Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[31/10/2023]

… Mais uma reunião do BoJ sem novidade derrubou o iene de madrugada, enquanto o recuo dos índices PMI na China derrubava o minério de ferro. Na zona do euro, saem hoje a inflação e o PIB/3Tri e, nos EUA, o investidor parece estar tranquilo com o Fed, amanhã. Também no Brasil, não há suspense para o Copom, que voltará a cortar a Selic em 0,50pp, nesta 4ªF. Mas o sentimento aqui é de desconforto com o risco fiscal. Nesta 2ªF, Haddad não conseguiu convencer que ainda está firme no comando, após Lula condenar a meta de zerar o déficit primário. Hoje, o presidente tem a chance de prestigiar seu ministro da Fazenda, ao participar de reunião com Lira e líderes da base na Câmara, às 10h, para discutir as medidas que estão na agenda e fazem a diferença para o cumprimento da meta fiscal.

… Na entrevista desta 2ªF, Haddad parecia apreensivo e se irritou com as perguntas dos jornalistas sobre eventual mudança da meta. O clima mais pesado, no entanto, está longe de significar que Haddad jogou a toalha ou já é voto vencido no governo.

… O ministro contou que, em conversa com Lula na semana passada, o presidente foi “impactado” pela queda da arrecadação e, por isso, saiu dizendo que não vai fazer corte coisa nenhuma para zerar a meta. Haddad disse que apresentou “cenários”.

… Obviamente, um desses cenários para ajustar as contas devia prever cortes de gastos, mas Haddad disse que levou alternativas a Lula, como “medidas previstas para 2024, que podem ser antecipadas para este ano”. Não deu detalhes, mas o mercado não gostou.

… Derrubou a bolsa e puxou juros e dólar, na contramão de NY (abaixo). Queria ouvir alguma coisa mais concreta. Mas a verdade é que o mercado também não tem muita saída. Ou dobra a aposta em Haddad ou acaba ficando só com os tuítes da Gleisi.

… A meta de zerar o déficit já era considerada improvável com um plano sem cortes de gastos e focado no aumento da receita, mas tudo ficou um pouco mais difícil quando o crescimento do PIB acontece até acima do esperado e a arrecadação não acompanha.

… O que Haddad fez foi identificar o que estava pegando e apontar para Lula (e também na entrevista) duas distorções fiscais que datam de 2017, e que, segundo ele, não foram endereçadas pelos dois governos anteriores. “Foram herdadas e estamos tentando corrigir.”

… Um desses “ralos tributários”, como o ministro chamou, é a decisão do STF que retirou o ICMS da base de cálculo do PIS/Confins, e que determina uma devolução de R$ 4,8 bilhões, neste ano, para uma única empresa de cigarros (Souza Cruz).

… A outra distorção, que Haddad tentou corrigir com a MP 1185, a subvenção do ICMS, abre uma brecha para as empresas abaterem os incentivos fiscais do ICMS. A projeção de abatimento (ou de perda de arrecadação) para este ano é de R$ 200 bilhões.

… “Esses são os dois temas centrais que explicam por que o PIB está crescendo, mas a arrecadação está caindo. Essas decisões, que estão provocando efeitos deletérios na arrecadação, precisam ser reformadas ou sanadas para recuperar a base fiscal do Estado.”

… Por isso, o ministro vive dizendo que a meta e o crescimento dependem do empenho dos Três Poderes, não apenas do governo federal.

… Haddad explicou que teve uma boa conversa em jantar com Barroso, o presidente do Supremo, para fazer uma agenda que corrija essa erosão, e que Lula quer estar presente nas reuniões com os líderes do Congresso para ajudar a destravar a pauta.

… No encontro de hoje, Lula quer discutir a MP da subvenção do ICMS, segundo adiantou o ministro Alexandre Padilha (RI), que, segundo Lira, “enfrenta muita resistência da bancada dos deputados do Nordeste e do meio empresarial”.

… Se o Congresso não aprovar o texto, o Ministério da Fazenda cogita levar a questão ao STF, já que as mudanças nas subvenções de ICMS são consideradas pela equipe econômica a principal medida para zerar o déficit primário do ano que vem.

… Na semana passada, Lira já havia se comprometido com a prioridade dessa matéria. No Senado, Rodrigo Pacheco fez uma fala apoiando Haddad. Disse que o Congresso buscará contribuir com aprovações necessárias para cumprir a meta.

