou mais de US$ 90 milhões.

… O índice de volatilidade VIX, conhecido como o índice do medo, recuou perto de 10% nesta 2ªF, devolvendo o salto da última 6ªF.

… Para a Oxford Economics, Trump ainda é o candidato com mais chances para vencer a corrida pela Casa Branca, mas a consultoria disse que a saída de Biden insere “incertezas consideráveis” no cenário eleitoral e o futuro vai depender dos eleitores indecisos.

MAIS REALISTA – O Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas apresentado nesta 2ªF aponta um “cenário mais realista” das contas públicas, na opinião do economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto.

… Segundo Salto, os dados mostram importante revisão nas projeções de receitas líquidas, que diminuíram em R$ 13,2 bilhões, passando a indicar alta real de 9,6% (de 10,2% no 2º bimestre), enquanto as despesas primárias aumentaram em R$ 20,7 bilhões.

… Esse aumento explica-se pela elevação nas projeções das despesas obrigatórias e por uma redução nas discricionárias.

… O resultado primário estimado para 2024 piorou em R$ 33,9 bilhões, totalizando déficit estimado de R$ 61,4 bilhões – o que representa déficit de R$ 32,6 bilhões para fins de verificação da meta (descontando-se os R$ 28,8 bilhões da banda de tolerância).

… Os R$ 3,8 bilhões que estão faltando para cumprir a meta zero com déficit de 0,25pp foram justamente o valor do contingenciamento, que se soma à redução de R$ 8,3 bilhões nas despesas discricionárias e ao bloqueio de R$ 11,2 bilhões.

… Ou seja, o total de cortes após contingenciamento, bloqueio e revisão é de R$ 23,3 bilhões em despesas discricionárias. Esse foi o ponto positivo do relatório, mas, segundo a Warren, os benefícios previdenciários continuam subestimados.

… Já do lado das receitas, destaca-se a revisão para cima em R$ 12,5 bilhões no IR com a tributação de offshores e fundos fechados. O IPI projetado também subiu (+R$ 3,9 bilhões), com a taxa de câmbio e a limitação das compensações tributárias.

… A receita previdenciária estimada para este ano diminuiu em R$ 25 bilhões com a desoneração da folha das empresas e dos municípios, mas essa conta deve ser ajustada no próximo relatório com as compensações que devem ser decididas em setembro.

… Outras duas fortes revisões a menor ocorreram no PIS/PASEP e no COFINS e em outras receitas administradas pela Receita Federal. No primeiro caso, menos R$ 10,6 bilhões e, no segundo, menos R$ 11,7 bilhões, num total de R$ 22,3 bilhões.

… O governo afirma que, de julho a dezembro, espera uma entrada de R$ 87,1 bilhões com as medidas para elevar a arrecadação.

… Desse total, R$ 37,7 bilhões seriam referentes à nova lei do CARF; R$ 23 bilhões a mudanças nas transações tributárias; R$ 12 bilhões à restrição das compensações tributárias e R$ 14 bilhões à mudança nas subvenções do ICMS.

REAÇÕES – Para Tiago Sbardelotto (XP), “o governo segue confiante com receitas e as revisões foram pontuais”. Na opinião dele, cumprir a meta é possível, mas requer esforço. “Vemos necessidade de contingenciamento adicional de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões.”

… João Leme (Tendências) vê necessidade de congelamento extra de R$ 15 bilhões/R$ 20 bilhões e alerta que as despesas previdenciárias ainda estão subestimadas. “Mas a coletiva de imprensa mostrou a área econômica comprometida com a meta de primário.”

… Rafaela Vitória (Inter): “Governo reconheceu acelerado crescimento dos gastos obrigatórios e o bloqueio/contingenciamento parece insuficiente para cumprir a meta. Caso não haja reversão, governo caminha para déficit de R$ 85 milhões.”

… Jefferson Bittencourt (ASA): “Documento não trouxe o conforto esperado e a mudança da meta pode voltar à mesa.”

… Já Bráulio Borges (LCA) disse que “o foco do mercado agora será o corte de R$ 26 bilhões no Orçamento/2025”.

AGENDA FRACA – A prévia do IPC-S (8h) é o único indicador doméstico. Às 15h, tem reunião do CMN. Nos EUA, as vendas de moradias usadas (11h) têm previsão de queda de 2,9% em junho. A Turquia decide juro às 8h.

MUITO AJUDA QUANDO NÃO ATRAPALHA – O mercado gostou ontem de ver Lula vestido com o figurino fiscal.

