Morning Call

EUA têm PIB e Powell. E Brasil, dado fiscal e RTI

Atualizado 28/09/2023 às 02:14:15

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[28/9/2023]

… Leitura final do PIB/2Tri (9h30) e uma fala de Powell no final do pregão (17h) são os destaques da agenda em NY, onde a tensão com os juros altos continua fazendo estragos, junto com o risco de um shutdown nos EUA, após a Câmara comandada pelos republicanos recusar a proposta do Senado de um acordo provisório para evitar a paralisação do governo americano já a partir do próximo domingo. Aqui, o Tesouro divulga depois do almoço o resultado primário de agosto. Pela manhã, o IGP-M de setembro (9h) e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), às 8h, serão acompanhados pelo mercado de juros, com entrevista de Campos Neto (11h). O presidente do BC, que se encontrou Lula nesta 4ªF, parece ter entrado em campo para ajudar o governo no Congresso.

… Haddad, que esteve presente, disse que a conversa entre os dois foi “excelente e produtiva”, “um encontro institucional para a construção de uma relação” e “pactuação em torno de conversas periódicas” [do presidente e de RCN].

… Segundo ele, não se falou de juros. “Foi uma conversa de alto nível, que transcorreu muito bem.” O encontro durou 1h20.

… No Globo, a jornalista Malu Gaspar apurou que Campos Neto se colocou na reunião com Lula como um interlocutor privilegiado do Parlamento, alguém que pode ajudar a desenhar estratégias e aprovar as medidas da agenda econômica.

… A ideia é estabelecer um canal de conversa com Lula e mostrar que pode colaborar com informações e atitudes, especialmente em relação à oposição bolsonarista, meio onde Campos Neto tem muitos contatos.

… Ainda segundo a colunista, um aliado do presidente disse que vai deixar os ataques de lado. “Não vai ter mais briga. O objetivo, agora, é dialogar e tentar convencer Campos Neto a defender uma queda mais rápida da taxa Selic.”

… Mais cedo, em audiência na Câmara, o presidente do Banco Central disse que o governo tem tomado várias decisões na direção correta, como o arcabouço fiscal, manter a meta de inflação em 3% e perseguir o déficit zero em 2024.

… Para RCN, mesmo que a meta não seja cumprida, os agentes reconhecerão o esforço que está sendo feito nesse sentido.

… No Congresso, toda ajuda é bem-vinda para destravar a pauta, que emperrou não só com obstruções da bancada ruralista para aprovar o marco temporal, mas também porque Lira ficou chateado com a demora de Lula para entregar a Caixa.

… Em declaração esta semana, o presidente disse não estar disposto a fazer agora a troca de Rita Serrano e isso irritou o chefe do Centrão e seus aliados. Hoje, Haddad se encontra com Lira e a expectativa é de que as coisas voltem a andar.

… O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu, antecipou que, a partir dessa conversa, deverão ser indicados os relatores dos projetos de tributação das offshores, que deve incluir a taxação dos fundos exclusivos, e da extinção dos juros sobre capital próprio (JCP).

… Segundo o deputado, ficou combinado entre os líderes dos partidos da base aliada do governo que a tributação das offshores, o marco legal das garantias, que facilita o crédito, e as mudanças na securitização serão votados na próxima semana.

… No encontro com Lira, Haddad também deve tratar da MP 1185, que muda as regras para incentivos fiscais e enfrenta oposição das grandes empresas. A proposta pode ser reenviada como projeto de lei, em regime de urgência.

… Com essa medida, a equipe econômica pretende arrecadar R$ 35 bilhões para elevar as receitas em 2024.

… Este será o primeiro encontro entre Lira e Haddad desde que as lideranças do Centrão se ofenderam com o ministro em agosto, quando ele disse em uma entrevista que a Câmara não pode usar seu poder para humilhar o Executivo e o Senado.

… Nesta 4ªF, a Câmara votou MP que libera recursos para o combate à gripe aviária e abre crédito extraordinário de R$ 200 mi no Orçamento/2023. O pedido foi feito por José Guimarães durante reunião de líderes, em aceno ao agronegócio.

MARCO TEMPORAL – No Senado, as obstruções da Frente Parlamentar da Agropecuária aceleraram a votação da proposta para a demarcação das terras indígenas. O projeto foi aprovado por 43 votos a 21 e seguiu para sanção presidencial.

