Morning Call
Fiscal começa a vencer resistências no Congresso
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[05/11/24]
… Com a economia da China patinando no consumo das commodities, a expectativa é de que a Opep+ decida hoje adiar os cortes de produção de petróleo pelo menos até março. Aqui, em dia de agenda esvaziada, Brasília começa a desarmar a pressão nos negócios, com o desafio de derrubar o dólar abaixo de R$ 6 e aliviar as apostas para a Selic na curva do DI, que ainda rodam em torno de 15%. Na corrida do governo contra o tempo, a Câmara aprovou ontem à noite os primeiros requerimentos de urgência para dois dos projetos do pacote fiscal, embora ainda não haja garantia de que tudo será aprovado até o fim do ano, como deseja a equipe econômica. Mas é importante que o “trator” de Lira esteja funcionando a favor do governo, com a promessa de agilizar a tramitação dos cortes de gastos.
… Um apelo do governo e do presidente da Câmara, ontem, foi importante para destravar os primeiros passos das matérias de contenção de gastos, apesar da insatisfação dos deputados com as exigências do STF às emendas.
… A Câmara aprovou, por margem estreita na noite desta 4ªF, a urgência do projeto de lei com gatilhos para o arcabouço fiscal e bloqueio para emendas e do texto que limita o crescimento real do salário mínimo a 2,5% ao ano.
… Com isso, as propostas poderão ser votadas diretamente no plenário. Mas o placar apertado nas votações da urgência acende o sinal de alerta e revela que o governo vai ter que usar de habilidade política para negociar.
… O requerimento de urgência para o projeto de lei complementar (PLP) que traz novos gatilhos do arcabouço fiscal foi aprovado por 260 votos a favor e 98 contra, ou seja, por apenas três votos a mais do que o necessário (257).
… A urgência do texto do salário mínimo também passou apertada, por só dez votos acima do mínimo exigido.
… Segundo líderes ouvidos nos bastidores pela reportagem da Folha, contribuíram para a aprovação os acenos do governo, como o encaminhamento da liberação de emendas e articulação para reverter a decisão do STF.
… Mesmo assim, um influente aliado de Lira disse que não foi firmado compromisso sobre a aprovação do conteúdo das matérias, que ainda deve sofrer intenso debate e modificações, sem certeza de aprovação até o recesso.
… O presidente da Câmara reconheceu que, neste momento, o governo federal ainda não tem todos os votos necessários para aprovar o pacote de contenção de gastos, mas “que o Congresso não vai faltar”.
… Ele também animou os mercados domésticos (abaixo), ao sinalizar que pode agilizar a votação do pacote fiscal. Lira informou não ter dúvidas de que as medidas de corte de gastos serão votadas “se não essa semana, na outra”.
… O ganho dos dividendos entra agora na mira da Fazenda, segundo informação antecipada pelo jornal O Globo.
… Hoje, a distribuição de lucros e dividendos é isenta, mas o governo quer tributar na fonte estes rendimentos, com a criação de um imposto mínimo para os contribuintes com renda mensal acima de R$ 50 mil por mês.
… A alíquota da tributação deve ser de 7,5%, embora o martelo ainda não esteja batido, podendo chegar a 10%. A medida deve ser discutida no Congresso no ano que vem e, se aprovada, passaria a valer em 2026.
TRIBUTÁRIA – O relator do texto no Senado, Eduardo Braga, marcou para a manhã da próxima 2ªF a divulgação do relatório da reforma. No fim da tarde do mesmo dia, o texto será lido na CCJ, que votará o parecer na 4ªF.
… Se houver tempo, a votação no plenário pode ser iniciada logo depois. Caso contrário, ficará para o dia seguinte.
O NOVO BC – A CAE do Senado deve sabatinar os três indicados de Lula à diretoria do BC na próxima 3ªF. Os nomes devem ser votados no mesmo dia pelo plenário da Casa. Se aprovados, assumirão os cargos no início de 2025.
AGENDA FRACA – Único destaque aqui é a balança comercial de novembro (15h), que deve registrar superávit de US$ 7,8 bilhões, após saldo de US$ 4,34 bilhões em outubro.
… Se confirmada a mediana, o superávit da balança será 11% menor que o saldo de outubro de 2023, de US$ 8,79 bilhões, por causa do aumento das importações.
LÁ FORA – NY confere mais dados de mercado de trabalho hoje, com os pedidos semanais de auxílio-desemprego (10h30). A expectativa é de alta de 2 mil, para 215 mil pedidos.
