Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[10/06/24]

… Tem “superquarta” nos EUA, com reunião do Fomc, que manterá o juro estável, com todas as atenções concentradas no gráfico de pontos e na coletiva de Powell, depois de o payroll forte ter balançado as apostas de dois cortes este ano e de início do ciclo de queda em setembro. Na mesma 4ªF, sai o CPI americano e, na 5ªF, o PPI. A inflação também é destaque na China, amanhã (3ªF) à noite. Já no Japão, o BoJ deve optar por manter a política monetária na 6ªF, adiando um novo aperto para julho. Aqui, o IPCA de maio (amanhã, 3ªF), IBC-Br de abril (6ªF), vendas no varejo (5ªF) e volume de serviços (4ªF) são esperados, no contexto de desancoragem das expectativas de inflação, diante do dólar pressionado pelo Fed e desafios fiscais. Na 6ªF, deu o que falar o ruído envolvendo Haddad.

… Em evento privado do Santander, que reuniu representantes de mais 13 instituições financeiras, entre bancos e corretoras, o ministro viu sua fala gerar um momento de pânico no mercado, com disparada do dólar e dos juros, enquanto o Ibov afundava (leia abaixo).

… Haddad dava uma entrevista sobre a visita que fez ao Papa, quando a coisa degringolou, já perto do fechamento, num sinal de que não percebeu o estrago que sua participação havia causado, com uma série de mensagens de WhatsApp correndo os pregões.

… O que pegou? O ministro reforçou as preocupações do mercado com o aumento nos gastos na Previdência e assistência social, dizendo que Fazenda e Planejamento tinham estudos para conter as despesas obrigatórias. Mas admitiu que Lula “pode achar diferente”.

… Haddad disse que vai discutir o tema com o presidente nas próximas semanas, antes do envio do Orçamento de 2025, antecipando que se o crescimento desses gastos obrigatórios, como saúde e educação, não sofrer uma trava, haverá a necessidade de cortes.

… “Daí vai ser preciso cortar R$ 30 bilhões ou 40 bilhões do PAC.” E se isso não acontecer? Ele respondeu rindo que “pediria para sair”.

… Era para ser uma piada, como escreveu Thomas Traumann no X (ex Twitter), mas a brincadeira foi interpretada como uma confissão de que é Lula, não Haddad, quem controla a agenda econômica – o que também não é novidade para ninguém.

… Informado sobre a reação dos mercados, o ministro voltou para uma segunda entrevista, usando argumentos que pareceram ingênuos, como acusar os representantes de “vazamento” e dizer que quebraram o protocolo de “não interpretar suas falas”.

… Isso não existe, ainda mais com uma plateia de executivos do mercado financeiro, que vivem de interpretar e analisar cenários. Outro risco foi Haddad ter concordado em fazer um encontro fechado com o mercado, acreditando que assim poderia ser mais informal.

… O ministro tem, sim, de vir a público esclarecer o que disse e o que quis dizer, mas reclamar de vazamento não tem sentido, porque os participantes não se comprometeram com sigilo. Já ao mercado resta assumir o risco de uma interpretação errada.

DESONERAÇÃO – Em meio à enxurrada de críticas do setor produtivo e frentes parlamentares à MP que limita o uso de créditos do PIS/Cofins, o governo aceita negociar meio-termo, mas não abre mão de compensar a desoneração.

… Segundo a Folha, ainda não há uma definição sobre quais seriam as alternativas possíveis, mas o time de Haddad já abriu o diálogo com lideranças setoriais e do Congresso e deve intensificar as conversas nas próximas semanas.

… Na 6ªF, o ministro disse que a resistência à MP é fruto do “calor do momento” e se dissipará com a compreensão. Ele garantiu que a indústria não será afetada e que houve “muito mal-entendido” sobre o impacto da medida.

… Haddad afirmou que o gasto tributário com o uso da ferramenta de créditos do PIS/Cofins disparou quase 300% nos últimos três anos e o governo federal precisa corrigir neste momento o que considera uma distorção tributária.

… Durante participação no final de semana no fórum da Esfera, no Guarujá (SP), o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, disse que não é possível compensar o impacto da desoneração da folha apenas com corte de gastos.

