Morning Call

Mercados repercutem Fed e BC hawk

Atualizado 21/09/2023 às 01:05:48

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[21/9/2023]

… Mais três decisões de política monetária estão previstas para hoje: a do BoE inglês e do BC turco (às 8h) e da África do Sul (10h), após o Fed ter resgatado as chances de mais uma alta do juro e o Copom ter esvaziado as apostas de aceleração do ritmo de quedas, contratando mais dois cortes de 50pbs da Selic, que deverá fechar o ano em 11,75%. Nos dois casos, apesar da pausa nos EUA e da redução aqui, os BCs adotaram tom mais hawk, com alertas que devem repercutir nos mercados, nesta 5ªF. Powell destacou a força da economia americana, com resistência “acima do esperado”, e o comunicado do BC voltou a citar o risco fiscal como ponto de preocupação, defendendo que o governo deve perseguir a meta de zerar o déficit primário em 2024.

… A frase do Copom diz o seguinte: “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais para as expectativas de inflação e para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”.

… A menção estaria relacionada às pressões do PT sobre Haddad para mudar a meta, que têm gerado ruídos e especulações.

… O Copom também reconhece o PIB mais forte e a piora do cenário externo, com as incertezas sobre o crescimento da China e a discussão sobre juros nos EUA, que podem gerar um câmbio mais desvalorizado e pressão inflacionária para o Brasil.

… A sinalização de que não há espaço para cortes maiores da Selic, como parte do mercado apostava, ficou clara no plural usado para afirmar que o ritmo de 0,50pp será mantido “nas próximas reuniões”, ou seja, em novembro e dezembro.

… Em outro trecho, o comunicado reforça que o ritmo de 0,50pp é “apropriado para manter a política contracionista necessária”.

… O texto confirmou o estágio de desinflação, “que tende a ser mais lento”, mas ajustou levemente as suas projeções para o IPCA de 2023, de 4,9% para 5%, do IPCA de 2024, de 3,4% para 3,5%, e do IPCA de2025, de 3% para 3,1%.

… “A curva exagerou a precificação de queda e deve se ajustar nesta 5ªF”, disse Cristiano Oliveira (Banco Pine), ao Broadcast.

… Ao que tudo indica, o jogo no DI está dado até dezembro, quando expiram os mandatos de mais dois diretores da ala técnica, Fernanda Guardado (Internacional) e Mauricio Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta).

… Depois disso, dependerá do que vai rolar, inclusive nos Estados Unidos, onde o gráfico de pontos deu um susto no mercado.

… A manutenção da taxa dos Fed Funds entre 5,25% e 5,5%, era amplamente esperada, mas a revisão agressiva das projeções dos juros para 2024 (de 4,6% para 5,1%) e para 2025 (de 3,4% para 3,9%) pegou o investidor em NY de surpresa.

… Para este ano, o Fed manteve a projeção para a taxa em 5,6%, compatível com a expectativa de 12 dirigentes das distritais, que esperam juros entre 5,5% e 5,75% em dezembro, enquanto sete não acreditam que novo aumento será necessário.

… Insistindo que a atividade “tem se mostrado mais forte do que todos esperávamos”, Powell afirmou que não há ainda confiança de que “chegamos no nível adequado de aperto”. “Se a economia continuar crescendo, teremos que fazer mais.”

… O presidente do Fed também sinalizou que não há consenso em relação ao tempo que os juros serão mantidos elevados. “Após a certeza sobre o nível dos juros, a questão será por quanto tempo devemos mantê-los [elevados].”

CME – Na ferramenta que monitora os futuros dos Fed Funds, a chance de os juros ficarem estáveis na faixa de 5,25% a 5,50% em novembro seguiam em torno de 72%, ontem à noite, mas a probabilidade de mais 25pbs em dezembro atingia perto de 40%.

… As apostas do primeiro corte do juro nos Estados Unidos agora só aparecem em julho, com 32,9%, empatadas com uma pausa (32,2%), o que pode transferir o início do relaxamento monetário para meados do segundo semestre de 2024.

AGENDA – A arrecadação federal será divulgada às 10h30 pela Receita e deve desacelerar para R$ 172,900 bilhões em agosto, de acordo com a mediana das estimativas em pesquisa Broadcast, após R$ 201,829 bilhões em julho.

… De volta ao Brasil, da Assembleia Geral da ONU, Haddad almoça hoje com RCN (12h30), em day after de Copom.

