Morning Call

IPCA e payroll ocupam a semana

Atualizado 05/01/2025 às 23:41:31

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[06/01/25]

… A perspectiva de menos cortes de juros nos EUA este ano, com Trump de volta ao poder, será testada esta semana pelo payroll de dezembro (6ªF) e a ata do Fed (4ªF). Em respeito ao dia nacional de luto pela morte de Jimmy Carter, as bolsas em NY não abrirão na 5ªF e os Treasuries terão pregão mais curto. Por aqui, com as apostas de Selic a 15% correndo soltas, diante da inflação desancorada, atividade e emprego aquecidos e fiscal fragilizado, o investidor confere esta semana o IPCA de dezembro (6ªF), além dos resultados de novembro da produção industrial (4ªF) e vendas no varejo (5ªF). Após semanas afastado por recomendação médica, Lula volta a despachar do Planalto hoje, onde se reúne com Haddad (10h) e enfrenta a pressão pela reforma ministerial e o impasse envolvendo as emendas.

… O momento de desgaste político continua sendo embutido pelos ativos domésticos, na crise que ameaça colocar a relação entre o governo e o Congresso em situação de pé de guerra, com alto custo para a governabilidade este ano.

… O estresse estendido nos negócios responde ainda à turbulência fiscal. No Estadão de sábado, o governo Lula assinou portaria definindo valores do Fundeb/25 sem incorporar as mudanças feitas pelo pacote de corte de gastos.

… Na prática, isso pode comprometer a economia anunciada com a medida. O Ministério da Educação afirmou que não houve “tempo hábil” para realizar as alterações, mas que as mudanças serão feitas, embora sem prazo definido.

… Pesquisador do Ipea, o economista Camillo Bassi disse ao jornal que o Fundeb, estruturado à revelia do pacote fiscal, é o maior “equívoco contábil” das medidas propostas pelo governo federal para enxugar as despesas.

… “Vai ser preciso um ajuste de contas. Se forem mantidos os valores estabelecidos na portaria, a PEC [de corte de gastos] é uma mentira e o valor que o governo federal divulgou de espaço fiscal foi um engodo”, classificou ele. 

… Na última 6ªF, reportagem da Folha havia apontado que o governo recorreu a manobras para ampliar gastos.

… Na reta final de 2024, liberou recursos fora das regras fiscais e adiou repasses e transferências de recursos fora do Orçamento para financiar políticas públicas, segundo a matéria. O Executivo defende a legalidade das medidas.

… Mas técnicos do próprio governo ouvidos pela jornalista Idiana Tomazelli avaliam que, no conjunto, as iniciativas podem gerar ruído adicional, neste momento em que a credibilidade da política fiscal já está em xeque.

… Em dezembro, o governo editou MP para liberar R$ 6,5 bilhões de forma imediata à reconstrução no RS.

…  As obras só serão executadas nos próximos anos, mas o governo federal quis garantir o repasse ainda sob a vigência do estado de calamidade pública, que autoriza a exclusão desses gastos das regras fiscais.

… Em outra manobra para ampliar despesas ou evitar a necessidade de conter gastos na reta final do ano, adiou repasses de incentivo à cultura previstos na Lei Aldir Blanc, evitando um bloqueio maior no Orçamento de 2024.

… Sob o efeito combinado dos riscos fiscais, Selic elevada e impacto no Brasil do protecionismo econômico de Trump, profissionais ouvidos pelo Broadcast acreditam que o investidor estrangeiro deve se manter afastado da B3.

… Em 2024, os gringos sacaram R$ 32,1 bilhões da bolsa brasileira, maior fuga de capital desde 2020, primeiro ano da pandemia da covid, quando houve saída líquida de R$ 40,1 bilhões em k externo das ações listadas na B3.

… Na última 6ªF, o Ibov perdeu os 119 mil pontos e revisitou os piores níveis em mais de dois anos, desde nov/23.

