Morning Call

Arcabouço, China e Jackson Hole movem a semana

Atualizado 21/08/2023 às 01:04:23

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[21/8/2023]

… Em mais uma medida para combater a fragilidade da recuperação econômica, a China voltou a reduzir hoje a taxa de referência (LPR) de um ano, de 3,55% para 3,45%, na mesma magnitude de junho. O juro de cinco anos foi mantido em 4,2%. No início da madrugada, o petróleo subia, mas persiste o desafio de convencer os mercados de que as iniciativas serão suficientes. Nos EUA, investidores entram em contagem regressiva para o simpósio de Jackson Hole, quando Powell (6ªF) poderá dar sinais mais assertivos sobre a política do Fed. Já aqui, com os ativos contaminados pelo exterior mais adverso, causa preocupação o atraso na agenda econômica no Congresso. A indefinição da reforma ministerial pode ameaçar a votação do arcabouço fiscal.

… A votação na Câmara estava prevista para amanhã (3ªF), mas Lula viajou para a cúpula dos BRICS na África do Sul, neste final de semana, sem definir os cargos para os parlamentares do Centrão. Hoje à noite, Lira reúne líderes para discutir a pauta.

… Haddad acompanha Lula a Johanesburgo e sua ausência, no quadro de tensão com o Legislativo, preocupa a equipe econômica, que teme pela possibilidade de a área política continuar “esticando a corda”, como apurou Célia Froufe (AE).

… Uma fonte da Fazenda comentou à jornalista que a viagem de Haddad surpreendeu. “O ideal seria que ele estivesse por aqui, para dar o arremate pelo menos à questão do arcabouço”. A expectativa era que o ministro só viajasse para o G-20.

… De acordo com relatos obtidos pelo Broadcast, Lula ainda não decidiu o novo desenho da Esplanada, ou seja, não sabe onde vai colocar André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), já confirmados como ministros.

… Um dos principais entraves é o Desenvolvimento Social de Wellington Dias (PT), que tem o Bolsa Família e é cobiçado pelo PP.

… Se o presidente adiar o anúncio da reforma ministerial para a volta da viagem, dia 28, o prazo ficará apertado para o planejamento do Orçamento de 2024, que deve ser enviado ao Congresso Nacional até o fim do mês.

… Relator do arcabouço fiscal, o deputado Cláudio Cajado sinalizou que a votação do arcabouço pode ser adiada. Segundo ele, sem acordo na reunião desta noite, a votação do arcabouço ficará para depois do dia 31 de agosto.

… Outro risco para o governo é a intenção de Lira de votar esta semana o projeto de desoneração da folha, já aprovado pelo Senado. Ele articula um pedido de urgência que levaria a matéria diretamente para o plenário da Câmara.

… A chance de tributação de aplicações e negócios em offshores desejada pela equipe econômica também fica mais longe. O tema já não havia sido bem recebido por parlamentares e a coisa só piorou após a desavença entre Lira e Haddad.

… No Senado, Pacheco pretende votar esta semana a MP do salário mínimo e a correção da tabela do IR. Na CAE, está marcada para amanhã (3ªF) a leitura do relatório do projeto do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).

VIROU A MARÉ – No Estadão (domingo), depois de surfar numa onda positiva para a agenda econômica, Haddad corre o risco de ver a maré virar com as dificuldades para aprovar as medidas tributárias necessárias ao aumento da arrecadação.

… O cenário complicou com a demora da reforma ministerial do governo Lula e o estopim da crise aberta na relação do presidente da Câmara, Arthur Lira, com Haddad, que criticou publicamente as lideranças da Casa.

… A base frágil do governo Lula não ganhou corpo nem mesmo com o recorde de emendas liberadas em julho, que somaram nada menos do que R$ 11,8 bilhões para Estados e municípios por indicação de deputados e senadores.

… A jornalista Adriana Fernandes lembra que RCN passou os últimos dias alertando para o problema que chama de “desancoragem gêmea”, tanto da política monetária quanto da fiscal. Repetiu a leitura em eventos, até no Congresso.

… De um lado, o mercado mantém uma projeção de IPCA de 3,5% em 2025 e 2026, enquanto a meta é de 3%. De outro, a projeção para o resultado das contas públicas é de déficit de 0,8% do PIB, contra a meta de zerar o rombo no ano que vem.

