Morning Call

BoJ decreta fim da era de juros negativos

Atualizado 19/03/2024 às 01:38:20

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[18/03/24]

Hoje à noite (22h15), a China deve manter o juro, apesar dos recentes indicadores mais fortes de atividade econômica. No Japão, o BoJ acabou durante a madrugada com a política dos juros negativos (-0,1%) e, pela primeira vez em 17 anos, elevou a taxa de depósitos de -0,1% para faixa de zero a 0,1%. Também aboliu o instrumento de controle da curva de juros, que recomendava que o rendimento do bônus do governo japonês (JGB) de 10 anos flutuasse até o teto de referência de 1%. A política ultraflexível fica para trás, mas o BoJ ainda está longe de ser hawkish. Nos EUA, a inflação resistente já racha as apostas para o primeiro corte do juro pelo Fed, que era esperado para junho, mas agora divide espaço com julho. O mercado também espera pelo gráfico de pontos do BC americano, amanhã, para projetar três quedas ou menos no ciclo do Fed. A onda mais conservadora envolve também o Copom.

… Nova dose de queda de meio ponto da Selic está garantida na Super 4ªF. A dúvida é se o BC vai manter o forward guidance, sinalizando novas baixas de igual magnitude, ou se optará por assumir uma postura mais dura na queda.

… O comunicado é imprevisível, com três alternativas levantadas: 1) o Copom mantém tudo igual na linguagem; 2) tira o plural das “próximas reuniões”; ou 3) mantém o plural, mas ajusta a intensidade de queda para 0,25pp.

… As circunstâncias exigirão talento de quem for escrever o documento, na ginástica para não contratar ainda mais volatilidade. O BC não pode errar. Quanto mais acertado o tom, tanto maior a chance de ancorar as expectativas.  

… Ao Broadcast, a economista Andrea Damico (da Buysidebrazil) acredita que o comunicado do Copom não precisa se apressar a mudar o ritmo e nem o guidance no momento, sob risco de gerar ruído antecipado e indesejado.

… O fato, segundo ela, de o IPCA de fevereiro ter trazido uma leitura mais positiva dos preços de serviços subjacentes, cujo comportamento vem sendo alvo de alertas, desobriga o BC de alterar a comunicação agora.

… Já na avaliação do economista Roberto Padovani (Banco BV), os últimos indicadores corroboram um cenário de economia doméstica mais forte, que vai dificultar a convergência da inflação ao centro da meta, de 3%.

… Para ele, as pressões do IPCA, combinadas à preocupação fiscal e às incertezas do cenário externo, devem conduzir o BC para uma mudança de rota, diminuindo o ritmo de cortes da Selic para 0,25pp já em junho.

… Desde que começou a cortar a Selic (agosto), o BC tem sinalizado os próximos passos da política monetária. A chance de suspender agora a orientação de mais dois cortes de 0,5pp coincide com a economia mais bombada.

… Se em dezembro a atividade parecia estagnada, em janeiro vieram as surpresas do forte crescimento das vendas do varejo e dos serviços, além dos 180 mil empregos formais do Caged, mais que o dobro da mediana das apostas.

… A reviravolta positiva da economia agora mais aquecida se confirmou no IBC-Br de janeiro. Divulgado ontem, o “PIB do BC” cresceu 0,60% e, embora pouco abaixo do esperado pelo mercado (0,65%), não deixou de exibir força.

… Depois do anúncio do indicador, a mediana em pesquisa Broadcast para o PIB/1Tri subiu de 0,4% para 0,6%.

CONTINGENCIAMENTO – A Folha apurou que a área técnica do TCU se posicionou contra a chance de o governo limitar o bloqueio de despesas a R$ 25,9 bi em caso de frustração de receitas para cumprir o déficit zero.

… A conclusão é de que configurará infração à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e à lei de finanças e pode vir a ser enquadrada como crime de responsabilidade, cuja admissibilidade cabe à Câmara e ao Senado, diz o parecer.

… A instrução da área técnica responde a uma consulta feita em janeiro pelo Ministério do Planejamento, que tentava pacificar o entendimento sobre os efeitos da regra da LDO sobre os bloqueios orçamentários neste ano.

… Um estudo feito pela consultoria de Orçamento da Câmara indica que o governo terá de contingenciar R$ 41 bilhões em despesas públicas na primeira revisão do ano (6ªF) para atingir a meta de déficit zero.

