Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[26/03/24]

… À espera da inflação do PCE de fevereiro e da participação de Powell em evento na 6ªF, os negócios em NY já assumiram ontem alguma posição defensiva, com o Fed boy Raphael Bostic voltando a melar a perspectiva de três cortes de juro este ano. Mas por aqui a curva do DI não comprou a cautela externa e resolveu adotar uma dose de ousadia, antecipando que a mensagem da ata do Copom hoje (8h) não virá dura e que o IPCA-15 de março (9h) confirmará o menor fôlego da inflação. Ainda na agenda do dia, saem as contas do Governo Central (14h30), com previsão de déficit primário de R$ 58,500 bilhões em fevereiro, diante da antecipação do pagamento de precatórios.

… O mercado está muito curioso para saber a abordagem que a ata do Copom dará hoje à questão fiscal. A vocação expansionista de Lula, em ano eleitoral e em meio à queda da popularidade, é monitorada com preocupação.

… A esperança é que a ata explore hoje o “aumento das incertezas domésticas”, incluído sem maiores detalhes no balanço de riscos do BC, o que deixou todo mundo intrigado se o comunicado se referia aos desafios fiscais.

… As incertezas parecem ter sido o ponto que motivou a “maior flexibilidade” defendida pelo Copom ao tirar o plural das indicações dos próximos cortes da Selic, contratando nova queda de 50pb somente para maio, por enquanto.

… Mas não necessariamente o BC está sinalizando o fim do ciclo nem a redução do ritmo de relaxamento monetário.

… A única coisa que se sabe até aqui é que o Copom não quis se comprometer com mais dois cortes de meio ponto, o que não significa que eliminou essa alternativa. Tanto pode manter o ritmo, diminuir (0,25pp) ou parar em junho.  

… Está tudo em aberto, mesmo porque o BC também avaliou que o cenário base “não se alterou substancialmente”, induzindo o mercado a não enterrar a chance de Selic terminal de um dígito, possivelmente entre 9,00% e 9,50%.

… O mercado quer saber se o ponto final para o juro é o mesmo e se vai demorar mais para o Copom chegar lá.

… Outro foco de atenção na ata são as variáveis do cenário de referência de inflação. O BC elevou no comunicado as estimativas para os preços administrados em 2024 e 2025, mas manteve as projeções para a inflação nos dois anos.

… Houve também mudança de percepção do Copom em relação ao comportamento da inflação subjacente, agora “acima da meta”, diferente da linguagem adotada no comunicado de janeiro, quando “se aproximava da meta”.

… Não se descarta que o BC deixe para detalhar melhor o horizonte inflacionário no RTI, que será publicado na 5ªF.

… Para hoje, o consenso do mercado é de que o IPCA-15 de março não pregará nenhum surpresa. A mediana das estimativas em pesquisa Broadcast aponta alta de 0,32%, já bem menor do que a registrada em fevereiro (0,78%).

… O efeito do reajuste das mensalidades em fevereiro sai da conta e deve haver queda em passagens aéreas e desaceleração em alimentos e bebidas. Em 12 meses, o IPCA-15 deve aliviar para 4,10%, de 4,49% em fevereiro.

… Os preços dos serviços subjacentes (citados no comunicado do Copom) têm previsão de alta de 0,33% em março, metade do mês anterior (0,65%), no alívio projetado que ajudou a curva do DI a devolver prêmio de risco ontem.

MAIS AGENDA – O novo forward guidance do BC pode trazer um ajuste em alta na estimativa de 9,00% para a Selic do ano no relatório Focus (8h25). À primeira hora do dia (5h), sai a prévia da inflação paulistana (IPC-Fipe).

… O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, concede coletiva às 15h sobre os dados do Governo Central.

… Haddad se reúne às 8h com governadores do Sul e do Sudeste para apresentar alternativas às dívidas dos Estados. À tarde (14h), o ministro da Fazenda fará uma entrevista gravada à CNN, que será transmitida amanhã.

