Morning Call
Escalada tarifária de Trump renova tensão
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[03/02/25]
… As tarifas de 25% impostas pelos EUA ao México e Canadá, e de 10% à China –oficializadas no sábado– afundavam os futuros das bolsas de NY e disparavam o petróleo no pregão asiático. Depois de um início de governo mais amigável, Trump está vindo com tudo. Já ameaçou taxar também os produtos importados da União Europeia, “em breve”. A crise ganha dimensão na semana de agenda movimentada, com a volta dos mercados chineses do feriado do Ano Novo Lunar (na 4ªF), o payroll de janeiro (6ªF) e os balanços de mais duas magníficas: Alphabet e Amazon. Aqui, Petrobras divulga hoje à noite o relatório de produção e vendas do 4Tri. A temporada de resultados começa com os grandes bancos: Santander e Itaú (4ªF) e Bradesco (6ªF). Além disso, a ata do Copom (amanhã) reserva bastante expectativa.
… O BC optou por não se comprometer com um novo guidance e deixou maio em aberto, ganhando liberdade para operar as incertezas da conjuntura externa e do cenário doméstico, com a inflação desancorada, o esfriamento da atividade e as desconfianças fiscais.
… Lá fora, a guerra comercial armada por Trump pede cautela e já leva a contra-ataques, potencializando os riscos.
… As tarifas ao Canadá, México e China entrarão em vigor a partir de amanhã (3ªF).
… O governo de Trudeau já revidou no próprio sábado, impondo também 25% sobre produtos americanos. De um total de US$ 155 bilhões, US$ 30 bilhões entrarão em vigor amanhã (3ªF) e US$ 125 bilhões em 21 dias.
… Em conversa com repórteres na noite deste domingo, Trump alertou que, se o Canadá retaliar, Washington pode colocar novas tarifas sobre o país. Ele vai conversar hoje de manhã com o primeiro-ministro canadense.
… Em entrevista à ABC News neste domingo, a embaixadora do Canadá nos EUA, Kirsten Hillman, disse que o governo ainda tem esperança de que as tarifas americanas contra o país não entrem em vigor amanhã.
… “Estamos prontos para continuar conversando com o governo Trump sobre isso”, declarou, assegurando que o governo canadense não está interessado em uma escalada na política protecionista contra os EUA.
… Segundo ela, os canadenses estão “perplexos e chocados” com as tarifas impostas pelos EUA.
… Trump também informou que vai se reunir hoje com o governo do México, que havia prometido para esta 2ªF as primeiras medidas contra as tarifas, enquanto a China anunciou que processará os EUA na OMC.
… A UE também não deve escapar das garras de Trump, que ameaça com “algo substancial em breve”. A Comissão Europeia promete dar o troco e responder “firmemente a tarifas injustas ou arbitrárias”.
… Trump ainda prometeu taxar chips e disse que as tarifas sobre o petróleo, gás, aço, alumínio e cobre deverão ser aplicadas até dia 18.
… Diante da artilharia de Trump, o Goldman Sachs enviou relatório para clientes neste domingo em que reconheceu que “o panorama é incerto”, mas avaliou que provavelmente as tarifas impostas serão temporárias.
… Reportagem da Reuters aponta para o risco de um novo abalo no humor do mercado hoje, diante dos riscos que as investidas de Trump representam para as pressões inflacionárias e menor crescimento econômico global.
… No câmbio, o dólar subia ante rivais, com o índice DXY em alta de 1,21%, acima de 109 pontos, e frente às moedas dos emergentes, com destaque para a desvalorização do dólar canadense e do peso mexicano, os primeiros atingidos pelas tarifas.
MAIS AGENDA – A troca de chumbo de Trump eleva as incertezas sobre os próximos passos do Copom, que já contratou nova alta de 1pp da Selic em março, mas ainda tem bastante tempo para decidir o que fazer até maio.
… Parte do mercado passou a especular com a chance de o ciclo de aperto terminar ainda neste primeiro semestre, porque o BC citou a desaceleração da atividade e não se comprometeu com novo guidance, apesar da inflação alta.
… O investidor vai tentar ler na ata se o BC foi mesmo dovish no comunicado ou só mais cuidadoso nas palavras. Além disso, o mercado ficará de olho em Galípolo, que deve palestrar na 5ªF em evento do BIS na Cidade do México.