… Pelo marco fiscal, o Executivo pode contingenciar até 25% das despesas discricionárias, o que seria superior a R$ 50 bi. Apesar disso, a LDO foi aprovada com um trecho que limita o bloqueio dos gastos em até R$ 25,9 bi.

… Aproveitando a presença de quase todos os ministros na reunião realizada ontem em Brasília, o presidente Lula preparou o terreno para eventual bloqueio e avisou que cortes no Orçamento, às vezes, são necessários.

… No entanto, acrescentou, será feito um “trabalho imenso para repor” os recursos.

… O governo divulga na 6ªF o primeiro relatório bimestral de receitas e despesas do ano, indicará quanto será preciso contingenciar no Orçamento para garantir o alcance das metas estabelecidas no novo arcabouço fiscal.

… No começo do mês, Tebet afirmou que o contingenciamento será “bem menor” que o esperado, depois de a arrecadação ter batido recorde em janeiro e ter seguido forte em fevereiro, conforme números preliminares.

… Seja como for, especialistas dizem que há pontos de preocupação pelo lado das despesas.

… A previsão de recursos orçamentários para a Previdência estaria subestimada, segundo os profissionais, e existem dúvidas sobre as receitas não administradas pela Receita, como dividendos e concessões.

… A expectativa do mercado é que o resultado da arrecadação federal de fevereiro seja publicado nos próximos dias. A previsão é de R$ 184,365 bilhões, na mediana de pesquisa Broadcast, após R$ 280,636 bi em janeiro.

REFORMA TRIBUTÁRIA – Haddad afirmou que será apresentado hoje o projeto de lei que trata da cobrança de impostos sobre aplicações financeiras. O texto, de acordo com ele, está maduro e foi pactuado com o mercado.

… A ideia é organizar regras para incentivar o financiamento das empresas e acesso ao crédito pelo mercado de capitais, sem alteração da carga tributária. Por não alterar alíquotas, o projeto é tido como menos polêmico.

… Já a proposta de tributação sobre dividendos ainda exigiria mais estudos, segundo o ministro, mas também deve ser encaminhada neste ano ao Congresso, dentro do pacote da reforma tributária sobre a renda.

… Quanto à reforma tributária sobre o consumo, promulgada em 2023, Haddad deseja enviar ao Congresso dois projetos de leis complementares, a serem concluídos ainda este mês, para regulamentar o texto.

… O ministro participa hoje, às 9h, de seminário sobre descarbonização, em Brasília.

O POLVO – Diante da crise aberta pela interferência direta de Lula na definição da política de pagamento de dividendos na Petrobras, o Ministério Público junto ao TCU pediu investigação do caso, informa a coluna Radar/Veja.

… Na noite de ontem, pela terceira vez, a petrolífera reafirmou, em comunicado ao mercado, ser “inverídica” a informação de que teria prometido o pagamento de dividendos extraordinários em evento em NY, no fim de janeiro.

… O receio de que as estatais estão no alvo da ingerência política, com fins populistas, foi acentuado pela notícia de Lauro Jardim/O Globo de que a Eletrobras cedeu à pressão do governo para acomodar dois indicados no conselho.

… Foi formada maioria no colegiado para ampliar o número de cadeiras, de nove para 11 conselheiros. O Planalto quer ainda mais dois assentos, totalizando quatro. Alega que tem este direito por ser dono de 35% da empresa.

… Qualquer alteração terá que ser aprovada em AGE, mas existe uma grande possibilidade de aprovação.

… Sob o peso das interferências, as ações da Eletrobras figuraram ontem entre as piores quedas do Ibov (abaixo).

MAIS AGENDA – O dia esvaziado por aqui prevê o levantamento Focus do BC (8h25), a segunda prévia do IPC-Fipe de março (5h) e o balanço trimestral da JLS, após o fechamento dos mercados domésticos.

… Lá fora, saem as construções de moradias iniciadas em fevereiro nos EUA (9h30), com previsão de alta de 10,6% contra janeiro, e o índice alemão ZEW de expectativas econômicas em março (7h).

MAIS JAPÃO – O iene renovava mínimas no início da madrugada (149,687/US$).

… Apesar de o BoJ ter abandonado o controle da curva de juro e encerrado o longo período de taxas negativas, informou que continuará comprando títulos do governo e mantendo as condições financeiras acomodatícias.

… A consultoria britânica Capital Economics avalia que o BoJ não deverá embarcar em um ciclo de aperto monetário, porque a inflação vai desacelerar à meta, com o crescimento salarial atingindo o pico neste ano.

