Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[22/8/2023]

… Os yields dos Treasuries voltaram a escalar, colocando os mercados globais em posição defensiva antes do Simpósio de Jackson Hole, onde é esperada a fala de Jerome Powell, na 6ªF, na expectativa de que ele sinalize o que o Fed planeja para os juros nos EUA. Em paralelo, a timidez das medidas da China para estimular a economia mantém as commodities sob pressão, numa conjunção desfavorável aos emergentes. Aqui os ativos seguem a reboque do exterior, com investidores acompanhando as palestras de RCN no Santander (9h) e de Galípolo na Fiesp (10h). Pode trazer algum alívio a possível votação do arcabouço fiscal, na Câmara. Arthur Lira disse que, se houver acordo na reunião de líderes marcada para as 11h, a matéria vai para o plenário ainda hoje.

… No fim da noite, o relator Cláudio Cajado (PP) informou que não se chegou ainda a um consenso sobre a despesa condicionada, mas tanto ele como o líder do governo, José Guimarães, confirmaram que se não votar hoje, vota amanhã.

… A votação do arcabouço deve ocorrer uma semana depois que Haddad criticou o “poder muito grande da Câmara”, provocando uma inesperada desavença entre eles. Mas Lira não toparia passar por aquele que vai deixar o País sem a regra fiscal.

… A Fazenda insiste na emenda incluída pelo Senado que garante folga de R$ 30 bilhões para o governo ao autorizar a previsão de despesas condicionadas no projeto do Orçamento de 2024, que precisa ser enviado ao Congresso até 31 de agosto.

… Com a viagem de Haddad à África do Sul, o ministro é representado pelo secretário-executivo da Pasta, Dario Durigan.

… Outras mudanças feitas pelos senadores no arcabouço teriam mais chances, como a exclusão dos limites fiscais das despesas com Ciência e Tecnologia, com o Fundeb e, ainda, e com o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF).

… Nesta 2ªF, a indefinição sobre a agenda econômica no Congresso somou-se ao estresse com a China e novas pressões nos juros americanos para impedir um segundo pregão de alta do Ibovespa, enquanto subiram o dólar e os juros futuros (abaixo).

BOTA PRESSÃO – Antes de reunir os líderes em Brasília, Lira esteve na Fiesp, onde voltou a defender a reforma administrativa na agenda do Legislativo. “Não quero botar pressão sobre ninguém, mas vamos ter de cortar despesas.”

… O presidente da Câmara disse que vai precisar de apoio para levar adiante a reforma administrativa, que já passou em comissão especial, sustentando que o objetivo é controlar a evolução das despesas públicas, sem mexer nos direitos adquiridos.

… Citando a aprovação da e matérias estruturais aprovadas nos últimos anos, como a reforma da Previdência, a privatização da Eletrobras, a autonomia do Banco Central (BC) e os marcos de saneamento e da cabotagem,

… Lira insistiu que o Congresso tem dado demonstrações inequívocas de seu compromisso com matérias de interesse do Brasil, citando a reforma da Previdência, a privatização da Eletrobras, a autonomia do BC e o marco do saneamento.

REFORMA TRIBUTÁRIA – Sobre essa PEC, Lira manifestou a expectativa de aprovação final da proposta até o fim do ano, dizendo que as mudanças no sistema tributário aprovadas na Câmara foram construídas em conjunto com o governo.

… Também o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, falou ontem aos empresários na Fiesp, sobre a reforma tributária, mas não quis cravar a data de 4 de outubro definida pelo relator, senador Eduardo Braga (MDB), para a votação.

… “Se houver necessidade de alongar por alguns dias ou algumas semanas, não há problema algum”, disse ele, antecipando que a Casa, “que tem a maioria do Norte e do Nordeste”, estudará o impacto das isenções contidas no texto aprovado na Câmara.

… Pacheco reiterou que o Congresso vai buscar o equilíbrio entre os entes federados “porque o Brasil é um só”. Para ele, o que se precisa “é a integração e a conciliação dos entes e não o alijamento de qualquer região ou Estado federado”.

BRICS – Presidente Lula inicia a agenda oficial na África do Sul, com participação em diálogo do Fórum Empresarial, onde um dos principais assuntos será a expansão do bloco, com a entrada de novos países. Lula é a favor, como a China e a Rússia.