… No calendário dos indicadores domésticos, destaque para a produção industrial de dezembro (4ªF), neste momento em que uma série de dados já aponta para uma desaceleração no ritmo de crescimento da economia.
… Do lado da inflação, saem os resultados fechados de janeiro do IGP-DI (6ªF), IPC-Fipe (3ªF) e IPC-S, hoje (8h), quando deve aliviar para 0,06% (mediana de pesquisa Broadcast), contra alta de 0,31% em dezembro.
… Na última 6ªF, diante da volta da cobrança do ICMS pelos Estados, a Petrobras confirmou um reajuste de 6,3% no preço do diesel. Economistas projetam impacto praticamente nulo sobre o IPCA deste ano (+0,01 pp).
… Porém o impacto indireto sobre alimentos, transportes e energia pode provocar o espalhamento da inflação.
… Os dados fechados da balança comercial de janeiro estão programados para 6ªF. Hoje é dia de Focus (8h25).
EM BRASÍLIA – Lula recebe hoje, às 10h, os presidentes eleitos da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre. A nova cúpula do Congresso indica que pretende seguir um caminho conciliatório.
… Analistas ouvidos pelo Broadcast apostam que o comando de Motta, que assumiu falando em responsabilidade fiscal e defendendo as emendas, tende a ser mais favorável à agenda de Lula e de Haddad.
… O deputado possui boa relação política com Padilha, responsável pela articulação do governo no Congresso.
… “Mas não será um mar de rosas. Lula tem que manter o esquema das emendas parlamentares funcionando”, como resumiu o cientista político e professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, Eduardo Grin.
… Lula parabenizou Motta e Alcolumbre e falou em ampliar a parceria “exitosa” entre Executivo e Legislativo.
… Hoje à tarde (14h), o presidente e Haddad participam da sessão solene de abertura do Ano Judiciário, no STF. Na sequência (16h), o ministro da Fazenda vai à sessão conjunta do Congresso que inaugura o ano legislativo.
… Em meio à crise de popularidade do governo, sai hoje nova pesquisa presidencial Genial/Quaest.
… Segundo Lauro Jardim (O Globo), o presidente Lula continua muito competitivo, mesmo com a piora na avaliação do governo, depois que a reprovação ultrapassou a aprovação no levantamento anterior.
… A pesquisa de hoje testará pela 1ª vez Gusttavo Lima e Eduardo Bolsonaro como opções da direita.
FISCAL SEMPRE EM ALERTA – Reportagem do Estadão de domingo aponta que os gastos não incluídos no Orçamento/25 pelo governo podem diminuir ou até mesmo anular os efeitos do pacote fiscal aprovado.
… O Orçamento, enviado em agosto do ano passado pelo Poder Executivo, ainda não foi aprovado pelo Legislativo, porque a crise das emendas atrasou a votação, que só deve ser retomada após o carnaval.
LÁ FORA – O BC inglês (BoE) divulga decisão de política monetária na 5ªF. No mesmo dia, o México decide juro.
… Nos EUA, além dos balanços de Alphabet (3ªF) e Amazon (5ªF), o emprego disputa atenção na agenda. Antes do payroll de janeiro (6ªF), saem o relatório Jolts (3ªF) e pesquisa ADP do setor privado (4ªF).
… Hoje, saem o PMI industrial medido pela S&P Global (11h45) e ISM (12h) em janeiro, além dos investimentos em construção em dezembro (12h). O Tesouro divulga às 17h as estimativas trimestrais de empréstimo federal.
… Entre os Fed boys, Raphael Bostic (14h30) e Alberto Musalem (20h30) participam de eventos nesta 2ªF.
… A Opep se reúne hoje para revisar as restrições de fornecimento.
… Ainda nesta 2ªF, o PMI industrial será divulgado na zona do euro (6h), Alemanha (5h55) e Reino Unido (6h30). O CPI da zona do euro sai às 7h.
CHINA HOJE – O PMI/S&P Global industrial caiu a 50,1 em janeiro (final), de 50,5 em dezembro. Amanhã (3ªF) à noite, sai o PMI/S&P Global composto de janeiro. No sábado, tem inflação na China.