LÁ FORA – O consenso ainda é de que o BCE inglês (BoE) promoverá nesta 5ªF a última alta do ciclo de aperto.

… Mas, ontem, a perda de pique da inflação (CPI) no Reino Unido em agosto, para 6,7%, abaixo da previsão de 6,8%, lançou apostas de última hora de que o BoE já possa pausar o juro hoje, ao invés de esperar até a próxima reunião.  

… Mesmo que opte pela manutenção da taxa, a expectativa é de que a decisão não seja unânime.

… Ainda na agenda do dia, Christine Lagarde (BCE) profere palestra em evento às 11h. No mesmo horário, na zona do euro, a Comissão Europeia divulga a leitura preliminar de setembro do índice de confiança do consumidor.

… Nos EUA, o auxílio-desemprego (9h30) deve ter alta de 5 mil pedidos, para 225 mil. Às 11h, saem as vendas de moradias usadas em agosto. Em NY, prossegue hoje a Assembleia Geral da ONU. Lula voltou na noite de ontem.

O CORTE HAWKISH – O alerta fiscal no comunicado do Copom e o recado muito direto de que não vai ter corte de 0,75pp da Selic este ano contratam alguma pressão para hoje na curva do DI, mas nada que deva causar sustos.  

… Segundo o Broadcast, a tendência é que as taxas até janeiro de 2026 adicionem prêmios de forma moderada.

… Chama atenção o contraponto ao Copom do Itaú, que mantém a aposta de Selic de 11,50% no fim do ano (ou seja, ainda precifica queda de 0,75pp), apesar de o comunicado não ter indicado intenção de acelerar a flexibilização.

… “As projeções apresentadas apontam para um cenário de inflação relativamente confortável para 2024 e especialmente para 2025, que ganhará cada vez mais relevância no conjunto de informação do Copom”, diz o banco.

… Ontem, os juros futuros curtos e longos zeraram a queda e o miolo da curva acelerou, à medida que os yields dos Treasuries rompiam máximas em NY, com Powell avisando que não necessariamente o ciclo de aperto acabou.

… Antes do Copom, o DI jan/24 foi a 12,260% (de 12,257% na véspera); jan/25, 10,530% (de 10,484%); jan/26, 10,235% (de 10,182%); jan/27, 10,480% (de 10,440%); jan/29, 10,990% (de 10,984%); e jan/31, 11,290% (11,293%).

… No câmbio, o dólar chegou a ser negociado abaixo dos R$ 4,85 pela manhã, antes que Powell mudasse a cena. No fechamento, a moeda à vista era negociada em leve alta de 0,15%, a R$ 4,8802, perto da máxima do dia (R$ 4,8807).

… O contrato de dólar para outubro seguiu a virada de alta e subiu 0,22%, cotado a R$ 4,8870 no final do pregão.

… No noticiário do dia, sem influência nos negócios, o BC informou que o fluxo cambial na semana passada foi positivo em US$ 591 mi, com entradas de US$ 1,712 bi pela conta financeira e saídas de US$ 1,121 bi pela comercial.

… No acumulado do mês, até dia 15, o fluxo total está negativo em US$ 1,148 bi. No ano, positivo em US$ 21,176 bi.

IMPACTO REDUZIDO – Na medida em que um corte maior da Selic para o final do ano não era uma aposta de consenso no mercado, a tendência é que o Ibovespa sinta menos a decepção de que 0,75pp não virá tão cedo.

… O índice à vista resistiu ontem à piora em NY depois do Fed e, embora tenha desacelerado das máximas, quando chegou a 119.615,70 pontos, não virou para o negativo, nem mesmo com o petróleo em queda.

… O Ibovespa interrompeu nesta 4ªF três pregões seguidos de baixa e fechou com valorização de 0,72%, aos 118.695,32 pontos. Na rotina dos volumes financeiros muito fracos, o giro somou apenas R$ 20 bilhões.

… As ações da Petrobras se defenderam em leve alta (ON, +0,13%, a R$ 37,41; e PN, +0,23% (R$ 34,29), apesar de o petróleo ter ampliado a correção técnica às máximas em 10 meses alcançadas nas últimas sessões.

… O Brent para novembro caiu 0,86%, para US$ 93,53 por barril, na realização de lucros considerada mais do que natural, já que os preços vêm numa escalada de impressionar e, só de junho para cá, já saltaram 30%.

