Morning Call
Ata desata o nó da Selic
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[28/6/2023]
… Pesa ainda no mercado externo a indicação de que o aperto dos juros não está concluído. Em NY, indicadores positivos da atividade animaram os investidores a uma corrida para o risco, na aposta que a economia dos Estados Unidos resistirá à mão pesada do Fomc, mas as incertezas atingiram o petróleo, impedindo que os ativos domésticos embarcassem na euforia, mesmo depois de a ata do Copom ter desatado o nó da Selic, sinalizando o primeiro corte em agosto. Hoje, os grandes BCs estão no foco, com o painel do Fórum de Sintra, em Portugal, que reúne Powell (Fed), Christine Lagarde (BCE), Andrew Bailey (BoE) e Kazuo Ueda (BoJ). Aqui, o Copom, finalmente, formou maioria para a inflexão da política monetária, abrindo a “divergência” dos falcões que contaminou o comunicado.
… O mistério foi desvendado pelo parágrafo 19 da ata, que revelou a existência de dois grupos no Comitê: um deles, mais cauteloso, e que defende maior ancoragem das expectativas longas, e outro grupo, que já vê como possível um corte do juro em agosto.
… “A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião.”
… A taxa Selic só não cairá em agosto se “a evolução da dinâmica inflacionária, das expectativas de longo prazo e do balanço de riscos” sofrer um revés. Neste ponto, acrescenta a ata, os membros do Comitê concordaram de forma unânime.
… Mas um revés do cenário de inflação é uma possibilidade improvável. Tanto que a curva a termo de juros fechou o dia projetando 100% de chance de uma queda no próximo Copom: 72% em um corte de 25pb e 28% em um corte de 50pb.
… A leitura é que já há maioria formada dentro do Copom para iniciar o ciclo de afrouxamento: com oito diretores participantes, já que Bruno Serra ainda não foi substituído [por Gabriel Galípolo], a posição “predominante” se faz com cinco votos.
… Considerando as entrevistas recentes de alguns membros do Comitê, emergem como falcões: Renato Dias Gomes (Organização do Sistema Financeiro e Resolução), Diogo Guillen (Política Econômica) e Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais).
… Na matemática do jornalista Octavio Guedes (G1), são 3 contra e 5 a favor, incluindo o voto do presidente, Roberto Campos Neto. Com a entrada de Galípolo já no Copom de agosto, o placar provável seria de 6 a 3 pela queda da Selic.
… Entre os bancos que anteciparam as previsões de corte de setembro para agosto, nesta 3ªF, estão Bradesco e Itaú. Já o ABC Brasil antecipou a sua estimativa de novembro para agosto, avaliando que “a ata foi muito clara no guidance para a próxima reunião”.
… Até o Santander, um dos únicos a acertar o tom duro do comunicado, antecipou a previsão do primeiro corte para agosto.
… Nova pesquisa Broadcast realizada com 28 instituições após a ata mostra que a ampla maioria dos economistas de mercado (82%) recuperou a aposta do primeiro corte em agosto, contra uma minoria (18%) que ainda espera a queda em setembro.
… Entre as casas que operam com agosto, 91% esperam uma redução de 25pb e somente 9%, de 50pb. A mediana para o nível da taxa Selic no fim deste ciclo de cortes, previsto para o segundo semestre de 2024, subiu de 9,0% para 9,5%.
… Para alguns economistas, o principal risco para esse cenário de inflexão é a reunião do CMN de amanhã (5ªF), quando os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet definem ajustes no sistema da meta de inflação com Roberto Campos Neto.
… Na ata, o BC parece ter feito uma referência velada ao CMN, afirmando que “decisões que contribuam para a reancoragem das expectativas e aumento da confiança nas metas ajudam a desinflação e permitem a flexibilização monetária”.
… Prova de que uma surpresa, ou um aumento da meta de 3%, não é considerado pelo mercado, mas apenas uma dissociação com o ano-calendário e adoção da meta contínua, é que ninguém esperou o CMN para antecipar suas revisões ao Copom de agosto.
… Moral da história: o BC precisa levar mais a sério a redação dos comunicados do Copom ou continuará induzindo a erro e causando confusão. Se a maioria é favorável a um corte da Selic em agosto, por que isso não foi dito desde o primeiro momento?
