Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[11/10/2023]

… Definitivamente, o Fed decidiu intervir para acabar com o estresse da curva longa nos EUA, e está conseguindo. A mensagem de Phillip Jefferson, o vice de Powell, no início da semana, não foi um comentário isolado ou de cunho pessoal. O discurso orquestrado pelos dirigentes do BC americano é uníssono. Mesmo aqueles que destacam a inflação “ainda muito alta” repetem a mesma coisa: os yields dos Treasuries em níveis elevados podem funcionar como um aperto adicional, dispensando um novo aumento de juros. Hoje, a ata do último Fomc (15h) pode trazer mais pistas. Também o PPI (9h30) é importante, antes do CPI amanhã, feriado no Brasil. Aqui, o IPCA (9h) pode reforçar a aposta de que há espaço para seguir com a queda da Selic no ritmo planejado, com o cenário externo um pouco mais otimista.

… Apesar de uma nova guerra, o alívio dos mercados globais é grande e contagia os ativos domésticos. A forte queda dos juros dos títulos do Tesouro americano foi acompanhada de perto pelas taxas do DI, enquanto o dólar derretia em sintonia com o exterior.

… A notícia de que a China prepara um novo pacote de estímulos para garantir a meta de 5% de crescimento foi a cereja do bolo.

… O investidor deixou de lado a guerra entre Israel e o Hamas, por entender que o efeito ficará limitado à região da Faixa de Gaza sem a participação do Irã, que era o maior receio. Até o petróleo devolveu uma pequena parte dos ganhos com o susto inicial.

… Em coletiva de imprensa, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, moderou a fala sobre o Irã, afirmando que “não vimos evidência de que o país tenha apoiado ou esteja por trás dos ataques terroristas contra Israel”.

… Foi bem recebido também o compromisso da Arábia Saudita de tentar evitar uma escalada da guerra no Oriente Médio, assim como a conversa do ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, com seu colega do Irã defendendo o rápido fim do conflito.

… A busca por risco, que resgatou os 116 mil do Ibovespa, foi impulsionada por novas indicações dos Fed boys sobre o fim do aperto.

… Raphael Bostic/Atlanta foi o primeiro a falar, nesta 3ªF, e apesar de não ter direito a voto nas reuniões deste ano, é bastante influente. Segundo ele, os juros já estão em níveis “suficientemente restritivos” para garantir o retorno da inflação à meta de 2% nos EUA.

… Na sequência, Neel Kashkari/Minneapolis (vota) admitiu que a alta dos juros dos Treasuries pode deixar “menos trabalho para o Fed”.

… Na mesma direção, Mary Daly/São Francisco (vota) disse no fim do dia que, “se os rendimentos dos títulos americanos estiverem apertados, isso poderá ser equivalente a outro aumento de juros e, talvez, o Fed não precise fazer tanto”.

… Na altura do fechamento das bolsas em NY, o yield da Note-2 anos se mantinha abaixo dos 5% e da Note-10 anos, abaixo de 4,65%. Na semana passada, o rendimento de 10 anos, referência internacional, assustou meio mundo, rompendo 4,80%.

… As projeções de juro estável no Fomc do dia 1º de novembro estão em 85% no CME Group e de dezembro, em 71%.

… Aqui, o mercado de juros interrompeu apostas iniciais de que o Copom poderia reduzir o corte da Selic para 0,25pp, dado o estresse do cenário externo e a desvalorização do câmbio, para retomar as expectativas majoritárias em queda de 0,50pp (leia abaixo).

IPCA – O mercado prevê aceleração do índice de setembro para 0,32% (mediana do Broadcast), ante 0,23% em agosto. As estimativas vão de 0,24% a 0,38%. Para a inflação acumulada em 12 meses, a mediana indica avanço a 5,25%, de 4,61% em agosto.

… O recuo mais moderado dos alimentos e a alta da gasolina são os principais fatores que devem levar ao resultado mais pressionado. Em contrapartida, a esperada queda dos itens de higiene pessoal deve contribuir para o recuo de saúde e cuidados pessoais.

