Morning Call
IPCA pode indicar tamanho do corte da Selic em agosto
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[11/7/2023]
Sem agenda importante hoje em NY, o investidor aciona a contagem regressiva para a inflação ao consumidor de junho, amanhã. O CPI não é o dado de preços olhado mais de perto pelo Fed, que prefere o PCE. Ainda assim, o indicador tem potencial para mexer com as apostas para o juro, sinalizando para um ou mais dois aumentos este ano, na equação importante para o fluxo aos mercados emergentes. Aqui, a deflação esperada hoje para o IPCA de junho (9h) pode calibrar a dosagem do Copom para agosto. Que vem corte da Selic no mês que vem, ninguém tem a menor dúvida. Mas a briga é boa, com metade do mercado esperando que o ciclo de desaperto monetário comece com 0,25 ponto porcentual e a outra metade já precificando meio ponto logo de largada.
… Quem sabe o IPCA possa ajudar a desempatar este quadro. O índice oficial de inflação deve registrar a primeira deflação em dez meses, de 0,10% em junho (na mediana do Broadcast), contra alta de 0,23% em maio.
… Todas as estimativas indicam queda para o indicador, de 0,19% a 0,01%. No acumulado em 12 meses, o IPCA deve desacelerar de 3,94% em maio para 3,14%, ampliando as chances de inflação dentro da meta este ano.
… Desde que a Petrobras baixou a gasolina, na metade de junho, o mercado já passou a precificar IPCA perto de zero ou negativo no mês. Depois, ainda veio o alívio do anúncio do programa de incentivo às montadoras.
… A inflação também deve perder ritmo com os alimentos mais baratos no atacado, segundo economistas.
… Para julho, novo alívio no IPCA já está contratado, porque a Petrobras voltou a cortar o preço da gasolina no último dia 30, pela quinta vez este ano, e pelos cálculos do mercado, o reajuste pode tirar 0,13 pp da inflação.
… Os preços comportados ajudam a projetar Selic de um dígito no ano que vem, ao fim do ciclo de ajuste, e compõem um ambiente de negócios mais positivo, ainda que o Fed ameace o fluxo para os emergentes.
… Em Brasília, depois da vitória histórica da reforma tributária na Câmara, começam as articulações para a tramitação no Senado. Governistas cogitam fatiar o texto para acelerar a tramitação, segundo apurou o Valor.
… Aliados de Lula planejam dividir a proposta em duas partes. A definição estratégica se dará hoje (11h) em reunião de Pacheco com Haddad, que assumiu o papel de articulador político e negocia os pontos sensíveis.
… Os Estados prometem acirrar a discussão sobre a governança do Conselho Federativo, que administrará o imposto unificado IBS. A Câmara fixou regras que atendem aos interesses de SP. O Nordeste promete ofensiva.
… Também há expectativa de inclusão de critérios de repartição do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR). “O que for controverso volta à Câmara e o consensual promulga”, afirmou Randolfe Rodrigues.
… Em entrevista a Natuza Nery, Haddad disse que o governo não vai esperar a conclusão da tramitação da reforma tributária no Senado para enviar a segunda fase da mudança, que vai tratar dos tributos sobre a renda.
… Na mira do governo para zerar o déficit das contas públicas em 2024, estão a volta da tributação de lucros e dividendos recebidos por pessoas físicas que são acionistas de empresas e o corte de renúncias fiscais no IR.
… A equipe econômica precisa colocar dinheiro no cofre do Tesouro e, ontem, Haddad cobrou o BC. “Dependo da atividade [econômica] para arrecadar”, disse. “O BC precisará harmonizar a política monetária ao fiscal.”
… O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), é o favorito para assumir a relatoria da reforma tributária na Casa. Segundo fontes do Broadcast, ele participará de reunião hoje entre Pacheco e Haddad.
… Ainda segundo as apurações de bastidores, Pacheco decidiu deixar o projeto do Carf para depois do recesso.
… Já a votação no Senado do projeto de decreto que regulamenta a volta da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), na mira do Centrão, deve ser adiada para amanhã, para dar tempo de o governo costurar acordo.
… Além da Funasa, aliados políticos de Lira querem comandar os ministérios do Esporte, do Desenvolvimento Social (MDS) e a CEF, onde a nomeação do ex-presidente da Caixa Gilberto Occhi (PP) é “quase certa”.
… A disposição de Lula em contemplar o grupo de Lira em espaços estratégicos do governo foi crucial para o andamento rápido da reforma tributária na Câmara e para destravar a votação do PL do Carf na Casa.
