Morning Call

E agora, Copom?

Atualizado 18/06/2024 às 23:39:28

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[19/06/24]

… O feriado de Juneteenth deixa os mercados fechados hoje em NY, reservando o dia inteiro para o suspense do Copom, que ganhou uma importância maior depois que o presidente Lula entrou no jogo com novos ataques a Campos Neto, pressionando pela continuidade da redução do juro. Até então, os investidores estavam convencidos de que o Comitê encerraria o ciclo de quedas com a Selic a 10,5% aa, em uma decisão unânime, que corrigiria o mal-entendido do “racha” de maio e sinalizaria para um futuro comprometido com a meta de inflação. Agora, ninguém sabe o que vai acontecer. Ao acusar RCN de ter “lado político”, Lula deixou claro que não aceitará uma “traição” dos seus indicados, entre os quais estão Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti, cotados para assumir o Banco Central a partir de janeiro.

… Em maio, Galípolo, Picchetti, Aílton de Aquino e Rodrigo Teixeira votaram pelo meio ponto, e coube a Campos Neto desempatar a favor do time da casa (0,25pp). O respeito ao guidance foi o motivo alegado pelos quatro nomeados por Lula para negar dissidências.

… Dessa vez não tem guidance e ficou mais difícil justificar um corte adicional, diante da deterioração das expectativas inflacionárias e dos riscos fiscais, que se acentuaram nas últimas semanas. A turma do novo BC está entre a cruz e a caldeirinha.

… O placar de 5 a 4 poderá se repetir e com repercussões ainda mais fortes, porque um novo racha será inevitavelmente atribuído a Lula. Uma outra possibilidade seria alguém do time de RCN pular para o barco dos novos diretores, o que também pesaria no mercado.

… Se em maio tanto fazia um corte de 0,50pp ou de 0,25pp, em junho as coisas estão diferentes e piores, a começar pela desancoragem das expectativas, cuja trajetória se intensificou, com a mediana para o IPCA/2025 subindo de 3,64% para 3,80%.

… Também a mediana da inflação para 2026 aumentou de 3,50% para 3,60%, após ter ficado estável por 46 semanas.

… Outros fatores destacados pela Warren Investimentos referem-se ao comportamento do prêmio de risco e da taxa de câmbio.

… O real continuou a se depreciar, apesar da queda dos yields das Treasuries e da estabilidade do índice DXY. Embora, em parte, isso possa ser explicado pelo menor apetite para mercados emergentes (caso do México), fatores domésticos também pesaram.

… O acirramento dos temores do mercado quanto ao quadro fiscal somou-se a uma possível fragilização do ministro Haddad e às dúvidas sobre a condução da política monetária a partir de 2025 para também explicar a alta do CDS de 5 anos do Brasil, a quase 160 pbs.

… Para a Warren, uma decisão unânime pela manutenção da taxa Selic no atual patamar é essencial para que o Copom reconquiste a sua credibilidade, abrindo espaço para uma reancoragem das expectativas de inflação, ainda que parcial.

… Também na opinião de Ricardo Tadeu Martins, economista-chefe da Planner, qualquer decisão diferente de 9 a 0 no Copom de hoje estará errada. “A unanimidade é fundamental para reativar a coerência interna e gerar credibilidade.”

… Além disso, diz ele, seria um caminho para “reancorar as expectativas, expurgar os excessos nas projeções da pesquisa Focus e, ainda, minimizar as dúvidas sobre leniência inflacionária”. No fim do ano, o governo terá sete cadeiras no Copom.

… Pesquisa da XP com 33 casas, realizada antes da entrevista de Lula, aponta que quase a totalidade dos gestores de multimercados (94%) acredita que o Banco Central deve manter a Selic em 10,5%, projetando o fim do ciclo de queda.

… Na visão das gestoras, os recentes aumentos nas projeções do IPCA em 2025 e 2026, além da piora na percepção do risco fiscal e ruídos vindos de Brasília, com os embates entre o governo e o Congresso, são fatores que devem demandar cautela.

