Morning Call
IBC-Br e varejo conferem recuo da atividade aqui e nos EUA
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[16/01/25]
… Balanços do BofA e do Morgan Stanley (antes da abertura) podem manter o entusiasmo do setor financeiro em Wall Street – onde tudo deu certo, nesta 4ªF. A grande notícia foi a desaceleração da inflação nos EUA, que reanimou as apostas de que os juros voltarão a cair neste ano, em uma notícia muito positiva para os emergentes. Hoje são importantes os dados do varejo americano (10h30), que tendem a reforçar a expectativa com um Fed mais dovish se confirmarem o recuo esperado. É claro que, a dois pregões da posse de Trump, as incertezas sobre as suas políticas tarifárias continuam sendo uma ameaça, e ninguém está autorizado a relaxar a guarda. Também aqui, os investidores monitoram os sinais de esfriamento da economia, que dão alívio adicional aos juros. Na agenda, o IBC-Br é destaque (9h).
… Depois de três meses consecutivos de crescimento, o “PIB do BC” deve voltar ao terreno negativo em novembro (-0,1%), na mediana do Broadcast. As estimativas variam de recuo de 1,2% a expansão de 0,3%.
… Na base anualizada, o indicador deve desacelerar fortemente contra a leitura de outubro, de 7,3% para 4,3%.
… O que se nota é que a perda de ritmo esperada para o dado não é isolada. No intervalo de pouco mais de uma semana, este já seria o quarto referencial da atividade econômica que apontaria para uma perda de dinamismo.
… Primeiro, foi a produção industrial de novembro (-0,6%). Em seguida, as vendas no varejo registradas no período vieram fracas (-0,4%) e, ontem, o volume do setor de serviços (-0,9%) veio pior que o esperado (-0,5%).
… Os números combinados levantam suspeitas de que a economia começou a perder pique no último trimestre do ano passado, ainda que não haja consenso se este já é um reflexo direto do ciclo de aperto monetário.
… Os sintomas de um processo de esfriamento justificaram ontem um novo ajuste em queda na curva de juros e podem trazer à tona a discussão de uma Selic terminal abaixo da marca de 15% exibida pelo boletim Focus.
… O Safra projeta um pico de 14,75% da taxa básica em maio e desaceleração para 13,75% no final do ciclo.
… O banco reduziu a aposta do PIB do ano de 2,5% para 1,5%, projetando avanço menor no consumo das famílias e nos investimentos corporativos, diante do aperto monetário mais forte e ausência de impulso fiscal.
PASSOU RECIBO – Após a onda de fake news, o governo recuou e revogou norma da Receita que ampliava a fiscalização em transações financeiras, incluindo o Pix, de operações acima de R$ 5 mil (PF) e R$ 15 mil (PJ).
… O governo decidiu ainda publicar uma medida provisória para reforçar que não haverá taxação de transações feitas pelo meio de pagamento instantâneo, depois de a oposição ter espalhado as informações falsas.
… A AGU pediu à PF abertura de inquérito para identificar autores que disseminaram informações distorcidas. O recuo do governo foi mal visto de todos os lados, por especialistas no Broadcast e dentro do próprio PT.
… No momento em que volta atrás na instrução normativa da Receita, o governo oferece de bandeja aos opositores a sinalização de que eles venceram, que a pressão deu certo e que a intenção era mesmo taxar o PIX.
… Não adianta trocar ministro da comunicação e continuar comunicando mal. Também de pouco adianta nessa guerra de narrativas e fake news apelar à PF. Melhor seria Lula ter convocado rede nacional para desmentir.
… Teria matado logo o assunto, evitando a proporção que a polêmica ganhou depois de o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL) sobre o tema ter viralizado e capitalizado a vitória do desgaste do governo.
… Na opinião do professor Paulo Niccoli Ramirez (ESPM), a gestão petista vem sendo desestabilizada pelo uso mais eficaz pela direita das redes sociais, com poder de persuasão muito maior e mais atraente aos algoritmos.
… Tivesse o governo usado de uma estratégia articulada, não perderia tanto tempo em correr atrás do prejuízo.
REFORMA MINISTERIAL – Reportagem no Estadão aponta que a cúpula do PT está preocupada com a desidratação que o partido, que comanda 11 ministérios, deve sofrer com as mudanças no Esplanada.