… O governo orientou o voto contrário ao projeto, mas partidos do Centrão apoiaram o marco temporal, na contramão do que o STF decidiu na semana passada, declarando a tese inconstitucional, ao julgar um caso de SC (por 9 a 2).

… Pelo marco temporal, indígenas só têm direito à demarcação de terras que ocupavam na promulgação da Constituição de 88.

… Caberá agora a Lula decidir se sanciona ou não o texto, diante de diversas críticas de entidades ambientalistas e de defesa dos direitos dos indígenas. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, afirma que o presidente vai vetar.

CARTÃO DE CRÉDITO – Relator do projeto do Desenrola, senador Rodrigo Cunha (Podemos), deve apresentar hoje parecer na CAE para votação no plenário na próxima semana. No relatório, ele insistirá que o juro do rotativo tem que ser limitado a 100%.

GREEN BONDS – Apesar da boa receptividade de investidores internacionais ao roadshow nos EUA e na Europa, a aversão ao risco no mercado global pode interferir nos planos do governo de lançar em breve sua primeira emissão de títulos sustentáveis.

… De acordo com fontes da equipe econômica ouvidas pelo Broadcast, pode ser arriscado fazer uma estreia de algo tão simbólico para o Brasil neste momento desafiador, em que a piora de humor tem pesado muito para os mercados globais.

… Nos EUA, a liquidação dos Treasuries dispara os yields, enquanto o dólar avança em escala global e as bolsas operam abatidas, em meio à perspectiva de que os juros permanecerão elevados por longo, afetando a economia.

… O risco iminente de um shutdown do governo americano, que ainda persiste, só aumenta a tensão do investidor, assim como a crise imobiliária na China acrescenta um fator de pressão importante, em especial para os emergentes.

… Arrastado pelo cenário externo adverso, o dólar voltou a ser negociado acima dos R$ 5, os juros futuros voltaram a disparar e o Ibovespa só escapou porque o novo salto do petróleo garantiu os ganhos de Petrobras (leia abaixo).

MAIS AGENDA – Deixando a deflação para trás, o IGP-M deve ter em setembro a primeira alta desde março.

… Pressionado pela aceleração dos preços industriais, com destaque para os derivados do petróleo, o indicador deve avançar 0,37% (mediana no Broadcast), após recuo de 0,14% em agosto. As estimativas vão de 0,29% a 0,61%.

… No front fiscal, as contas do Governo Central (14h30) têm previsão de déficit primário de R$ 26,045 bi em agosto, menor do que em julho (-R$ 35,933 bilhões) e na metade do rombo observado um ano antes (-R$ 52,667 bilhões).

… Às 15h, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, comentará os resultados em entrevista coletiva.

… Em café da manhã online realizado pela Diálogos Prospectiva, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, fala às 8h30 sobre o “Cenário econômico internacional e desafios da política econômica”.

… Às 15h, tem reunião do CMN. Às 16h, acontece a sessão solene de posse de Barroso na presidência do STF.

… A CAE do Senado marcou para hoje a análise da proposta do Desenrola. Pacheco quer votar o projeto até 2ªF.

LÁ FORA – Nos EUA, a leitura final do PIB/2Tri deve apontar crescimento de 2,3%, acima dos 2,0% do 1Tri.

… Entre os indicadores econômicos, saem ainda o auxílio-desemprego semanal (9h30), que deve ter alta de 14 mil pedidos, para 215 mil, e as vendas pendentes de imóveis em agosto (11h), com previsão de queda de 0,2%.

… Além de Powell, falam hoje os integrantes do Fed Austan Goolsbee (10h), Lisa Cook (14h) e Tom Barkin (20h).

… Na Alemanha, tem a inflação ao consumidor (CPI) de setembro (9h). O BC do México decide juro às 16h.

NA FORÇA DO ÓDIO – O teto psicológico dos R$ 5, que se estabelecia como bom ponto de venda nos últimos dias, foi desafiado e rompido ontem, quando o clima turbulento no exterior atropelou o câmbio e disparou a curva do DI.  

… Os negócios domésticos operaram no círculo vicioso da pressão do Fed, que provoca a corrida global do dólar, acelera os juros dos Treasuries às máximas em quase duas décadas e espalha movimentos defensivos por aqui.