… A média dos cinco núcleos de inflação acompanhados pelo BC deve arrefecer a 0,26% (mediana), após alta de 0,28% em agosto.

… Preços administrados (1,26% para 1,2%) e bens industriais (0,32% para -0,07%) devem desacelerar. Já preços livres (-0,12% para 0,02%), alimentação no domicílio (-1,26% para -0,93%), serviços (0,08% para 0,50%) e serviços subjacentes (0,14% para 0,35%) devem subir.

MAIS AGENDA – O BC informa às 14h30 os dados semanais do fluxo cambial. Haddad e Campos Neto têm compromissos fechados, às margens das Reuniões Anuais do FMI e do Banco Mundial, em Marrakesh (Marrocos).

… Diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, faz videoconferência com a EQI Asset (10h) e encontra-se com representantes do Itaú Unibanco (11h), na sede do BC em São Paulo. Às 17h, faz videoconferência com o presidente da Anbima, Carlos André.

LÁ FORA – Dentro da nova linha dovish, fica a expectativa para os comentários dos Fed boys hoje em eventos públicos: Michelle Bowman (5h15), Christopher Waller (11h15), Raphael Bostic (13h15) e Susan Collins (17h30).

… A inflação ao consumidor (CPI) de setembro é destaque na Alemanha (3h) e na China, hoje à noite (22h30). A repercussão dos números chineses e da inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos, amanhã (5ªF) só será possível na volta do feriado.

NÃO QUER GUERRA COM NINGUÉM – Aqui e lá fora, os mercados voltaram a descontar o risco Israel/Hamas, contagiados pelas expectativas de última hora de que o ciclo de aperto monetário do Fed já pode ter terminado.

… Na volta do feriado do Columbus Day, as taxas dos Treasuries afundaram, no risk-on que ajudou a sustentar a terceira alta consecutiva no Ibovespa, que devolveu o dólar para a marca de R$ 5,05 e “fechou” a curva do DI.

… No pano de fundo do otimismo doméstico, também ajudou a notícia de que a China prepara o pacote de estímulos à economia para garantir o crescimento de 5% este ano. O Ibovespa voltou para o azul neste mês.

… O índice à vista acumula agora leve alta de 0,15%, depois de ter subido mais 1,37% ontem, aos 116.736,95 pontos, com volume financeiro de R$ 20 bilhões. Apenas sete papéis fecharam no vermelho nesta 3ªF.

… Na ponta positiva, Vale (ON, +0,60%, a R$ 66,78) ignorou a queda de 1,74% do minério de ferro, que fechou antes da informação sobre o pacote bilionário para o setor de infraestrutura que será lançado por Pequim.

… Ainda entre as blue chips das commodities, Petrobras se segurou em alta (ON, +1,03%, a R$ 38,25; e PN, +0,74%, a R$ 35,21), apesar de o petróleo ter corrigido uma pequena parte do salto de 4% do pregão anterior.

… O barril do Brent para dezembro caiu 0,56%, a US$ 87,65, e o WTI para novembro recuou 0,47%, a US$ 85,97, com o mercado aliviado pela percepção de que o Irã não pretende se envolver no conflito do Oriente Médio.

… É cedo para saber a extensão da guerra, mas não há perigo imediato de desabastecimento global de petróleo.

… Entre as ações do setor financeiro negociadas no Ibovespa, o sinal foi misto. Santander continuou subindo (+1,20%), Bradesco PN ganhou 1,12% (R$ 14,50) e Bradesco ON registrou elevação de 0,79% (R$ 12,74).

… Já os papéis do BB (ON, -0,16%, a R$ 48,51) e do Itaú (-0,11%, a R$ 27,63) caíram de leve no pregão de ontem.

… Na sessão marcada pelo apetite ao risco, ações ligadas ao turismo despontaram entre as maiores altas do dia no Ibovespa, beneficiadas pelo forte recuo do dólar. Na liderança com folga, CVC avançou 16,48%, a R$ 3,11.

… Entre as companhias aéreas Azul PN registrou +7,41% (R$ 13,33) e Gol PN, +7,26% (R$ 6,80).

… Já a pior queda foi de Alpargatas (-4,34%), refletindo a redução do preço-alvo pelo Citi, de R$ 10 para R$ 8,70.