… No mesmo horário, sai a balança comercial dos EUA em outubro, que deve registrar déficit de US$ 74,8 bilhões, ante resultado negativo de US$ 84,4 bilhões em setembro.
NÃO LARGA O OSSO – Foi tão insignificante a queda acumulada pelo dólar nos últimos dois pregões (não chegou a 0,35%), que parece ser mais certo dizer que nem caiu, só parou de subir. Segue firme, forte e invicto acima de R$ 6.
… A vantagem é que a moeda americana já está tão cara, que deve precipitar uma correção inevitável.
… Ouvido pelo Broadcast, o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, acredita que a taxa de câmbio já embute todo o pessimismo do investidor com a situação fiscal e pode experimentar recuo gradual até o fim do ano.
… “Se não aparecer nenhuma novidade ruim, a tendência é o dólar ir escorregando aos poucos para R$ 5,90”.
… Com o dólar estável no exterior (abaixo), o mercado se fiou na boa vontade de Lira em acelerar a tramitação dos projetos que tratam do corte de gastos, apesar da insatisfação dos parlamentares com a questão das emendas.
… Contra o real, a moeda americana fechou em leve baixa de 0,18%, cotado a R$ 6,0477.
… O recado de Lira também ajudou a suavizar os juros futuros a partir dos vencimentos médios. A curva ainda teve ajuda dos retornos dos Treasuries, que recuaram com dados da ADP e PMI mais fracos nos EUA.
… Na contramão, os vencimentos curtos voltaram a subir, na expectativa de que o Copom aumente a dose de alta da Selic na próxima semana.
… O DI jan/26 subiu a 14,090% (de 13,995% no fechamento anterior); e o jan/27 a 14,315% (14,260%). Já o Jan/29 caiu a 14,070% (de 14,105%); Jan/31, a 13,890% (de 13,920%); e Jan/33, a 13,730% (de 13,770%).
… Um tranco de +100pb na Selic na próxima semana não é o ideal, na visão de Fernanda Guardado, ex-diretora do BC e hoje chefe de pesquisa para AL no BNP Paribas.
… Para ela, o BC vai precisar de munição para enfrentar meses de más notícias à frente, mas dobrar o ritmo de alta da Selic, de 50pb para 100pb, geraria muita volatilidade na economia.
… “Muita gente diz para [o BC] dar [uma alta] mais forte agora e começar a cortar logo depois. Isso não faz sentido. É difícil para as empresas se programarem nesse tipo de ambiente”, disse.
… Já na XP, o economista-chefe, Caio Megale, vê espaço para duas altas de 100pb e outras duas de 50pb, com a Selic terminal em 14,25% em maio de 2025. A taxa cairia a 13,25% no fim do ano, de 12,25% estimados antes.
… As novas projeções acompanham um aumento na previsão da XP para o IPCA 2024, de 4,9% para 5%. Para 2025, a expectativa é de 5,2% e para 2026, de 4,5%. O PIB deste ano foi revisado de 3,1% para 3,5%.
… Para o câmbio, a expectativa para o final de 2024 passou de R$ 5,70 para R$ 6,00. Para 2025 e 2026, as projeções são de R$ 5,85 e R$ 6,00 respectivamente.
… Já o Citi vê o Copom subindo o juro em 75pb na próxima 4ªF e acredita que o BC vai elevar a projeção do IPCA no horizonte relevante (2Tri26) de 3,6% para 3,8%.
SEIS POR MEIA DÚVIDA – Foi negativa para a Petrobras a repercussão à matéria do Globo de que o governo planeja transferir o presidente de conselho da estatal, Pietro Mendes (ligado ao ministro Alexandre Silveira), para a ANP.
… Depois do fechamento dos negócios, a Petrobras confirmou que Mendes foi indicado pelo MME para ocupar uma diretoria da ANP, mas que, durante o processo de análise, ainda segue como presidente do conselho da companhia.
… A mudança abre espaço para o economista Bruno Moretti, ligado ao ministro Rui Costa, assumir a cadeira do CA.
… O investidor, que já viu muitas vezes o filme de ingerência política, sempre costuma reagir mal em um primeiro momento, como aconteceu ontem, quando derrubou Petrobras ON (-0,96%, a R$ 42,37) e PN (-0,63%, a R$ 39,25).