… A divergência deveria estar no comunicado, sinalizando o que todo o mercado esperava. Mas o BC preferiu esconder o jogo e falhou na linguagem inexplicavelmente conservadora, que resumiu a opinião de três falcões, e não a opinião da maioria.
… Nesta 3ªF, porém, os ativos domésticos não conseguiram aproveitar a boa notícia da ata, inibidos pelo recuo das commodities e por incertezas sobre o aperto dos grandes BCs mundiais e o efeito que os juros mais elevados terão sobre a economia global.
… Só os DIs curtos se ajustaram em leve baixa, enquanto o Ibov e o dólar operaram na contramão do risk on em NY (abaixo).
REFORMA TRIBUTÁRIA – O coordenador do grupo de trabalho da reforma tributária na Câmara, Reginaldo Lopes (PT), disse que será possível construir o apoio necessário para aprovar o texto com mais de 400 votos. A PEC precisa de 308 votos.
… Ele previu a votação na próxima semana, como quer Arthur Lira, ou, “no mais tardar”, na segunda semana de julho.
… Também o projeto do arcabouço fiscal, modificado no Senado, deverá ser votado pela Câmara na próxima semana.
AGENDA – Saem aqui o crédito em maio do BC (8h30), relatório mensal da dívida (14h30), que o Tesouro comenta às 15h, e fluxo cambial (14h30). Lula e Haddad participam do lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar (10h).
… O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou que o banco vai anunciar hoje US$ 750 milhões para o agro.
… Às 16h, o secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, participa de live da Bradesco Asset.
LÁ FORA – O painel de Powell, Christine Lagarde, Andrew Bailey e Kazuo Ueda no fórum em Sintra (Portugal) será às 10h30. Os estoques de petróleo do DoE saem às 11h30 e têm previsão de queda de 1,8 milhão de barris.
… No final da tarde (17h30), o Fed divulga os resultados anuais do teste de estresse bancário.
… Sem horário confirmado, Biden discursa sobre política econômica. Ontem, descartou uma recessão (abaixo).
AFTER MARKET – No final da noite desta 3ªF, o índice futuro do Nasdaq perdia em torno de 0,5%, após o tombo de 3% da Nvidia com notícias de possível nova restrição dos EUA à exportação de chips de inteligência artificial à China.
CHINA HOJE – O lucro das empresas industriais nos primeiros cinco meses do ano teve queda anualizada de 18,8%. O indicador econômico fraco reforça a aposta do mercado financeiro por mais estímulos pelo governo de Pequim.
RASGUE O COMUNICADO – Ninguém entendeu a lógica do BC de deixar para dizer só na ata que está com a bala na agulha para baixar o juro, coisa em que o mercado nunca deixou de acreditar, mesmo com o comunicado duro.
… Como a queda próxima da Selic já está precificada há algum tempo, os juros curtos do DI pouco reagiram à mudança de linguagem, fechando perto dos ajustes, enquanto a ponta longa seguiu a pressão dos Treasuries.
… Também o alívio do IPCA-15 foi absorvido, porque a curva já caiu tanto, que custa secar mais prêmio. A prévia da inflação oficial desacelerou de 0,51% em maio para 0,04% em junho, pouco acima da mediana das apostas (+0,03%).
… No acumulado em 12 meses, a leitura do indicador passou de 4,07% em maio para 3,40% em junho, menor variação desde setembro de 2020. O índice de difusão caiu de 64% para 51%, pelos cálculos da Suno Research.
… Pelo menos três bancos reduziram as apostas para o IPCA do ano: Rabobank, 5,6% para 5,4%; Citi, de 5,5% para 5,2%; e BofA, de 5,5% para 4,8%, já quase dentro do intervalo de tolerância da meta de inflação (teto de 4,75%).
… Jan/24 caiu a 12,980% (de 12,995% na véspera); jan/25 foi a 10,970%, colado ao ajuste (10,965%); e jan/26, 10,310% (de 10,334%). Jan/27 subiu a 10,325% (10,318%); jan/29, 10,640% (10,606%); e jan/31, 10,820% (10,797%).
… O que se diz é que, mesmo caindo, a Selic ainda vai continuar vantajosa no diferencial com os juros externos (“carry trade”), o que tende a continuar favorecendo o fluxo estrangeiro para a bolsa e apreciando o real.