TODO CUIDADO É POUCO – O Copom terá um desafio e tanto amanhã com o comunicado, que exigirá habilidade para não potencializar a volatilidade que já parece contratada, independentemente do que vier escrito no texto.

… Se eliminar o forward guidance, pode desencadear alta de até 30pb na curva do DI, calculam economistas ouvidos pelo Broadcast. Se mantiver o compromisso com cortes, no plural, de 50 pb na Selic, também pode estressar.

… “Caso ele [BC] continue sinalizando uma política monetária mais frouxa daqui para a frente, será que não corre o risco de continuar desancorando as expectativas?”, questiona Nicolas Borsoi (da Nova Futura Investimentos).

… Segundo ele, o Copom corre perigo. “Reforçar o forward guidance numa conjuntura de economia forte, sinais ruins na inflação e de expectativa de menos cortes de juros nos EUA parece um erro de política monetária.”

… Já uma mudança na sinalização futura sobre a Selic deve abrir uma disputa entre corte de 0,25pp e 0,50pp e sobre a Selic terminal, que resiste em 9,00% no levantamento Focus, mas que poderá ser colocada em xeque pelo Copom.

… A expectativa de BCs mais conservadores, aqui e nos EUA, colocou mais pressão nos DIs. E na arena doméstica, o IBC-Br de janeiro ajudou a alimentar a percepção de que o espaço para cortes mais agressivos na Selic está menor.

… O juro para Jan25 subiu a 9,985% (de 9,957%). O DI Jan26 avançou a 9,940% (9,885%). O Jan27, a 10,170% (10,126%); o Jan29, a 10,665% (10,617%), o Jan31 subiu a 10,910% (10,871%) e o Jan33, a 11,020% (10,970%).

… Já o dólar rompeu o teto psicológico dos R$ 5,00, acompanhando a alta da moeda no exterior, com ajustes antes das decisões dos BCs.

… O contingenciamento de gastos do governo, que deve ser anunciado na 6ªF, e o mau humor do mercado com as ações de estatais por causa da interferência política também pressionaram o câmbio.

… Pela manhã, o dólar chegou a recuar com dados positivos da economia chinesa e a consequente alta das commodities, mas o movimento não se sustentou e o dólar à vista fechou em alta de 0,56%, a R$ 5,0259.

… Depois de muito sobe e desce, o Ibovespa conseguiu segurar um fechamento no azul, graças à Vale, que subiu 1,91% (R$ 60,90), acompanhando a alta do minério de ferro (+0,94%) em Dalian.

… Acionista da mineradora, Bradespar avançou 3,33% (R$ 20,1) e figurou entre as maiores altas do Ibovespa.

… A alta do petróleo elevou Petrobras ON em 0,85% (R$ 36,98). A ação PN ficou perto da estabilidade (+0,06%, a R$ 36,34). Na ICE, o Brent/maio subiu 1,81%, a US$ 86,89 por barril. O WTI/maio, +1,96%, a US$ 82,16, na Nymex.

… Magazine Luiza foi a maior valorização do dia, com +7,14% (R$ 2,10), devido à expectativa positiva sobre o balanço do 4Tri, divulgado na noite de ontem (leia no Em tempo…)

… No outro lado, ações da Eletrobras ficaram entre as maiores baixas do Ibov (ON recuou 3,60%, a R$ 41,45; e PNB cedeu 3,12%, a R$ 46,03), depois de a mão do governo pesar sobre a companhia.

… Bancos tiveram movimento misto. Ficaram do lado positivo Bradesco ON (+1,20%, a R$ 12,68), Bradesco PN (+0,64%, a R$ 14,20) e Itaú Unibanco (+0,41%, a R$ 34,68).

… Já Banco do Brasil desvalorizou 2,20%, a R$ 56,03, e a unit do Santander perdeu 0,28%, a R$ 28,66.

… MRV (-5,70%; R$ 7,77) e Yduqs (-3,81%; R$ 18,41) lideraram as perdas do dia.

IA NO COMANDO – O bom humor voltou às techs após notícias favoráveis no setor, o que puxou as bolsas em NY para cima, mesmo com o clima de expectativa pelo Fed embutindo mais prêmios nos retornos dos Treasuries.

… Alphabet subiu 4,4%, depois de a Bloomberg informar que a Apple (+0,64%) está em negociações para incorporar o mecanismo de inteligência artificial Gemini, do Google, no iPhone.