… Lula anuncia em Brasília, às 10h, as primeiras regras do Mover, programa de mobilidade verde voltado para o setor automotivo, e depois vai a Belém para se reunir com o presidente francês Emmanuel Macron, às 16h.

BALANÇOS – JBS, CVC, Rede D´Or e Gafisa divulgam os resultados trimestrais depois do fechamento dos mercados.

NOS EUA – As encomendas de bens duráveis (9h30) têm previsão de alta de 0,8% em fevereiro. Às 11h, o Conference Board divulga o índice de confiança do consumidor, que deve melhorar para 107,0 em março, de 106,7 em fevereiro.

SE JOGA – A curva do DI colocou em prática ontem a arte de correr risco para não perder oportunidades e foi para a aposta combinada de que nem a ata do Copom dará um choque conservador, tampouco o IPCA-15 botará pressão.

… Os juros futuros domésticos ignoraram a força das taxas dos Treasuries e o petróleo mais caro lá fora e contaram com o dólar em queda, abaixo de R$ 5, como aliado para o ímpeto de coragem, que permitiu devolver prêmio.

… A jornalista Denise Abarca anotou no Broadcast que a curva do DI voltou ao ponto em que estava antes da novidade da mudança no forward guidance do Copom, precificando novamente Selic terminal de 9,65%.

… O juro para Jan25 caiu a 9,890% (de 9,913%). O DI Jan26 cedeu a 9,815% (9,856%). O Jan27, a 10,050% (10,109%); o Jan29, a 10,550% (10,607%); o Jan31, a 10,810% (10,874%); e o Jan33, a 10,920% (10,981%)

… Na cola da tendência externa e com a ajuda da alta das commodities, o dólar zerou a alta do mês a apenas três sessões para o fechamento de março. Fechou em R$ 4,0734 (-0,50%).

… Operadores relataram fluxo positivo pela conta comercial, ao mesmo tempo em que a rolagem de contratos cambiais futuros se intensificou, de olho no fechamento da ptax de março (5ªF), antes da Sexta-Feira Santa.

… Citando a perspectiva de juros mais altos nos EUA, o Banco Inter elevou a projeção para o dólar no fim de 2024, de R$ 4,85 para R$ 4,90, e de 2025, de R$ 4,85 para R$ 4,95.

… Já para o Barclays, a postura cautelosa do Copom ao alterar o guidance e o perfil robusto das contas externas devem manter o carry elevado, fazendo com o que o real tenha desempenho superior a seus pares.

… O Ibovespa destoou do bom desempenho dos demais ativos domésticos e ficou perto da estabilidade (-0,08%), aos 126.931,57 pontos.

… O giro muito fraco, de R$ 16,6 bilhões, apontou investidores cautelosos, evitando tomar grandes posições antes da ata do Copom e do IPCA-15, hoje.

… De um lado, Petrobras deu apoio ao índice, com alta de 1,25% na ação ON (R$ 37,32) e 1,53% na PN (R$ 36,60).

… A petroleira e as ‘juniores’ seguiram os ganhos do petróleo e figuraram entre as maiores altas do Ibov. O Brent/junho subiu 1,47%, a US$ 86,08 por barril, na ICE. O WTI/maio, +1,63%, a US$ 81,95, na Nymex.

 … 3R subiu 3,47%, a R$ 31,30. Petrorecôncavo avançou 2,87% (R$ 22,97) e Prio teve alta de 2,10% (R$ 47,67).

… Acompanhando a ligeira queda de 0,3% do minério de ferro em Dalian, Vale cedeu 0,21% (R$ 60,82).

… Os principais bancos fecharam sem direção única. Bradesco ON perdeu 0,40% (R$ 12,47) e PN baixou 0,14% (R$ 13,94). Itaú ficou estável, em R$ 33,72. BB subiu 0,40% (R$ 55,63) e Santander unit avançou 0,14% (R$ 28,05).

… As maiores perdas do pregão foram de Braskem (-4,54%; R$ 26,06), CCR (-3,20%; R$ 13,60) e Casas Bahia (-2,94%; R$ 6,60).