… A troca não altera, porém, o jogo de forças dentro do colegiado da empresa, com seis dos 11 conselheiros diretamente indicados pelo governo. “Significa mudar para manter como está”, resumiu uma fonte ao Broadcast.
… “Silveira e Costa são a mesma pessoa dentro da Petrobras”, disse outro interlocutor. O mais importante para o investidor é que a mudança não tenha impacto no pagamento de dividendos e nas condições de geração de caixa.
… “A Petrobras tem passado por diversas mudanças internas, que não alteraram os principais pilares: manutenção da política de preços, investimentos e boa distribuição de dividendos”, aponta o analista João Daronco (da Suno).
… Se tudo continuar na mesma, como tudo indica que continuará, a cautela do investidor não deve perdurar.
… A queda de Petrobras ontem neutralizou os ganhos do Ibovespa, que fechou estável (-0,04%), aos 126.087,02 pontos), com giro de R$ 22 bilhões. Vale (ON, -1,95%, a R$ 57,33) também anulou as forças da bolsa.
… Descolada a alta do minério (+0,43%), a companhia ainda reflete os desafios apresentados no Investor Day. Existe a percepção entre parte do mercado de chances mais reduzidas de a Vale distribuir dividendos extraordinários.
… Apesar da falta de apetite pelas blue chips das commodities, os bancos compensaram. Bradesco ON (+1,28%; R$ 11,12), PN (+1,14%; R$ 12,44), BB (+1,21%; R$ 25,17), Itaú (+0,62%; R$ 32,68) e Santander (+0,04%; R$ 25,30).
… O maior ganho da sessão foi de BRF, com +5,58%, a R$ 27,80, beneficiada pela queda no preço do milho e pelo dólar valorizado. Em seguida na lista, LWSA avançou 4,58% (R$ 3,65) e Rumo subiu 2,77% (R$ 19,28).
… As piores perdas do dia ficaram com Azzas (-4,49%; R$ 35,09), MRV (-4,19%; R$ 5,03) e Hapvida (-3,32%; R$ 2,62).
SO FAR, SO GOOD – Dados que mostram a economia dos EUA resiliente, mas num ritmo menor, reforçaram ontem a percepção de que o Fed ainda vai voltar a cortar o juro em dezembro, nem que seja pela última vez neste ciclo.
… Às vésperas do payroll, o setor privado dos EUA criou 146 mil empregos em novembro, abaixo da previsão de 165 mil. Ainda o número de outubro foi revisado bem para baixo, de 233 mil para 184 mil vagas.
… Outro indicador econômico exibiu enfraquecimento. O PMI do setor de serviços medido pelo ISM caiu de 56,0 em outubro para 52,1 em novembro, bem abaixo da expectativa de 55,6.
… Depois dos dados, as apostas em corte de 25pb nos juros pelo Fed este mês avançaram de 72,9% para 75,7%.
… O mercado não migrou para a precificação de juro estável em dezembro, apesar dos comentários otimistas de Powell. Para ele, a economia está mais forte do que parecia em setembro, quando o Fed começou a baixar os juros.
… Segundo Powell, o BC pode se dar ao luxo de ser cauteloso ao reduzir as taxas para um nível neutro.
… “Powell estava muito otimista com a economia e disse que estamos fazendo progresso na inflação. São boas notícias para as ações em geral”, comentou Peter Cardillo (Spartan Capital Securities) na Reuters.
… Outros dirigentes do Fed seguiram a cartilha da cautela em seus pronunciamentos.
… Alberto Musalem disse ver novos cortes de juros como necessários, mas que as incertezas podem interferir no processo. “O caminho para o juro neutro pode ser acelerado, pausado ou desacelerado, a depender do ambiente.”
… Thomas Barkin (Richmond) disse estar encorajado pela desaceleração dos preços, mas que a inflação segue acima da meta.
… Enquanto isso, o Livro Bege indicou que a atividade econômica aumentou na maioria dos distritos do Fed.
… As bolsas de NY emplacaram mais um recorde de fechamento. Os bons balanços de Salesforce (+11%) e Marvell Technology (+23,2%), ambos no embalo da IA, deram gás ao segmento tech, que liderou os ganhos.
… O Nasdaq saltou 1,30%, aos 19.735,12 pontos, e o S&P 500 ganhou 0,60% (6.086,47 pontos). Pela primeira vez acima dos 45 mil pontos, o Dow Jones subiu 0,69% (45.014,04 pontos).