MAIS AGENDA – Antes do IPCA, saem as primeiras prévias de julho do IPC-Fipe (5h) e IGP-M (8h). O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, palestra em fórum de economia em Anápolis (GO), às 16h35.
… O BC inicia hoje a rolagem de swap de setembro, quando estão previstos para vencer US$ 15,4 bilhões. A intenção é rolar o lote integral. Nesta 3ªF, às 11h30, serão ofertados até 16 mil contratos (US$ 800 milhões).
LÁ FORA – O presidente do Fed de NY, John Williams, participa de evento ao meio-dia. Na Alemanha, saem a leitura final de junho da inflação ao consumidor (CPI), às 3h, e a pesquisa Zew de expectativas econômicas (6h).
BEM NA FITA – O Ibovespa desperdiçou a chance de acompanhar ontem a alta das bolsas em NY e entregou os 118 mil pontos. Mas a bolsa brasileira ainda é alvo de projeções otimistas, diante da Selic que está para cair.
… Em relatório, o BofA destacou que a América Latina está em “posição privilegiada” em comparação ao restante dos emergentes e citou particularmente o Brasil e Chile, destacando a queda rápida da inflação.
… O corte do juro contratado pelo Copom para agosto se mantém como driver importante para as ações.
… O BofA, no entanto, não esconde a preocupação com o ritmo menor do fluxo estrangeiro para a B3. Este mês de julho tem sido marcado por retiradas de k externo, com saídas de R$ 2,157 bi até o pregão da última 5ªF.
… O menor apetite pelo Brasil parece estar diretamente relacionado à possibilidade de que o Fed resolva aumentar o juro mais duas vezes este ano, ao invés de só uma, roubando parte da liquidez dos emergentes.
… Por outro lado, a fragilidade na retomada econômica da China favorece a preferência pela bolsa brasileira.
… A gestora americana Nuveen, com US$ 1,1 trilhão em ativos geridos, considera as ações do Brasil e México como opções atrativas nos mercados emergentes e cita a Selic menor como catalisador de ganhos do Ibovespa.
… Ontem, o Ibovespa passou por correção, depois das aprovações da reforma tributária e do voto de qualidade do Carf, fechando em baixa de 0,80% (117.942,44), com volume financeiro de apenas R$ 17,9 bilhões.
… Também pesou a baixa de papéis ligados a commodities, especialmente o minério de ferro , que reagiu a novos dados apontando recuperação lenta da China desde os estragos da pandemia de covid.
… O CPI chinês mostrou estabilidade na base anual e os preços na “porta da fábrica” (PPI) tiveram o maior declínio desde 2016 (5,4%), com enfraquecimento na demanda por bens de consumo e manufaturados.
… Isso intensifica a pressão sobre Pequim para lançar um pacote de estímulos mais forte para dar sustentação à recuperação cambaleante no pós-pandemia; analistas preveem que o PBoC pode voltar a reduzir juros.
… Ontem, o BC chinês informou que vai estender até o fim de 2024 a política de apoio ao setor imobiliário. Mas os esforços para impulsionar a economia têm sido interpretados como limitados pelos analistas de mercado.
… Os contratos futuros do minério de ferro fecharam em forte baixa em Dalian (-3,46%), a US$ 109,98 a tonelada, derrubando o setor de siderurgia/mineração aqui, com Vale em baixa de 1,53%, a R$ 64,46.
… CSN recuou 3,30% e Usiminas cedeu 2,12%, pressionadas adicionalmente pelo relatório do Itaú BBA, que rebaixou as recomendações dos papéis de neutro para underperform, o que equivale a venda.
… Como maior importadora de petróleo do mundo, a China em desaceleração foi má notícia também para o petróleo, cujos benchmarks devolveram parte da alta de cerca de 4% acumulada na semana passada.
… Os contratos futuros de petróleo recuaram nesta 2ªF, apesar das sinalizações recentes de Arábia Saudita e da Rússia de reduzir a oferta e dos relatos da AIE de queda maior do que o esperado nos estoques dos EUA.
… O Brent/setembro recuou 0,99%, a US$ 77,69 o barril, na ICE; o WTI/agosto, -1,18%, a US$ 72,99 na Nymex.
… Na bolsa, entretanto, Petrobras ON fechou o dia estável, a R$ 33,13, e Petrobras PN subiu 0,17%, a R$ 29,55.