… Dirigentes petistas defendem nos bastidores que o União Brasil, que não entrega os votos correspondentes a seu tamanho, deveria perder lugar na dança das cadeiras para atrair o PP, expoente do Centrão e sigla de Lira.
… De saída do cargo, o presidente da Câmara é sido cobiçado por parte dos petistas para ingressar no governo e dar palanque a Lula na disputa à reeleição no ano que vem. Se Lira topar, ganharia a pasta da Agricultura.
… Já a chance de Rodrigo Pacheco integrar a equipe de Lula desagrada ao PT, que não enxerga no presidente do Senado uma figura capaz de ter articulação decisiva junto ao Congresso para apagar os incêndios de crise.
… As eleições que renovarão os comandos da Câmara e do Senado estão marcadas para 1.° de fevereiro.
… Indicado por Lira, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) é o favorito para ocupar sua cadeira. No Senado, Rodrigo Pacheco deverá passar o bastão para Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
AZUL NO AFTER HOURS – O ADR da companhia aérea disparou quase 5%, no entusiasmo da notícia de que assinou com a Abra, dona da Gol, memorando de entendimentos para explorar uma combinação de negócios.
… O CEO da Azul, John Rodgerson, disse ao Broadcast que a fusão tem chance de ser concluída até o fim do ano.
… O acordo prevê que a companhia combinada, que deve criar uma gigante no setor de aviação, converterá as suas ações preferenciais em circulação em ON, que serão listadas no Novo Mercado da B3 e na Nyse.
MAIS AGENDA – A FGV divulga a segunda prévia do IPC-S de janeiro (8h). Lula e Haddad participam, às 15h, de cerimônia de sanção do projeto que regulamenta a reforma tributária. A expectativa é que o texto tenha vetos.
… Lá fora, o crescimento das vendas do varejo dos EUA (10h30) deve desacelerar a 0,6% em dezembro, de 0,7% em novembro, mas ainda se mantendo num nível forte.
… Já no mercado de trabalho, contrariando a força do payroll, os pedidos de auxílio-desemprego (10h30) devem registrar alta de 13 mil, para 214 mil. A Nahb informa a confiança das construtoras em janeiro (12h).
… Na zona do euro, o BCE divulga a ata da reunião do dia 12 de dezembro, em que reduziu o juro em 25pb, para 3% ao ano.
… Ontem, o vice-presidente do BC europeu, Luis de Guindos, avisou que o foco da política monetária mudou da inflação para o crescimento.
… Embora sem se comprometer com uma direção para os juros, disse que, se os próximos dados confirmarem as projeções do BCE, a trajetória da política monetária é “clara”: “espero continuar reduzindo o aperto das taxas”.
TÃO LONGE, TÃO PERTO – Devagar, o dólar vai tentando voltar aos R$ 6, mas ainda encontra piso por aí, diante dos receios sobre a política expansionista e protecionista de Trump 2, além de toda a incerteza fiscal doméstica.
… Para quem aposta contra o dólar, toda a torcida é para que, na posse de 2ªF, o presidente eleito dos EUA venha o menos provocativo que conseguir, esvaziando o risco de uma guerra de tarifas e optando pela elevação gradual.
… Neste caso, quem sabe o investidor possa sonhar com a moeda americana furando o suporte que está tão difícil de quebrar. Ontem, o dólar seguiu o alívio em escala global com o CPI e completou três pregões seguidos em queda.
… Fechou em baixa moderada de 0,35%, cotado a R$ 6,0252, tendo chegado a R$ 6,0119 na mínima intraday.
… Na cola do câmbio e do fôlego de baixa das taxas dos Treasuries com os dados mais fracos nos EUA, o DI partiu para mais uma rodada de devolução de prêmios de risco. Muito esticada, a curva tem aproveitado para voltar.
… Outros dois fatores colaboraram ontem para os juros futuros desarmarem ainda mais a pressão recente: a queda do volume do setor de serviços, que sugere atividade menos aquecida, e o déficit fiscal menor que o esperado.
… Em novembro, as contas do Governo Central vieram deficitárias em R$ 4,515 bi, melhor que a aposta de -R$ 6,5 bi dos economistas. O secretário Rogério Ceron (Tesouro) traçou expectativa mais positiva para o acumulado de 2024.