… Não repercutiu bem no humor dos players (leia mais abaixo) a decisão do HSBC de rebaixar a recomendação das ações brasileiras de neutra para underweight (desempenho abaixo da média, equivalente a venda).

… Em relatório enviado a clientes, o banco apontou que a “decepção dos investidores com o pacote de corte de gastos do governo criou um ciclo vicioso de taxas de juros mais altas, real mais fraco e inflação mais elevada”.

MAIS AGENDA – Bate sempre um nervosismo em dia de Focus (hoje, às 8h25), que tem apontado piora sistemática nas medianas de inflação, Selic e câmbio. Na última 6ªF, o C6 Bank foi mais um a revisar o seu cenário para pior.

… A equipe econômica do banco acredita que a taxa básica de juro subirá até o pico de 15% em junho. Mesmo considerando este acréscimo de 2,75pp sobre a Selic atual, o C6 elevou a previsão para o IPCA/25 de 5,3% para 5,7%.

… A explicação é a perspectiva de dólar forte no ano (a aposta subiu de R$ 6,00 a R$ 6,30) – diante da tendência de aumento da dívida pública brasileira – e previsão de emprego aquecido e piora das expectativas de inflação.

… Além do IPCA de dezembro (6ªF), a semana reserva os dados fechados de dezembro do IGI-DI e IPC-Fipe, amanhã.

… Do lado da atividade econômica, saem a produção industrial (4ªF) e as vendas no varejo em novembro (5ªF).

… Hoje, às 15h, é dia de balança comercial. A mediana das estimativas do mercado indica superávit de US$ 3,4 bilhões em dezembro, o triplo de um ano antes. Em 2024, o saldo deve fechar positivo em US$ 73,550 bilhões.

LÁ FORA – No “esquenta” para o payroll de 6ªF, tem a pesquisa ADP de empregos no setor privado na 4ªF. Hoje, saem a leitura final de dezembro do PMI/S&P Global composto (11h45) e encomendas à indústria em nov (12h).

… Diretora do Fed, Lisa Cook participa de evento às 11h15. Neste domingo, duas integrantes do Fed disseram que a luta contra a inflação ainda não foi vencida. “Ninguém está abrindo champanhe”, afirmou Adriana Kugler.

… Mary Daly afirmou ver os preços americanos ainda “desconfortavelmente” acima da meta de 2%.

… O PMI/S&P Global composto sai hoje na Alemanha (5h55), zona do euro (6h) e Reino Unido (6h30).

CHINA HOJE – O PMI de serviços medido pelo setor privado (S&P Global em parceria com Caixin) avançou para 52,2 em dezembro, contra 51,5 em novembro, acima do previsto pelos analistas de mercado 51,7.

… Já o PMI composto chinês, que engloba serviços e indústria, recuou de 52,3 em novembro para 51,4 em dezembro. Leituras acima de 50 indicam expansão da atividade econômica.

… Na noite de 4ªF, saem a inflação ao consumidor (CPI) e produtor (PPI) chinês de dezembro.

JAPÃO HOJE – O PMI/S&P Global de serviços subiu de 50,5 em novembro para 50,9 em dezembro.

POÇO SEM FUNDO – O clichê da tempestade perfeita tem se aplicado bem ao Ibov. O cenário conta com falta de confiança na política fiscal, inflação e juros sob pressão da ameaça de Trump 2 mais protecionista e China em apuros.

… Em meio ao pessimismo, como se viu, o HSBC rebaixou na 6ªF a bolsa de neutra para underweight. Poucos meses antes, em novembro do ano passado, o Morgan Stanley e o JPMorgan já haviam feito o mesmo movimento.

… O HSBC descreveu a bolsa brasileira como uma “armadilha clássica de valor”: as ações estão baratas com um preço sobre lucro projetado para 12 meses em 6,6 vezes, mas não valem o investimento.

…É “improvável”, diz o banco, que haja uma reavaliação até uma queda da Selic, o que pode não ocorrer antes do segundo semestre de 2025.

