Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[20/9/2023]

… Sai às 15h em ponto a decisão do Fed para o juro nos Estados Unidos, que deve ser mantido no intervalo entre 5,25% e 5,5%. O comunicado é o grande suspense e pode provocar a primeira onda de volatilidade dos mercados se vier mais hawkish que o esperado. Ninguém acredita que o texto sinalizará o fim do ciclo de aperto – embora a aposta da maioria seja de que os aumentos acabaram. Às 15h30, vem o segundo round, com a entrevista de Powell, que deve continuar condicionando os próximos passos da política monetária aos indicadores da inflação, atividade e emprego. Aqui, o Copom anuncia um novo corte de 50pbs da taxa Selic após as 18h30, para 12,75% e, do mesmo modo, não se espera que o BC indique uma aceleração no ritmo de quedas.

… De 68 casas consultadas pelo Broadcast, 18% preveem pelo menos uma redução de 75pbs ainda este ano, mas a ampla maioria (81%) espera cortes sequenciais de 50pbs. No DI, a probabilidade de corte maior em novembro recuou para apenas 10%.

… Na véspera dessa Super Quarta, a disparada dos juros dos Treasuries, em movimento defensivo, pesou para os ativos de risco, diante dos receios de que os juros americanos serão mantidos em níveis elevados por mais tempo do que se imaginava.

… Caíram as bolsas em NY e o Ibovespa, enquanto a curva de juros futuros ganhou inclinação e o dólar voltou a subir (abaixo).

… A escalada do petróleo, que ameaça bater em US$ 100, é o fator de última hora que pode atrapalhar os planos de um Fed e de um Copom mais amigável. A recente alta dos preços deve ser abordada por Powell na coletiva desta tarde.

… Em relatório, a Pantheon Macroeconomics afirma que, embora o aumento de 30% desde junho não seja suficiente para mudar as decisões de política monetária, o presidente do Fed deve dizer que esse é um ponto a ser observado de perto.

… Também é provável que o Copom dê foco ao petróleo para justificar uma postura de cautela no processo de queda da Selic.

… Para André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, reajuste esperado na gasolina deve acelerar a inflação ao consumidor, mas a queda nos custos dos alimentos conseguirá compensar essa pressão.

… O economista calcula que cada 1% de aumento na gasolina nas bombas dos postos de combustíveis resulte em um impacto de 0,05 ponto porcentual no IPCA. “Assim, um aumento de 5% na bomba equivaleria a 0,25pp no índice de inflação.”

… Nos EUA, também a atualização das projeções do gráfico de pontos preocupa porque as revisões podem ter um tom hawkish, já que os dirigentes provavelmente não descartarão aumentos adicionais das taxas, segundo relatório da TD Securities.

… A maioria dos economistas de NY acredita que o Fed já tenha chegado ao fim do ciclo de altas, mas que deve iniciar agora uma campanha para um processo longo de taxas de juros elevadas antes que voltem a cair.

… As apostas para o primeiro corte do juro variam de maio até o último trimestre de 2024, o que tende a afetar as projeções para a economia e o cenário de pouso suave, que, por enquanto, parece estar garantido pela força da atividade.

UM ESPACINHO NO ORÇAMENTO – O relator do Orçamento/2024, o primeiro sob as regras do novo arcabouço fiscal, o deputado Luiz Carlos Motta (PL), quer encontrar “um espacinho” para o reajuste de servidores nas contas do governo no ano que vem.

… Em entrevista ao Estadão, ele disse que o governo faz um projeto de valorização do salário mínimo que reajusta aposentados, mas que todo mundo esquece do servidor. “A gente vai ter que estudar bem isso daí, é um assunto delicado.”

… O governo não reservou recursos para novo reajuste dos servidores em 2024. A única previsão no Orçamento, de R$ 1,5 bilhão, será usada para bancar reestruturações de carreira do serviço público, segundo a ministra Esther Dweck (Gestão).

… Desde o envio da proposta (31/8), uma romaria de servidores trabalha nos bastidores para convencer parlamentares de que o Orçamento precisa ser mexido. Os pedidos alcançam outros órgãos, como Marinha e Ibama.

A META É ZERO – Caiu mal no mercado a declaração do relator do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, deputado Danilo Forte (União), afirmando que não está descartada uma mudança na meta de zerar o déficit primário em 2024.

… Fontes da equipe econômica reforçaram ao Broadcast que a meta está mantida (leia mais abaixo).

DEBÊNTURES DE INFRAESTRUTURA – Senado aprovou ontem, em votação simbólica, o projeto das debêntures de infraestrutura, que darão incentivos aos emissores, a concessionária que emitir o título para se capitalizar.