… Repercutiram bem os seus comentários de que o governo congelará despesas “sempre que necessário”, de que a responsabilidade fiscal está nas “entranhas” e de que o País “vai quebrar” se gastar mais que arrecada.

… Além da disposição de Lula para apertar os cintos, pelo menos outros três fatores ajudaram o dólar a aliviar a pressão e tomar alguma distância da marca de R$ 5,60, revisitada semana passada em ambiente de estresse.

… Em primeiro plano, a esperança de que Kamala garanta uma candidatura mais competitiva contra Biden projetou um menor protecionismo e hostilidade contra a China, importante parceiro comercial do Brasil.

… Em segundo lugar, o inesperado corte de juro anunciado no final da noite de domingo pelo BC chinês (PBoC) beneficiou as moedas de mercados exportadores de commodities (nosso caso) e ajudou a apreciar o real.

… Além disso, relatos de fluxo positivo de recursos para o mercado doméstico, diante da liquidação da oferta pública de ações para a privatização da Sabesp, também contribuíram para reduzir o apelo defensivo pelo dólar.

… Na mínima, que coincidiu com as declarações comportadas de Lula sobre o fiscal, a moeda americana caiu 1,20% e voltou a R$ 5,5361. Mas desacelerou à metade o ritmo de queda no fechamento: R$ 5,5701 (-0,60%).

… Sem segurança total de que o governo conseguirá cumprir pelo menos o piso da banda da meta do déficit fiscal, o câmbio ainda deve continuar vulnerável à fragilidade do cenário doméstico das contas públicas.

… Outras duas variáveis também podem continuar segurando o dólar acima de R$ 5,50, segundo analistas ouvidos pelo Broadcast: a antecipação da volatilidade com corrida eleitoral dos EUA e a recuperação do iene.

… Tudo isso acaba neutralizando parte do efeito positivo da aposta consolidada de corte do Fed em setembro.

… Em movimento desencadeado pelo receio em torno das perspectivas fiscais, o Citi elevou a projeção para a taxa de câmbio no ano de R$ 5,17 para R$ 5,30 e, por tabela, subiu a previsão do IPCA/24 de 4,0% para 4,2%.

… A estimativa para a inflação no ano que vem foi mantida em 3,5%, mas o banco avisou que há riscos altistas.

… O relatório Focus trouxe ontem uma boa notícia: a mediana do IPCA para 2025, que é o horizonte relevante da política monetária, foi mantida pelos economistas em 3,90%, interrompendo uma sequência de 11 altas.

… Se este movimento já é sinal de que a deterioração das expectativas se esgotou, é o que ainda se verá.

… Sintonizados ao efeito combinado de Lula + Kamala sobre o dólar e da trégua na piora das projeções do IPCA, os juros futuros queimaram prêmio de risco e conseguiram se descolar do avanço do rendimento dos Treasuries.

… No fechamento, o DI Jan/25 caiu a 10,655% (de 10,681% no pregão anterior); o Jan/26 recuou para 11,400% (de 11,440%); Jan/27, 11,640% (de 11,690%); Jan/29, 11,930% (de 12,010%); e Jan/31, 12,020% (de 12,160%).

PIOR QUE A ENCOMENDA – Sabotado pela frustração das commodities, que consideraram insuficiente o corte de juro pela China, o Ibovespa não conseguiu reagir com a mesma empolgação dos demais ativos à fala de Lula.

… Mas brigou para fechar em alta (+0,19%), aos 127.859,63 pontos, com giro baixo (R$ 17 bi), como sempre.

… O alívio do câmbio incorporado pela curva do DI ajudou a disparar ações do setor de construção e consumo: Carrefour (+4,39%), LWSA (+4,39%), Multiplan (+3,98%), Eztec (+3,65%), Cyrela (+3,45%) e Iguatemi (+2,52%).

… Mas os ganhos na bolsa foram contidos pela Vale (ON, -0,11%, a R$ 61,05), que seguiu a apatia do minério de ferro (-0,31%), e pela Petrobras (ON, -1,53%, a R$ 41,07; e PN, -1,99%, a R$ 37,92), que caiu bem mais que o petróleo.

… Pouco animado com o corte do juro chinês, o barril esperava por medidas de estímulo mais agressivas pelo governo de Pequim. Também relatos de um possível cessar-fogo em Gaza ajudaram a tirar forças da commodity.

