Morning Call

China frustra. Galípolo deve passar fácil

Atualizado 08/10/2024 às 01:47:52

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[08/10/24]

… Os chineses voltaram dos feriados da Golden Week afundando os preços do minério, diante da frustração com a novas medidas do governo de Pequim para estimular a economia. A notícia é negativa para os emergentes exportadores de commodities e há ainda outros agravantes no cenário internacional, com os riscos geopolíticos no Oriente Médio, que já elevaram o petróleo acima dos US$ 80, e a reprecificação dos juros nos EUA, onde crescem as apostas em uma pausa do Fed em novembro. Aqui, os ativos domésticos refletem as incertezas em NY, enquanto o mercado monitora hoje a sabatina de Gabriel Galípolo para assumir o comando do BC, às 10h na CAE do Senado e com votação no plenário a partir das 14h. A expectativa é favorável para a aprovação de seu nome, que ganhou a confiança dos investidores.

… Na véspera da sabatina, Galípolo reuniu-se com o presidente Lula e o ministro Haddad no Palácio da Alvorada e, no final da tarde, com Rodrigo Pacheco, na residência oficial da presidência do Senado. O compromisso não constava das agendas das autoridades.

… Tanto na CAE como no plenário, as votações são secretas e, em ambos os casos, ele precisa de maioria simples para ser referendado.

… No Estadão, o jornalista Alvaro Gribel apurou que Galípolo deve ser aprovado “com folga”, embora sua independência para conduzir o BC deva ser questionada por senadores da oposição. E mesmo aliados da própria base podem confrontá-lo sobre os juros altos.

… Desde que o presidente Lula confirmou seu nome, no final de agosto, Galípolo fez um extenso “beija-mão” com ao menos 48 senadores alinhados ao governo e à oposição, mesmo diante do esvaziamento do Congresso por causa das eleições municipais.

… O próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, entrou em campo e procurou senadores alinhados à oposição e ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que o indicou, para avalizar a candidatura de Galípolo.

… O vice-presidente da CAE, senador Angelo Coronel (PSD), prevê uma votação “tranquila”, dizendo que Galípolo já visitou todo mundo e não terá contestação ao seu nome. “Acredito que será tudo muito protocolar para cumprir as normas do Parlamento.”

… Também o senador Plínio Valério (PSDB), relator da proposta de independência financeira do BC, acredita em aprovação com facilidade. “Para minha surpresa, ele me disse que é a favor da matéria que estou relatando. Passa sem nenhum problema, não vejo empecilho.”

… No mercado, a sensação é a mesma, mas, apesar de ter conquistado a confiança dos investidores, restará alguma dúvida em relação à sua independência. Sérgio Vale (MB Associados) lembra que Galípolo viajou no avião de Lula para o México.

… Luis Otavio de Souza Leal (G5 Partners) entende que o nome de Galípolo já foi assimilado pelo mercado financeiro e que deve ganhar uma trégua do PT nos primeiros meses de mandato, “mas a pressão pode apertar se os juros não começarem a cair no final de 2025”.

… Seu nome já aterrorizou o mercado, diante das críticas de Lula à condução da política monetária e de suas inclinações heterodoxas. Mas as coisas começaram a mudar quando Galípolo assumiu a defesa do aumento dos juros que começaria em setembro.

NOVAS APOSTAS – A reprecificação da curva de juros americana avançou nesta 2ªF, com investidores enxergando cada vez menos espaço para o Fed cortar mais os juros este ano. No CME FedWatch, a chance de pausa em novembro subiu de 2,6% na 6ªF para 14,8%.

… A probabilidade de um corte de 25pbs continua majoritária, mas recuou de 97,4% para 85,2%.

… As novas perspectivas surgiram com o payroll forte, que zerou as apostas em um corte de 50pbs em novembro e levantou as suspeitas de que a inflação pode voltar a assustar. Assim, os juros dos Treasuries subiram mais e as bolsas operaram deprimidas (abaixo).

… Neste sentido, os discursos dos Fed boys ganham maior importância para ajustar as expectativas.