… Com isso, os juros que deverão ser pagos aos investidores serão deduzidos da base de cálculo do IR e da CSLL.

… Para o relator da proposta, senador Rogério Carvalho (PT), a proposta pode alavancar mais de R$ 1 trilhão de investimentos em infraestrutura. O projeto é visto pela equipe econômica como alternativa importante para alavancar investimentos privados.

LULA – Encontra-se hoje em NY com o presidente Joe Biden (14h de Brasília), às margens da Assembleia-Geral da ONU, e com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (17h). O ministro Fernando Haddad participa da reunião na Casa Branca.

… O presidente Lula, que ficaria nos EUA até amanhã, antecipou o retorno ao Brasil para hoje. Embarca às 22h.

CHINA HOJE – Conforme previsto, o PBoC manteve as taxas de juros de referência (LPR) de 1 ano em 3,45% e de 5 anos em 4,2%.

MAIS AGENDA – Saem a segunda prévia do IGP-M (8h) e os dados semanais do fluxo cambial (14h30).

LÁ FORA – Nos EUA, os estoques de petróleo do DoE (11h30) podem influenciar a commodity, que roda perto de US$ 95. Ontem à noite, o API estimou declínio de 5,3 milhões de barris na semana passada nas reservas americanas.

… Os dados de inflação de agosto ao consumidor (CPI) no Reino Unido e ao produtor (PPI) na Alemanha saem às 3h.

A FÓRMULA DO ESTRESSE – A combinação da meta fiscal da Fazenda cada vez mais desmoralizada com a pressão dos juros dos Treasuries antes do Fed puxou o DI o dia todo e embutiu prêmio especialmente na ponta longa.

… O relator do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), deputado Danilo Forte (União-CE), sinalizou que a promessa de entregar um déficit primário zero no ano que vem não é uma cláusula pétrea do governo.

… Mas fontes da equipe econômica reforçaram para o Broadcast que a meta para 2024 está mantida.

… Na semana passada, o relator já havia dito ter “dó” de Haddad, porque é “quase impossível” zerar o déficit fiscal no ano que vem. Porém, membros do governo dizem que a promessa da Fazenda não está ameaçada.

… O economista-chefe e sócio da Warren Rena, Felipe Salto, calcula que o target só será cumprido se a Fazenda conseguir elevar a arrecadação em ao menos R$ 120 bilhões e contingenciar cerca de R$ 50 bilhões em despesas.

… A intenção declarada do governo de reajustar os salários dos servidores se houver receita extra em 2024 arma uma pressão fiscal adicional ao quadro já bastante delicado das contas públicas e piora a percepção de risco.

… A estes receios, somou-se ontem a escalada das taxas dos Treasuries para os níveis recordes em 16 anos, que projetou o contrato de DI para jan/29 aos 11% nas máximas do dia. Fechou perto disso, a 10,980% (de 10,887%).

… O jan/31 subiu a 11,300% (contra 11,194% na véspera); jan/29 avançou para 10,980% (de 10,887%); jan/27 foi a 10,445% (de 10,341%); jan/26, 10,180% (de 10,090%); jan/25, 10,495% (de 10,426%); e jan/24, 12,270% (12,268%).

… O IBC-Br de julho (+0,44%) acima da mediana das projeções (+0,35%) melhorou a previsão do mercado para o PIB/3Tri de -0,1% para zero (pesquisa Broadcast) e, a rigor, reduz a chance de o Copom acelerar os cortes da Selic.

… Mas a atividade econômica fortalecida não promete ser o fiel da balança para o BC, que está mais interessado em observar a dinâmica das pressões inflacionárias nos próximos meses e avaliar se o rali do petróleo vem para ficar.

… A perda de força do barril na segunda metade do pregão de ontem depreciou o real. O dólar, que pela manhã chegou a furar o suporte de R$ 4,85, interrompeu a sequência de quedas e fechou em alta de 0,35%, a R$ 4,8730.

… No câmbio futuro, o contrato da moeda norte-americana para outubro subiu 0,27%, negociado a R$ 4,8765.

BANHO-MARIA – Cumprindo a espera pelo Fed e pelo Copom, o Ibovespa fechou em baixa moderada de 0,37% e entregou os 118 mil pontos (117.845,78), com a virada de queda do petróleo roubando o fôlego da bolsa.

… Foi o terceiro pregão consecutivo negativo para o índice à vista, que de novo girou pouco: R$ 21,3 bilhões.