… “Ir na contramão da política econômica de Haddad”, disse Pacheco, “colocaria o País em rota perigosa”. A casa deve dar prioridade ao projeto de taxação dos fundos exclusivos e offshores, já aprovado na Câmara, e quer votar a reforma tributária em novembro.

… Diante da insistência dos jornalistas sobre uma eventual mudança da meta, Haddad respondeu que a “minha meta está estabelecida, meu papel é buscar o equilíbrio fiscal e eu farei isso enquanto estiver no cargo, não é pelo mercado, mas porque acredito nisso”.

… Sobre a meta zero, o ministro não disse que sim nem que não. Pelo menos, por ora, fica tudo como está.

LDO – O parecer preliminar seria votado hoje na Comissão Mista de Orçamento (CMO), mas a presidente, senadora Daniella Ribeiro, nem está em Brasília nesta semana, esvaziada pelo feriado de Finados, na 5ªF.

… O parecer preliminar é uma das primeiras etapas para votar a LDO, que define as diretrizes para elaboração e execução do Orçamento.

… Após o documento ser votado, o Executivo ficará impedido de enviar ofícios com mudanças no texto, como uma mudança da meta, e será aberta a fase de apresentação de sugestões pelos deputados e senadores, as emendas ao projeto.

AGENDA – O IBGE divulga às 9h a Pnad contínua. A mediana no Broadcast indica queda da taxa de desemprego para 7,7% no 3Tri até setembro, de 7,8% no trimestre encerrado em agosto. As projeções vão de 7,6% a 7,9%.

BALANÇOS – Ambev antes da abertura. Carrefour, CCR, Cielo, Prio, RaiaDrogasil e Telefônica, após o fechamento.

LÁ FORA – O PIB/3Tri e o CPI de outubro da zona do euro abrem o dia, às 7h. Nos EUA, saem o PMI medido pelo ISM de Chicago em outubro (10h45) e o índice de confiança do consumidor do Conference Board (11h).

ÁSIA HOJE – O índice PMI industrial da China recuou de 50,2 em setembro para 49,5 em outubro, novamente em território de contração. Economistas da FactSet projetavam o PMI industrial a 50,1. Já o PMI de serviços caiu de 51,7 em setembro para 50,6 em outubro.

… Hoje à noite (22h45), o PMI industrial de outubro será divulgado pelo setor privado (S&P Global/Caixin).

… No Japão, o BoJ manteve o limite máximo dos rendimentos dos bônus de 10 anos em 1%, frustrando as expectativas de que relaxaria o controle da curva de juros. Mas suavizou a linguagem do comunicado.

… Passou a chamar o teto de “ponto de referência” e considerou “apropriado” o aumento da flexibilidade.

… O BC japonês deixou inalterada em -0,1% a taxa de curto prazo para depósitos.

DESISTIR JAMAIS – Apesar dos esforços de Haddad para sinalizar que nada está perdido ainda, a leitura do mercado de que a meta fiscal está a perigo ampliou o alerta nos negócios domésticos neste início de semana.

… Sem que o ministro conseguisse reverter o estrago de Lula e convencer sobre o compromisso com déficit zero no ano que vem, os juros futuros saltaram, o dólar zerou a queda no mês e o Ibov descolou do otimismo em NY.

… Nas máximas do dia, o Ibovespa havia operado na faixa dos 114.200 pontos, mas esgotou a resistência.

… Na piora simultânea à entrevista de Haddad, o índice à vista da bolsa doméstica abandonou a trajetória de alta e acentuou a queda, mantida até o fechamento: 0,68%, a 112.531,52 pontos, com giro de só R$ 18,3 bi.

… Papéis mais sensíveis ao estresse fiscal na curva do DI se destacaram em queda: Casas Bahia afundou 6,25%, liderando o ranking das piores perdas do dia e fechando na menor cotação da sua história, valendo R$ 0,45.

… Foi seguida por Magazine Luiza (-6,16%), Petz (-4,86%), Hypera (-4,72%), Soma (-3,98%) e Yduqs (-3,70%).

… O temor com o rumo das contas públicas também acionou vendas em bloco nos bancos: Santander (-1,29%), Bradesco PN (-1,11%; R$ 14,19), Itaú (-0,81%; R$ 27,08), Bradesco ON (-0,80%; R$ 12,39) e BB (-0,70%).

… De seu lado, Petrobras reproduziu a queda do petróleo e manteve ainda no radar o receio de ingerência política na estatal, após a convocação de AGE para o dia 30/11 sobre a mudança no estatuto social da empresa.