… Em máximas atrás de máximas no pregão desta 4ªF, o dólar quase bateu em R$ 5,08 no auge do nervosismo (R$ 5,0795). Depois, desacelerou o fôlego, mas há quatro meses não fechava valendo tanto: R$ 5,0478 (+1,22%).

… Nem a alta firme do petróleo foi suficiente para impedir que o real tivesse ontem o pior recuo entre as moedas emergentes e de países exportadores de commodities. O Brasil em ciclo de queda da Selic complica o carry trade.

… Traders comentaram que a apreciação do dólar foi potencializada ainda pela força dos comprados na briga da ptax e antecipação da demanda para as remessas de fim de ano de empresas, de olho em uma taxa mais favorável agora.

… No câmbio futuro, o contrato da moeda americana para outubro subiu 1,04% e fechou cotado a R$ 5,0435.

… No noticiário do dia, mas sem influência nos negócios, o BC informou que o fluxo cambial na semana passada foi negativo em US$ 3,646 bilhões, resultado de saídas pela conta financeira (US$ 3,582 bi) e comercial (US$ 64 mi).

… No acumulado do mês, que chega ao fim amanhã para os mercados, o fluxo está negativo em US$ 4,795 bi.

… No efeito combinado do dólar acima de R$ 5 e da escalada dos juros dos Treasuries, o “miolo” do DI disparou quase 0,5pp no ápice da tensão. Devolveu parte dos excessos, mas ainda avançou mais de 0,2pp no fechamento.

… No frenesi de prêmios de risco, o jan/25 investiu para 10,935% (de 10,702% na véspera); jan/26, a 10,800% (de 10,512%); jan/27, a 11,040% (de 10,792%); jan/29, a 11,520% (de 11,363%); e o jan/31, a 11,790% (de 11,673%).

… Só a ponta curta subiu menos: jan/24 a 12,280% (de 12,251%). O mercado está ajustado para mais dois cortes de meio ponto da Selic este ano, com o recado explícito da ata e do comunicado de que não há espaço para 0,75pp.

… Qualquer aposta nesta dose de queda é menos por convicção e mais por oportunidade de ganho numa zebra.

O MOCINHO – A maior justificativa para o Ibov ter se defendido perto da estabilidade, enquanto o câmbio e a curva do DI bateram picos de estresse, foi o petróleo, que deu um choque de otimismo nas ações da Petrobras.  

… Até a reta final do pregão, o índice à vista da bolsa doméstica ainda exibia sinal negativo, mas deu tempo de inverter e fechar em leve alta de 0,12%, aos 114.327,05 pontos, interrompendo uma sequência de quatro quedas.

… O volume financeiro somou R$ 22,6 bilhões, pouco abaixo das médias recentes já bem enfraquecidas. Petrobras (ON, +3,71%, a R$ 37,70; e PN, +3,17%; R$ 34,52) seguiu à risca o mais novo rali do petróleo.

… Recentemente, o preço do barril chegou a dar sinais de cansaço, mas vem voltando com tudo e mantém no radar as apostas de que chegará a US$ 100, diante da oferta apertada, reforçada ontem pelos estoques nos EUA.

… O DoE informou que as reservas no centro de distribuição de Cushing caíram na semana passada para as mínimas desde julho do ano passado, abaixo de 22 milhões de barris, nível próximo de seu mínimo operacional.

… O órgão também informou que os estoques de óleo bruto tiveram baixa semanal de 2,169 milhões de barris, contra aposta de -600 mil. O Brent/dezembro avançou 2,09%, a US$ 96,55, e o WTI/nov saltou 3,64% (US$ 93,68).

… A leve alta da Vale (+0,21%, a R$ 65,70) também ajudou o Ibovespa a brigar pelos 114 mil pontos, depois de ter perdido os 115 mil pontos da máxima (115.340) e operado na faixa dos 113 mil na mínima do pregão (113.365).

… CSN caiu 0,58%, Gerdau fechou estável (+0,08%), Metalúrgica Gerdau subiu 0,89% e Usiminas ganhou 0,77%.

… Durante congresso ontem, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter disse estar “extremamente preocupado” com a crescente oferta de aço chinês no mercado brasileiro e cobrou medidas para conter o avanço das importações.