… Os principais bancos terminaram no negativo: BB (-1,84%; R$ 49,04), Itaú (-0,65%; R$ 28,95) e Santander (-0,30%; R$ 29,73); exceções foram Bradesco ON (+0,07%), a R$ 14,51, e Bradesco PN (+0,06%), a R$ 16,29.
.. No pregão de poucos e contidos ganhos, destaque para o desempenho da Azul, com +3,11%, a R$ 19,92, em tentativa de recuperação das perdas recentes; Ambev subiu 1,08% (R$ 15,01) e Raízen, +0,95% (R$ 4,24).
… Maior desvalorização do dia ficou para Renner, que cedeu 6,46%, a R$ 19,10, seguida por Magalu, perdendo 4,09% (R$ 3,05) e Via, que caiu 3,77% (R$ 2,04), em movimento influenciado pela alta dos juros futuros.
A CONTA CHEGA – A curva do DI sofreu repique de alta, faltando meia hora para fechar, em ajuste técnico depois da queima de prêmios de risco da última 6ªF, quando o mercado refletiu a vitória da reforma tributária.
… O contrato para jan/24 subiu a 12,825% (de 12,779%); jan/25, 10,775% (de 10,685%); jan/26, 10,140% (de 10,061%); jan/27, 10,165% (de 10,103%); jan/29, 10,500% (de 10,447%); e jan/31, 10,660% (de 10,615%).
… Em dia de agenda esvaziada, o noticiário foi ocupado por notícias de bastidores de que o Centrão quer cobrar a fatura da aprovação da agenda reformista e cobiça cargos no primeiro e segundo escalão do governo.
… A declaração de Rodrigo Pacheco de que o Senado deixará para analisar o projeto do Carf depois do recesso gerou algum incômodo, dado que o tema é prioritário para a equipe econômica.
… Por outro lado, Jaques Wagner sinalizou que a tramitação da reforma tributária no Senado deverá ser mais simples do que na Câmara.
… Na pesquisa Focus desta 2ªF, analistas reduziram a mediana das estimativas para a inflação do ano de 4,98% para 4,95%, aproximando-se ainda mais do teto de tolerância da meta (4,75%).
… O dólar fechou em alta modesta perante o real, após oscilar entre margens estreitas, com operadores relatando saída de investidores estrangeiros e montagem de posições defensivas após a inflação na China.
… O dólar à vista fechou em alta de 0,34%, a R$ 4,8825, após oscilar entre R$ 4,8563 e R$ 4,8924. No câmbio futuro, o contrato da moeda norte-americana para agosto subiu 0,44%, para R$ 4,9160.
… Enquanto o mercado aguarda os dados de inflação dos EUA (CPI amanhã e PPI na 5ªF), o índice DXY caiu 0,30%, para 101,965 pontos, após dados apontarem queda nas expectativas de inflação em 1 ano dos EUA.
… O euro subiu 0,32%, a US$ 1,1001, diante da tendência de que os BCs europeu sejam mais agressivos que o Fed. A libra (+0,16%, a US$ 1,2862) roda atualmente em seu maior nível dos últimos 15 meses.
… Nesta 2ªF, o presidente do BoE, Andrew Bailey, comentou que a inflação permanece “inaceitavelmente alta”.
… O iene (141,30/US$) ganhou 0,55%, seguindo relatório do BoJ, que melhorou avaliação para a economia.
… Os retornos dos Treasuries recuaram: o da T-note de 2 anos caiu a 4,8639%, de 4,9522%, mas negociado perto das máximas do ciclo; o da T-note de 10 anos caiu a 4,0097%, contra 4,0656% na 6ªF do payroll mais fraco.
CABO DE GUERRA – Com exceção de um ou outro dirigente dovish, em linha geral, os comentários dos Fed boys têm vindo hawkish. Mas o mercado mantém como majoritária no CME (51,8%) a aposta de só mais um aperto.
… Na véspera do indicador mais aguardado da semana (CPI), com potencial de projetar a política monetária, o investidor continuou desafiando ontem os recados mais duros de duas integrantes do BC americano.
… Antes do período de silêncio na próxima semana, os membros do Fed continuaram a pedir mais aperto.
… A maioria dos formuladores de políticas espera aumentar as taxas em mais meio ponto percentual até o final do ano, de acordo com projeções divulgadas após a reunião de junho.
… “Fizemos muitos progressos na política monetária no ano passado”, disse o vice-presidente de supervisão do Fed, Michael Barr, em reunião do Bipartisan Policy Center; “mas ainda temos um pouco de trabalho a fazer.”