… Ele afirmou que a pasta está aberta à discussão de alternativas, mas ponderou que não há muitas opções à vista.

… No Senado, pressionado pela bancada do agro a devolver a MP, Pacheco se reúne hoje com consultores da Casa.

… Ao Estadão, distribuidoras e representantes de postos comentaram que, como reflexo da MP, o preço dos combustíveis pode aumentar a partir de amanhã (3ªF) em até 11 centavos, a depender do repasse ao consumidor.

CAMPOS NETO – Faz palestra hoje (10h), em evento promovido pela Constellation, em SP. Às 19h15, ele recebe o Colar de Honra ao Mérito da Assembleia Legislativa de SP e, em seguida, será recebido em jantar por Tarcísio.

MAIS AGENDA – O IPCA de maio, que o IBGE divulga amanhã (3ªF), deve acelerar para 0,40% em maio, ligeiramente acima de abril (0,38%), diante da pressão das passagens aéreas, segundo a mediana das estimativas no Broadcast.

… Campos Neto comentou na 6ªF que o último IPCA veio melhor que o esperado, inclusive de forma qualitativa, e que a inflação corrente está em linha com o esperado, mas que a “desancoragem [das expectativas] é atípica”.

… Segundo ele, independente da causa, o BC precisa comunicar que combaterá as projeções desancoradas.

… O mercado está cada vez mais fechado para a aposta de que, depois do racha da reunião anterior, o Copom vai encerrar o ciclo de queda da Selic na reunião da semana que vem e manter a taxa básica de juro por placar unânime.

… As primeiras prévias da inflação de junho saem esta semana, com o IPC-S (hoje, às 8h) e o IPC-Fipe (amanhã).

… Cobrado em evento no litoral paulista, no sábado, pelo empresário Rubens Menin sobre os juros altos, Campos Neto disse que o BC não tem nada a ver com as taxas longas, que estão associadas à credibilidade do governo.

PETROBRAS – Magda deve se reunir hoje com Lula e Haddad para os acertos finais da composição de sua diretoria.

… Na última 6ªF, o conselho de administração decidiu por maioria (9 votos a 2) não acolher os pedidos de acionistas para convocação de nova AGE para viabilizar a troca de comando na estatal, depois da saída de Jean Paul Prates.

… Mesmo derrotados, os acionistas minoritários não pretendem desistir e devem agora recorrer à CVM.

MOVER – Na volta do texto à Câmara, o relator, deputado Átila Lira (PP), espera votar a proposta já amanhã (3ªF). Ele manterá fora do seu parecer a exigência de conteúdo local para a produção e exploração de petróleo e gás.

… O jabuti havia sido aprovado pela Câmara, mas caiu no Senado. Porém, o deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade), líder do maior bloco partidário da Casa, deve apresentar um destaque no plenário para retomar o dispositivo.

REFORMA TRIBUTÁRIA – Haddad terá amanhã uma primeira reunião com os integrantes do grupo de trabalho da Câmara para regulamentação do texto. A ideia dos membros é entregar um parecer em quatro semanas.

… O ministro da Fazenda assumiu o papel de negociador da proposta junto à Câmara, depois de deputados rejeitarem a interlocução de Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), desafeto de Lira.

… Segundo relatos, o presidente da Câmara tem cobrado a aprovação do texto antes do recesso (18/7).

AUTONOMIA DO BC – A PEC que confere autonomia orçamentária ao BC pode ser votada na 4ªF pela CCJ do Senado.

REFORMA MINISTERIAL – Deve ficar apenas para o ano que vem, segundo apurou Lauro Jardim/O Globo.

LÁ FORA – Lagarde participa de painel na 6ªF, em meio à impressão de que o BCE só voltará a baixar o juro em setembro ou dezembro. A Opep (amanhã, 3ªF) e a AIE (6ªF) divulgam os seus relatórios mensais sobre o petróleo.

… A China divulga no próximo domingo os dados de maio da produção industrial e vendas no varejo.

BOJ – Vai considerar esta semana se precisará reduzir suas compras mensais de títulos do governo, mas deve deixar para subir novamente o juro só na reunião de julho, segundo especialistas, apesar da forte depreciação do iene.