… Levantamento do Broadcast, finalizado no dia 11, também mostrou amplo consenso do mercado (20 de 29 casas) sobre uma decisão unânime por Selic estável em 10,5% neste Copom (86%).

… Mas a entrevista de Lula deu espaço para os juros futuros ensaiarem uma zebra, com algumas fichas colocadas em um corte de 0,25pp da Selic, enquanto o dólar voltava a subir acima dos R$ 5,43, refletindo o momento de tensão na véspera do Copom (leia abaixo).

LULA – O presidente foi extremamente incisivo nos ataques a Campos Neto, afirmando que ele está atrapalhando o crescimento do País e tem “lado político”, referindo-se ao jantar oferecido por Tarcísio. “Cadê a autonomia desse rapaz que foi a uma festa em São Paulo?”

… No mercado, a presença de Campos Neto no jantar oferecido por Tarcísio também foi criticada, inclusive pelas declarações veiculadas pela Folha que ele não desmentiu, quando teria afirmado que topa ser o ministro da Fazenda do governador.

… Mas a entrevista de Lula também incomodou, embora a torcida seja para que não influencie…

… Para Luis Otávio Leal (G5 Partners), “foi ruim, mas não deve influenciar o Copom; vão tentar uma unanimidade”.

… Sérgio Vale (MB) ainda acha que a decisão do Copom deve ser consenso, mas admite que a entrevista de Lula abriu a possibilidade de divergência. “Não estranharia se os escolhidos pelo governo optassem por -0,25 pp, mas vai ser difícil justificar.”

… Sérgio Goldenstein (Warren) disse que “seria uma mega tiro no pé o Copom se sujeitar a pressões políticas num momento de aumento da desconfiança acerca da condução da política a partir de 2025 e de desancoragem das expectativas”.

… Eduardo Velho (JF Trust) concorda: “A entrevista é ruim para manter um viés de estresse, mas sobretudo de desconfiança com a gestão dos juros; a decisão unânime pode reforçar o viés independente”.

… Alexandre Schwartsman (AC Pastore & Associados): “Acho que fica mais delicada a situação de um cara como o Galípolo, que imagino que esteja se encaminhando para votar com o consenso”.

AGENDA – Lula e Haddad participam à tarde (15h30) da cerimônia de posse da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, no Rio. Pela manhã, Lula se reúne com a equipe econômica (Haddad, Tebet e Dweck).

… À noite (20h), o ministro da Fazenda participa de evento do jornal O Globo para receber o prêmio “Faz Diferença”.

… Pacheco pretende apresentar hoje a Haddad um projeto para compensar a desoneração a folha, depois de ter devolvido a MP do PIS/Cofins. A ideia é refinanciar multas aplicadas a empresas por agências reguladoras.

… A FGV divulga às 8h a segunda prévia do IGP-M de junho. O BC solta o fluxo cambial semanal às 14h30.

LÁ FORA – Com NY fechada para o feriado, sai o índice NAHB de confiança das construtoras em junho (11h). No Reino Unido, será divulgada a inflação ao consumidor (CPI) de maio, às 3h. À noite (22h15), a China decide juro.

JOGO DE PROVOCAÇÕES – Preocupa a dinâmica que se retroalimenta: governo de um lado, demorando para se enquadrar no rigor fiscal, e mercado de outro, subindo o estresse para provocar a guinada na pauta de gastos.

… Este parece ser um jogo de perde-perde para o País, trazendo só prejuízos à recuperação da economia doméstica.

… Ontem, o risco de última hora de o Copom ceder à pressão política e decidir por um novo corte da Selic voltou a puxar o dólar, que cravou a terceira alta consecutiva, operando novamente na faixa de R$ 5,43.

… Embora a alta tenha sido moderada, de 0,23%, a R$ 5,4342, os prognósticos para o câmbio que circulam no mercado dão a medida da guerra particular travada no momento entre os investidores e o governo federal.