… Embora tenha reconhecido que houve algumas perdas de receitas no final do ano passado, declarou que, não fosse isso, o resultado primário em 2024 teria chance de ficar quase no centro da meta definida no arcabouço fiscal.
… Disse ainda que a relação despesa/PIB voltará a um dos menores patamares da década.
… Outra boa notícia foi que o Tesouro identificou um erro na contabilização de receitas que melhora o resultado primário em R$ 2 bi nos últimos dois anos. Em 2023, o déficit de R$ 230,5 bilhões caiu para R$ 228,5 bilhões.
… Já em 2024, o resultado até outubro passou de déficit de R$ 64,3 bilhões para R$ 62,3 bilhões.
… Com a respirada no DI, as taxas voltaram a rodar abaixo de 15%: Jan/26 a 14,815% (de 14,865% na véspera); Jan/27, a 14,995% (15,140%); Jan/29, 14,830% (15,060%); Jan/31, 14,720% (14,950%); e Jan/33, 14,580% (14,820%).
DEU SHOW – O Ibov se convidou para a festa de NY com a inflação comportada e esteve a um triz de tocar os 123 mil pontos na máxima do dia (122.987,84). Turbinado, saltou 2,81%, a 122.650,20 pontos, com só duas ações em queda.
… Foi o maior ganho porcentual em um ano e meio, ajudando a devolver o índice à vista ao positivo no acumulado do ano (+1,97%). O giro extraordinário de R$ 70,3 bi foi potencializado pelo vencimento de opções sobre o Ibov.
… Amanhã, tem game de novo na bolsa, com o exercício das opções sobre ações, concentrado nas blue chips.
… Bancos contribuíram para a deslanchada do Ibovespa. Em dia de atratividade da bolsa, costumam ser os primeiros a responder.
… Itaú puxou a valorização do setor, com +4,34% (R$ 32,22). Santander subiu 3,53% (R$ 24,95); Bradesco ON, +3,51% (R$ 10,92); Bradesco PN, +3,50% (R$ 11,83); e Banco do Brasil, +2,52% (R$ 25,27).
… Vale ganhou 1,45% (R$ 52,60), na esteira da alta do minério de ferro em Dalian (+0,71%).
… Petrobras ON (+1,31%, a R$ 41,66) fechou na máxima e PN subiu 1,28% (R$ 37,29), de olho na alta do Brent/março, de 2,64%, a US$ 82,03 por barril.
… Ficou em segundo plano apara o petróleo a confirmação do cessar-fogo na Faixa de Gaza a partir de domingo, já que o mercado tinha antecipado o acordo na véspera.
… A cotação do barril foi embalada pela queda do dólar, pelo recuo maior que o esperado nos estoques nos EUA e pela manutenção da previsão de aumento da demanda global pela Opep em 2025 (+1,45 milhão de bpd).
… Hapvida deu um salto de 10,45%, a R$ 2,43, apoiada também pela definição da ANS em relação às datas das audiências públicas sobre política de preços e reajustes dos planos de saúde.
… Vamos subiu 9,44% (R$ 4,87) e Yduqs teve alta de 8,37% (R$ 9,19). Apenas Marfrig (-1,76%; R$ 16,22) e Klabin (-0,51%; R$ 21,58) ficaram no vermelho.
… Depois do Itaú BBA, foi a vez de o Safra reduzir o preço-alvo para o Ibovespa no fim de 2025. O banco espera que o índice chegue a 141,5 mil, ante 165 mil previstos antes.
… Aumento do protecionismo sob o governo Trump 2, menos espaço para corte de juros nos EUA, incertezas fiscais domésticas, alta da Selic e desancoragem de expectativas de inflação justificaram a reavaliação do banco.
ALÍVIO – A desaceleração do núcleo do CPI pela primeira vez em seis meses recuperou a percepção de que o progresso da inflação americana em direção à meta foi retomado, desencadeando a onda global de apetite por risco.
… Para completar, a temporada de balanços começou bem em Wall Street. Os resultados trimestrais de Wells Fargo (+6,69%), Citigroup (+6,49%), Goldman Sachs (+6,02%) e JPMorgan (+1,97%) agradaram ao mercado.