PONTO DE VIRADA – Agora que os falcões do Fed viraram pombos, o mercado começa a recuperar as apostas de corte de 0,5pp da Selic e já diminuiu à metade na curva a termo (15%) a chance de vir menos (0,25pp).

… De acordo com cálculos do Bmg ao Broadcast, as taxas voltaram a projetar a taxa básica de juro em 11,75% no ano e indicam Selic terminal de 10,00%, previsão menos conservadora da que rodava semana passada (10,50%).

… Já a chance de redução mais intensa (0,75pp), que havia sido tirada de cena, ainda não reapareceu no cenário.

… O Copom tem tudo mesmo para ficar com o meio ponto. Durante apresentação, ontem, em fórum sobre emergentes, em Marrakesh, Campos Neto afirmou que o “segundo estágio de desinflação é mais difícil”.

… “Nós temos mercado de trabalho resiliente, crescimento e núcleo de inflação resistente”, avaliou. Alertou ainda que, sem um fiscal endereçado, o mercado pode sofrer antes de a batalha contra a inflação ser vencida.

… Até Galípolo, com vocação dovish, têm sinalizado a dose de corte de 0,5pp como mais apropriada.

… Pegos de surpresa pelo esforço coordenado do Fed nas últimas 48h para sinalizar o fim do ciclo de aperto monetário, a curva do DI e o dólar seguiram à risca por aqui o alívio exibido pelos retornos dos Treasuries.

… O juro para jan/25 caiu a 10,760% (de 10,833%); o jan/26, a 10,560% (de 10,661%); jan/27, a 10,770% (de 10,898%); jan/29, a 11,250% (de 11,384%); e jan/31, 11,560% (de 11,665%). Só o jan/24 ficou estável (12,214%).

… No câmbio, nos dois últimos pregões, o dólar já caiu 2,05% e está perto de zerar toda a pressão da semana passada (+2,69%). Ontem, fechou em baixa de 1,44%, a R$ 5,0562, encostado da mínima do dia (R$ 5,0552).

… A notícia sobre o pacote de estímulos da China ajudou a elevar o ânimo e reduzir as posições defensivas.

… O mercado não reagiu à frustração com o andamento da reforma tributária. O relator no Senado, Eduardo Braga, adiou novamente a apresentação de seu parecer, prevista agora para o dia 24 (de 18 anteriormente).

… Com isso, a votação em plenário, antes prevista para este mês (dia 25), só deve ocorrer em novembro (dia 7).

… No câmbio futuro, o contrato da moeda americana para novembro caiu 1,43%, negociado a R$ 5,0770.

CONTRA-ATAQUE DOVISH – A estratégia do Fed de “virar a casaca”, dentro do compromisso evidente de colocar um fim à escalada dos juros dos Treasuries, teve sucesso ontem, com reprecificação dos ativos em NY.

… Além de ter recuperado o controle sobre a curva dos títulos do Tesouro americano, que andou testando a tolerância do razoável, o Fed derrubou o índice DXY abaixo da linha dos 106 pontos e ampliou a alta das bolsas.

… Com todo o foco dos investidores no novo modus operandi do BC dos EUA, a crise em Israel ficou ainda mais em segundo plano. Abaixo de 5%, a taxa da Note-2 anos fechou a 4,965%, contra 5,079% na 6ªF do payroll.

… O yield da Note-10 anos recuou para 4,654%, de 4,788%, e o do T-Bond caiu para 4,833%, contra 4,959%.

… O recado do Fed, de que não deixará as taxas dos Treasuries tocarem o terror e circularem nas máximas em quase duas décadas, acionou apostas contra o dólar, que até um dia antes vinha fortalecido pelo viés hawkish.

… Termômetro do fôlego da moeda americana contra outras seis divisas fortes, o índice DXY registrou queda de 0,24%, a 105,825 pontos. O euro (+0,38%, a US$ 1,0608) e a libra esterlina (+0,40%; US$ 1,2287) se deram bem.