… Nesta 2ªF, o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, admitiu que ainda vê riscos de alta para a inflação, embora não seja este seu cenário-base. O CPI de setembro, nesta 5ªF, deve ter peso relevante: se vier elevado, pode haver reviravolta no mercado.

… Ontem à noite, o presidente do Fed/St. Louis, Alberto Musalem, disse que é preciso cortar os juros, mas que uma flexibilização antes do tempo “pode ter custos altos, já que uma inflação mais elevada representaria uma ameaça à credibilidade do Fed e à economia”.

… Hoje falam Raphael Bostic (Fed/Atlanta), às 13h45, e Susan Collins (Fed/Boston), às 17h. À noite, Philip Jefferson (20h30).  

… Adicionalmente, a escalada do petróleo, com as tensões no Oriente Médio, amplia as preocupações para os riscos altistas da inflação.

… Os mercados continuam de sobreaviso com a possibilidade de um ataque de Israel ao Irã, enquanto o furacão Milton se aproxima da costa da Flórida, com preocupações sobre uma possível interrupção da produção em alguns poços de petróleo da região.

… Ontem à noite, o governador da Flórida, Ron DeSantis, informou que o furacão Milton já é muito mais forte do que o previsto há dois dias. “Este é um furacão feroz, que causará destruição de qualquer maneira”, disse ele aos jornalistas.

AINDA NOS EUA – Sai hoje a balança comercial (9h30), que deve registrar déficit de US$ 71 bilhões em agosto.

BALANÇOS EM NY – Wall Street está meio cética com a temporada de resultados no terceiro trimestre de 2024, que começa hoje, com os resultados da PepsiCo antes da abertura. Ao longo da semana, estão previstos os balanços de JP Morgan e Wells Fargo.

AQUI – A agenda prevê a primeira prévia de outubro do IPC-S (8h) e os dados regionais da produção industrial de agosto (9h). Lula receberá à tarde (15h) os CEOs das montadoras de veículos no Palácio do Planalto.

CHINA HOJE – Longe do grande pacote de estímulo esperado pelo mercado, Pequim adiantará 100 bilhões de yuan (US$ 14,1 bi) do orçamento de investimento do ano que vem e outros 100 bi de yuan em projetos de construção.

… Os volumes anunciados decepcionaram os economistas, que esperavam o anúncio de trilhões de yuan no curto prazo. Na primeira reação negativa, no início da madrugada brasileira, o minério de ferro derretia mais de 4%.

TIRO NA ÁGUA – Os investidores, que vivem de se antecipar, já saíram embutindo ontem nos papéis da Vale (ON, +0,88%, a R$ 63,03) a aposta de que a China voltaria do feriado com uma grande rodada de estímulos.

… Com o pacote da madrugada que deixou muito a desejar, as ações contratam gap de queda na abertura.

… No pregão desta 2ªF, Petrobras não desperdiçou o rali estendido do petróleo, com o Brent superando US$ 80 (+3,68%, a US$ 80,93/barril) pela primeira vez desde agosto.

… O papel ON da estatal registrou +1,69% (R$ 42,06), na máxima, e o PN, +1,40% (R$ 38,37).

… Para completar o otimismo entre as blue chips, também os bancos performaram bem.

… Itaú registrou valorização de 0,66% (R$ 35,14), Bradesco PN subiu 0,93% (R$ 15,20), Bradesco ON fechou em leve alta (+0,08%), cotado a R$ 13,30, Banco do Brasil ON ganhou 0,48% (R$ 26,99) e Santander, +0,21% (R$ 28,71).

… Apesar de todas as forças positivas, foi tímida a alta do Ibovespa (+0,17%), que brigou para defender os 132 mil pontos (132.017,84), em mais um pregão de liquidez esvaziada, com volume financeiro que não chegou a R$ 18 bi.

… O mercado parece estar em compasso de espera pela inflação de setembro aqui (IPCA) e, mais do que tudo, nos EUA (CPI), com potencial para movimentar o jogo das apostas para o Fed e influenciar diretamente os emergentes.

