Morning Call
Mais inflação, Fed boys e balanços nos EUA
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[11/10/24]
… Após a inflação ao consumidor ter vindo acima do esperado nos EUA, sai hoje o PPI de setembro (9h30). A agenda em NY tem, ainda, as expectativas de inflação no bojo do índice de sentimento do consumidor neste mês (11h), além da fala de mais três dirigentes do Fed, que podem seguir a mensagem de pausa de Bostic, nesta 5ªF, contribuindo para elevar as chances de o Fomc deixar o juro estável em novembro. Em Wall Street, os balanços do JPMorgan e Wells Fargo, antes da abertura, estreiam a temporada do 3Tri. Aqui, o IBGE divulga os números dos serviços em agosto (9h), que devem desacelerar para um crescimento de 0,1%, na mediana de pesquisa do Broadcast, após expansão de 1,2% em julho. Mesmo assim, economistas já pressionam o BC para um aumento de 300pbs da taxa Selic.
… Os juros futuros tiveram ontem nova rodada de alta, mantendo-se nas máximas desde março/23, com o cenário externo mais adverso amplificando o impacto da política fiscal expansionista do governo Lula, que leva a movimentos exagerados (leia abaixo).
… Na curva do DI, os contratos curtos avançam nas apostas de uma alta de 75pbs no Copom de novembro, enquanto, nos Estados Unidos, as chances de uma pausa no ciclo de quedas do juro fecharam o dia acima de 17%, após o CPI e comentários de Raphael Bostic.
… O dirigente do Fed de Atlanta surpreendeu ao dizer que está aberto à possibilidade de manutenção dos juros nas duas últimas reuniões deste ano do Fomc, com repercussão também nos ativos domésticos.
… Hoje, falam: Austan Goolsbee (10h45), Lorie Logan (11h45) e Michelle Bowman (14h10).
… Para o índice de preços ao produtor (PPI), às 9h30, o consenso é de desaceleração para 0,1% em setembro, contra 0,2% em agosto. Nos 12 meses, a estimativa é de recuo de 1,7% para 1,6%. Em agosto, o núcleo do PPI subiu 0,3% na margem e 2,4% na base anual.
… Às 11h, o índice de sentimento do consumidor medido pela Universidade de Michigan deve ficar praticamente estável na preliminar de outubro, em 70,2 (de 70,1 em setembro). Atenção para as expectativas de inflação em 1 ano (2,7% em setembro) e 5 anos (3,1%).
BALANÇOS – O foco está nos grandes bancos dos EUA no início da temporada de resultados do terceiro trimestre, com os resultados hoje JPMorgan e Wells Fargo. Investidores querem saber como o setor reage ao ciclo de cortes nas taxas de juros.
… Com a queda dos custos do crédito, há preocupação de como isso afetará a lucratividade, especialmente considerando que a receita de juros foi um motor relevante de receita durante as altas taxas do Fed em 2022 e 2023, segundo análise do Investing.com.
… A receita líquida de juros é considerada um indicador crucial, pois sinaliza as expectativas sobre a lucratividade futura.
… Embora o impacto total desses cortes não deva ser evidente nos resultados do terceiro trimestre, as previsões fornecidas pelos bancos darão insights valiosos sobre os efeitos das taxas mais baixas nos próximos trimestres.
… Para o JPMorgan, o consenso dos analistas é de um lucro por ação de US$ 3,99, uma queda de 7,8% em comparação com o 3Tri/23. Já o Wells Fargo deve reportar um LPA médio de US$ 1,28, 13,5% abaixo do terceiro trimestre de 2023.
… No pregão desta 5ªF, JPMorgan Chase fechou em baixa de 0,27% e Wells Fargo, em alta de 0,36%.
MAIS AGENDA – Galípolo está em SP e se reúne às 14h com o Adido Financeiro do Tesouro/EUA, Adam Goldsmith.
… STF começa a julgar hoje validade da incidência da alíquota de 25% do IR retido exclusivamente na fonte sobre pensões e proventos de fontes situadas no Brasil e recebidos por pessoas físicas residentes no exterior.
… De acordo com a LDO deste ano, a Receita estima um impacto de R$ 6 bilhões em caso de derrota.