… O contrato do Brent para novembro chegou a lançar uma investida para perto da faixa dos US$ 96 no pico do dia (US$ 95,96), mas chamou realização e devolveu tudo, para fechar em leve queda de 0,10%, cotado a US$ 94,34.

… A correção esvaziou os ganhos da Petrobras e o papel ON fechou estável, a R$ 37,36, enquanto o PN limitou a alta a 0,23%, a R$ 34,21. Vale também subiu pouco (+0,19%, a R$ 68,85) e não conseguiu sustentar o Ibovespa.

… O canal de baixa dos bancos foi determinante para manter a bolsa no vermelho: Bradesco PN (-1,14%; R$ 14,75), Santander (-0,87%; R$ 26,27), Bradesco ON (-0,84%; R$ 13,04), Itaú (-0,44%; R$ 27,16) e BB (-0,15%; R$ 47,28).

… A maior queda do dia foi de Pão de Açúcar (-6,90%), influenciada pela redução do preço-alvo da ação pelo BofA, de R$ 15 para R$ 3,50, após a cisão do controle acionário no Grupo Éxito, que passou a ser negociado por BDRs.

… Já na ponta das altas, Marfrig (ON, +4,07%) liderou o ranking, depois de elevar de 33,3% para 35,7% a fatia acionária na BRF (ON, +1,28%). Via (ON, +2,74%) cansou de cair com a decepção do follow on e testou uma reação.

MEDO DE ALTURA – O temor de que o Fed confirme hoje que o juro ficará alto por muito tempo, mesmo que o ciclo de aperto já tenha acabado, precipitou uma nova explosão nos yields dos Treasuries, antes mesmo do statement.

… Refletindo os picos de ansiedade, o rendimento da Note-2 anos saltou para 5,11%, contra 5,045% no pregão da véspera, e o do título de 10 anos do Tesouro americano cravou o maior patamar desde 2007: 4,362%, de 4,318%.

… Tradicionalmente, o Fed costuma considerar como transitório o efeito da volatilidade do petróleo para a inflação.

… Mas nunca se sabe. Embora abaixo dos US$ 120 batidos no ano passado, o barril caro entra como fator imprevisível à estratégia do BC americano, na medida em que pode pressionar os custos de energia.  

… Apesar de os juros dos Treasuries terem acelerado na véspera do Fed, as bolsas em NY dosaram a cautela. Caíram pouco o Dow Jones (-0,31%, a 34.517,73 pontos); S&P 500 (-0,22%, a 4.443,95 pontos) e Nasdaq (-0,23%, 13.678,19).

… O dólar operou engessado antes do Fed, com o índice DXY estável (-0,06%), a 105,137 pontos. O euro recuou 0,11%, a US$ 1,0683, diante da convicção de que os juros do BCE ficarão em 4% por tempo suficientemente longo.

… Esta aposta de que não vem mais nenhuma alta do juro pelo comitê de Lagarde saiu fortalecida pelo dado de inflação ao consumidor (CPI) na zona do euro, que desacelerou para 5,2% em agosto, contra 5,3% em julho.

… A libra esterlina praticamente não se mexeu (+0,05%, a US$ 1,2396), à espera da decisão de amanhã do BC inglês (BoE), que deve subir o juro pela última vez no atual ciclo de aperto monetário. O iene caiu para 147,85/US$.

EM TEMPO… JBS encerrou oferta de US$ 2,5 bilhões em bonds de 10 e 30 anos, anunciada em 5/9.

BRASKEM. A Apollo Global desistiu de seguir em frente junto com a Adnoc no processo de compra da petroquímica, devido à falta de interlocução com a Petrobras e com o governo brasileiro, segundo fontes do Valor.

GRUPO PÃO DE AÇÚCAR convocou AGE no dia 19/10 para acionistas decidirem sobre o “ajuste a menor” na redução do capital social para R$ 6,65 bilhões e alterações no estatuto social.

ÂNIMA vendeu, por R$ 55 milhões, sua carteira de crédito estudantil com dez mil contratos à gestora de crédito universitário Pravaler.

AZUL. JPMorgan elevou participação na companhia para 6,5% do total de ações PN, passando a deter quase 22 milhões de papéis do tipo…

… Segundo o último formulário de referência da empresa, de 18/5, o banco não aparecia com posição acionária relevante.

WEG aprovou a distribuição de R$ 250,973 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,0598 por ação, com pagamento em 13/3/24, ex em 25/9.

ODONTOPREV aprovou a distribuição de R$ 20,5 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,037 por ação, com pagamento em 19/12; ex em 25/9.

2W ECOBANK contratou Itaú BBA, BTG Pactual e Santander para estudar viabilidade de IPO.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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