Morning Call

Mercado confere Haddad e emprego nos EUA

Atualizado 07/01/2025 às 00:39:13

https://www.bomdiamercado.com.br/wp-content/uploads/2024/10/MC-6aF.png

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[07/01/25]

… Um dia depois de ter negado alta do IOF para conter a escalada do dólar, o ministro Fernando Haddad concede entrevista ao vivo hoje, a partir das 13h30, ao programa Estúdio i, na GloboNews. Na agenda dos indicadores, a Receita divulga às 10h30 a arrecadação federal de novembro, que será comentada em coletiva às 11h. O bom desempenho da atividade econômica doméstica deve continuar sustentando o crescimento do volume arrecadado com impostos e contribuições federais. Nos EUA, o relatório de emprego Jolts de novembro (12h) começa a preparar o espírito dos investidores para o payroll de 6ªF. Com o mercado de trabalho ainda aquecido e a luta contra a inflação ainda não vencida, o Fed tem sinalizado ritmo moderado de flexibilização do juro este ano. Além disso, prevalece a cautela com Trump, embora o protecionismo econômico prometido tenha sido posto à prova ontem.

… Deu o que falar nesta 2ªF nos negócios globais a reportagem do Washington Post indicando que as tarifas comerciais serão mais seletivas e brandas que o esperado, com foco em importações críticas de setores específicos.

… A possibilidade de o novo governo em Washington pegar mais leve foi refutada por Trump em postagem em rede social, onde ele classificou a matéria como fake news e disse que as fontes anônimas citadas pelo jornal não existem.

… O desmentido de Trump, que toma posse dia 20, não reverteu o otimismo dos mercados, com o Ibovespa reconquistando os 120 mil pontos, o dólar em queda de 1% e a curva do DI devolvendo mais pressão (abaixo).

… Na dúvida se Trump está blefando ou se fala sério quando nega que poderá ser menos agressivo na adoção de tarifas de importação, o investidor resolveu dar por aqui o benefício da dúvida, apostando na política mais light.

… Mas se este melhor desfecho não se concretizar e Trump voltar com tudo, o Brasil pode se complicar bastante.

… Com o retorno de Trump, o cientista político e presidente da Eurasia, Ian Bremmer, classifica o ambiente como “mais perigoso” para os países em desenvolvimento e “certamente o Brasil estaria no topo dessa lista”, avalia.

… O outro grande risco este ano para o País é o fiscal. O diretor da Eurasia para as Américas, Christopher Garman, duvida que o governo Lula consiga fazer o suficiente para aliviar o estresse em torno das contas públicas.

… Embora Garman esteja confiante na gestão autônoma de Galípolo no comando do BC e descarte o risco de uma crise de fato no Brasil, acredita que a equipe econômica dará uma resposta “tímida” e “insuficiente” ao temor fiscal.

… Ele espera que o governo adote novas medidas de contenção de gastos e anuncie novidades do lado das receitas, mas avalia que a janela política para ir além na aprovação das reformas fiscais já passou no Congresso.

… Embora aponte que o investidor estrangeiro é “menos alarmista” em relação ao Brasil do que os domésticos, Garman reconhece que os gringos estão com as “barbas de molho” e dificilmente investirão mais forte por aqui.

… Em meio à desconfiança com o País, Haddad interrompeu temporariamente as férias e se reuniu ontem com Lula.

… O ministro negou que o imbróglio envolvendo as emendas tenha sido tratado. Disse que os temas discutidos foram o Orçamento de 2025, que ainda não foi votado, e as portarias e decretos para regulamentar o pacote fiscal.

… O ministro Rui Costa (Casa Civil), que também participou do encontro, afirmou que o governo também já está se preparando para a reunião ministerial com Lula, que deve acontecer na segunda quinzena deste mês.

… O ministro Paulo Pimenta se reúne hoje com Lula (9h30), que deve confirmar a troca no comando da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom). Cotado para assumir, o publicitário Sidônio Palmeira foi ontem ao Planalto.

MAIS AGENDA – A arrecadação de novembro deve somar R$ 209,6 bilhões, segundo a mediana do Broadcast, após R$ 247,92 bilhões em outubro, melhor resultado para o mês na série histórica.

… As estimativas variam de R$ 148,6 bilhões a R$ 227,3 bilhões.

… Se realizada a projeção, haverá ganho real de 11,4%, ajustado pelo IPCA, em comparação com novembro de 2023. O aumento deve ser novamente puxado pelo crescimento da atividade econômica.

… Dois dados de inflação em dezembro e no acumulado do ano saem hoje: o IPC-Fipe (5h) e o IGP-DI (8h).

… Galípolo participa, por videoconferência, da reunião bimestral de presidentes dos BCs promovida pelo BIS, às 9h.

… A Secretaria de Política Econômica (SPE) lança, às 9h, o Resultado Fiscal Estrutural 2023 e a prévia de 2024. Até setembro, o Resultado Fiscal Estrutural (RFE) do setor público consolidado foi de déficit de 1,41% do PIB potencial.

