Morning Call
Fiscal ganha destaque com relatório bimestral
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[20/09/24]
… O BC chinês (PBoC) manteve inalteradas as taxas básicas de empréstimos (LPRs) de 1 ano (3,35%) e 5 anos (3,85%) e também o BoJ optou por deixar o juro estável, em 0,25%, preferindo adiar um aperto monetário. Do lado do BCE, Lagarde participa de painel em Washington (12h), depois de ter sinalizado que um corte do juro em dezembro é mais provável. Nos EUA, é dia de vencimento triplo nas bolsas em NY (triple witching), o que deve acentuar a volatilidade, em meio à euforia com o Fed. Aqui, o DI pressiona o Copom a acelerar a dose de aperto da Selic para enfrentar a inflação desancorada e ruídos fiscais. O governo divulga hoje o quarto relatório bimestral de receitas e despesas.
… Ao Broadcast, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, disse que o documento consolidará “de vez” o cenário de cumprimento da meta fiscal, “ainda que mais próximo do limite inferior” (tolerância de 0,25 pp em relação ao PIB).
… Questionado sobre como as frustrações com as receitas do Carf serão cobertas, ele manteve o suspense e afirmou que as explicações serão dadas pela equipe econômica hoje de forma “serena” na divulgação do relatório.
… Disse também que mantém a “aposta” de que não há no horizonte uma pressão de despesas obrigatórias (como aposentadorias) tão relevante que obrigue o governo a bloquear um valor expressivo do orçamento neste momento.
… “[Valor] Não elevado significa algo mais próximo de R$ 5 bilhões do que de R$ 10 bilhões”, explicou.
… Ceron disse que a publicação vai incorporar a compensação recém aprovada para desoneração da folha (cuja renúncia já estava integralizada no relatório de julho) e a revisão para cima no PIB do ano pela Fazenda (para 3,2%).
… “Há outras medidas que podem ser incluídas aí [no relatório bimestral], como dividendos. Tem um pacote lá.”
… Dias atrás, integrantes da equipe econômica anteciparam ao Estadão que fatores novos podem compensar as frustrações e que R$ 10 bilhões em dividendos extraordinários do BNDES seriam incluídos no relatório bimestral.
… Há pouco mais de uma semana, Ceron também havia dito que, se fosse necessário para fins de cumprimento da meta de resultado primário, o governo apresentaria medidas adicionais de receitas no novo relatório bimestral.
… O mercado suspeita que o cobertor é curto e que as fontes de receitas extraordinárias listadas pela equipe econômica para garantir o cumprimento do déficit zero têm gerado arrecadação muito menor do que a esperada.
… A quatro meses do fim do ano, as medidas com maior potencial arrecadatório, como a retomada do voto de qualidade do Carf e as transações tributárias, tiveram desempenho muito inferior ao que era projetado.
… Segundo o Infomoney, o governo já precifica nova negociação com Congresso sobre as desonerações da folha em 2025, já que as medidas de compensação aprovadas não representam o “pacote dos sonhos” da equipe econômica.
… O governo entende que o nível de arrecadação não responderá como espera o Congresso em 2025 e 2026.
… A avaliação é de que há grandes chances de frustração de receitas com medidas como a nova rodada de repatriação de recursos mantidos no exterior e a própria regularização de bens imobiliários.
… O acordo celebrado entre o governo Lula e o Congresso sobre a desoneração da folha de pagamento tem sido tratado por integrantes da equipe econômica como o entendimento “possível”.
… Internamente, a avaliação é de que a sanção com vetos das novas regras, com medidas de compensação para a renúncia de receitas, não evitará a necessidade de novas negociações em um futuro próximo.
ABRIU A PORTEIRA – Em meio ao quadro de fragilidade fiscal, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que novos créditos extraordinários serão liberados pelo governo federal para auxiliar o combate aos incêndios nos Estados.
… Em um primeiro momento, o governo federal já liberou R$ 514 milhões para o combate às queimadas.