… O contrato do Brent para setembro foi induzido a leve perdas (-0,28%), para US$ 82,40 por barril na ICE londrina.

… Os bancos fecharam sem direção única. Bradesco foi bem: ON ganhou 0,70%, a R$ 11,54, e PN avançou 1,12%, a R$ 12,63. BB ON subiu 0,11%, a R$ 27,14. Itaú fechou estável (-0,06%, a R$ 34,24) e Santander caiu 0,28% (R$ 28,70).

… Pior queda do dia, Embraer desabou 7,03%, a R$ 38,60, diante da queda do dólar e em realização dos lucros recentes. Apesar do ajuste negativo, o papel ainda acumula uma valorização de quase 7% este mês.

… A trajetória positiva do papel nos últimos meses se apoia nos fundamentos. A empresa anunciou ontem que a Holanda e a Áustria assinaram contrato conjunto para a compra de 9 aeronaves Embraer C-390 Millennium.

NÃO SE DÃO POR VENCIDAS – Em NY, boa parte das “sete magníficas” reverteu o pessimismo recente, esvaziou os receios de um estouro da bolha e provou que a festa das gigantes de tecnologia ainda não acabou.

… À véspera de seus balanços, Alphabet ganhou 2,26% e Tesla saltou 5,15%. Nvidia emplacou rali de 4,46%, Meta deslanchou 2,23% e Microsoft subiu 1,33%. Só Amazon (-0,32%) e Apple (-0,16%) caíram, mas bem pouco.

… A força das giant techs turbinou o Nasdaq (+1,58%), que reconquistou os 18 mil pontos (18.007,57). O S&P 500 também engatou alta firme de 1,08%, aos 5.564,47 pontos. O Dow Jones subiu 0,32%, a 40.415,31 pontos.

… A reação dos negócios em NY à reviravolta no cenário eleitoral foi moderada e incerta. Por enquanto, prevalece a impressão de que o desfecho será a vitória de Trump, que mantém o favoritismo nas pesquisas.

… Mas a saída de Biden adiciona dúvidas e o mercado monitora as chances de Kamala embolar a disputa.

… Em reação volátil e confusa ao novo quadro da corrida à Casa Branca, os juros dos Treasuries reverteram a queda inicial. Mas subiram de forma limitada, diante da aposta de corte do juro pelo Fed em setembro.

… A taxa da Note-2 anos avançou a 4,520%, de 4,504% no pregão anterior, e a de 10 anos, a 4,254%, de 4,238%.

… Mas o dólar não subiu, com a expectativa do Fed dovish freando qualquer ímpeto altista. O índice DXY fechou estável (-0,08%), a 104,314 pontos. O euro (+0,03%) ficou em US$ 1,0889 e a libra avançou 0,11%, a US$ 1,2925.

… Integrante do BCE, Peter Kazimir disse que as portas continuam abertas para uma flexibilização monetária adicional. Porém, alertou que mais dois cortes do juro não devem ser tomados como cenário-base.

… O iene prolongou sua recuperação contra a moeda americana e terminou em alta de 0,34%, a 157,11/US$.

EM TEMPO… CARREFOUR reverteu prejuízo e registrou lucro líquido de R$ 330 milhões no 2TRI24; empresa teve lucro líquido ajustado de R$ 151 milhões no trimestre, salto de 412,5% na comparação anual…

… Ebitda ajustado somou R$ 1,6 bilhão, avanço de 20,2% em relação ao mesmo período do ano passado.

PETRORECÔNCAVO informou que o Opportunity adquiriu 777,9 mil ações ON da empresa, passando a deter 74.009.089 de papéis; o equivalente a 25,22% do total.

EMBRAER. Itaú BBA tem recomendação de compra para os ADRs da empresa, com preço-alvo de US$ 36…

… Para o banco, aquisição de 9 aeronaves militares C-390 Millenium pela Holanda e pela Áustria pode significar acréscimo de US$ 1 bilhão aos pedidos já existentes da companhia.

HAPVIDA celebrou memorando de entendimentos com gestora Riza para custeio de dois novos hospitais sob medida (“build to suit”) nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro; valor total do negócio pode chegar a R$ 600 milhões.

TELEFÔNICA, via controlada TCloud, adquiriu totalidade de cotas da Ipnet Serviços em Nuvem por R$ 230 mi.

ENERGISA. Consumo de energia subiu para 3.113 GWh em junho, aumento de 4,5% ante o mesmo mês de 2023.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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