LÁ FORA – Além do relatório Jolts, Wall Street estará atenta ao PMI de serviços medido pelo ISM em dezembro (12h). A expectativa é de um avanço a 53, de 52,1 em novembro.

… O Fed boy Thomas Barkin (Richmond) fala às 10h. Logo depois (10h30), o Deptº do Comércio informa a balança comercial dos EUA em novembro.

… A zona do euro divulga a prévia do CPI de dezembro (7h), que deve acelerar a 2,4% na leitura anual, de 2,3% em novembro. O núcleo deve repetir os 2,7% do mês anterior.

EFEITO PALIATIVO – Foi importante a janela de alívio do dólar com o rumor de que Trump pode não ser tão radical no protecionismo. Mas ninguém se ilude que, sem novas medidas fiscais aqui, o real tenha tanto espaço para subir.

… O comentário de consenso entre profissionais de mercado é de que o protagonismo de qualquer melhora mais sustentada do câmbio continua condicionado à seriedade com que a equipe econômica administrará a crise fiscal.

… Sem isso, dizem, o dólar pode continuar rodando no high, em torno dos R$ 6. Apesar de o período crítico de remessas de lucros ao exterior já ter passado, o mercado mantém a guarda elevada, com medo de relaxar demais.

… Mas ontem a moeda americana declarou trégua, para acompanhar o enfraquecimento global. Caiu 1,13%, cotada a R$ 6,1125, tendo chegado a furar o nível de R$ 6,10 na mínima intraday, quando voltou até R$ 6,0928.

… Na saída de encontro com Lula, em Brasília, Haddad negou uma eventual alteração no Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) para conter a alta do dólar e disse que há um processo de “acomodação natural” no câmbio.

… “Não existe discussão de mudar o regime cambial no Brasil. Nem de aumentar imposto”, afirmou aos jornalistas. Dourando a pílula, avaliou que o estresse vivido pelo câmbio no fim/24 não ocorreu só aqui, mas no mundo todo.

… Ainda no noticiário do dia, se de um lado o fluxo financeiro apontou fuga consistente no ano passado, de outro, a Secex informou que o superávit comercial em 2024, de US$ 74,552 bilhões, foi o segundo melhor da história.

… Capitalizando o dólar mais barato, o DI não desperdiçou a chance de abrir nova rodada de queima de prêmio ontem. Mas o sinal de alarme continua soando quando se olha para a precificação de Selic terminal acima de 16%.

… Cálculos ao Broadcast do economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, indicam que a curva aponta juro entre 16,25% e 16,50% no fim do ciclo, com alta de 1,25pp no Copom deste mês e em torno de 1pp na reunião de março.

… Traders estão ainda mais pessimistas do que os economistas e analistas no boletim Focus, que elevaram a aposta de Selic terminal de 14,75% para 15,00%. O ajuste em alta não impediu uma nova piora nas expectativas de inflação.

… Segundo anotou Denise Abarca, as medianas para 12 meses à frente (4,96%) e 2025 (4,99%) já flertam com 5%.

… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 caiu para 14,970% (de 15,060% no fechamento anterior); Jan/27, a 15,340% (de 15,500%); Jan/29, a 15,045% (de 15,320%); Jan/31, a 14,750% (15,030%); e Jan/33, 14,500% (14,780%).

… Até aqui, o alívio no DI é atribuído a correção pontual dos exageros recentes e só se consolidará como tendência se a questão fiscal for enfrentada e o impasse das emendas não comprometer a votação do Orçamento (fevereiro).

APROVEITOU O EMBALO – No clima de “compra primeiro, pergunta depois”, os bancos deslancharam e induziram o Ibov a recobrar os 120 mil pontos, de carona na esperança de que o rumor de alívio das tarifas nos EUA se realize.

… O movimento foi tal, que nem a queda expressiva das blue chips de commodities impediu o avanço de 1,26% no índice, aos 120.021,52 pontos. O giro, contudo, foi fraco, de R$ 19 bi, tirando parte do brilho do desempenho do dia.

… Itaú liderou as altas entre os bancos, com +4,49% (R$ 31,16), seguido por Santander (+2,48%, a R$ 24,00), Bradesco PN (+1,96%, a R$ 11,42), Bradesco ON (+1,55%, a R$ 10,48) e BB ON (+0,93%, a R$ 23,96).

… Para analistas, o Ibov – que terminou com 80% da carteira em alta – estava sujeito a um ajuste de preços depois de ter marcado na 6ªF o pior nível desde novembro de 2023.

… “Parece um movimento de repique muito mais por fator de preço do que por algo mais fundamentado”, disse Bruno Benassi (Monte Bravo) ao Broadcast.

… Vale (-1,28%, R$ 53,56) e Petrobras (ON, -0,94%, a R$ 40,00; e PN, -0,47%, a R$ 36,21) cederam, acompanhando suas respectivas commodities. O minério de ferro fechou em queda de 2,21% em Dalian.

… O barril do Brent/março recuou 0,27%, a US$ 76,30, com realização de lucros. Para a Petrobras, também tem pesado a defasagem em relação dos preços da gasolina e do diesel praticados no exterior.