… Questionado sobre qual seria o valor dos próximos créditos, o ministro respondeu que depende da demanda dos governadores, mas sinalizou a intenção do governo de atender aos pedidos. “Tudo que for necessário será liberado.”
… Os créditos extraordinários podem ser abertos para demandas consideradas urgentes e imprevisíveis e ficam fora da meta fiscal, por autorização do ministro Flavio Dino (STF), e fora do limite de gastos do novo arcabouço fiscal.
HORÁRIO DE VERÃO – Em meio à seca de proporções históricas no Brasil, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) recomendou nesta 5ªF ao Ministério de Minas e Energia (MME) a volta do horário de verão.
… A orientação agora será debatida por outros órgãos do governo, mas se for implementada, não virá antes das eleições (27/10). O ministro Alexandra Silveira disse que um definição deve sair em dez dias. Depende de Lula.
… Pelos cálculos do MME, a economia potencial com o eventual retorno do horário de verão seria de R$ 400 mi.
MAIS AGENDA – Já com o mercado fechado, Haddad palestra (18h30) na USP sobre desafios da economia. Nos EUA, o Fed boy Patrick Harker fala em evento (15h). Baker Hughes informa às 14h os poços de petróleo em operação.
VAI PRA CIMA – O mercado nem quis saber de esperar a ata do Copom (3ªF) para já ir colocando o BC na parede para uma aceleração do ritmo de cortes da Selic daqui para frente. Meio ponto em novembro vira piso na curva.
… Esta probabilidade já está mais do que consolidada (80%) e divide espaço agora com a dose de 0,75 pp (20%), diante da percepção entre os investidores de um ciclo total de 2pp de alta da Selic para acomodar a inflação.
… Com o comunicado do Copom, que não aliviou a barra, os juros futuros superaram os 12% ontem em toda a extensão do DI, que ignorou o alívio do dólar e ainda embutiu certa cautela antes do relatório fiscal da Fazenda.
… O DI Jan26 deu um salto de 280pb, a 12,050% (de 11,769% na véspera), enquanto os mais longos subiram menos. Jan27 foi a 12,010% (11,816%); Jan29, 12,080% (11,958%); Jan31, 12,090% (11,982%); e Jan33, a 12,060% (11,967%).
… Pesquisa feita pelo Broadcast mostrou que, depois do comunicado hawk do Copom, a maioria – 23, ou 56%, de 41 instituições – espera alta de 50pb do juro em novembro.
… Outras 18 casas (44%) preveem 25pb na próxima reunião. Já a mediana para a Selic no fim deste ano caminhou de 11,25% para 11,75%. Para o fim de 2025, a mediana se manteve em 10,50%.
… No primeiro trimestre de 2026 – horizonte relevante do BC – a mediana do juro básico passou de 9,75% para 10%.
… Para o JPMorgan, o Copom vai elevar a Selic em 25pb por reunião até atingir 11,50%, mas a depender dos próximos IPCAs, o aperto pode ser maior.
… O banco nota que o câmbio e gestão da política fiscal serão cruciais para o balanço de riscos e apostas de inflação.
… Logo no início dos negócios ontem, o dólar à vista tocou a mínima na casa dos R$ 5,39 (em R$ 5,3958), já que era mesmo esperada uma apreciação do câmbio depois dos movimentos de Fed e Copom.
… Ao longo da sessão, a moeda se recompôs parcialmente, mas ainda fechou com baixa de 0,69%, a R$ 5,4242, na sétima sessão consecutiva de valorização do real.
… Marcelo Vieira, head da mesa de renda variável da Ville Capital, vê o dólar caindo a R$ 5,30/5,20 por causa do diferencial entre juros brasileiros e americanos, que deve atrair fluxo gringo.
… Mas as contas públicas desafiadoras podem atrapalhar a festa, diz ele. “A questão fiscal vem mostrando desdobramentos preocupantes com práticas obscuras por parte do governo”, disse Vieira ao Broadcast.
