Morning Call

CPI nos EUA pode chancelar corte de juro em setembro

Atualizado 11/07/2024 às 00:31:06

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[11/07/24]

… O CPI de junho nos Estados Unidos (9h30) poderá chancelar as apostas do primeiro corte de juro em setembro, após Powell ter dito na Câmara que a inflação está arrefecendo e o Fed não precisa esperar chegar à meta de 2% para começar as quedas. O consenso aponta para taxa anual de 3,1% para o índice cheio (3,3% até maio) e de 3,4% para o núcleo (igual ao mês anterior). No mesmo horário, saem os pedidos de auxílio-desemprego. Dois Fed boys têm falas previstas para hoje. Aqui, após a surpresa positiva com o IPCA, as vendas no varejo em maio (9h) devem recuar 0,5%, após alta de 0,9% em abril, em mais um indicativo de que o BC não tem motivos para subir a Selic. Na Câmara, passou o 1º projeto de regulamentação da reforma tributária.

… A votação acabou em festa no plenário com a decisão do relator de incluir as carnes na cesta básica, isenta de impostos.

… De um lado, aliados do governo comemoravam como uma vitória do presidente Lula, e de outro, o PL, junto com a bancada do agronegócio, reivindicava a conquista para a oposição. O destaque foi aprovado por 477 votos contra apenas três.

… O presidente da Câmara, Arthur Lira, que chegou a afirmar a aliados que a isenção das carnes seria “loucura”, encerrou a sessão dizendo que a trava colocada no projeto para limitar a alíquota do IVA a 26,5% “deu mais conforto”.

… A trava passará a valer a partir de 2033, após o período de transição da reforma tributária. Caso a alíquota ultrapasse o limite, o governo será obrigado a formular um projeto de lei complementar com medidas para reduzir a carga tributária.

… Junto com a carne, entraram na cesta básica peixe, queijo, sal, óleo de milho, aveia, farinhas, molho e extrato de tomate.

… O texto-base passou por 336 votos contra 142 e segue para o Senado, onde só será apreciado na volta do recesso.

… A equipe técnica da Fazenda acompanhou a votação no plenário e também celebrou a aprovação, mas o impacto das exceções ainda será medido. O secretário da reforma tributária, Bernard Appy, disse que os cálculos precisam ser refeitos.

… Segundo ele, há mudanças que diminuem a carga tributária, como alterações no imposto seletivo e ações que reduzem a elisão fiscal, e outras que pressionam a alíquota. Appy já estimava impacto de 0,53pp da isenção das carnes para o IVA.

… O 2º projeto de regulamentação, que trata do Comitê Gestor do IBS, ficou para o início de agosto, informou Lira.

DESONERAÇÃO – Além de passar o dia ligado no plenário da Câmara, para a votação do 1º projeto de regulamentação da reforma tributária, o mercado também acompanhou as negociações sobre as medidas de compensação pelo benefício tributário.

… O relator do projeto no Senado, Jaques Wagner, esteve no Palácio com Rodrigo Pacheco para falar com Lula e Haddad, e à saída disse que a conversa foi “muito positiva”, sinalizando que havia um acordo para a votação da matéria.

… As medidas dos senadores, responsáveis pelas fontes de compensação após devolução da MP do PIS/Cofins, incluem a taxação de importações até US$ 50, repatriação de recursos, refis de multas de agências reguladoras e atualização de ativos no IR.

… No encontro, Haddad propôs elevar a alíquota da CSLL em até 1pp, pelo prazo de dois anos, caso essas medidas não fossem suficientes para cobrir a desoneração, cujo impacto foi reestimado pela Receita entre R$ 17 bilhões e R$ 18 bilhões.

… Essa condição, como defendeu o ministro, seria prevista no projeto, funcionando como um “gatilho” que seria acionado apenas se os recursos forem insuficientes, com a alíquota da CSLL sendo elevada proporcionalmente, entre 0,25pp e 1pp.

… No final da tarde, porém, Rodrigo Pacheco disse não haver ainda uma definição sobre a CSLL. Ele não descartou que um acordo para a votação nesta 5ªF seja “possível”, mas também admitiu que pode ficar para a semana que vem.

… O recesso parlamentar começará no dia 18 de julho e o Senado precisa votar as medidas que compensam a desoneração da folha antes disso, já que os 60 dias que o STF deu para um acordo sobre as fontes de recursos termina no dia 19.

… Haddad também disse que a compensação precisa ser aprovada antes do envio do orçamento de 2025 para o Congresso.

… Apesar dos esforços da Fazenda para “ajudar” o Senado a encontrar uma solução, segundo o Broadcast, o clima é de “compensa ou reonera”, como o próprio ministro disse aos jornalistas, nesta 4ªF, após se reunir com o presidente Lula.