… Além disso, a notícia de que o STF pautou para a sessão virtual de 3 a 10 de novembro uma ação trabalhista com impacto de pelo menos R$ 47 bilhões para a Petrobras também contribuiu para o ambiente defensivo.

… O papel ON perdeu 0,81% (R$ 38,17) e PN caiu 1,02% (R$ 35,08). Lá fora, o Brent/jan recuou 3,19%, a US$ 86,35, e o WTI/dezembro (-3,77%) voltou para US$ 82,31, valor inferior ao pré-guerra Israel/Hamas (US$ 82,79).

… Apesar do receio com o conflito, a perspectiva de demanda fraca por petróleo falou mais alto ontem, após a queda de 0,1% do PIB/3Tri alemão e a inflação (CPI) estável no país em outubro, abaixo da previsão (+0,1%).

… Por outro lado, antes da bateria de indicadores da semana na China, o minério acelerou 2,51% e puxou as ações das metálicas. Vale (+0,9%; R$ 68,18) teve ainda a recomendação elevada de neutra para compra pelo Citi.

… A maior valorização do dia foi de Usiminas (PNA, +4,49%). CSN Mineração subiu 2,42% e CSN ON, +1,14%.

A LEI DO MAIS FORTE – A percepção de isolamento de Haddad na polêmica fiscal desperta as primeiras avaliações no mercado de que o Copom não deve ter espaço para acelerar o ritmo dos cortes da Selic.

… A “aposta de graça” de queda de 0,5pp do juro amanhã não está ameaçada. Mas a calibragem do ciclo pode ser influenciada pelo ataque de última hora de Lula aos planos da Fazenda de perseguir o déficit primário zero.

… Para a XP, o risco fiscal doméstico persistente e a escalada dos juros dos Treasuries longos justificam cautela adicional por parte do BC e podem ser mencionados no balanço de riscos do comunicado do Copom nesta 4ªF.  

… Segundo a corretora, há risco de alta para projeção de Selic terminal de 10,00% no ano que vem.

… Outro foco de pressão para o juro foi apontado ontem pelo FGV Ibre: o Caged de setembro, com criação de 211.764 vagas de empregos formais, que superou a mediana das previsões (202.132 vagas) de economistas.

… A resiliência do mercado de trabalho pode indicar a necessidade de o Copom encurtar o ajuste em queda da Selic, apesar da inflação puxada para baixo pelo preço menor de alimentos, segundo a avaliação do Ibre.

… Na pesquisa Focus, a expectativa agora é de Selic mais alta no ano que vem, de 9,00% para 9,25%.

… Na avaliação da Warren Rena, que projeta juro de 9,00% no final do ajuste, a potencial alteração da meta fiscal pode levar à desancoragem adicional das expectativas para a inflação doméstica.

… A projeção para o IPCA de 2024, foco da política monetária, sofreu piora na Focus, de 3,87% para 3,90%. A revisão para cima afasta um pouco mais a inflação do centro da meta do ano que vem, fixado em 3,00%.

… O mercado aplaudiu ontem a indicação por Haddad do professor Paulo Picchetti para a diretoria de Assuntos Internacionais do BC. A avaliação é de que o nome afasta o temor de um Copom mais relaxado com a inflação.

… Apesar disso, com a meta fiscal em xeque, o DI fechou com alta expressiva. Com exceção do contrato para jan/24, que, às vésperas do Copom, está engessado em 12,074% (de 12,077% na 6ªF); o restante da curva mandou bala.

… O vencimento para jan/25 subiu para 11,155% (de 10,977% no pregão anterior); jan/26 avançou para 11,050% (de 10,793%); jan/27, a 11,225% (de 10,942%); jan/29, a 11,600% (de 11,357%); e jan/31, a 11,810% (de 11,579%).

… Também o câmbio não comprou a ideia de que nada mudou para a meta fiscal do ano que vem.

… O dólar ignorou a queda em escala global e fechou em alta de 0,67%, a R$ 5,0469. A um triz de o mês terminar, a moeda americana passou a acumular alta em outubro (+0,40%). Hoje, a briga da ptax promete volatilidade.

… No mercado futuro, o contrato de dólar para novembro registrou valorização de 0,52%, cotado a R$ 5,0450.

PENSAMENTO POSITIVO – Os yields dos Treasuries subiram ontem, mas não assustaram e as bolsas/NY corrigiram parte das perdas recentes, antecipando um statement dovish do Fed e balanço forte da Apple (+1,23%) na 5ªF.