… Embora a meta de inflação está esteja longe de ser atingida, os dados do CPI aliviaram as tensões depois de um payroll muito mais forte que o esperado, que levou parte do mercado a falar até na possibilidade de alta de juro.
… O mercado voltou a apostar mais fortemente em pelo menos mais um corte do juro no ano. Na ferramenta do CME, junho aparece como o mês mais provável (65,8%, de 57,3%) para a retomada da flexibilização pelo Fed.
… O núcleo do CPI – que exclui alimentos e energia – cedeu para 0,2% em dezembro, de 0,3% em novembro, em linha com o esperado. Na leitura anual, desacelerou de 3,3% para 3,2%. A expectativa era de manutenção em 3,3%.
… O CPI cheio acelerou de 0,3% em novembro para 0,4% em dezembro, puxado pelos preços da energia. No ano, subiu de 2,7% para 2,9%. Analistas esperavam alta de 0,3% e 2,9%, respectivamente.
… Os Fed boys gostaram do que viram. Austan Goolsbee, do Fed Chicago, disse que o CPI reflete um “quadro encorajador” no processo de desinflação.
… Seu colega de Richmond, Tom Barkin, disse que novos dados mostram progresso na inflação, mas que os juros devem seguir restritivos. John Williams (NY) vê a inflação diminuindo gradualmente em direção à meta de 2%.
… “Os números não mudaram a expectativa para uma pausa no corte de juros este mês, mas devem limitar as conversas sobre um aumento de taxas”, disse Ellen Zentner (Morgan Stanley WM) na BBG.
… O Wells Fargo reduziu a expectativa de três cortes de juros para dois em 2025. O banco reconheceu o alívio no núcleo do CPI, mas disse que o progresso tem sido vagaroso.
… Ainda assim, um senso de alívio tomou NY depois de meses de dados de inflação estagnada.
… O juro da note de 10 anos, que vinha muito pressionado, caiu 14pb, de 4,788% para 4,648%. O da note de 2 anos recuou a 4,264% (de 4,375%) e o do T-Bond de 30 anos cedeu a 4,871% (de 4,977%).
… As ações do setor de tecnologia aproveitaram a onda de otimismo e o alívio dos rendimentos dos Treasuries, fazendo o Nasdaq avançar 2,45%, aos 19.511,23 pontos.
… Tesla (+8,0%), Meta (+3,8%) e Nvidia (+3,3%) recuperaram terreno na sessão.
… O S&P 500 ganhou 1,83% (5.949,91 pontos) e o Dow Jones subiu 1,65% (43.221,55 pontos).
… O dólar cedeu ante alguns pares, com o índice DXY em queda de 0,17%, a 109,09 pontos.
… A libra esterlina subiu 0,29%, a US$ 1,2242, apesar de a inesperada desaceleração do CPI no Reino Unido na base anualizada em dezembro (2,5%) ter impulsionado as chances de cortes de juros pelo BC inglês (BoE).
… O euro ficou estável (-0,09%), em US$ 1,0298. O iene avançou 1,02%, a 156,363/US$, após comentários do presidente do BoJ, Kazuo Ueda, ampliarem expectativas por alta de juros no país.
… Ele disse que as taxas continuarão subindo a economia e os preços melhorarem.
EM TEMPO… CYRELA registrou alta de 146%, para R$ 6,737 bilhões, nos lançamentos do 4Tri24 sobre o 4Tri23. No ano, o valor geral de vendas (VGV) de lançamentos somou R$ 13,021 bilhões, 33% maior que em 2023.
PLANO&PLANO registrou R$ 1,3 bilhão em valor geral de venda (VGV) lançado no 4Tri24, queda de 9,2% sobre o mesmo período de 2023. No ano, os lançamentos somaram R$ 3,7 bilhões, crescimento de 26,2%.
CURY atingiu R$ 1,06 bilhão em valor geral de venda (VGV) nos seus lançamentos do 4tri24, alta de 23,9% sobre o 4tri23. As vendas líquidas somaram R$ 1,2 bilhão, alta de 38,5% no mesmo intervalo.
EVEN registrou vendas líquidas de R$ 369 mi no 4tri24, queda de 29,4% ante igual período/23. Velocidade de vendas sobre oferta (VSO) consolidada foi de 12% e as vendas de estoques somaram R$ 212 mi.
AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!
*com a colaboração da equipe do BDM Online
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