… “Se o mercado acreditasse que o que será feito de fiscal é exatamente o que o governo promete, teríamos uma curva de juros lá na frente mais baixa, propiciando uma queda maior e mais duradoura de juros”, disse o presidente do BC.

IPCA-15 – Parte do reajuste pesado promovido pela Petrobras nos combustíveis semana passada já deve aparecer na prévia do IPCA-15 de agosto (6ªF), principal indicador da semana. RCN disse que o aumento terá impacto de 0,4 pp até setembro.

… O mercado esvazia a esperança de um corte mais agressivo da Selic (0,75 pp) e consolida apostas de mais uma dose de meio ponto em setembro, após Campos Neto ter dito que a “luta contra a inflação não está ganha”.

… Também na semana passada, a diretora do BC Fernanda Guardado disse que o Brasil tem grau de desancoragem “desconfortável” da inflação e que a autoridade monetária “não antevê condições para novo pace” [0,75 pp].

… Ainda do lado da inflação, saem as prévias do IPC-S (4ªF) e do IPC-Fipe (6ªF). O câmbio, com o dólar flertando neste momento com a marca dos R$ 5, terá para conferir os dados de julho das transações correntes e IDP (6ªF).

… Campos Neto tem agenda na capital paulista hoje, quando faz visita institucional ao jornal Valor, às 13h, e participa de reunião, por videoconferência, com dirigentes de instituições financeiras, das 16h30 às 18h30.

JACKSON HOLE – A participação de Jerome Powell no importante simpósio do Fed, na 6ªF, ganha importância e atenção redobrada, diante da escalada recente dos rendimentos dos Treasuries às máximas em mais de uma década.

… O discurso do presidente do Fed vem também depois do tom mais hawkish sinalizado pela ata do Fomc, na semana passada.

… O evento de Jackson Hole, que reúne banqueiros centrais, economistas e formuladores de política de todo o mundo, começará na 5ªF e vai até o sábado. A presidente do BCE, Christine Lagarde, discursa na 6ªF, como Powell.

… Não se espera que a fala do presidente do Fed seja decisiva para a reunião de setembro, porque falta praticamente um mês até o encontro e, neste meio tempo, ainda sairão dados do mercado de trabalho e inflação.

… Powell, no entanto, deve desestimular as apostas de que os cortes nos juros estão chegando.

… Segundo a consultoria Oxford Economics, o mercado ainda espera a manutenção da política monetária nas próximas decisões, mas já questiona se o Fed será capaz de promover um rápido ciclo de cortes mais à frente.

MAIS AGENDA – Na semana mais esvaziada de indicadores, o destaque vai para a leitura preliminar de agosto do PMI composto nos EUA, na zona do euro, Reino Unido e Alemanha, todos na 4ªF. O BC da Turquia decide juro na 5ªF.

CHINA HOJE – Decisão do PBoC de reduzir a taxa de referência (LPR) de 1 ano, no segundo corte em dois meses, deve ter impacto tímido nas expectativas, diante das dúvidas sobre a capacidade de Pequim reanimar a economia.

… Na semana passada, após nova rodada de indicadores fracos, a China já havia cortado a taxa de empréstimos de um ano em 15pbs, para 2,5% (segunda redução em três meses), e anunciado apoio ao setor imobiliário local.

… O governo de Pequim também adotou novas regras para impulsionar o mercado de capitais, incluindo cortes em taxas de negociação para investidores. Também pretende estimular recompras de ações para estabilizar os preços.

… O regulador do mercado chinês decidiu ainda pela extensão dos horários de negociação para ações e títulos.

… Em meio à rápida deterioração das condições econômicas da China, o mercado observa os desdobramentos da crise do setor imobiliário chinês, após a incorporadora Evergrande entrar com pedido de falência nos EUA.

… A gestora Zhongrong International Trust, conhecida por financiar projetos de construção de incorporadoras chinesas e com quase US$ 110 bilhões em ativos sob sua gestão, tornou-se a última preocupação do mercado.

… O WSJ comparou a situação da gestora de fortunas à do Lehmann Brothers, que quebrou na crise do subprime, resgatando os fantasmas. Outras empresas do setor, como a Country Garden, também têm quadro delicado.