DÍVIDA DOS ESTADOS – Outra urgência de Rodrigo Pacheco é o projeto de lei de renegociação das dívidas dos Estados, que ele acha “possível” votar na semana que vem, antes do início do recesso parlamentar.

… Esse tema também foi discutido com o presidente Lula e, segundo Pacheco, o PL precisa de ajustes, assim como a proposta da desoneração. O presidente do Senado rejeitou a narrativa de que o texto não foi discutido com o governo.

… “Diferentemente do que foi veiculado, conversamos muito com Fazenda, fizemos ao menos três reuniões com [Dario] Durigan. De fato, tem alguns pontos de vista divergentes, mas o cerne do projeto das dívidas está mantido.”

MAIS AGENDA – Raphael Bostic/Fed (12h30) e Alberto Musalem (14h) participam de eventos após o CPI. Na noite de ontem, Lisa Cook comentou que é apropriado manter o ritmo atual da política monetária para baixar a inflação.

… Às 9h30, o auxílio-desemprego tem previsão de queda de dois mil pedidos, para 236 mil. Antes da abertura das bolsas em NY, a PepsiCo divulga balanço. A AIE solta o relatório mensal sobre petróleo às 5h. Peru decide juro (20h).

A BARRA CAIU – Foram praticamente eliminadas ontem da curva do DI as apostas especulativas de uma alta da Selic no Copom deste mês, que chegaram a 80% na semana passada, no pico do estresse com Lula e o desequilíbrio fiscal.

… De lá para cá, a mudança mais importante foi Lula ter interrompido a guerra particular contra Campos Neto e autorizado corte nas despesas obrigatórias no ano que vem, provocando melhora na percepção das contas públicas.

… Ontem, em novo gatilho de alívio à política monetária, o IPCA desacelerou de 0,46% (maio) para 0,21% (junho), abaixo do piso estimado (0,27%). Também a inflação acumulada em 12 meses (4,23%) veio abaixo do piso (4,25%).

… O mercado gostou de saber que os preços de serviços, foco principal de atenção do BC, estão perdendo fôlego.

… Apesar da leitura positiva do indicador de inflação, não existe espaço para o mercado sonhar com uma retomada do ciclo de cortes da Selic no curto prazo. Mas só de não precificar um aperto monetário já é uma grande vantagem.

… Animado com a surpresa do IPCA, o secretário de Política Econômica da Fazenda, Guilherme Mello, disse que talvez o BC possa retomar a queda sustentada da Selic no início de 2025, especialmente se o Fed agir em setembro.  

… O Banco Inter vislumbra essa possibilidade de retomada dos cortes pelo Copom no 1Tri do ano que vem.

… Já a Suno acredita que a taxa básica de juro ficará estacionada no patamar de 10,50% até o fim de 2025, embora reconheça que as expectativas de inflação possam se estabilizar depois do resultado melhor que o esperado do IPCA.

… Além do ambiente doméstico mais desanuviado, também o clima positivo no exterior ajudou ontem a curva do DI a queimar prêmio de risco, com NY mantendo no radar a esperança de o Fed não demorar para cortar juro.

… No fechamento, o DI Jan/25 projetava taxa de 10,525% (contra 10,570% no pregão anterior); Jan/26 afundava a 11,085% (de 11,187%); Jan/27, 11,325% (de 11,472%); Jan/29, 11,655% (de 11,844%); e Jan/31, 11,760% (11,930%).

… Os juros futuros nem precisaram nesta 4ªF do dólar para caírem. Pela manhã, a moeda americana chegou a furar R$ 5,40 na mínima (R$ 5,3731), no otimismo engatilhado pelo IPCA. Mas zerou a queda e foi fechar no zero a zero.

… Terminou o dia valendo R$ 5,4126 (-0,04%). O que se comenta é que o dólar pode buscar uma acomodação, após já ter caído bastante neste início de mês (-3,14%). Mas se o CPI vier fraco hoje nos EUA, pode testar novas quedas.

… Dados divulgados ontem pelo BC indicaram que o fluxo cambial em julho (até o dia 5) ficou negativo em US$ 840 mi, com saídas de US$ 1,465 bi pelo canal financeiro. No ano, o saldo total acumulado é de US$ 10,790 bilhões.

NÃO DESENCANTA – Mesmo que por um triz, o Ibovespa fechou ontem no azul (+0,09%), bancando por mais um dia os 127 mil pontos (127.218,24) e adiando uma realização de lucros, para completar sua sequência de oito altas.

… Não deu para contar com as blue chips das commodities, mas os papéis dos bancos e as ações mais sensíveis ao alívio dos juros futuros contrabalançaram as forças negativas e deram suporte para a bolsa evitar uma correção.

… A festa do IPCA deslanchou o setor financeiro. Maior alta do dia, Santander saltou 3,63%, a R$ 27,71. Bradesco ON subiu 1,76% (R$ 11,55), Bradesco PN, +1,69% (R$ 12,67), BB, +1,56% (R$ 26,61) e Itaú, +1,06% (R$ 33,45).