… O ex-BC Fabio Kanczuk (ASA Asset) disse que o dólar terá de bater em R$ 6 para Lula assumir a agenda de controle de gastos. Também para Daniel Mathias (O3 Capital), as coisas terão que piorar para o governo mudar de rumo.

… No Broadcast, o analista Victor Arduin (da Hedgepoint) lembra que o dólar vem numa escalada, estava em torno de R$ 5,15, agora acima de R$ 5,40, e se o governo não trouxer confiança, o mercado pode discutir dólar a R$ 5,60.

… Economistas do BTG dizem que só uma significativa melhora do cenário fiscal doméstico teria a capacidade de devolver à moeda para perto de R$ 5. Mas a equipe ainda projeta câmbio abaixo do atual no fim do ano, a R$ 5,20.

… Diante da pressão de Lula no Copom, que coloca Galípolo em saia justa, parte dos traders resolveu jogar as fichas na aposta de corte de juro, menos por convicção e mais por oportunidade de ganho, no caso de dar uma surpresa.

… O DI Jan25 caiu a 10,655% (de 10,690% na véspera); Jan26 ficou praticamente estável, a 11,275% (de 11,285%); Jan27 subiu a 11,620% (de 11,590%); Jan29 cravou 12,000% (de 11,945%); e Jan31 avançou a 12,140% (de 12,070%).

BATEU, MAS VOLTOU – No embalo das ações da Petrobras e da CSN, que foram as estrelas do dia, o Ibovespa resgatou os 120 mil pontos (120.108,98) no melhor momento do dia, mas não segurou a marca até o fim do pregão.

… Desacelerou a alta para 0,41% no fechamento, aos 119.630,44 pontos, na rotina de giros baixos (R$ 18,3 bilhões).

… Os bancos roubaram parte do fôlego da bolsa. Bradesco PN caiu 1,98%, a R$ 12,38; Bradesco ON perdeu 1,17%, a R$ 10,98; e BB ON, -1,40%, a R$ 26,08. Itaú ficou estável (-0,06%; R$ 31,88) e Santander subiu 0,44%, a R$ 27,59.  

… Os papéis da Petrobras registraram otimismo redobrado com o acordo com a Receita para encerrar litígios com o Carf e a valorização do petróleo. O Brent/agosto subiu 1,28%, cotado na máxima em um mês, a US$ 85,33.

… Petrobras ON disparou 3,36% e fechou na máxima do dia, a R$ 37,88, enquanto PN saltou 3,13% (R$ 35,90).

… A maior valorização do pregão foi de CSN ON, que protagonizou uma arrancada de 9,07%, para R$ 12,99, depois de o STJ ter acolhido recurso da empresa em disputa bilionária com o Grupo Ternium. Vale subiu 0,46%, a R$ 60,66.

… Os frigoríficos também se destacaram positivamente, sob influência da decisão da China de abrir uma investigação antidumping sobre importações de carne suína da União Europeia, que favorece a BRF (+5,50%, a R$ 19,19).

… O otimismo contaminou o setor: JBS, +3,84% (R$ 28,90); Minerva, +3,11% (R$ 6,29); e Marfrig, +3,02% (R$ 10,56).

UM É POUCO – O fôlego (+0,1%) menor do que o esperado (+0,3%) das vendas no varejo dos EUA em maio voltou a colocar na conta a possibilidade de o juro cair em setembro e de o Fed dar mais de um corte este ano.

… Louco para consolidar a aposta dovish, o mercado descontou a nova rodada de comentários cautelosos dos Fed boys e já se deu por satisfeito só de os dirigentes não terem descartado a chance de desaperto à frente.

… Adriana Kugler defendeu que uma redução de juros até o fim do ano é “factível”, embora tenha advertido que o timing e intensidade do relaxamento dependem dos indicadores e observado que a inflação segue muito elevada.