… Natura ficou no topo das altas, com +2,63% (R$ 15,23), seguida por Brava Energia, +2,39% (R$ 18,39) e Hypera, +2,05% (R$ 27,35).

… As maiores perdas foram de Carrefour (-5,27%; R$ 7,91), Assaí (-2,87%; R$ 6,77) e Petz (-2,63%; R$ 4,81).

IMPORTOU A ALTA – De nada adiantou para o real o petróleo ter voltado a escalar ontem, porque falaram mais alto no câmbio o apelo defensivo desencadeado pela crise no Oriente Médio e os ajustes nas apostas para o Fed.

… O dólar subiu 0,56%, a R$ 5,4859, diante das especulações de que o mercado de trabalho aquecido nos EUA possa criar uma onda de impacto inflacionário capaz de desencorajar o BC americano a relaxar o juro em novembro.

… Em termos de fluxo para os mercados emergentes, uma possível pausa no ciclo de cortes pelo Fed seria menos vantajosa, ainda que o carry trade continue compensado pela convicção de que o Copom continuará subindo a Selic.

… Foi curioso que ontem o DI tenha conseguido enfrentar três fatores de pressão (alta do dólar, do petróleo e das taxas dos Treasuries) e fechado em queda. A avaliação é de que a curva estava esticada demais e, por isso, caiu.

… No fechamento, o contrato de DI para Jan26 recuou para 12,295% (de 12,391% no pregão anterior); Jan27, a 12,330% (12,432%); Jan29, a 12,340% (12,469%); Jan31, a 12,280% (12,418%); e Jan33, a 12,210% (12,345%).

… Contrariando os prognósticos dos analistas de que o Focus traria uma piora relevante nas expectativas, a única mudança negativa foi o aumento da mediana para o IPCA deste ano, mesmo assim marginal (de 4,37% para 4,38%).

… De qualquer forma, a estimativa continua próxima do teto da meta, de 4,50%. As medianas para os horizontes mais longos se mantiveram descoladas do centro da meta (3%), em 3,60% para 2026 e em 3,50% para 2027.

… Já a aposta para a inflação suavizada dos próximos 12 meses caiu de 3,97% para 3,92%. Este ponto tem ganhado importância nas análises do mercado após a regulamentação da meta de inflação contínua, que valerá ano que vem.

… Antecipando-se ao resultado do IPCA de setembro (amanhã), a Bradesco Asset elevou a previsão para o índice oficial de inflação do ano de 4,2% para 4,3% e projetou duas doses de aperto de meio ponto da Selic até dezembro.

… Pressionado pelo avanço na tarifa de energia elétrica e dos alimentos, o IPCA deve acelerar para 0,45% em setembro, anulando a deflação de agosto (-0,02%). Na média, os núcleos devem subir 0,26% (pesquisa Broadcast).

RISK OFF – Motivos não faltaram para o investidor ativar o modo fuga do risco nas bolsas de NY, que caíram em torno de 1% ontem.

… O aumento das apostas em pausa no corte de juros do Fed, em meio ao rescaldo do forte payroll, se juntou ao crescimento da tensão geopolítica no Oriente Médio para elevar o retorno da note de 10 anos acima de 4% (4,023%).

… O juro da note de 2 anos, mais sensível à política monetária, também chegou a superar os 4%, mas fechou um pouco abaixo, em 3,987%, contra 3,922% na 6ªF do payroll. O do T-bond de 30 anos subiu a 4,303%, de 4,264%.

… Enquanto isso, ameaças recíprocas de retaliação entre Israel e seus inimigos cresceram no aniversário de um ano dos ataques do Hamas ao território israelense.

… A hostilidade geopolítica, junto com o furacão Milton, de categoria 5, no Golfo do México, fez o preço do petróleo disparar quase 4%.

… Dos 11 setores do S&P 500, o de energia foi o único a fechar com alta (+0,4%). O índice perdeu 0,96%, aos 5.695,96 pontos. O Dow Jones recuou 0,94% (41.954,63) e o Nasdaq caiu 1,18% (17.923,90).