… Os juros dos Treasuries reagiram aos dados mais amenos da economia americana e à indicação de Paul Atkins para a SEC. O retorno da note de 2 anos caiu a 4,127%, de 4,178% na sessão anterior.
… O da note de 10 anos recuou a 4,187% (de 4,224%) e o do T-bond de 30 anos foi a 4,353% (de 4,407%).
… Mais uma vez, o índice dólar (DXY) fechou perto da estabilidade (-0,04%), em 106,321 pontos.
… O euro ficou praticamente no zero a zero (+0,06%), a US$ 1,0518, segurando a pressão da crise política na França, onde o Parlamento derrubou o primeiro-ministro, Michel Barnier.
… No início da sessão, o euro chegou a cair com o fraco PMI de serviços da zoa do euro em novembro, o menor em dez meses, a 49,5 (de 51,6 em outubro). O PPI caiu 3,2% na comparação anual, de -3% esperados.
… Em discurso ontem, Christine Lagarde (BCE) afirmou que “a batalha contra a inflação está perto de ser vencida”, embora tenha evitado se comprometer com qualquer trajetória para os juros.
… A libra esterlina subiu 0,24%, a US$ 1,2704, a despeito de Andrew Bailey (BoE) ter dito ao FT que espera quatro cortes de juros no ano que vem, se a economia evoluir conforme esperado. O iene recuou 0,61%, a 150,528/US$.
… Mesmo sem pressão do dólar e na véspera da reunião da Opep+, que pode estender os cortes de produção até o 1Tri25, a cotação do petróleo Brent/fev caiu forte (-1,81%), a US$ 72,31 o barril, na ICE.
EM TEMPO… BRF distribuirá JCP no valor total de R$ 200 milhões, o que corresponde a R$ 0,123 bruto por ação, com pagamento em 30 de dezembro deste ano. Ex em 17/12.
MINERVA informou que a unidade de Rolim de Moura (RO) foi habilitada para exportar carne bovina in natura aos EUA. A empresa passa a ter 14 plantas no Brasil habilitadas ao mercado americano.
BRASKEM. Novo CEO, Roberto Prisco Paraiso Ramos, veterano da Novonor, deu início à reformulação da diretoria executiva. Felipe Montoro Jens substituirá Pedro Freitas na diretoria financeira e de RI…
… Stefan Lepecki entrará no lugar de Edison Terra Filho, responsável pela Unidade Olefinas & Poliolefinas América do Sul, e de Marcelo de Oliveira Cerqueira, responsável por Manufatura Brasil e Operações Industriais Globais…
… A petroquímica reduziu o número de vice-presidências ou diretorias de 12 para 9 na nova estrutura de comando e informou que apenas quatro executivos do quadro atual seguirão na companhia.
NATURA & CO. Tribunal que supervisiona o processo de Chapter 11 da Avon Products Inc (IPA) aprovou o acordo de transação global com o comitê de devedores quirografários da Avon…
… Também foi aprovada a venda das operações da Avon fora dos EUA para a Natura por meio de uma oferta de crédito no valor de US$ 125 milhões.
SUZANO pagará R$ 2,5 bilhões em JCP, a R$ 2,017 por ação; ex em 17/12. Pagamento será em 10 de janeiro de 2025.
LOCALIZA aprova a 40ª emissão de debêntures simples, no valor de R$ 600 milhões, com vencimento em 10 de dezembro de 2030.
SANTOS BRASIL. O número de contêineres movimentados cresceu 20,5% em novembro de 2024 ante mesmo mês de 2023, para 125.730 unidades. Nos 11 primeiros meses do ano, houve avanço de 23,6%.
HBR REALTY- empresa de propriedades comerciais da família Borenstein, dona da incorporadora Helbor – colocou em andamento um plano de venda de ativos com potencial para movimentar R$ 1,3 bilhão, segundo o Broadcast…
… Pela estimativa de mercado, o valor é mais que o triplo do seu valor de mercado na bolsa (R$ 390 mi). O dinheiro será usado como combustível para novos projetos de prédios corporativos, shopping e centros de conveniência.
NEOENERGIA PERNAMBUCO fará a 15ª emissão de debêntures simples, no valor total de R$ 700 milhões, com prazo de seis anos a contar da data da emissão.
EQUATORIAL GOIÁSfará o resgate antecipado facultativo das debêntures da segunda emissão, no valor total aproximado de R$ 836,8 milhões, em10 de dezembro deste ano.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
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