JAPÃO HOJE – O PMI industrial recuou a 48,7 em janeiro, contra 49,6 em dezembro. Foi o sétimo mês consecutivo de queda na atividade do setor e o ritmo de contração mais intenso desde março do ano passado.
NÃO SE ABALOU – O dólar chegou à décima queda seguida na 6ªF, na onda do carry trade, atraente para o investidor gringo, e na contramão da moeda no exterior, que subiu após o tarifaço de Trump.
… Na mínima do dia, o dólar por aqui desceu a R$ 5,81 (-0,70%).
… Houve certa volatilidade antes da formação da Ptax, mas a queda se manteve à tarde, com a moeda fechando em baixa de 0,28%, a R$ 5,8366. Na semana, caiu 1,39%; no mês, o recuo foi de 5,56%, o maior desde junho/23 (-5,59%).
… O otimismo de janeiro se estendeu aos juros, que caíram cerca de 100pb, e à bolsa, que teve o primeiro mês positivo após quatro no vermelho.
… Matéria da repórter Aline Bronzati/Broadcast, na 6ªF, mostrou que investidores estrangeiros começam a enxergar um ponto de entrada em determinados ativos brasileiros, apesar do fiscal.
… No momento, o interesse beneficia ativos menos arriscados, mas pode aumentar se houver medidas que contenham o crescimento da dívida e deem mais clareza sobre a trajetória fiscal, segundo banqueiros e executivos.
… Em novo sinal de desaquecimento da economia, a taxa de desemprego no 4Tri24 ficou acima (6,2%) do esperado (6,0%), a 1ª alta após oito quedas seguidas.
… Nos juros, a ponta curta reagiu ao estresse nos Treasuries depois de confirmadas as tarifas dos EUA sobre México, Canadá (25%) e China (10%) e ao reajuste de 6,3% no preço do diesel pela Petrobras.
… Os DIs médios e longos encontraram apoio na queda do dólar e caíram. Também foram amparados pelo déficit um pouco menor do setor público consolidado em 2024, de R$ 47,5 bilhões, contra expectativa de R$ 48,8 bilhões.
… O DI para janeiro de 2026 subiu a 14,940% (de 14,855% no fechamento anterior) e o Jan/27 avançou a 15,035% (14,980%). Já o Jan/29 caiu a 14,775% (14,865%); Jan/31, a 14,720% (14,870%); e Jan/33, a 14,670% (14,850%).
SEM ÍMPETO – Tudo ia bem no Ibov até o meio da tarde, quando Trump confirmou as tarifas sobre seus principais parceiros comerciais. O anúncio dragou as bolsas de NY e levou junto o índice brasileiro.
… Nem Petrobras, em alta após o reajuste do diesel, salvou o dia.
… O Ibov encerrou em baixa de 0,61%, aos 126.134,94 pontos e giro de R$ 21,6 bilhões. Mas na semana subiu 3,01% e, em janeiro, acumulou ganho de 4,86%, a primeira valorização mensal desde agosto passado.
… Petrobras ON subiu 0,68% (R$ 41,65) e PN teve alta de 0,80% (R$ 37,69), após aumentar em R$ 0,22 o litro (+6,3%) do diesel nas refinarias.
… O combustível estava sem reajuste havia 401 dias. Segundo o Citi, a defasagem ante o mercado internacional caiu de 11% para 4%. Nas contas do BTG, recuou de 10% para 3%.
… Ação da petroleira foi na contramão do Brent/abr, que recuou 0,28%, a US$ 75,67.
… Vale, por sua vez, afetada pela tarifa contra a China, cedeu 1,56%, a R$ 54,17.
… Bancos ficaram mistos. Itaú fechou na mínima, em R$ 33,81 (-0,65%). Bradesco PN caiu 0,41% (R$ 12,09) e Bradesco ON perdeu 0,27% (R$ 11,02). Santander ganhou 0,89% (R$ 25,96) e Banco do Brasil subiu 0,14% (R$ 27,68).
… No topo do ranking positivo, Totvs avançou 4,45% (R$ 34,06). Na outra ponta, Vibra Energia caiu 5,07% (R$ 16,86), após rebaixamento pelo Goldman Sachs, de compra para neutro.