… Sob pressão de Vale e Petrobras, que juntas carregam 25% do Ibovespa, bancos e outros setores, o Ibovespa desceu aos 118.532 pontos (-1,33%) na 6ªF, no menor nível desde 6 de novembro de 2023.

… Análise do Itaú BBA destacou que a perda do suporte dos 118.600 pontos no Ibovespa abriu “mais uma janela de baixa” e que o próximo suporte importante está em 111.500 pontos.

… Além das blue chips, faltou ajuda de praticamente todos os setores no pregão de 6ªF. Das 83 ações do índice, 73 fecharam em baixa. Nos três pregões da semana encurtada pelo Ano Novo, a perda acumulada foi de 1,44%.

… Acompanhando a forte queda de 2,18% no minério de ferro em Dalian, Vale recuou 1,86% (R$ 53,24). Petrobras operou na contramão do petróleo e devolveu os ganhos da véspera: ON, -0,35% (R$ 40,38; e PN, -1,06% (R$ 36,38).

… A cotação do barril do Brent subiu em meio a vários sinais de estímulo na China. O PBoC, BC local, reiterou a promessa de cortar juros e compulsórios bancários em 2025.

… Por meio de uma operação de swap, a autoridade monetária concluiu na 5ªF a injeção 55 bilhões de yuans (US$ 7,5 bi) para 20 instituições financeiras, entre elas seguradoras, fundos e corretoras.

… O governo chinês ainda disse que vai expandir o programa de subsídios ao consumidor para incluir smartphones, tablets e smartwatches, que será financiado com o aumento na emissão de títulos ultralongos.

… Ainda no Ibov, os bancos caíram em bloco. Itaú registrou -2,45% (R$ 29,82), na mínima; Bradesco PN, -1,58% (R$ 11,20); Bradesco ON, -1,43% (R$ 10,32); Santander, -1,39% (R$ 23,42); e Banco do Brasil, -0,75% (R$ 23,74).

… Ainda no campo negativo, vieram Usiminas (-6,01%; R$ 4,85), IRB (-5,55%; R$ 42,05) e Yduqs (-5,08%; R$ 8,04).

… Em recuperação das perdas do pregão anterior, Eneva avançou 5,45%, a R$ 10,07, e liderou o ranking positivo. Foi acompanhada por São Martinho, com +5,17%, a R$ 24,20, e Azul, com +3,02%, a R$ 3,75.

PARA A SURPRESA DE NINGUÉM – O dia de fuga do risco na bolsa e queda do minério (-2,18%) pressionaram o dólar, que chegou a bater nos R$ 6,20, e fechou um pouco abaixo, em R$ 6,1821 (+0,32%), na contramão do exterior.

… Na semana, a moeda ficou de lado, com queda marginal de 0,18%. Na prática, o dólar está praticamente no mesmo nível de antes do recesso de Natal, contra uma expectativa geral de valorização ao longo de 2025.

… Sem noticiário e indicadores, a curva do DI fugiu à regra dos ativos domésticos. Continuou a queimar os excessos do fim de 2024, embora o movimento tenha sido limitado pelo cenário fiscal e a alta das taxas dos Treasuries.

… Na comparação com a 6ªF anterior, as taxas curtas e as intermediárias cederam perto de 40 pontos-base; as longas, 30 pontos. 

… O DI para janeiro de 2026 caiu a 15,060%, na mínima do dia (de 15,145% na sessão anterior); Jan/27, a 15,500% (15,610%); Jan/29, a 15,320% (15,385%); Jan/31, a 15,030% (15,060%); e Jan/33, 14,780% (14,810%).

SALDÃO DE NATAL – Investidores foram às compras, aproveitando as cinco quedas consecutivas das bolsas em NY, movimento que frustrou o tradicional rali de Natal em Wall Street.

… Os índices atingiram as máximas da sessão na parte da tarde, quando já estava encaminhada a reeleição do republicano Mike Johson para presidente da Câmara dos EUA.