… O Dow Jones subiu 1,58%, perto de recuperar os 33 mil pontos (32.928,96); o S&P 500 registrou valorização de 1,20%, a 4.166,82 pontos; e o Nasdaq (+1,16%, a 12.789,48 pontos) ampliou os ganhos do último pregão.

… A alta comedida dos retornos dos títulos do Tesouro americano foi recebida sem susto pelo investidor. A Note-2 anos pagou 5,049% (de 5,016%); a de 10 anos, 4,878% (de 4,829%); e o T-Bond de 30 anos, 5,049% (de 5,015%).

… No câmbio, as negociações foram agitadas pelos rumores de que o BoJ relaxaria a sua política para controle da curva de juros dos bônus de 10 anos do país, expectativa que, como se viu, acabou frustrada na madrugada.

… Os relatos de que o BC japonês considerava deixar o rendimento dos títulos do governo de 10 anos ultrapassar 1% puxaram o iene (+0,40%) para 149,10/US$ e contribuíram para o DXY fechar em baixa de 0,41%, a 106,120 pontos.

… O dólar também levou a pior contra as moedas europeias, com o vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, pregando juros em níveis suficientemente restritivos pelo “tempo necessário” para ancorar a inflação à meta de 2%.

… O recado deixou em segundo plano os sinais de fraqueza na Alemanha, que mostram economia “estagnada, sem reação rápida à vista”, segundo o ING. O euro subiu 0,50%, a US$ 1,0617, e a libra, +0,36%, a US$ 1,2169.

EM TEMPO… Prejuízo consolidado do PÃO DE AÇÚCAR, com Grupo Éxito, ficou em R$ 1,295 bilhão no 3TRI, alta de 337,3% ante 3TRI22…

… Sem Grupo Éxito, lucro líquido continuado ficou em R$ 809 milhões no trimestre, revertendo prejuízo do mesmo período de 2022…

… Ebitda ajustado consolidado somou R$ 1,137 bilhão, avanço de 478% na comparação anual…

… Acionistas aprovaram alteração para baixo no valor da redução do capital social da companhia aprovado em fevereiro, referente ao valor contábil da participação do Almacenes Éxito, após a segregação de negócios…

… Capital social da empresa de R$ 8.466.469.262,43 foi ajustado para R$ 1.807.167.455,83.

ASSAÍ registrou lucro líquido de R$ 185 milhões no 3TRI, queda de 34,2% na comparação anual; Ebitda ajustado somou R$ 1,212 bilhão, alta de 19,9% em relação ao mesmo período de 2022.

LOJAS QUERO-QUERO registrou prejuízo líquido de R$ 12,2 milhões no 3TRI, avanço de 60,5% sobre o prejuízo de R$ 7,6 milhões reportado um ano antes; Ebitda somou R$ 49,7 milhões, alta anual de 15,3%.

PETROBRAS investirá R$ 2 bi na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (MG), até 2027 para aumentar eficiência energética e confiabilidade…

… Companhia também estuda ampliar capacidade de produção da refinaria de 26 mil para 40 mil m³/dia, com investimento de até R$ 8 bi.

ISA CTEEP registrou lucro líquido de R$ 474,5 milhões no 3TRI, aumento de 22,7% na comparação anual; Ebitda somou R$ 876,6 milhões, alta de 17,9% em relação ao mesmo período de 2022.

AUREN ENERGIA informou que a Cesp desembolsou um total de R$ 124.800.447,11 para pagamento de PIS/Cofins em relação à verba indenizatória decorrente do acordo judicial celebrado entre a empresa e a União Federal…

… Acordo visa a indenização pela reversão de bens não amortizados ou não depreciados em relação à Usina Hidrelétrica Três Irmãos.

J&F INVESTIMENTOS propôs devolver à Paper Excellence recursos que recebeu da sócia pela compra de 30,5% da Eldorado e assumir novamente essa fatia, mediante cancelamento voluntário da transação acertada em 2017.

INTELBRAS registrou lucro atribuído aos acionistas controladores de R$ 110,5 milhões no 3TRI, queda de 10,1% na comparação anual; Ebitda somou R$ 128,2 milhões, recuo de 13,7% em relação ao mesmo período de 2022.

TOTVS. Subsidiária Soluções em Software e Serviços TTS comprou a franquia IP São Paulo Sistemas de Gestão Empresarial por R$ 137,6 milhões.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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