… Até por isso, a arrecadação federal recorde em agosto (R$ 201,6 bilhões) não fez preço ontem.
O COPOM MEIO VAZIO – Apesar da promessa de que a Selic em patamares competitivos fique atraente ao k estrangeiro, trazendo dinheiro para cá, o Ibov sentiu o baque da pressão dos juros futuros no day after do Copom.
… Assim, nem as altas firmes do minério de ferro (+1,69%) e petróleo (Brent/nov, +1,67%, a US$ 74,88) conseguiram impedir que o índice à vista da bolsa doméstica registrasse a terceira queda seguida, descolado da euforia em NY.
… O Ibovespa caiu 0,47%, a 133.122,67 pontos, na mínima do dia, com volume de R$ 21,9 bilhões. Hoje, o giro de negócios pode ser reforçado pela volatilidade entre comprados e vendidos no exercício das opções sobre ações.
… Bancos caíram em bloco: Bradesco PN (-1,38%; R$ 15,03), Bradesco ON (-1,03%; R$ 13,48), Banco do Brasil (-1,20%; R$ 27,91), Santander (-0,72%; R$ 30,18) e Itaú (-0,27%; R$ 36,60).
… Vale subiu 1,20% (R$ 58,23). Acionista da companhia, Bradespar registrou +0,81% (R$ 18,70). Outras metálicas também foram bem, na esteira do minério: CSN Mineração, +1,26% (R$ 6,41); e CSN, +1,35% (R$ 12,05).
… Petrobras ficou sem direção, com o papel ON em queda de 0,30%, a R$ 39,70, e o PN em alta de 0,33%, a R$ 36,27. Prio teve a terceira maior valorização da sessão, com +1,90%, a R$ 44,01.
… Brava Energia recuou 9,40%, a R$ 18,89, reagindo ao anúncio da companhia de que a retomada da produção no campo de Papa Terra só deve ocorrer em dezembro.
EUFORIA – Um dia depois da reação morna ao corte de 50pb nos juros, o mercado resolveu surfar na postura agressiva do Fed, na expectativa de que o BC americano vai ser capaz de induzir um pouso suave da economia.
… O recado de Powell na 4ªF dizendo que os 50pb não são tendência continuou a ser desafiado pelas apostas no FedWatch, que apontam um orçamento total de -125pb em 2024.
… Contribuiu para animação do dia a inesperada queda nos pedidos de auxílio-desemprego, para o menor nível desde maio, sinalizando que o mercado de trabalho continua saudável, apesar da desaceleração nas contratações.
… Foram 219 mil pedidos, 12 mil a menos que na semana anterior e abaixo dos 230 mil estimados. Com o mercado de trabalho no foco do Fed, os números de emprego continuarão a calibrar as expectativas para os fed funds.
… Em dia de altas expressivas, o Dow Jones alcançou pela primeira vez os 42 mil pontos (+1,26%, aos 42.025,45) e o S&P 500 estreou os 5.700 (+1,70%, aos 5.713,67), marcando o 39º recorde de fechamento em 2024.
… De novo, as techs lideraram e o Nasdaq (+2,51%) voltou à marca de 18 mil pontos (18.013,98). Tesla disparou 7%, Apple, Meta e Nvidia subiram em torno de 4%, AMD saltou 6% e Alphabet, 1,5%.
… Historicamente, o mercado de ações tem boa performance em períodos posteriores a corte de juros e numa economia sem recessão. “Desta vez não deve ser diferente”, disse Solita Marcelli (UBS Global WM) à Bloomberg.
… O cenário base do UBS WM é que o S&P 500 alcance 5.900 pontos até o fim deste ano e avance a 6.200 até junho de 2025. As techs devem continuar a liderar o índice.
… Ainda sob o peso da decisão do Fed, o retorno da note de 2 anos caiu a 3,587% (de 3,6192% na véspera). Mas os Treasuries longos avançaram.