… O recuo dos juros futuros beneficiou papéis cíclicos como Yduqs (+10,32%; R$ 8,87), Carrefour (+9,98%, a R$ 5,84) e Azul (+14,67%, a R$ 4,30), que também tem respondido com otimismo à renegociação de débitos com o governo.

TECHS RIDES AGAIN – As big techs voltaram a comandar as altas nas bolsas de NY ontem, que também foram ajudadas pela notícia de que a política de tarifas de importação do governo Trump poderá ser menos agressiva.

… Trump negou depois a informação do Washington Post, mas “a semente [de uma política menos restritiva] foi plantada”, disse Brian Jacobsen (Annex Wealth Management) à Reuters, o que beneficiou as ações.

… O setor de veículos foi um dos que reagiu positivamente à notícia, já que é um dos segmentos mais vulneráveis às tarifas, dada sua longa cadeia de fornecedores. General Motors subiu 3,4%. Ford subiu 0,40%.

… Em NY, o Nasdaq puxou a alta, com +1,24%, a 19.864,98 pontos. A informação de que a Microsoft (+1,06%) vai investir US$ 80 bilhões em data centers de IA continuou a fazer preço.

… Nvidia subiu 3,43% antes do discurso do CEO Jensen Huang, numa conferência à noite em Las Vegas. A ação fechou no valor recorde de US$ 149,43.

… Huang costuma mexer com o mercado e investidores querem saber mais informações sobre o chip Blackwell, considerado o próximo driver de crescimento da companhia.

… Foxconn avançou 2,64% após a receita do 4Tri24 exceder as expectativas. Advanced Micro Devices ganhou 3,33% e Micron Technology saltou 10,45%.

… Também impulsionado pelas techs, o S&P 500 subiu 0,55% (5.975,38 pontos), apesar de 7 de seus 11 setores terem fechado em baixa. O Dow Jones ficou perto da estabilidade (-0,06%), aos 42.706,56 pontos.

… Bancos voltaram a subir com o otimismo em torno da desregulamentação esperada de Trump 2: Goldman Sachs (+0,54%), Citigroup (+2,45%) e Morgan Stanley (+2,15%).

… O dólar reagiu em baixa à notícia sobre as tarifas, mas depois de Trump negar a informação, diminuiu as perdas. O índice DXY caiu 0,64%, a 108,257 pontos.

… Além do fator Trump, o euro (+0,83%, a US$ 1,0391) ganhou impulso da inflação na Alemanha, com a prévia do CPI de dezembro subindo (2,6%) mais que o esperado (2,4%). A libra avançou 0,72%, a US$ 1,2518.

… Já o iene caiu 1,98%, a 157,616/US$.

… Enquanto isso, os juros dos Treasuries continuaram subindo, já que as políticas de Trump 2 ameaçam a inflação.

… No fim do dia em NY, o rendimento da note de 10 anos subia a 4,623% (de 4,598% na sessão anterior) e o do T-bond de 30 anos avançava a 4,845% (de 4,811%).

… Na contramão, a note de 2 anos caiu a 4,266% (de 4,277%) com dados aquém do esperado na economia dos EUA.

… O PMI/serviços subiu de 56,1 em novembro para 56,8 em dezembro, abaixo da expectativa de 57,1, embora no maior nível em 33 meses. As encomendas à indústria caíram 0,4% em novembro ante outubro (previsão de -0,3%).

… Ontem, Lisa Cook foi mais uma diretora do Fed a alertar que os riscos sobre a inflação são para cima e que, por isso, o BC americano precisa seguir com mais cautela.

… Ainda nesta 2ªF, Michael Barr anunciou que deixará o cargo de vice-presidente de supervisão do Fed em 28 de fevereiro, ou até que um sucessor seja confirmado.

… Barr disse querer evitar “um risco de disputa pelo cargo”, que poderia ser uma distração da missão do Fed de supervisão e regulamentação do sistema financeiro.

EM TEMPO… JBS informou à CVM a captação de US$ 1,75 bilhão com a emissão de títulos de dívida de 10 e 30 anos no mercado internacional…

… Do total emitido, US$ 1 bi foi em bonds com vencimento em 2035 e US$ 750 mi com bonds a vencer em 2055.

SABESP aprovou a 33ª emissão de debêntures, no valor de R$ 3,7 bi. Prazo é de 7 anos para a 1ª série e 15 anos para a 2ª e 3ª séries, sendo as duas últimas debêntures incentivadas.

PETROBRAS vai entrar na produção de biometano, além de comprar o insumo por meio de chamada pública…

… Segundo o diretor Maurício Tolmasquim, a petroleira já conversa sobre parceria de produção com empresas que estão no mercado.

BTG PACTUAL está em conversações avançadas, agora de forma exclusiva, para levar os ativos no Brasil do grupo suíço Julius Baer, segundo o Broadcast e a coluna de Lauro Jardim (O Globo)…

… A intenção da matriz na Suíça é ainda este mês bater o martelo no negócio, avaliado em R$ 1 bilhão.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

Compartilhe:


Veja mais sobre:


Veja Também