DEMORÔ – O Ibovespa, que já não sabia mais o que era subir, quebrou 13 quedas sucessivas na última 6ªF, que marcaram a pior sequência desde 1968, e exibiu alta pela primeira vez desde que agosto começou.

… Do mesmo modo que vinha caindo um pouco a cada dia, o índice foi também econômico na volta. Subiu apenas 0,37%, abaixo dos 116 mil pontos (115.408,52 pontos), ainda com perdas acumuladas no mês de 5,36%. O giro à vista ficou em R$ 21,8 bilhões.

… Após o fechamento, a B3 informou que o exercício de opções sobre ações movimentou R$ 17,331 bilhões.

… Em dia de game, a bolsa doméstica acabou favorecida pela trégua externa no rali dos juros dos Treasuries. As ações de varejo subiram em bloco, ajudadas pelo alívio nos DIs. Bancos e Petrobras também fecharam no azul.

… Já os esforços da China para estimular a economia deram impulso ao petróleo e minério de ferro (+2,94%), mas falharam em conter o estresse com a crise no setor imobiliário, roubando fôlego da Vale (-1,11%, a R$ 61,22).

… Já Petrobras PN fechou em leve alta de 0,25%, a R$ 31,52, e ON subiu 0,58%, para R$ 34,49, acompanhando o petróleo, que se valeu do dólar mais fraco. O Brent para outubro registrou valorização de 0,80%, para US$ 84,80.

… No setor financeiro, Itaú, +0,79% (R$ 26,96); Bradesco PN, +0,66% (R$ 15,19); Santander, +0,49%; e BB, +0,4%.

… De olho na queda dos juros futuros, a lista de maiores altas foi liderada pelos papéis da Magazine Luiza (ON, +6,38%, a R$ 3,00), seguidos por Carrefour (ON, +5,24%, a R$ 11,85) e Petz (ON, +3,91%, a R$ 5,31).

BATEU, MAS VOLTOU – O dólar à vista chegou a testar o patamar dos R$ 5 no pior momento do pregão (R$ 5,0020), mas teve tempo de desarmar a pressão, com desmonte de posições defensivas, diante do ambiente externo melhor.

… O real se valeu da alta das commodities e da pausa na arrancada dos rendimentos dos Treasuries. No fechamento dos negócios, o dólar caía 0,27%, a R$ 4,9680. No câmbio futuro, a moeda para setembro recuava 0,1%, a R$ 4,9850.

… O risco de uma desvalorização cambial influenciada pela redução do diferencial de juros entre EUA e o Brasil preocupa os economistas que participaram da reunião trimestral com diretores do BC na última 6ªF.

… Também o cenário fiscal dominou o encontro, diante do risco de que uma possível piora nas contas públicas limite o espaço de corte da Selic. “A maioria falou da dificuldade do governo em gerar receitas”, disse fonte ao Broadcast.

… Cada vez mais, o mercado consolida a aposta de que o juro cairá 0,50 pp em setembro, diante das sinalizações do Banco Central de que a barra é alta para mudar o ritmo do aperto monetário para cima (0,75 pp).

… De carona no câmbio e na acomodação dos yields dos Treasuries, os juros futuros ensaiaram algum alívio, mas o movimento foi pouco convincente, diante da crise na China e do risco de atraso na votação do regime fiscal.

… No fechamento, o DI jan/24 ficou praticamente, a 12,435% (de 12,438% na 5ªF); jan/25 caiu a 10,535% (10,537%); jan/26, 10,125% (10,135%); jan/27, 10,340% (10,347%); jan/29, 10,850% (10,881%); e jan/31, a 11,160% (11,200%).

ACOMODA NO HIGH – Depois da investida para as marcas mais altas desde a crise financeira de 2008 (subprime), os rendimentos dos Treasuries fizeram uma parada na 6ªF, mas continuam em níveis historicamente altos.

… As taxas devem seguir como elemento de pressão, às vésperas dos comentários de Powell em Jackson Hole.

… Perto de 5%, o juro da Note de 2 anos atraiu vendas e caiu para 4,923%, contra 4,931% no pregão da véspera. O do papel de 10 anos recuou para 4,247%, de 4,291% um dia antes. Como se vê, devolveram pouco da pressão.