… “Se não conseguirmos, com a pressão política maior junto aos congressistas, esses 25% [de alíquota de importação], há risco de a China bombardear o Brasil e nos obrigar a reduzir a capacidade em 10%, 20% ou 30%.”

… No setor financeiros, os bancos fecharam mistos. BB teve elevação de 0,87% (R$ 46,16); Bradesco ON ficou estável, a R$ 12,27; Santander recuou 1,12% (R$ 25,57); Bradesco PN, -0,29% (R$ 13,92); e Itaú, -0,19% (R$ 26,55).

… A maior valorização do dia foi da Gol, que avançou 7,19%, a R$ 6,56. O movimento foi influenciado pelo anúncio da conclusão do refinanciamento de debêntures da Gol Linhas Aéreas (GLA), unidade operacional da companhia.

… A pressão observada nos DIs cobrou o preço das varejistas: Casas Bahia (-5,00%), GPA (-2,99%) e Magalu (-2,86%).

PRESSÃO NA VEIA – O petróleo volta a lançar a ofensiva rumo ao patamar dos US$ 100 e redobra o risco de alta adicional do juro nos EUA. Os falcões estão com tudo e está cada dia mais difícil de apostar contra o dólar.

… Em entrevista a uma TV americana, o Fed boy Neel Kashkari previu mais 25pb de aperto e não descartou até mesmo a chance de uma dose mais agressiva, dizendo que o nível neutro do juro pode ter subido após a pandemia.

… Seus comentários casam com o tom hawkish assumido pelo Fed no statement, no gráfico de pontos e na coletiva de Powell na semana passada e dão fôlego no câmbio ao índice DXY, que se aproximou da linha dos 107,000 pontos.

… No fechamento, subia 0,40%, a 106,666 pontos, após atingir o maior nível desde novembro na máxima intraday (106,830 pontos). Caíram o euro (-0,62%; US$ 1,0505), a libra (-0,17%; US$ 1,2138) e iene (-0,36%; 149,62/US$).

… Os recordes em anos dos juros dos Treasuries também são compatíveis com as impressões de que o ciclo de aperto monetário nos EUA ainda não acabou e que, mesmo se acabou, o juro vai levar tempo para começar a cair.

… O mercado puxou ontem o retorno da Note-10 anos até 4,64%, renovando os picos em 16 anos, para fechar a 4,613%, de 4,550% no pregão anterior. A taxa do título de 2 anos fechou em 5,133%, próxima à véspera (5,140%).

… O rendimento do T-Bond de 30 anos cravou seu nível mais alto desde 2011 e superou 4,70%, a 4,723%, de 4,688%. A piora nos yields também respondeu ao impasse político em torno do shutdown do governo norte-americano.

… Para a surpresa de muitos, apesar do grau de tensão observado nos Treasuries, não houve qualquer movimento mais pesado de fuga de risco nas bolsas em NY, porque as ações de energia surfaram no rali do petróleo.

… Chevron subiu 1,95% e ExxonMobil, +3,26%. O índice Dow Jones fechou em baixa de 0,20%, aos 33.550,80 pontos, o S&P 500 terminou o pregão estável (+0,03%), aos 4.274,63 pontos, e o Nasdaq subiu 0,22%, para 13.092,85 pontos.

EM TEMPO… Ministro Alexandre Silveira (MME) defendeu que a PETROBRAS negocie a recompra de refinarias que foram privatizadas, em um processo “dentro das regras de mercado, respeitando a segurança jurídica”.

JBS. Pilgrim’s Pride vai captar US$ 500 milhões em bonds nos EUA com vencimento em 2034; oferta foi precificada em 6,875%; demanda superou em 4,5 vezes a oferta. (fontes do Broadcast)

MOVIDA aprovou a 11ª emissão de debêntures, no valor de R$ 875 milhões.

DEXCO fará a terceira emissão de notas comerciais escriturais de R$ 625 milhões.

AEGEA confirmou captação de US$ 500 milhões em bonds sustentáveis de sete anos, a 9% ao ano, com vencimento em 20/01/2031.

NEOENERGIA assinou documentos para formação de joint venture com a Comerc Participações para atuar no desenvolvimento e na operação de usinas fotovoltaicas focadas em geração distribuída.

SINQIA anunciou que espera encerrar negociação de ações na B3 em 1º/11; empresa foi comprada pela porto-riquenha Evertec, que deve concluir a operação no início do 4TRI.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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