… No meio da tarde, veio um fator adicional de cautela: o juiz de um tribunal da Califórnia ordenou que o Google Play permita lojas de apps rivais nos celulares Android.

… Com a decisão, considerada o resultado mais significativo do processo antitruste da Epic Games contra o Google, iniciado em 2020, a ação da Alphabet caiu 2,47%.

… Outros cinco papéis das sete magníficas também recuaram de forma significativa: Apple (-2,25%), Amazon (-3,06%), Tesla (-3,70%), Meta (-1,87%) e Microsoft (-1,57%). Só Nvidia (+2,24%) se salvou.

… Depois da escalada das últimas sessões e apesar da perceptiva de um Fed menos dovish, o dólar (DXY) ficou estável (+0,02%, a 102,537 pontos).

… O iene chegou a cair perto dos 150 ienes por dólar, mas se recuperou e fechou em alta de 0,42%, a 148,161/US$, depois de declarações de membros do governo sobre a movimentação da moeda.

… Enquanto o novo ministro de Finanças, Katsunobu Kato, disse que vai “observar de perto” o impacto do câmbio, seu vice, Atsushi Mimura, alertou sobre movimentos especulativos.

… “Vamos monitorar os movimentos do câmbio, incluindo a negociação especulativa, com um senso de urgência”, disse Mimura, reavivando tática de advertência verbal que seu antecessor, Masato Kanda, usava com frequência.

… Em dia de dados ruins na zona do euro, a moeda comum ficou perto da estabilidade (-0,08%), a US$ 1,0971, enquanto a libra cedeu 0,34%, a US$ 1,3081.

… Na Alemanha, as encomendas à indústria despencaram 5,8%, ante uma previsão de -1,8%. O Ministério da Economia revisou a previsão do PIB de 2024 de +0,3% para -0,2%.

… O dirigente do BCE Martins Kazaks disse que, com a economia da zona do euro fraca, é favorável a novas reduções do juro de 25pb nas próximas reuniões do banco.

EM TEMPO… VALE vai divulgar relatório de produção e vendas do 3TRI no dia 15/10 e balanço no dia 24/10.

PETROBRAS atingiu fator de utilização das refinarias (Fut) de 96,8% em setembro, melhor resultado mensal de 2024; assim, acumulado do 3TRI chegou a 95,2%.

PRIO. Produção de petróleo atingiu 71.476 boepd em setembro, recuo de 0,33% em relação a agosto, segundo dados preliminares.

BRASKEM. Fitch atribuiu rating BB+ às notas seniores a serem emitidas pela Braskem Netherland Finance B.V. e garantidas pela petroquímica.

AZUL anunciou que firmou “com sucesso” os acordos comerciais com arrendadores e fabricantes de equipamentos originais, que representam aproximadamente 92% das obrigações de emissão de ações existentes…

… Acordos são parte significativa de plano abrangente para fortalecer geração de caixa e envolvem recebimento de até 100 milhões de novas ações PN da Azul em uma emissão única…

… Segundo a empresa, as negociações continuam com os detentores dos 8% restantes das obrigações de emissão de ações, bem como com outras partes interessadas.

IGUATEMI fechou acordo de exclusividade na compra dos shoppings Paulista e Higienópolis; grupo vai ter prazo de 30 dias para apresentar oferta vinculante. (fontes do Broadcast)

ALPARGATAS. Acionista Silvio Tini de Araújo, em conjunto com Bonsucex Holding, elevou participação na empresa, de forma agregada, para 10,13% do total de ações.

ÂMBAR. A Aneel autorizou a transferência do controle da Amazonas Energia à empresa controlada pela holding J&F.

TAESA recebeu licença de instalação da Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão para trecho da concessão de Tangará.

COSAN. Moove já possui demanda suficiente para concluir sua oferta inicial de ações, que será precificada amanhã. (fontes do Valor)

SANEPAR. BNDES aprovou financiamento de R$ 194 milhões para a companhia; recursos serão destinados à recuperação e expansão do sistema de abastecimento de água da região metropolitana de Curitiba.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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