… A escalada dos yields dos títulos públicos dos EUA na semana passada responde à combinação de indicadores econômicos fortes com maior emissão de bônus por parte do Tesouro norte-americano.

… Pesquisa mensal feita pela Bloomberg mostra que os economistas projetam PIB forte nos EUA este ano, descartam uma contração no 4Tri, sem chance de recessão, e esperam agora juros altos por mais tempo pelo Fed.

… Embora não projetem novo aperto monetário, os profissionais preveem que a taxa básica ficará onde está até o 2Tri de 2024. Anteriormente, na pesquisa de julho, a expectativa era de que os cortes começassem ainda no 1Tri.

… O PIB deve avançar ao ritmo anualizado de 1,8% no 3Tri (margem), quase quatro vezes mais que o crescimento de 0,5% projetado em julho. No 4Tri, deve haver expansão de 0,4%, contra expectativa de contração de 0,4% antes.

… Apesar de os juros dos Treasuries terem ensaiado uma acomodação, as bolsas em Wall Street se defenderam perto da estabilidade, com a crise na China contribuindo para manter o mercado financeiro na defensiva.

… O Dow Jones fechou em +0,08% (34.501,88 pontos); S&P 500, -0,01% (4.370,04); e Nasdaq, -0,20% (13.290,78).

… No câmbio, as oscilações foram modestas, mas chamou atenção a alta semanal de 0,52% do DXY semana passada, com a força atribuída ao hedge com a China e à aposta de que o juro vai demorar para cair nos EUA.

… Na 6ªF, porém, o DXY caiu 0,19%, a 103,375 pontos. O euro (+0,04%, a US$ 1,0879) e a libra esterlina (-0,05%, a US$ 1,2740) fecharam praticamente estáveis e o iene (145,36/US$) terminou o pregão em alta contra o dólar.

EM TEMPO… AMERICANAS e bancos credores devem tentar fechar acordo só em outubro, informou o colunista Lauro Jardim, neste domingo. As instituições financeiras se queixam do balanço de 2022, que não foi publicado.

… A varejista informou que, em duas semanas, apresentará uma nova proposta e, em seguida, o resultado do ano passado.

… Amanhã (3ªF), o ex-presidente Sergio Rial, que permaneceu no cargo apenas nove dias, e a ex-superintendente de controladoria da empresa Flavia Carneiro serão ouvidos em audiência pública na CPI da Americanas.

… De acordo com O Globo, Carneiro teve homologada delação premiada no MPF do Rio de Janeiro.

CEF. Caixa Econômica Federal fechou na 6ªF um acordo com Itaipu Binacional para atuar no financiamento a projetos socioambientais em cidades que fazem parte da bacia incremental da usina. O valor envolvido é de R$ 1 bilhão…

… Os municípios terão até o dia 30 de setembro para cadastrar as propostas e o resultado da seleção deve ser divulgado no final de outubro. A formalização dos instrumentos de repasse com a Caixa deve acontecer até 31 de dezembro deste ano.

ALACERO. Consumo de laminados na América Latina foi de 29,605 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a maio deste ano, o que representa um volume 1,1% maior ante o mesmo período de 2022, segundo a Associação Latino-americana do Aço…

… A entidade diz que demanda por aço permanecerá baixa e prevê redução de estoques e produção por parte das siderúrgicas locais.

… O alto volume de importações continua sendo uma preocupação do setor na América Latina, que permanece verificando grande participação de aço produzido na China entrando na região.

… Em maio, as importações de laminados totalizaram 2,355 milhões/t, alta de 12% ante maio/22 e +5,2% ante abril.

TENDA. Proposta de emitir ações e tomar um novo financiamento busca diminuir o endividamento, cortar gastos com juros e dar um fôlego extra à construtora para acelerar os lançamentos do MCMV, informou a Coluna do Broadcast

… Direcional, Cury e Plano & Plano vão na mesma direção; já a MRV se capitalizou, mas manteve sua meta de lançamentos…

… A Tenda avalia fazer oferta subsequente de ações (follow on) de até R$ 250 milhões, cuja confirmação ainda depende de aprovação societária e avaliação das condições de mercado. Além disso, será emitida uma debênture de até R$ 300 milhões.

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*com a colaboração da equipe do BDM Online

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