NOS EUA – A Baker Hughes divulga às 14h os poços e plataformas de petróleo em operação.
BOTANDO PILHA – Exageros de conservadorismo voltam a aparecer na curva do DI, com focos de aposta em uma aceleração da dose de alta da Selic em novembro para 0,75 pp pelo Copom, que agora tem de 30% a 35% de chance.
… Os excessos podem ser justificados pelo estresse crescente com o exterior (uma pausa do Fed deve exigir mais do BC brasileiro) e com o fiscal expansionista, que se mantém constantemente no radar como um driver de perigo.
… Se o contexto, porém, dá motivo para tanta ousadia na precificação para o juro, é o que ainda se verá. A chance majoritária (65% a 70%) ainda continua sendo de um aperto de meio ponto da Selic em novembro (cálculos do Bmg).
… Traders embutem a expectativa de juro a 13% no final do ciclo para trazer a inflação ao centro da meta (3%) e, em reunião trimestral com o BC, uma ala dos economistas defendeu um ajuste total de até 3 pontos na Selic.
… Mas a verdade é que o Copom não precisa de um choque de juros para chegar no target da meta, que é um alvo em que ninguém acredita e para isso mesmo é que existe a faixa de tolerância de 1,5pp, até 4,5%.
… As pressões podem ser acomodadas no limite superior sem demandar uma política monetária tão pesada.
… Seja como for, mesmo depois do rali da véspera, os contratos futuros de juros esticaram os prêmios de risco: Jan26 subiu a 12,555% (de 12,509% no dia anterior); Jan27, 12,660% (12,593%); e Jan29, a 12,625% (12,597%).
… Na ponta longa, o Jan31 ficou praticamente estável (12,540%, de 12,534%) e Jan33 caiu a 12,440% (12,458%).
… O mercado continua criticando a proposta da Fazenda de ampliar a faixa de isenção de IR da pessoa física até R$ 5 mil, criando um imposto mínimo para os contribuintes mais ricos. O estudo foi confirmado por Haddad, que já apresentou a ideia a Lula.
… Nos cálculos da Warren, uma taxação de 12% dos milionários pode render R$ 44,8 bilhões, que atenderia a exigência de compensar os custos da correção da tabela do IR, uma promessa de campanha do presidente.
… No day after do IPCA de setembro, o BNP Paribas elevou a projeção de inflação de 4,4% para 4,7% no ano.
… As vendas no varejo não fizeram preço ontem nos negócios. Pelo conceito ampliado, o indicador recuou 0,8% na margem em agosto, contrariando a mediana do Broadcast, que indicava alta de 0,2% para o setor.
… Já no conceito restrito, o recuo de 0,3% veio menos intenso do que a estimativa de queda de 0,6%.
… Apesar da falta de fôlego do dado, o PicPay acredita que a desaceleração é pontual e o consumo deve seguir crescendo, diante do mercado de trabalho aquecido, aumento da massa salarial e expansão do crédito.
… O Bradesco concorda com a avaliação e projeta crescimento de 0,2% das vendas do varejo no 3Tri.
… Diante da percepção de risco incorporada, a curva do DI nem precisou ontem do dólar para subir. A moeda americana fechou estável, cotada a R$ 5,5870, mas como se vê está mais para lá (R$ 5,60) do que para cá (R$ 5,50).
… No cabo de guerra das forças que atuaram no câmbio, o salto de quase 4% do petróleo ajudou a aliviar e interromper três quedas seguidas do real. De outro lado, pesaram a chance de pausa do Fed mais o fiscal doméstico.
… Em carta aos investidores, o principal fundo da Verde Asset, de Luis Stuhlberger, zerou a posição comprada em dólar contra o real, destacando os estímulos da China tanto para o mercado acionário como para o imobiliário.
… Porém, a gestora admitiu que os desafios de Pequim para impulsionar o PIB e a confiança são “enormes”.
… O BC dará início hoje à rolagem dos contratos de swap cambial tradicional que vencem em dezembro. Os vencimentos somam US$ 15,5 bilhões (309.200 contratos) e estão previstos leilões diários para rolar todo o estoque.