… Dois dirigentes do BCE falaram ontem. Conhecido pela postura dovish, Robert Holzmann disse que o ciclo de aperto pode terminar “se tudo correr bem”, mas não descartou uma ou mais duas altas se surgirem choques.

… Já François Villeroy de Galhau afirmou estar particularmente cauteloso com a evolução do petróleo, mas acrescentou que a commodity representa só uma pequena parcela da inflação, que está “claramente” caindo.

… A mudança de rota do Fed deu impulso ao Dow Jones (+0,40%, a 33.739,30 pontos), S&P 500 (+0,52%, a 4.358,24 pontos) e Nasdaq (+0,58%; 13.562,84 pontos), com destaque para a Pepsi (+1,88%), em dia de balanço.

EM TEMPO… SAFRA concluiu compra do banco Alfa, quase um ano após anunciar acordo, em operação de R$ 1 bi.

SANTANDER aprovou a distribuição de R$ 380 milhões em dividendos, o equivalente a R$ 0,0486 por ação ON, R$ 0,0535 por ação PN e R$ 0,1021 por unit…

…Também serão distribuídos R$ 952 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1219 por ação ON, R$ 0,1340 por ação PN e R$ 0,2560 por unit; pagamento será feito a partir de 10/11; ex em 20/10.

BB se credenciou para operar folha de pagamento da Aeronáutica e pagará R$ 53,46 por beneficiário. O contrato não tem exclusividade e vale por cinco anos.

AZUL. Tráfego de passageiros consolidado (RPK) cresceu 18,7% em setembro ante o mesmo mês de 2022; capacidade total (ASKs) apresentou alta de 15% na mesma base de comparação…

… Taxa de ocupação total subiu 2,6pp em um ano, para 81,7% no mês passado.

CCR. Tráfego de veículos em rodovias administradas cresceu 5,0% em setembro s/ set/22…

… Movimento de passageiros em trens, ônibus e barcas subiu 6,9% na mesma comparação; número de passageiros embarcados em aeroportos sob concessão cresceu 10,8% em setembro s/ set/22.

TELEFÔNICA aprovou distribuição de R$ 150 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,09 por ação, com pagamento até 30/4/24; ex em 24/10.

DIRECIONAL. Lançamentos somaram R$ 966,7 milhões no 3TRI, alta anual de 30,3%, segundo prévia operacional.

CURY. Lançamentos no 3TRI somaram R$ 805,6 milhões em valor geral de vendas (VGV), queda de 8,1% na comparação anual, segundo prévia operacional.

ALLOS, ex-Aliansce Sonae, aprovou a criação de programa de recompra de até 26,7 milhões de ações.

AMERICANAS SA, em recuperação judicial, informou ter feito uma nova reunião com bancos e manteve a capitalização de R$ 12 bilhões da dívida da empresa….

… Vai emitir uma nova dívida de R$ 1,875 bilhão para refinanciar parte das dívidas concursais existentes.

RAIA DROGASIL. JPMorgan reduziu participação de 5,117% para 4,99% das ações.

CAMIL teve lucro líquido de R$ 46,9 milhões no 2TRI fiscal, queda de 50,1%; receita líquida subiu 8%, para R$ 2,913 bi; Ebitda aumentou 1,9% na comparação anual, para R$ 212,4 milhões.

NEOENERGIA. Energia total injetada pela companhia no 3TRI atingiu 19,984 GWh, alta de 4,7% em relação ao mesmo período de 2022, segundo prévia operacional.

CEEE-G publicou edital de OPA para cancelamento e conversão de registro; leilão será dia 22 de novembro.

SANEPAR informou que a assembleia das microrregiões Centro-Litoral (MRAE-1), Centro-Leste (MRAE-2) e Oeste (MRAE-3) do Paraná aprovou a proposta de extensão e uniformização dos prazos contratuais até 5 de junho de 2048.

B3. Mercado de ações movimentou média de R$ 23,321 bi por dia em setembro, queda de 20,9% s/ set/22 e recuo de 8,3% s/ agosto.

EXXON deve anunciar hoje a compra da rival de xisto Pioneer por US$ 60 bilhões em ações. (fontes da Reuters)

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*com a colaboração da equipe do BDM Online

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