… Apesar disso, o dólar seguiu em correção nesta 3ªF e subiu, mas ainda acumula queda de 5,40% no mês que vai chegando ao fim. A briga pela formação da ptax, que se decide na 6ªF, deve pegar mais forte nos próximos pregões.
… O dólar à vista fechou ontem em alta de 0,67%, a R$ 4,7987, e o futuro para julho subiu 0,95%, para R$ 4,8155.
NÃO VALE COMO TENDÊNCIA – Descolado das altas em NY, o Ibov (-0,61%) devolveu ganhos pelo segundo pregão consecutivo e desta vez entregou os 119 mil pontos (117.522,87). Mas o investidor não está assustado com a bolsa.
… A percepção é de que o índice à vista está apenas passando por uma acomodação e logo pode testar novos ralis, quem sabe reconquistando os 120 mil pontos, agora que a ata do Copom liberou a Selic para cair na próxima reunião.
… Em relatório, o Santander aponta que o ciclo de corte de juro alimentará a reclassificação das ações brasileiras.
… Segundo estudo conduzido pelo banco, em que foram analisamos os nove ciclos anteriores de flexibilização monetária, o Ibov subiu, em média, 21% e 43%, respectivamente, nos 12 meses e 24 meses após o 1º corte de juros.
… “Acreditamos que podemos estar nos estágios iniciais de um bull market cíclico no Brasil, que pode durar até 18 meses”, diz o Santander, que projeta o Ibov em 140 mil pontos daqui a um ano, contra previsão anterior de 122 mil.
… Parte das perdas da bolsa ontem foi limitada pelo fôlego da Vale (ON, +1,20%; R$ 66,83) com comentários do premiê chinês, Li Qiang. Para ele, a China está no caminho certo para cumprir a meta de crescimento de 5% no ano.
… Investidores entenderam que a visão otimista se materializará em estímulos à economia. O minério disparou 4%.
… Já o petróleo parou de subir e fechou o dia em queda de quase 2,5%. A commodity retornou o foco para o risco de a postura firme dos grandes BCs contra a inflação levar as principais economias a um quadro de recessão global.
… O Brent/set recuou 2,47%, a US$ 72,51, e derrubou Petrobras (ON, -0,87%, a R$ 34,26; e PN, -0,78%, a R$ 30,60).
… Os principais bancos também recuaram, com exceção de Bradesco PN, que subiu pouco (+0,18%; R$ 16,37). BB registrou -1,84%; Itaú, -1,12%, a R$ 28,31, Santander unit, -0,71%, a R$ 30,57, e Bradesco ON, -0,07%, a R$ 14,50.
… Desperdiçando o recado dovish da ata do Copom, as varejistas se destacaram entre as maiores perdas do Ibovespa: Alpargatas recuou 7,76%, a R$ 9,15; Assaí teve baixa de 5,83% (R$ 13,09) e Petz caiu 5,42% (R$ 6,28).
… Já os frigoríficos faturaram a decisão da China de liberar a entrada de 40 mil toneladas de carne bovina brasileira que estavam retidas em portos. Minerva (+3,98%) ficou no topo do Ibov e JBS também operou embalada (+2,46%).
O COPO MEIO CHEIO – As bolsas em NY leram a rodada de indicadores fortes divulgados ontem nos EUA pelo lado positivo, de vigor da economia, embora o quadro antecipe altas de juro pelo Fed e eleve o risco de recessão.
… Houve um salto de 12,2% nas vendas de moradias novas em maio. Além disso, a confiança do consumidor elaborada pelo Conference Board subiu de 102,5 em maio a 109,7 em junho e superou a previsão de 103,9.
… As encomendas de bens duráveis registraram alta inesperada de 1,7%, quando se esperava queda de 1,0%.
… Logo após a bateria de dados favoráveis, o Goldman Sachs elevou a projeção do PIB este ano de 1,8% para 2,2%.
… A diretora do Conselho Econômico Nacional, Lael Brainard, demonstrou otimismo de que os EUA possam escapar de uma recessão. “Temos visto que a economia americana tem mostrado resiliência continuada”, observou.
… Também Biden duvida do cenário recessivo. A economia do país está “forte agora”, disse o presidente, em evento.
… Em Wall Street, os índices de ações relaxaram com os sinais de resistência dos EUA, apesar da perspectiva do Fed hawkish. A ferramenta do CME indica 52,6% de chance de alta de 25 pb do juro no ano e 20,1% de elevação de 50 pb.