… Aliado de Donald Trump, ele deve unir a Câmara em torno da agenda do presidente eleito, que inclui, além de cortes nos impostos corporativos, desregulamentação e tarifas, ao gosto dos investidores de ações.

… Por outro lado, a mesma agenda deve pressionar a inflação, o que afeta os Treasuries.

… Impulsionado por papéis como Super Micro Computer (+10,9%), Tesla (+8,22%) e Nvidia (+4,73%), o Nasdaq liderou as altas, com +1,77%, aos 19.621,68 pontos.

… Microsoft subiu 1,1% depois de anunciar investimento de US$ 80 bilhões em data centers de IA.

… O Dow Jones subiu 0,80%, aos 42.732,13 pontos, e o S&P500 ganhou 1,26% (5.942,47).

… O forte desempenho da 6ªF não impediu um recuo na semana. No período, os índices acumularam perdas de, respectivamente, 0,51%, 0,61% e 0,48%, respectivamente.

… US Steel recuou 6,5% depois que o presidente Joe Biden proibiu a venda da histórica siderúrgica americana para a Nippon Steel, um negócio de US$ 14,1 bilhões.

… Nos Treasuries, os juros subiram após o PMI industrial dos EUA medido pelo ISM ficar acima do esperado e de o presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin, dizer que prefere manter o juro restritivo por mais tempo.

… Segundo o ISM, a atividade industrial americana subiu para 49,3 em dezembro, ante expectativa de manutenção em 48,4, a leitura de novembro. O dado ainda está abaixo do limite que indica expansão, 50, mas melhorou.

… Enquanto isso, o retorno da note de 2 anos subiu a 4,277%, de 4,253% na sessão anterior, e o da note de 10 anos avançou a 4,598% (de 4,563%). O do T-Bond de 30 anos cresceu a 4,817% (de 4,788%)

… Depois do tombo da véspera, libra e euro tiveram um dia de recuperação na 6ªF. Assim, o índice dólar (DXY) fechou em baixa de 0,40%, aos 108,952 pontos, mas acumulou alta de quase 1% na semana.

… O euro subiu 0,38%, a US$ 1,0305, e a libra avançou 0,37%, a US$ 1,2428. O iene perdeu 0,10%, a 157,305/US$.

EM TEMPO… Capital Research Global Investors (CRGI) elevou fatia na JBS, passando de 110.584.046 ações ON, correspondentes a 4,99% do total de ações emitidas, para 111.572.477 ações, que representam 5,03% do total.

GOL registrou prejuízo líquido de R$ 176 milhões em novembro, com receita de R$ 1,74 bilhão, segundo prévia; Ebitda somou R$ 448 milhões e margem Ebitda foi de 26%; Ebit ficou em R$ 278 milhões, com margem Ebit de 16%…

… Dívida líquida chegou a R$ 31,02 bilhões, ao passo que as contas a receber ficaram em R$ 3,67 bilhões e o caixa total foi de R$ 2,02 bilhões em novembro.

AZUL confirmou ter firmado acordo com Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e Secretaria Especial da Receita Federal com objetivo reestruturar seu passivo fiscal.

PRIO. Goldman Sachs atingiu participação acionária de 4,95%, o equivalente a 44,1 milhões de papéis ON.

BRMALLS vai emitir até R$ 625 milhões em debêntures. Oferta inicial será de R$ 500 milhões, mas montante poderá ser elevado em 25%, a depender da demanda.

JHSF vendeu fatia restante de 18% no shopping Ponta Negra, de Manaus (AM), por R$ 82 milhões.

ENEVA informou ao mercado na noite deste domingo que seu conselho de administração aprovou um programa de recompra de suas ações. Serão adquiridas no máximo 50 milhões de ações ordinárias…

… O volume é equivalente a 2,587% das ações totais emitidas pela companhia e 2,593% do total em circulação…

… Ainda no noticiário sobre a empresa, foi retomada a operação de gás natural após troca de tubulação do Hub Sergipe, na região metropolitana de Aracaju. Falha na tubulação foi identificada em outubro de 2024.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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