… Empresas mais dependentes de crédito também se destacaram: LWSA ganhou 3,56% e Eztec, +3,19%.

… Na ponta oposta, Vale (ON, -1,35%, a R$ 62,17) sentiu a fraqueza do minério de ferro (-1,81%), que repercutiu a inesperada perda de força da inflação da China em junho, deixando dúvidas sobre a recuperação econômica.

… Descoladas do petróleo, as ações ON da Petrobras cederam 0,29% (R$ 40,77) e as PN caíram 0,94% (R$ 38,07). Lá fora, o Brent/set subiu 0,50%, para US$ 85,08, com a queda maior do que a esperada nos estoques nos EUA.

… É sinal de que a demanda por combustíveis segue firme nesta “driving season”, que vai até setembro.

IGUAL, MAS DIFERENTE – Apesar da sessão-reprise de Powell, que se esquivou novamente de enviar um sinal explícito sobre quando o processo de relaxamento monetário vai começar, NY desta vez mudou de postura.

… Se um dia antes, os investidores haviam exibido alguma dose de frustração pelo fato de o presidente do Fed não ter mencionado setembro, já ontem, decidiram apostar as fichas no CPI para um corte antecipado do juro.  

… Assim, mesmo sem novidade de Powell, as taxas dos Treasuries de 10 anos engatilharam queda, a 4,281%, de 4,294%. Já o yield da Note-2 anos, que havia caído na véspera, teve recuo marginal: 4,623%, de 4,622%.

… Confiante de que o indicador de inflação de hoje vai dar novo argumento para o Fed se comprometer com um cronograma mais próximo de flexibilização, o índice DXY (-0,08%) se manteve próximo dos 105,000 pontos (105,048).

… O euro subiu 0,12%, para US$ 1,0831, e a libra esterlina registrou particular pressão (+0,46%, a US$ 1,2845), depois de a dirigente do BC inglês (BoE) Catherine Mann afirmar que a inflação continua elevada no Reino Unido.

… Ela disse ainda que a tendência é que os preços continuem subindo até o fim do ano. O colega Huw Pill advertiu sobre a persistência da inflação de serviços, mas disse que cortar o juro agora é questão de “quando” e não de “se”.

… Apesar da fraqueza contra as moedas europeias, o dólar subiu 0,18% na comparação com o iene, a 161,75/US$.

… Impulsionado pela força das ações das empresas de tecnologia, o S&P 500 (+1,02%) ultrapassou a marca inédita dos 5.600 pontos (5.633,91 pontos) e também o Nasdaq (+1,18%, a 18.647,45 pontos) renovou máxima recorde.

… Também no azul, o Dow Jones subiu 1,09%, aos 39.721,36 pontos. Estrela do momento, Nvidia emplacou valorização de 2,70%. Micron disparou 4,00%, Microsoft avançou 1,46% e Apple registrou alta de 1,88%.

EM TEMPO… SANTANDER aprovou a distribuição de R$ 1,275 bilhão em JCP, o equivalente a R$ 0,1629 por ação ON, R$ 0,1792 por ação PN e R$ 0,3421 por unit, com pagamento em 9/8; ex em 22/7.

CIELO. OPA será em 14 de agosto e terá 902,2 milhões de ações ON ao preço de R$ 5,60 cada, acrescido de CDI.

BRASKEM foi condenada a indenizar, pela primeira vez, uma vítima da área afetada pelo rompimento de mina de sal-gema de sua propriedade em Maceió, em decisão da 8ª Vara Cível da capital de Alagoas. (O Globo)

PETROBRAS começou a testar voos com aeronaves não tripuladas para levar cargas a plataformas de petróleo em alto-mar (Folha)…

… Primeiro voo percorreu cerca de 180 quilômetros entre Macaé, no litoral norte do Rio de Janeiro, e a plataforma P-51, na Bacia de Campos.

COPEL anunciou que vendeu o bloco de controle (51%) da distribuidora de gás Compagas para a Compass, empresa de gás natural do grupo Cosan, por R$ 906 milhões.

NEOENERGIA. Volume de energia distribuída subiu 8,1% no 2Tri na comparação anual, segundo prévia operacional.

ONCOCLÍNICAS. Conselho de Administração aprovou aumento de capital social da empresa de R$ 2,45 bilhões para R$ 3,14 bilhões.

MRV reportou queima de caixa consolidado, sem ajustes, de R$ 448 milhões no 2TRI24, segundo prévia operacional.

CURY. Lançamentos alcançaram valor geral de vendas (VGV) de R$ 1,73 bilhão no 2TRI24, alta de 41,9% na comparação anual, segundo prévia operacional.

IGUATEMI. Oceana reduziu participação em ações PN (de 10,47% para 9,63%) e ON (de 2,93% para 2,75%).

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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