… Como tem acontecido em suas viagens internacionais, há o receio de que o presidente entre em temas polêmicos, em meio ao cenário global turbulento, com as relações conflituosas entre EUA e China e a invasão da Ucrânia pela Rússia.

… Estarão juntos os presidentes Lula, Xi Jinping (China) e Cyril Ramaphosa (África do Sul), o premier Narendra Modi (Índia), e o chanceler Sergey Lavrov (Rússia), representando Vladimir Putin, que, há um mês, avisou que não participaria.

… Também o ministro Haddad, que integra a comitiva presidencial, cumpre agenda em Joanesburgo, participando da abertura do Fórum Empresarial. Mais tarde, ele acompanha Lula em encontro com representantes do Congresso africano.

MAIS AGENDA – Impulsionada pelos ganhos com IR e CSLL, a arrecadação federal de julho (10h30) deve atingir R$ 204,784 bilhões em julho (mediana no Broadcast), após R$ 180,475 bilhões em junho.

… O resultado será comentado pelo chefe do Centro de Estudos Tributários, Claudemir Malaquias, às 11h.

NOS EUA – Três integrantes do Fed falam: Thomas Barkin (8h30), Michelle Bowman e Austan Goolsbee, ambos em evento às 15h30. As vendas de moradias usadas em julho saem às 11h e têm previsão de queda de 0,2%.

… A S&P Global Ratings fez uma série de ações de ratings de bancos regionais dos Estados Unidos ontem à noite, rebaixando as notas de crédito do Comerica, UMB, Valley National Bancorp, Associated Banc Corp e KeyCorp.

CHINA – A incorporadora China SCE Group Holdings Limited anunciou que deve ter prejuízo na faixa entre 1,00 bilhão de yuans e 1,20 bilhão de yuans (entre US$ 140 milhões e US$ 170 milhões) nos seis meses encerrados em 30 de junho.

… A perda é atribuída ao declínio na demanda no mercado imobiliário, que inclui queda na entrega e nos preços de venda.

NO FIO DA NAVALHA – Sem ilusão de que a alta solitária da última 6ªF, após 13 quedas seguidas, pudesse representar tendência para o Ibovespa, o investidor voltou a vender bolsa ontem, no ambiente de cautela.

… O corte de juro da China não contagiou, em meio à crise do setor imobiliário, e o calendário de votações de matérias importantes à equipe econômica foi posto em xeque, diante do recente atrito Haddad-Lira.

… Com fôlego curto, o Ibov começou a semana entregando os 115 mil pontos e, por pouco, não voltou à faixa dos 113 mil na mínima (114.066). Fechou em queda de 0,85%, a 114.429,35 pontos, com giro de R$ 19,4 bilhões.

… Análise gráfica do Itaú BBA no Broadcast indica que, se furar o suporte de 114.400, pode voltar a 111.600 pts.

… Os investidores estrangeiros continuam pulando fora e a fuga de k externo da B3 no mês já supera os R$ 9 bi.

… A China segue como gatilho de incerteza. O UBS cortou as projeções para o crescimento do PIB chinês este ano (de 5,2% para 4,8%) e em 2024 (de 5% para 4,2%), com os estímulos econômicos considerados insuficientes.

… Além disso, o banco projeta que a crise no setor imobiliário será profunda e duradoura.

… Segundo o site Caixin, o governo de Pequim estuda oferecer financiamento barato às empresas do país.

… O BC chinês (PBoC) pode estabelecer uma ferramenta de liquidez emergencial com os bancos para garantir empréstimos de baixo custo com vencimentos mais longos para as linhas de financiamento dos governos locais.

… Apesar de a redução no juro promovida pela China na noite do domingo ter sustentado o minério de ferro (+0,91%), os papéis da Vale não compraram o otimismo e terminaram de lado: ON, -0,03%, cotados a R$ 61,20.

… O ânimo inicial com o desaperto monetário na China durou pouco para o petróleo. Ao longo do dia, várias análises ponderaram que a iniciativa não é suficiente para sustentar uma recuperação da atividade econômica.

… Outras avaliações chamaram ainda a atenção para o fato de a taxa de juros de 5 anos, que serve de referência para o mercado imobiliário, não ter sido alterada no país, que é o maior importador global de petróleo.

… O Brent/out recuou 0,40%, a US$ 84,46 o barril, e o WTI do mesmo prazo perdeu 0,66%, a US$ 80,12.