… Alberto Musalem sinalizou que podem ser necessários “meses ou trimestres” para o Fed ganhar confiança para reduzir as taxas e cogitou até mesmo um aperto monetário se a desinflação estagnar antes de buscar a meta de 2%.

… Também Thomas Barkin considerou o risco de o juro subir se houver um superaquecimento da economia.

… Susan Collins, reconheceu o avanço do processo desinflacionário durante os dois últimos meses, mas afirmou que o Fed não pode reagir exageradamente a duas leituras positivas, mantendo a paciência apesar da tendência baixista.

… John Williams enfatizou que depende de mais dados econômicos para apoiar um corte dos juros.

… O que todo mundo no Fed está dizendo é que a abordagem mais adequada no momento exige paciência. Mas o mercado aproveitou a brecha ontem das vendas no varejo mais fracas para antecipar o ciclo de flexibilização.

… Os juros dos Treasuries caíram, no movimento acentuado pela demanda acima da média observada no leilão de títulos de 20 anos. A taxa da Note-2 anos caiu a 4,707% (de 4,763% na 2ªF) e a de 10 anos, a 4,215% (de 4,273%).

… Com o mercado voltando a acreditar na chance de dois cortes de juros pelo Fed neste ano, o dólar não subiu. Fechou estável contra o euro (+0,06%, a US$ 1,0741), a libra (+0,04%, a US$ 1,2708) e o iene (-0,07%, a 157,85/US$).

… Na Europa, o investidor tenta se recuperar dos receios de um “Frexit” e da dissolução da zona do euro com a crise política atual. No Japão, o iene não reagiu à sinalização do BoJ de possível aumento de juros na reunião de julho.

… No fechamento, o índice DXY, que mede a força do dólar, operava na estabilidade (-0,06%), a 105,256 pontos.

… Em Wall Street, as bolsas nem têm que fazer força para renovarem os seus recordes históricos, estabelecidos por mais um dia pelo S&P 500 (+0,25%, aos 5.487,03 pontos) e pelo Nasdaq (+0,03%, aos 17.862,23 pontos).

… A melhores marcas de todos os tempos são patrocinadas pelas gigantes de tecnologia, no boom da inteligência artificial. A Nvidia (+3,51%) ultrapassou ontem a Microsoft e se tornou a empresa mais valiosa do mundo.

… O índice Dow Jones registrou leva valorização de 0,15% e encerrou o pregão aos 38.834,86 pontos.

EM TEMPO… PETROBRAS assinou protocolo de intenções com o governo estadual do Rio de Janeiro para estudos conjuntos de implantação de projeto piloto de energia eólica offshore.

ELETROBRAS. Aneel deu aval para a incorporação de Furnas pela companhia, que ocorrerá em data a ser definida pelo Conselho de Administração.

ENERGISA. Aneel aprovou redução média de 1,76% para tarifas da Minas Rio…

… Cade aprovou a compra da Infra Gás pela empresa, negócio anunciado em meados de maio por R$ 890 milhões.

CEMIG aprovou a distribuição de R$ 429,7 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1502 por ação, com pagamento em 2 parcelas (30/6/25 e 30/12/25); ex em 24/6/24.

SABESP conseguiu autorização de seus credores para a troca de controle da companhia, um dos passos necessários para a privatização, segundo o presidente da empresa, André Salcedo. (Valor)

RAÍZEN aprovou a 2ª emissão de debêntures, no valor de R$ 1,05 bilhão.

EMBRAER está negociando venda de jatos E2 para Gol e Latam e não descarta produzir modelos maiores no futuro.

HYPERA aprovou a distribuição de R$ 61,7 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,0976 por ação, com pagamento até o final do exercício social de 2025; ex em 24/6.

AREZZO E GRUPO SOMA. Acionistas de ambas as empresas aprovaram a combinação de negócios em AGE; após a incorporação, a Arezzo passará a se chamar Azzas 2154 e o Grupo Soma será extinto.

ZAMP assinou contrato com a Starbucks Corporation para operar a marca Starbucks no Brasil.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.



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