BALANÇA, MAS NÃO CAI – Os comentários de Bostic, aberto a apoiar pausa no juro dos EUA nas duas próximas reuniões do Fed, provocaram uma piora no Ibovespa junto com NY. Mas a bolsa aqui driblou a instabilidade.
… O índice à vista conseguiu defender alta moderada de 0,30% e resgatar os 130 mil pontos (130.352,86), sustentado pelas blue chips das commodities e do setor financeiro. O giro de R$ 17 bilhões foi pior que o normal.
… Na cola do petróleo, Petrobras ON subiu 1,67% (R$ 41,51) e PN ganhou 1,16% (R$ 37,65). O Brent/dez disparou 3,68%, a US$ 79,40, em meio a especulações sobre qual será a resposta de Israel ao ataque de mísseis do Irã.
… Vale (ON, +0,48%, R$ 61,25) conseguiu pegar a contramão da queda do minério de ferro (-1,02%), impulsionada pela visão otimista de bancos de investimentos para a nova gestão de Gustavo Pimenta como CEO da empresa.
… O BTG Pactual avalia que a mineradora está em “boas mãos”. O Goldman Sachs vê avanço em frentes importantes.
… Entre os bancos, só BB ON fechou no vermelho: -0,87% (R$ 26,20). Bradesco ON subiu 0,84% (R$ 13,17) e Bradesco PN avançou 0,54% (R$ 15,00); Santander, +0,67% (R$ 28,60); e Itaú, +0,55% (R$ 34,89).
… Liderando o Ibovespa desde a abertura dos negócios, Isa Cteep subiu 5,34%, depois de o STJ suspender por 180 dias o trâmite de ação que a empresa move contra a Fazenda de SP. A decisão foi vista como positiva por analistas.
… A Cteep tem crédito de R$ 2,4 bi a receber da Fazenda de pagamento de planos de previdência da antiga Cesp.
… Prio (+2,70%; R$ 44,88) e Lojas Renner (+2,61%; R$ 18,10) completaram o topo das altas.
… Azul caiu 5,99% (R$ 5,81) após a semana positiva com o acordo com arrendadores e fabricantes de equipamentos.
… A baixa seguiu pares no exterior e também foi provocada pela alta do dólar e do petróleo, que representam 40% dos custos da companhia. Mas a ação acumula alta de 37,4% nos últimos 30 dias.
… Ainda no ranking negativo ficaram Carrefour (-2,71%; R$ 7,53) e Klabin (-2,53%; R$ 20,45).
O PIOR DE DOIS MUNDOS – Os investidores foram pegos de surpresa em NY com indicadores inesperados. De um lado, inflação maior que a esperada, de outro mercado de trabalho – leia-se atividade – mais fraco que o estimado.
… No meio disso, um membro votante do Fomc – Raphael Bostic – levantando a possibilidade de pausa no corte de juros em novembro.
… Os fechamentos das bolsas, em leve queda; dos juros, sem direção única; e do índice dólar, estável, mostram o grau de incerteza dos mercados ontem.
… Se o aumento nos pedidos de auxílio-desemprego indicou um mercado de trabalho mais frouxo – foram 258 mil, maior número desde agosto/23, bem acima dos 229 mil esperados – o CPI mostrou uma inflação em alta.
… Em setembro, os preços ao consumidor dos EUA subiram 0,2%, igual a agosto, mas acima do 0,1% estimado. Na comparação anual, o CPI desacelerou de 2,5% para 2,4%, porém superou a expectativa de 2,3%.
… O núcleo também teve taxa igual a agosto (0,3%) e acima do 0,2% esperado. No ano, acelerou para 3,3%, de 3,2% em agosto, que era também a expectativa do mercado.
… Na primeira reação a Bostic e ao CPI, o mercado chegou a dobrar (de 11% para 22%) a aposta em manutenção do juro pelo Fed em novembro. Mas depois moderou esta precificação para 17,8% no CME com o auxílio-desemprego.
… Bostic foi o primeiro Fed boy a levantar a bola que já estava quicando desde o forte payroll de setembro e defender a possibilidade de uma pausa no corte de juros.