… No quadro defensivo do dia, os grandes bancos domésticos caíram em bloco: Itaú, -0,41%, a R$ 26,85; Bradesco PN, -0,72%, a R$ 15,08; BB ON, -0,36%, a R$ 47,62; e Santander unit, -0,45%, a R$ 26,32.

… As ações ligadas ao consumo doméstico devolveram os ganhos de 6ªF e ficaram entre as maiores baixas do Ibovespa, refletindo o avanço dos juros futuros e o cenário de maior aversão ao risco na bolsa brasileira.

… Carrefour ON perdeu 4,14% e Arezzo ON, -3,26%. Na contramão, Magalu (+1,67%) ficou entre as maiores altas, com especulações de que o governo prepara incentivos para venda de eletrodomésticos da linha branca.

O MURO – O dólar segue flertando com os R$ 5, mas de novo respeitou este teto psicológico, apesar da incerteza com a China, do suspense com os passos do Fed e da cautela com a pauta econômica no Congresso.

… Por quanto tempo mais a moeda americana continuará resistindo a quebrar a barreira dos R$ 5, é o que se verá. No curtíssimo prazo, os comentários de Powell em Jackson Hole poderão ser decisivos para o câmbio.

… Interrompendo três quedas seguidas, o dólar subiu de leve ontem, a R$ 4,9787 (+0,22%), após ter investido até R$ 4,9965 no pico intraday, sinalizando que ainda caminha sobre campo minado. Em agosto, sobe 5,27%.

… O exterior tenso com a China e o novo rali dos juros dos Treasuries, além do risco de pano de fundo de que Lira, eventualmente, dê algum troco a Haddad, prejudicando a agenda econômica do governo, puxaram o DI.

… A pressão foi observada especialmente na ponta mais longa. Jan/29 subiu a 10,980% (de 10,843%); jan/31, 11,260% (de 11,161%); jan/27, 10,480% (de 10,323%); e jan/26 na máxima do dia, a 10,275% (de 10,119%).

… Jan/25 avançou para 10,615% (de 10,518%) e jan/24 ficou praticamente estável a 12,435% (contra 12,430%).

… Estrategista disse ao Broadcast que a curva projeta agora só 20% de chance de que o Copom acelere o ritmo de cortes da Selic para 0,75pp, contra 80% para 0,5pp. Segundo o profissional, a melhora da inflação estagnou.

… O BC não canta vitória sobre os preços e os indicadores têm exibido esgotamento da deflação no País. Ontem, a segunda prévia do IGP-M caiu 0,02%, bem menos do que no mesmo período do ano passado (-0,72%).

… Captando o efeito do reajuste dos combustíveis pela Petrobras, a mediana do IPCA do ano subiu na Focus, de 4,84% para 4,90%. No horizonte relevante da política monetária, nada mudou: 2024 (3,86%) e 2025 (3,50%).

A NOVIDADE – Às vésperas de Jackson Hole, um debate novo entra no radar: o juro neutro nos EUA.

… Economistas dizem que pesquisas acadêmicas mostrando que a taxa neutra aumentou podem ser apresentadas no evento e não descartam que Powell fale em um juro de equilíbrio maior no simpósio.

… Mesmo que ele não comente diretamente sobre o assunto, cogita-se que o presidente do Fed repita a declaração de 2022 de que “o registro histórico adverte fortemente contra o afrouxamento prematuro do juro”.

… Apesar dos sinais de que a inflação está desacelerando, o mercado de trabalho nos EUA se mostra resiliente e o crescimento econômico reduz o medo de recessão, esvaziando as chances de juros historicamente baixos.

… O mercado precifica que o Fed só vai cortar o juro em maio de 2024, de acordo com o monitoramento do CME. É o primeiro mês em que a expectativa de afrouxamento aparece de forma majoritária na ferramenta.

… A aposta de que uma virada dovish do Fed vai demorar tem dado espaço para a recente escalada dos rendimentos dos Treasuries, com os retornos da ponta longa nos maiores níveis em mais de uma década.

… A taxa da Note de 10 anos atingiu nova máxima em 16 anos ontem (4,352%) e fechou a 4,335%, depois da breve trégua da última 6ªF (4,247%). O yield do título de 2 anos voltou para a faixa de 5%: 5,009%, de 4,923%.