TOMANDO FÔLEGO – As bolsas em NY estão caminhando para o 5º mês consecutivo de ganhos, mas ontem o investidor continuou com o pé no freio, estendendo as perdas da 6ªF, com receio de o PCE confirmar a cautela.

… O discurso conservador de três dirigentes do BC americano nesta 2ªF não ajudou a animar os ânimos e os dois indicadores divulgados no dia vieram mistos, incapazes de direcionar os negócios.

… Entre os dirigentes do Fed, Raphael Bostic (Atlanta) voltou a prever apenas um corte de 0,25pp neste ano, enquanto Lisa Cook alertou para o risco de cortar os juros de forma prematura.

… Austan Goolsbee (Chicago), que não vota este ano, disse que concorda com três cortes de juros em 2024, mas ressaltou o quadro incerto da inflação e não quis falar sobre o timing desses cortes.

… Nos indicadores, as vendas de moradias novas nos EUA caíram 0,3% em fevereiro ante janeiro, muito piores que a previsão de alta de 2,9%.

… Mas o índice de atividade nacional, medido pelo Fed de Chicago, veio melhor (+0,05) em fevereiro do que o -0,35 esperado.

… A leitura de fevereiro superior a zero significa que a economia americana está se expandindo em ritmo acima da média histórica.

… O Dow Jones caiu 0,41%, aos 39.313,64 pontos. O S&P 500 recuou 0,31% (5.218,19) e o Nasdaq perdeu 0,27% (16.384,47 pontos). Boeing subiu 1,36%, após a empresa anunciar a saída do CEO, Dave Calhoun, no fim do ano.

… Sob maior escrutínio da FAA (regulador do setor nos EUA) após vários incidentes de segurança, a United Airlines caiu 3,4%.

… Entre as techs, o dia não foi bom. Intel (-1,74%) e AMD (-0,57%) cederam com notícia de que a China vai eliminar o uso de chips dessas companhias em computadores e servidores do governo.

… Também vai evitar o uso do Windows, da Microsoft (-1,37%). Apple (-0,83%), Alphabet (-0,41%) e Meta (-1,29%) estão sob investigação na UE por violação de regras de competição digital.

… Especulações de que o mercado pode ter esticado muito a corda e de forma muito rápida com as gigantes de tecnologia pipocam aqui e ali, o que adiciona uma pitada a mais de cuidado entre investidores.

… Morgan Stanley e JPMorgan alertaram recentemente que vai ser difícil justificar valuations tão elevados se a aceleração dos lucros não se concretizar. A temporada de balanços do 1Tri24 começa em meados de abril.

… De outro lado, a força da economia americana pode render bons resultados corporativos.

… As palavras cautelosas de Bostic, Cook e Goolsbee pressionaram os Treasuries. O retorno da note-2 anos avançou a 4,629% (de 4,589%), o de 10 anos subiu a 4,251% (4,197%) e o do T-bond de 30 anos foi a 4,420% (4,374%).

… Já o dólar deu um respiro depois das altas recentes e o índice DXY cedeu 0,25%, a 104,21 pontos.

… O euro avançou 0,30%, a US$ 1,0841. Sem se comprometerem com prazos, dois integrantes do BCE (Philipe Lane e Fabio Panetta) afirmaram que o comitê de política monetária caminha para cortar juros neste ano.

… A libra subiu 0,36%, a US$ 1,2640. O iene ficou estável em 151,44/US$.

EM TEMPO… CASAS BAHIA registrou prejuízo líquido de R$ 1 bilhão no 4Tri do ano passado, 513,5% pior do que um ano antes. É o sexto trimestre consecutivo em que os resultados líquidos da empresa são negativos…

… O Ebitda ajustado neste trimestre também foi negativo, em R$ 163 milhões, queda de 74% contra igual intervalo de 2022. A receita bruta teve recuo de 15,5% na mesma base de comparação e fechou em R$ 8,8 bilhões.