… O Dow Jones subiu 0,63% (33.926,74 pontos); o S&P 500, +1,15% (4.378,41 pts); e o Nasdaq, +1,65% (13.555,67).
… Reportagem da DJ informa que traders estão apostando que a postura do Fed não impedirá a continuidade de um rali nas bolsas em NY, diante do boom de negociações de compras de ações no setor de inteligência artificial.
… Os juros dos Treasuries precificaram (o)s aperto(s) monetário(s) que o Fed ainda deve adotar. O retorno da Note de 2 anos subiu para 4,753%, contra 4,720% na véspera, e o yield de 10 anos avançou para 3,754%, de 3,722%.
… A retomada do aperto monetário nos EUA, depois da rápida pausa, e a deterioração das perspectivas para a economia global devem oferecer suporte ao dólar nos próximos meses, avaliam analistas no Broadcast.
… No entanto, o movimento pode ser contido pela postura ainda mais firme dos BCs na Europa. Em Sintra, Christine Lagarde reiterou que o BCE “está comprometido a cumprir sua meta de inflação de 2%, não importa o que vier”.
… O comentário puxou o euro (+0,49%, a US$ 1,0964), a libra esterlina (+0,29%, a US$ 1,2759) e enfraqueceu o dólar, o que levou o índice DXY a registrar baixa de 0,19%, a 102,492 pontos. O iene caiu 0,42%, cotado a 144,05/US$.
EM TEMPO… O ministro Dias Toffoli (STF) pediu vista e suspendeu o julgamento de uma ação trabalhista com impacto de pelo menos R$ 47 bilhões para a PETROBRAS…
… A análise ocorre na 1ª Turma, composta por cinco ministros; já há maioria formada de 3 a 1 a favor da petroleira…
… A empresa celebrou dois novos contratos de compra e venda de gás natural com a Companhia de Gás de Santa Catarina (SCGÁS), com vigência a partir de janeiro de 2024 e 2026, no valor estimado de R$ 7,6 bilhões.
PETZ pagará R$ 3 milhões em JCP, a R$ 0,006 por ação; ex dia 3/7.
CVC. Mar Capital Gestão de Recursos, gestora do fundo de investimento GJP, passou a deter 6,8% do total de ações ON da companhia, com 30,3 milhões de papéis do tipo…
… Segundo o último formulário de referência da empresa, de 25/5, fundo e gestora não apareciam com posição acionária relevante.
LOCALIZA. Moody´s avaliou que a companhia elevou a sua flexibilidade financeira, após ter precificado aumento de capital no montante de R$ 4,5 bilhões em follow-on…
… Além do fortalecimento da liquidez, a agência observa que o aumento de capital “preservará as métricas de crédito”, em meio a necessidades de investimento intrínsecas ao setor e a um cenário de juros elevados no País.
COGNA informou que Rangel Garcia Barbosa renunciou à vice-presidência de Produtos após quatro anos.
NEOENERGIA aprovou distribuição de R$ 387,059 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,3193 por ação, para pagamento em dezembro; ex a partir de 3/7.
ENERGISA. Aneel aprovou redução média de 0,31% na tarifa da Energisa Tocantins (ETO); reajustes serão aplicados a partir de 4/7.
AUREN ENERGIA informou que a Cesp concluiu a cessão de direitos creditórios à True Securitizadora, resultado do acordo judicial firmado com a União Federal…
… Acordo visa à indenização da Cesp pela reversão de bens não amortizados ou não depreciados em relação à Usina Hidrelétrica Três Irmãos; preço da cessão, após as atualizações previstas no acordo, corresponde a R$ 4,2 bilhões.
CYRELA encerrou programa de recompra com 9.583.300 de ações ON.
CIELO informou que “não há qualquer conclusão ou recomendação” do Comitê de Pessoas e Remuneração sobre a indicação de nomes ao comando da Cateno, uma sociedade do BB com a empresa na área de pagamentos…
… Manifestação ocorre em resposta a notícia da Coluna do Broadcast de que o governo Lula estaria se movimentando para indicar um nome do partido Avante para a companhia, que seria o jornalista Guilherme Ítalo…
… Já o BB afirmou que a indicação de nomes para a Cateno compete à Cielo.
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*com a colaboração da equipe do BDM Online
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