… Divulgada ontem à noite, a leitura final do PIB/1Tri japonês recuou 0,5% na margem, como previsto.

ASCENSÃO DA ULTRADIREITA NA UE – Na França, o partido de Le Pen atropelou o de Macron, que dissolveu o Parlamento e convocou eleições legislativas antecipadas, em dois turnos (30/6 e 7/7), após a pesada derrota.

… Na Alemanha, a extrema direita deu um salto, passando da quarta à segunda maior força política e impondo um revés  político histórico nas eleições para o partido social-democrata do primeiro-ministro alemão Olaf Scholz.

… O avanço da ultradireita na UE pode ter impactos no Brasil, especialmente em questões econômicas e migratórias, segundo especialistas no Broadcast. A UE é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, só atrás da China.

… Se as políticas protecionistas ganharem força, a avaliação é de que as exportações brasileiras e os investimentos europeus no Brasil podem sair prejudicados pelo novo mapa desenhado pelas eleições da UE neste domingo.

GASOLINA NA FOGUEIRA – O mercado doméstico já andava ruim por causa do payroll na 6ªF, quando, no meio da tarde, os vazamentos da reunião de Haddad com economistas e o CEO do Santander estressaram ainda mais.

… No pior momento do dia, o movimento de fuga do risco elevou o miolo da curva dos juros em mais de 0,60pp, as taxas longas superaram 12%, o dólar quase chegou a R$ 5,33 e o Ibovespa baixou perto de 2%.

… Até o final da sessão, o estresse diminuiu, mas ainda assim continuou forte. O dólar subiu 1,41% e fechou próximo da máxima e no maior patamar desde 5 de janeiro de 2023, início do governo Lula: R$ 5,2347.

… Além dos ruídos na reunião do ministro da Fazenda, a esticada da moeda no exterior (abaixo) contra pares e emergentes (o peso mexicano caiu mais de 2,5%) pesou no real.

… Tesoureiro de um relevante banco de câmbio local disse ao Broadcast que cresce o risco de o dólar ir para R$ 5,50 nos próximos meses com a postergação de corte de juros pelo Fed e a piora da percepção de risco doméstico.

… No fechamento, o Jan25 superou os 10,50%, atual nível da Selic, em 10,605% (de 10,444%). O Jan26 subiu a 11,225% (de 10,854%), e o Jan27, a 11,600% (11,166%).

… O Jan29 avançou a 11,960% (11,583%); Jan31, a 12,110% (11,768%); e Jan33, a 12,130% (11,831%).

… Com três semanas de perdas acumuladas, o Ibov perdeu com folga todo o ganho da véspera (+1,23%). Caiu 1,73%, aos 120.767,19 pontos, com giro de R$ 21,6 bilhões. Na última semana, cedeu 1,09%. No ano, perde exatos 10%.

… Apenas sete ações subiram, lideradas pela Embraer (+4,04%), a R$ 38,40, diante do aumento da produção de seu cargueiro C-390 Milenniun. São Martinho ganhou 2,76% (R$ 28,25) e Marfrig subiu 1,09% (R$ 11,12).

… Nas maiores perdas, figuraram papéis sensíveis aos juros futuros, como LWSA (-8,46%), a R$ 4,22, Magazine Luiza (-7,56%; R$ 11,74) e MRV (-6,02%; R$ 6,87).

… Entre as blue chips, Vale caiu 1,31% (R$ 60,41) contrariando a alta de 0,72% no minério. Petrobras ON cedeu 3,38% (R$ 38,59) e PN, -3,75% (R$ 36,94), bem piores do que a leve baixa de 0,31% do Brent/agosto, a US$ 79,62.

… Bancos também caíram. BB registrou -1,70% (R$ 27,18); Itaú, -1,41% (R$ 31,45); Santander unit, -1,20% (R$ 27,28); Bradesco ON, -0,78% (R$ 11,48); e Bradesco PN, -0,77% (R$ 12,95).

FACA DE DOIS GUMES – Os números do payroll desafiaram as expectativas na 6ªF e dispararam os retornos dos Treasuries, mas as bolsas em NY caíram muito pouco, resistindo bem à escalada nos yields dos bônus.