COLOCOU NO PREÇO – A confirmação de que os EUA iriam impor tarifas de importação sobre México, Canadá e China no sábado acabou com a festa dos mercados em NY na 6ªF.
… Os ativos iniciaram o dia bem, mas o caráter imprevisível de uma eventual guerra comercial provocou fuga do risco na segunda metade do pregão.
… As bolsas caíram, o dólar e os juros dos Treasuries subiram, com a note de 10 anos firme acima dos 4,5%.
… No fechamento de NY, o Dow Jones caiu 0,75%, aos 44.544,66 pontos; o S&P 500 cedeu 0,50% (6.040,53) e o Nasdaq perdeu 0,28% (19.627,44). Na semana, o Dow subiu 0,27%, o S&P 500 baixou 1,00% e Nasdaq, -1,64%.
… No mês, as bolsas subiram de forma expressiva, puxada por dados que reforçam a solidez da economia americana e um início de governo Trump menos turbulento que o esperado (agora desandou).
… O Dow subiu 4,70%, o S&P 500, +2,70% e o Nasdaq, +1,64%.
… Na 6ªF, as declarações de Trump acabaram deixando em segundo plano os dados que mostraram aceleração menor que a esperada no custo de mão de obra e a inflação em linha com o previsto nos EUA, embora mais alta.
… O PCE, o índice preferido do Fed, acelerou para 0,3% em dezembro, de 0,1% em novembro, mas ficou dentro do esperado. O mesmo na comparação anual. Subiu de 2,4% para 2,6%, dentro do previsto.
… O núcleo do índice também não trouxe surpresas. Avançou a 0,2%, de 0,1% em novembro, e no confrontou anual repetiu a taxa de 2,8%.
… Os gastos com consumo subiram 0,7% no mês, acima da previsão de 0,5% e da taxa de 0,4% em novembro. A renda pessoal cresceu 0,4%, dentro do esperado, e acima do 0,3% de um mês antes.
… De uma forma geral, os que reforçaram a postura do Fed de não ter pressa em cortar o juro.
… Na esteira das políticas protecionistas de Trump, que podem estimular a inflação, o juro da note de 10 anos subiu a 4,551% (de 4,515%) e o do T-Bond de 30 anos foi a 4,803% (de 4,761%). O da note de 2 anos ficou estável (4,203%).
… O índice DXY subiu 0,53%, a 108,356. O euro caiu 0,26%, a US$ 1,0383. A libra cedeu 0,18%, a US$ 1,2410. O iene recuou 0,63%, a 155,202/US$, devolvendo o ganho da véspera.
… Apesar do aumento da aversão ao risco, o peso mexicano teve leve apreciação, enquanto o dólar canadense apresentou um pequeno recuo.
EM TEMPO… PETROBRAS recebeu R$ 1,025 bi da Prio por pagamento contingente (“earnout”) do preço do petróleo de 2024; pagamento corresponde à última parcela recebida pela venda de Albacora Leste.
JBS. Itaú BBA projetou Ebitda ajustado de R$ 9,7 bilhões no 4TRI da companhia, o que posicionará a empresa no topo do seu guidance para 2024.
NATURA informou que seu acionista fundador, Guilherme Peirão Leal, reduziu sua participação na empresa de 7,166% para 4,166%…
… A redução, quando efetivada, será por meio da doação de ações ON a seus filhos, com reserva do usufruto vitalício da integralidade dos respectivos direitos políticos e econômicos; cada um dos donatários passa a deter 1%…
… Leal tem ainda o usufruto político e econômico de 6,54% das ações cuja propriedade é de seus filhos Felipe e Ricardo, totalizando uma fatia de 13,1%.
EZTEC acertou capitalização de R$ 130 milhões em troca de 47% da Adolpho Lindenberg.
TENDA. JPMorgan atingiu participação de 5,03% das ações ON.
ALLOS fará resgate antecipado de debêntures da 5ª emissão no dia 14/2.
CAIXA SEGURIDADE. Oferta de ações deve ser lançada este mês, de acordo com fontes do Broadcast. A ideia é levar a operação a mercado após a publicação do balanço da companhia, prevista para a segunda semana de fevereiro.
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