… “Dependendo dos dados, estou aberto a não alterar os juros nas próximas reuniões”, disse o presidente do Fed de Atlanta. E argumentou: “Os últimos dados de inflação e mercado de trabalho permitem que sejamos pacientes”.
… As bolsas, que já caíam antes da declaração, assim continuaram, ainda que tenham se afastado das mínimas.
… O Dow Jones caiu 0,14% (42.454,02 pontos), o S&P 500 recuou 0,21% (5.780,03 pontos) e o Nasdaq terminou estável (-0,05%), em 18.282,05.
… Bostic chegou a elevar os juros dos Treasuries curtos, mas no fim pesou mais o dado do auxílio-desemprego e o fato de ainda haver grande chance de corte de juros em novembro.
… O retorno da note de 2 anos, o que mais acompanha os rumos da política monetária, voltou a ficar abaixo de 4%, em 3,964% (de 4,021% na véspera). Mas o da note de 10 anos subiu a 4,069% (de 4,065%).
… No câmbio, o índice DXY fechou na estabilidade (-0,07%), em 102,855 pontos. O euro também ficou estável (-0,05%), em US$ 1,0935, assim como a libra esterlina (-0,07%), a US$ 1,3057. O iene subiu 0,43%, a 148,539/US$.
… A ata da reunião do BCE que cortou a taxa de depósitos em 25pb indicou que o BC europeu deve manter a postura de cautela, já que ainda não há certeza de vitória sobre a inflação.
… Para o ING, o documento também mostra um aumento da preocupação dos dirigentes com as perspectivas de crescimento na região.
EM TEMPO… SANTANDER vai distribuir R$ 200 mi em dividendos intercalares, o equivalente a R$ 0,0255 por ação ON, R$ 0,0281 por ação PN e R$ 0,0536 por unit…
… Banco também vai distribuir R$ 1,3 bi em JCP, o equivalente a R$ 0,1661 por ação ON, R$ 0,1827 por ação PN e R$ 0,3488 por unit; ex em 18/10; pagamento a partir de 8/11.
MARFRIG fará emissão de ações de debêntures no valor de R$ 2,5 bilhões.
ENEVA captou R$ 3,2 bilhões em oferta subsequente de ações (follow-on), com ação a R$ 14. (fontes do Broadcast)
DIRECIONAL. Vendas líquidas totais atingiram R$ 1,8 bi no 3TRI, alta de 76% na comparação anual, segundo prévia.
IGUATEMI confirmou estar evoluindo em tratativas para compra de participações nos shoppings Pátio Higienópolis e no Pátio Paulista.
VIVARA informou que abriu sete lojas Life em setembro, com uma adição de 649,9 m² de área de venda; duas lojas foram abertas na cidade de SP e uma em Maceió, outra em Manaus, Brasília, Sinop (MT) e Mauá (SP).
EMBRAER. Jato cargueiro E-Freighter E190F foi certificado por órgão regulador nos EUA.
LWSA. Rafael Chamas, atual diretor financeiro e de RI, assumirá o cargo de diretor-presidente a partir de 10/2/25.
REDE D’OR vendeu R$ 5,9 bilhões em debêntures, mas pouco mais de R$ 2 bilhões acabaram ficando com os bancos, que dão garantia firme à captação, segundo a Coluna do Broadcast.
COPASA. Governo de MG lançou consulta pública sobre Projeto Água dos Vales, PPP com o objetivo de universalizar o saneamento básico em 92 municípios atendidos pela companhia nas regiões do Jequitinhonha e Mucuri.
CAMIL registrou lucro líquido de R$ 118,8 milhões no 2TRI fiscal 2024, avanço de 153,4% na comparação anual; Ebitda somou R$ 287,6 milhões, crescimento de 35,4% ante mesmo período do ano anterior.
AGROGALAXY. Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) confirmou que o processo de recuperação judicial da empresa deve continuar tramitando em Goiânia…
… Decisão da 11ª Câmara Cível do TJ-GO foi tomada por unanimidade, rejeitando recurso do BB, que solicitava transferência do foro para SP; BB é um dos principais credores financeiros da empresa (R$ 391,2 milhões).
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