… O juro da note de 10 anos subiu a 3,721% (de 3,701%) e o do T-bond de 30 anos avançou a 4,054% (4,024%), de olho nos dados do auxílio-desemprego.
… No câmbio, o dólar ganhou terreno ante o iene (142,644/US$) antes da decisão do BoJ. A libra avançou bem (+0,76%, a US$ 1,3280), depois de o BoE manter o juro em 5%, como esperado.
… No comunicado da decisão, o BC britânico avisou que a taxa básica deve seguir restritiva por “tempo suficientemente longo”, até que a inflação dê mostras que vai chegar à meta de 2%.
… Cauteloso, Andrew Bailey disse que o BoE não pode cortar o juro rápido demais.
… O euro também subiu (+0,55%), a US$ 1,1164. O DXY ficou praticamente estável (+0,04%), a 100,639 pontos.
EM TEMPO… VALE confirmou que negociações sobre acordo para compensação do desastre de Mariana estão avançadas e espera chegar ao fim do processo de mediação em outubro.
BRADESCO aprovou a distribuição de R$ 2 bilhões em JCP intermediários, o equivalente a R$ 0,1795 por ação ON e R$ 0,1975 por ação PN, com pagamento até 30/4/25; ex em 1º/10…
… O vice de tecnologia do banco, Rogério Câmara, vai para conselho do banco; Câmara substituirá Milton Matsumoto, que se aposenta após 67 anos.
B3 aprovou a distribuição de R$ 326 milhões em JCP (R$ 0,0512 por ação) e de R$ 190 milhões em dividendos (R$ 0,0351 por ação), com pagamento em 7/12; ex em 25/9.
LOJAS RENNER aprovou a distribuição de R$ 161,3 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1687 por ação, com pagamento em 8/10; ex em 25/9.
MULTIPLAN informou que venda de 18,52% da participação da Ontario (OTPP) no capital social vai à AGE em 21/10.
FRIGORÍFICOS. JPMorgan revisou as estimativas de Ebitda para BRF e JBS em 2024; banco citou a expectativa positiva em relação ao desempenho no 2º semestre, especialmente no 3TRI…
… Estimativa para o Ebitda da BRF em 2024 foi elevada em 6%, para R$ 11 bilhões; com isso, o preço-alvo para dezembro de 2025 foi ajustado para R$ 30 por ação…
… No caso da JBS, a estimativa subiu para R$ 35,5 bilhões, 8% acima do consenso do mercado; banco manteve o preço-alvo de R$ 43 por ação para dezembro de 2025.
AGROGALAXY informou em fato relevante que foi suspenso o segredo de justiça no âmbito da recuperação judicial.
EQUATORIAL. Conselho de Administração elegeu ontem Eduardo Parente Menezes para assumir a presidência do colegiado, após a renúncia de Carlos Augusto Leone Piani, que agora é diretor-presidente da Sabesp.
ENERGISA. Consumo de energia subiu para 3.430 GWh em agosto, aumento de 4% ante o mesmo mês de 2023.
COPEL. Copel Geração e Transmissão fará a 9ª emissão de debêntures, no valor de R$ 1,6 bilhão.
VIBRA ENERGIA corrigiu valor a ser pago por ação na distribuição de JCP anunciada ontem; valor passou de R$ 0,2341 para R$ 0,2349; total permanece em R$ 262 milhões; pagamento será realizado até 30/12/25.
BRAVA ENERGIA. Citi tem recomendação de compra para a ação da empresa, com preço-alvo de R$ 50; banco disse que foi exagerada a reação negativa do mercado por conta da interrupção na produção no campo Papa Terra.
GRUPO MATEUS vendeu quatro imóveis para o fundo de investimentos imobiliários TRX Real Estate por R$ 122,8 milhões; imóveis estão localizados em Russas (CE), São Luís (MA), Ananindeua (PA) e Marituba (PA).
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