… No primeiro dia de sua conferência anual, Nvidia (+0,7%) anunciou a Blackwell, nova arquitetura para GPUs industriais, que permitirá o uso de IA generativa em tempo real com mais eficiência do que dispositivos anteriores.

… Tesla subiu 6,25% após anunciar aumento de preços em seu modelo Y nos EUA e na Europa. Meta (+2,66%), Microsoft (+0,22%) e Amazon (+0,03%) completam as sete magníficas, todas em alta.

… Assim, o Nasdaq liderou os ganhos, com +0,82% (16.103,45 pontos). S&P 500 subiu 0,63% (5.149,39). Mais discreto, o Dow Jones avançou 0,19% (38.789,05).

… Nos Treasuries, a aposta num Fed mais cauteloso amanhã pesou. O BC americano deve manter o atual nível de juros, entre 5,25% e 5,50%, mas a ansiedade é pela sinalização do gráfico de pontos.

… Os investidores também querem ver se o BC americano altera a sua visão para 2025-2026 e para a taxa neutra – nível de juro que nem estimula nem retarda o crescimento.

… Elevar a estimativa dessa taxa seria uma forma de dizer ao mercado que uma redução agressiva de juros está fora de questão.

… O cenário de corte em junho vem perdendo força depois do CPI e PPI acima do esperado. Ontem, as apostas de redução de juros no 6º mês do ano (51,1%) chegaram a quase empatar com as de manutenção (48,9%).

… Seguindo outros nomes de Wall Street, o Goldman Sachs alterou ontem a previsão de quatro reduções de juros para três neste ano.

… O juro da note de 2 anos avançou a 4,734% (de 4,727%) e o da note de 10 anos subiu a 4,332% (4,314%). O do T-bond de 30 anos, a 4,458% (4,429%).

… Com o dólar ganhando terreno ante as principais moedas. o índice DXY avançou 0,19%, a 103,62 pontos. O euro recuou 0,18%, a US$ 1,0872, e a libra cedeu 0,11%, a US$ 1,2726.

… Na expectativa pelo BoJ, o iene ficou perto da estabilidade (-0,03%), a 149,13/US$.

EM TEMPO… MAGAZINE LUIZA reverteu prejuízo e registrou lucro líquido ajustado de R$ 101,5 milhões no 4TRI; Ebitda ajustado somou R$ 756,5 milhões, alta de 12,3% na comparação anual.

AMERICANAS adiou para até 28/5 a divulgação de seus balanços referentes ao exercício social de 2023 e ao 1TRI24, então agendados para 26/3 e 15/5, respectivamente.

GRUPO PÃO DE AÇÚCAR. Fitch reiterou nota de crédito nacional da empresa em AA(bra), com perspectiva estável…

… Morgan Stanley atingiu 6,11% do total de ações ON emitidas pela companhia; Ronaldo Iabrudi, ex-CEO e ex-chairman do GPA, alcançou 5,48% do total de ações da mesma classe.

GRUPO SBF (Centauro) registrou lucro líquido de R$ 127,2 milhões no 4TRI, queda de 9,6% na comparação anual; Ebitda somou R$ 290,7 milhões, alta de 6,5% em relação ao mesmo período de 2022.

GOL anunciou retirada de guidances de 2024, em decorrência do atual cenário da companhia.

ITAÚSA registrou lucro líquido recorrente de R$ 3,460 bilhões no 4TRI, alta de 3% na comparação anual; ROE Recorrente foi de 17%, recuo de 1,7pp em um ano…

… Ativo total foi de R$ 89,898 bilhões, avanço de 8% sobre o 4TRI22; endividamento líquido foi de R$ 652 milhões, queda anual de 82,9%…

… Grupo aprovou a distribuição de R$ 723 milhões em JCP, o equivalente ao valor líquido de R$ 0,0595 por ação, com pagamento em 30/8; ex em 22/3.

BB realizou a liquidação financeira da operação de captação internacional sustentável de dívida sênior, do tipo sustainability bond, no montante de US$ 750 milhões; bonds têm vencimento em 18 de março de 2031.

MRV fará 25ª emissão de debêntures, no valor de R$ 300 milhões.

POSITIVO anunciou a aquisição da Algar TI por R$ 235 milhões.

RAÍZEN aprovou a distribuição de dividendo intermediário no valor de R$ 167,596 milhões, o equivalente a R$ 0,0162 por ação, com pagamento até 31/3; ex em 22/3.

VIBRA ENERGIA. Previ passou a deter participação relevante, de 5,03% do capital, contra 4,93% antes.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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