… No fim das contas, o mercado olhou o dado de formas conflitantes. Se de um lado reforça a cautela do Fed nos juros, de outro, confirma a saúde da economia americana, o que é bom para o mercado de ações.

… No CME, a aposta de corte de juro fica cada vez mais distante. Estão agora praticamente empatadas as chance de desaperto de 0,25pp ou manutenção em setembro. É possível que o Fed só comece o ciclo de queda em novembro.

… Depois de uma recuperação liderada pelo setor de IA, que levou os principais índices a novos recordes nos dias anteriores, o Dow Jones caiu 0,22%, aos 38.798,99 pontos. O S&P 500 recuou 0,11%, aos 5.346,99 pontos.

… O Nasdaq perdeu 0,23%, aos 17.133,13 pontos. Na semana passada, os índices acumularam ganhos de, respectivamente, 0,29% 1,32% e 2,38%.

… Os EUA criaram 272 mil postos de trabalho em maio, bem acima da mediana das expectativas, de 185 mil, e do teto das projeções, de 220 mil.

… O salário médio por hora subiu 0,40% em maio ante abril, mais que a projeção do mercado, de 0,3%. Na comparação anual, teve alta de 4,08%, de previsão de 3,9%.

… Já a taxa de desemprego aumentou de 3,9% para 4,0%, um nível simbólico abaixo do qual a desocupação se manteve durante 27 meses consecutivos.

… Bret Kenwell (eToro) disse que o sentido dos números foi misto.

… “O relatório leva a uma expectativa de menos cortes de juros. Mas no fim do dia, um mercado de trabalho forte dificilmente é algo ruim, especialmente para uma economia tão dependente do consumo.”

… “Deveríamos estar todos contentes por temos uma economia forte”, disse o vice-presidente da IBM, Gary Cohn.

… “No final das contas, tudo gira em torno do crescimento do PIB, dos lucros corporativos, da saúde do consumidor. Isso sempre vencerá no longo prazo”, afirmou.

… O mercado vinha elevando as expectativas para dois cortes de juros pelo Fed ao longo da semana passada, depois de números mais baixos no relatório Jolts, no ADP e do relaxamento monetário promovido pelo BCE e Canadá.

… Depois do payroll, Citibank e JPMorgan, alguns dos últimos que ainda estimavam corte de juro em julho, passaram a ver recuo das taxas mais tarde: o Citi em setembro e o JP em novembro.

… A nova previsão do Citi ainda é de três cortes nas taxas de 0,25 pp este ano (setembro, novembro e dezembro) Anteriormente, o banco previa quatro. O JPMorgan passou de três cortes em 2024 para apenas um.

… Sensível às expectativas para o Fed, o retorno da note de 2 anos disparou a 4,884%, de 4,728%, o da note de 10 anos subiu a 4,430% (de 4,288%) e o do T-bond de 30 anos, a 4,549% (4,435%).

… Com o pivô dovish do Fed aparentemente cada vez mais distante, o dólar ganhou mais força, com o índice DXY fechando em alta de 0,75%, a 104,885 pontos. Na semana, o avanço foi de 0,20%.

… O iene recuou 0,69%, a 156,69. O euro cedeu 0,82%, a US$ 1,0803, e a libra esterlina caiu 0,51%, a US$ 1,2724.

EM TEMPO… BANCO DO BRASIL desembolsou R$ 535 milhões no Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) específico para empresas atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

DASA. O empresário Nelson Tanure, controlador do Grupo Alliança, reuniu-se recentemente com a companhia para discutir sinergias entre as duas empresas de saúde….

… O movimento deu margem a especulações de que Tanure estaria negociando a compra do controle da Dasa, por meio de um aumento de capital de R$ 4 bi financiado pelo banco Master e com contribuição da Oncoclínicas.

EZTEC aprovou a 2ª emissão de debêntures, no valor de R$ 300 milhões.

SUZANO anunciou que fará o resgate antecipado facultativo da totalidade das debêntures da 6ª emissão até 14 de junho; resgate será seguido pelo cancelamento das debêntures.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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