… “É provável que precisemos de mais alguns aumentos de juros no ano para trazer a inflação de volta à trajetória sustentável de 2%”, completou Mary Daly (Fed São Francisco). “A inflação é nosso problema nº 1.”
… Daly argumentou que os riscos de fazer pouco contra a inflação superam os de fazer muito, embora a diferença entre ambos esteja diminuindo, e acrescentou que oferta e demanda estão se equilibrando melhor.
… Loretta Mester, do Fed de Cleveland, falando na Universidade da Califórnia, concordou com a previsão mediana para mais dois aumentos de juros para garantir que a inflação volte aos 2%.
… Após o payroll, Mester disse que a taxa atual de crescimento salarial ainda está “bem acima do nível consistente com a inflação de 2%, dadas as estimativas atuais de tendência de crescimento da produtividade”.
… O núcleo da inflação continua preocupando: enquanto o índice de preços de gastos com consumo pessoal subiu em maio no ritmo anual mais lento em mais de dois anos, o núcleo sugeriu inflação subjacente rígida.
… Sobre o CPI de amanhã, analistas esperam que o núcleo tenha avançado 0,3% no mês passado.
… Do lado mais dovish, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou que, embora a taxa de inflação esteja muito alta, os formuladores podem ser pacientes em meio a evidências de desaceleração econômica.
… “Acho que podemos ser pacientes – nossa política agora está claramente no território restritivo”, disse Bostic em Atlanta. “Continuamos a ver sinais de que a economia está desacelerando, a restrição está funcionando.”
… O ímpeto do mercado diminuiu desde que as ações registraram forte recuperação no 1º semestre, à medida que ressurgiram preocupações sobre o impacto das contracorrentes econômicas nos lucros corporativos.
… Às vésperas do início da temporada dos balanços, o Morgan Stanley alerta que as previsões de lucros serão mais importantes que o normal desta vez, diante das avaliações elevadas das ações, juros altos e liquidez menor.
… Antes do CPI, as bolsas em NY arriscaram ganhos moderados nesta 2ªF, com Dow Jones subindo 0,62%, aos 33.944,40 pontos; o S&P 500 avançando 0,24% (4.409,53 pontos) e Nasdaq ganhando 0,18% (13.685,48 pontos).
… O setor de bancos reagiu de maneira limitada à apresentação da proposta do vice-presidente de supervisão do Fed, Michael Barr, para endurecer regras de capitalização de grandes bancos.
… Citi e Wells Fargo caíram 0,15% e 1,05%, respectivamente, JPMorgan subiu 0,56% e BoFA avançou 0,46%.
EM TEMPO… Petrobras solicitou acesso ao virtual data room da BRASKEM, iniciando processo de due diligence para eventual exercício de tag along ou direito de preferência na hipótese de alienação de ações da Novonor…
… Petrobras negocia 7 novos contratos para oferta extra de gás, segundo informou a Folha.
USIMINAS informou que BlackRock atingiu participação de 10,2% das ações PNA.
TIM vai antecipar para amanhã o pagamento de R$ 290 milhões em JCP, inicialmente previsto para 25/7; mantêm-se as condições previamente informadas; ex desde 22/6.
COPEL. Assembleia de acionistas aprovou reforma do estatuto para transformar empresa em Corporation; modelo será adotado pela companhia após privatização…
… BNDESPar votou contra a proposta de transformação da empresa em corporação…
… Copel informou que membros do conselho de administração Jorge Eduardo Martins Moraes e Maria Carmen Westerlund Montera renunciaram. Jacildo Lara Martins e Geraldo Corrêa de Lyra Jr foram nomeados às vagas…
… Marco Aurelio Santos Cardoso e Victor Pina Dias deixaram o conselho fiscal. Até a assembleia geral extraordinária (AGE), em 10/8, os membros efetivos renunciantes do conselho fiscal serão substituídos pelos suplentes.
LIGHT observou, em comunicado, que termo de intimação da Aneel é etapa incipiente do processo de fiscalização. Aneel deu 15 dias para empresa informar se apresentará plano de recuperação de transferência de controle.
ENERGISA. Energisa Mato Grosso do Sul fará 19ª emissão de debêntures, no valor de R$ 250 milhões.
NUBANK. Detentores de BDRs Nível III, incluindo os participantes do programa de clientes NuSócios, terão de 13/7 a 11/8 para optar por opções oferecidas no âmbito de plano para descontinuidade do programa de BDRs.
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