… O dólar não acompanhou o rali. Mas dizem que pode ganhar força, com chance de o índice DXY testar 104 pontos, se Powell enfatizar que a luta contra a inflação não acabou e que o Fed vai atrasar um corte do juro.

… Ontem, o DXY fechou estável (+0,07%), a 103,300 pontos. A moeda americana perdeu força contra as divisas europeias. O euro subiu 0,19% (US$ 1,0898) e a libra, +0,21%, a US$ 1,2760. Já o iene caiu 0,55%, a 146,24/US$.

… Apesar da nova onda de alta nos juros dos Treasuries, as bolsas em NY não foram mal. O setor de tecnologia fincou o S&P 500 no azul (+0,69% a 4.399,90 pontos) e limitou a queda do Dow Jones: -0,11%, a 34.464,41 pts.

… O bom desempenho do Nasdaq, que avançou 1,56%, a 13.497,59 pontos, foi puxado pelos papéis da Nvidia (+8,5%), que apresenta balanço amanhã e tem expectativa de aumento de 65% na receita do 2Tri.

EM TEMPO… JBS informou que oferta de troca de 11 séries de bonds expirou e deve ser liquidada até hoje.

ISA CTEEP comunicou o início da operação comercial do projeto Triângulo Mineiro, que pertence à IEMG, subsidiária da companhia, com 20 meses de antecipação em relação ao prazo estabelecido pela Aneel…

… A margem Ebitda estimada da IEMG após entrada em operação do projeto Triângulo Mineiro é de aproximadamente 80%…

… O investimento realizado, até o momento, foi de aproximadamente R$ 450 milhões. A empresa informa, ainda, que o projeto foi financiado por meio de debêntures verdes de infraestrutura emitidas na acionista.

LIGHT. Em comunicado ao mercado ontem à noite afirmou que o processo de recuperação judicial “tramita normalmente” na Justiça do Rio de Janeiro e que o prazo para que os credores apresentem objeções a ele “ainda não começou a correr”…

… Diante da cobrança da CVM por atualização no processo, a empresa afirmou, ainda, que não há, até hoje, informação de “que qualquer objeção já tenha sido apresentada nos autos da recuperação judicial”.

TAESA. Conselho de administração aprovou a realização da 14ª emissão de debêntures não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em até três séries, para distribuição pública, no valor de R$ 800 milhões…

… Serão emitidas 800 mil debêntures de valor nominal unitário de R$ 1 mil, com prazos de 10 anos, 12 anos e 15 anos.

MULTILASER. Conselho de administração aprovou a constituição de subsidiária integral da companhia em Hong Kong, denominada Multilaser Global Limited, com a consequente integralização do seu capital social, por 500 mil dólares de Hong Kong.

… Ontem, a ação da Multilaser fechou em queda de 8,63%, entre as mínimas fora do Ibovespa. No ano, o papel sobe mais de 20%.

ABSOLAR. Geração própria de energia solar ultrapassou a marca de 23 gigawatts (GW) de potência instalada em residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos no Brasil…

… São mais de 3 milhões de unidades consumidoras atendidas pela tecnologia fotovoltaica, informou a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, avaliando que há “muito espaço ainda para crescer”.

BB. Banco do Brasil e Fundação BB lançaram nesta 2ªF o 12º Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social, que reconhece e certifica soluções criadas para resolver problemas socioambientais…

… O prêmio acontece desde 2001, a cada dois anos, e neste ano, o investimento total deve chegar a até R$ 6 milhões.

BHP. O conglomerado de commodities reportou uma queda de 58% no lucro líquido no ano fiscal de 2023 encerrado em junho, a US$ 12,9 bilhões. A receita recuou 17%, a US$ 53,8 bilhões, e o dividendo final de US$ 0,80/ação.

… No after hours, após o balanço, o ADR da BHP caiu 2,20%.

SUBWAY. Roark Capital está perto de fechar um acordo para comprar a franquia de lojas de sanduíches por US$ 9,6 bilhões. O negócio poderá ser finalizado nesta semana, de acordo com informação apurada pela agência Dow Jones.

ARM HOLDINGS. Empresa de semicondutores anunciou que se inscreveu junto à SEC para listar American Depositary Shares (ADS) na Nasdaq, em uma oferta pública inicial (IPO). A companhia britânica aparecerá sob o símbolo “ARM”.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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