GRUPO SOMA registrou lucro líquido ajustado de R$ 113,2 milhões no 4TRI, alta de 13,9% na comparação anual; Ebitda ajustado somou R$ 238,5 milhões, crescimento de 13,2% em relação ao mesmo período de 2022.

VALE foi selecionada pelo governo dos EUA para negociação de financiamento de planta de briquetes no valor de até US$ 282,9 milhões.

GERDAU. Moody’s reafirmou rating Baa3 da empresa, com perspectiva estável.

ITAÚ convocou assembleia para 23 de abril; entre os pontos a serem votados está elevar o limite de idade para o cargo de presidente e copresidente do conselho de administração…

… Proposta estabelece que não poderá ser eleito para esses cargos quem já tiver completado 73 anos na data da eleição; até então, o estatuto do banco dizia que não pode ser eleito conselheiro que já tiver completado 70 anos…

… O atual copresidente do conselho de administração do Itaú, Roberto Egydio Setubal, completa 70 anos em 13 de outubro; o outro copresidente, Pedro Moreira Salles, tem 64 anos…

… O Itaú anunciou que Fabrício Bloisi, CEO do iFood, e Paulo Veras, co-fundador da 99, passarão a integrar o conselho depois da assembleia de 23 de abril. Está de saída do board Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza…

… A decisão de aumentar a “pegada digital” no conselho vem num momento em que a diferença entre o valor de mercado de Itaú e Nubank está se estreitando. Ontem, o Itaú fechou valendo R$ 307 bilhões e o Nubank, R$ 290 bi.

ÂNIMA registrou prejuízo de R$ 101,5 milhões no 4TRI, revertendo lucro de R$ 169,4 milhões apurado um ano antes; Ebitda somou R$ 227,4 milhões, alta de 84,6% na comparação anual.

SER teve lucro líquido ajustado de R$ 18,011 milhões no 4TRI23, revertendo prejuízo de R$ 441 mil do 4TRI22.

PORTO aprovou distribuição de R$ 192,115 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,2993 por ação, com data do pagamento a ser definida; ex em 1º/4.

VIVEO registrou lucro líquido de R$ 261,2 milhões no 4TRI, cerca de 4x os R$ 63,2 milhões apresentados um ano antes; Ebitda somou R$ 185,4 milhões, leve queda de 0,3% na comparação anual.

COSAN afirmou que divulgará amanhã informações financeiras de 2023 não auditadas; ainda não há data para publicação do balanço auditado; atraso se deve à troca da empresa de auditoria no início do ano.

UNIPAR. CVM julgará Luiz Barsi hoje, em caso de suposto uso de informação privilegiada na companhia.

SÃO MARTINHO renovou programa de recompra de até 14,2 milhões de ações, ou 10% do total em circulação, por 18 meses; empresa também aprovou a 6ª emissão de debêntures, no valor de R$ 1,250 bilhão.

GRUPO MATEUS aprovou a distribuição de R$ 96,3 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,0435 por ação, com pagamento até 31/12; ex em 1º/4.

OI. A assembleia de credores da empresa de telefonia será retomada hoje, às 14h.

EQUATORIAL teve lucro líquido ajustado de R$ 1,059 bilhão no 4Tri de 2023, alta de 20,6% em relação ao mesmo período de 2022. O Ebitda trimestral totalizou R$ 2,197 bilhões, avanço de 25,5% contra o apurado um ano antes…

… A receita líquida do trimestre foi de R$ 11,246 bilhões, um crescimento de 42,0% em base anual de comparação.

ENERGISA. Consumo de energia teve alta anualizada de 12,4% em fevereiro, para 3.414 GWh.

LIGHT reverteu prejuízo e registrou lucro líquido de R$ 49,6 milhões no 4Tri. Ebitda ajustado ficou em R$ 619 milhões, contra Ebitda negativo de R$ 53,4 milhões um ano antes. Receita líquida cresceu 19,7%, para R$ 3,9 bilhões.

GAFISA. Justiça determinou bloqueio e indisponibilidade das ações detidas pelos fundos da Esh Capital.

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*com a colaboração da equipe do BDM Online

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