… Ainda entre as commodities, o minério de ferro foi negociado ontem em alta de 0,46% e sustentou a Vale (+0,67%, R$ 69,31), apesar de a China ter anunciado a manutenção das suas principais taxas de juros.

… Como o BC chinês (PBoC) derrubou nos últimos dias outras taxas (repo e depósitos compulsórios), o mercado tem entendido que os esforços para estimular a economia continuam sendo endereçados por Pequim.

… Também os bancos ajudaram a bolsa doméstica a operar descolada da queda em NY: Itaú (+1,69%; R$ 27,62), Santander (+1,1%; R$ 26,56), BB (+0,89%), Bradesco PN (+0,41%; R$ 14,81) e Bradesco ON (+0,15%; R$ 13,06).

… Os papéis da Azul dispararam 11,68% e lideraram as altas do dia, após o Goldman Sachs ter elevado a recomendação da aérea de “neutro” para “compra”. O bom humor foi embalado ainda pelo petróleo em queda.

… Ainda entre as aéreas, Gol subiu 6,09%, apesar de o Goldman Sachs ter reiterado a recomendação “neutra” para a ação e reduzido o preço-alvo para o papel de R$ 11,50 para R$ 7,60. No setor de turismo, CVC ganhou 7,62%.

A PAUSA HAWKISH – O Fed não apenas cogitou nova alta do juro nos EUA este ano, como sinalizou menos cortes no ano que vem, reforçando a chance de a política monetária seguir restritiva por mais tempo (“higher for longer”).

… Para a economista da ASA Investments Andressa Durão, o Fed só vai cortar o juro se a economia americana entrar em recessão, o que parece improvável, diante da força da atividade e do mercado de trabalho apertado.

… A percepção de que o BC americano continuará com um aperto de 25pb no juro guardado na manga, se precisar enfrentar o petróleo e a economia aquecida, voltou a disparar os juros dos Treasuries nesta 4ªF.

… Nos recordes em 17 anos, a taxa da Note-2 anos fechou a 5,169%, de 5,109% (3ªF). Na máxima do dia, faltou um pulo para bater 5,20%. O yield de 10 anos tocou 4,40% no pico da sessão e terminou a 4,372%, de 4,362%.

… O mercado não esperava que o Fed viesse agressivo a ponto de transferir tão lá para frente a aposta para o primeiro corte de juro. Enquanto os retornos dos Treasuries saltavam, o índice DXY superava a linha dos 105 pontos.

… O indicador, que serve como termômetro do fôlego do dólar contra outras seis moedas fortes, avançou 0,20%, a 105,367 pontos. A libra recuou 0,39%, para US$ 1,2345, com a reprecificação das apostas do mercado para o BoE.

… O euro caiu 0,18%, a US$ 1,0663, e o iene recuou 0,32%, para 148,15/US$, à espera do BoJ (hoje, à meia-noite).

… A escalada dos juros dos Treasuries, que competem em rentabilidade com as ações do setor de tecnologia, prejudicou o Nasdaq (-1,53%; 13.469,13 pontos), em particular. Apple caiu 2%; Alphabet, -3,12%; e Microsoft, -2,4%.

… O S&P 500 recuou 0,94%, a 4.402,20 pontos, e o Dow Jones recuou bem menos (-0,22%), para 34.440,88 pontos.

EM TEMPO… TCU adiou julgamento de processo sobre política de preços da PETROBRAS; o processo, relatado por Aroldo Cedraz, estava na pauta desta 4ªF, mas foi excluído antes do início da sessão…

… Não há informação sobre quando voltará à pauta do tribunal.

PETRORIO iniciou produção do poço POL-Q, no Campo de Polvo, na Bacia de Campos (RJ); produção inicial estabilizada equivale a cerca de mil barris de óleo por dia, representando aumento de 15% na produção do campo.

NATURA. The Body Shop já tem três interessados: a Alteri Investors, a Epiris e a Elliot Advisors. (Brazil Journal)

GRUPO CASAS BAHIA (ex-Via) informou que BlackRock atingiu participação de 3,5% do total de ações ON da empresa, que correspondem a 84,8 milhões de papéis do tipo…

… No último formulário da companhia, divulgado em 16/5, gestora não aparecia com participação relevante.

AMERICANAS. O banco Safra foi à Justiça contestar um pagamento antecipado de R$ 1 bilhão em títulos de dívida feito pouco antes de a varejista anunciar “inconsistências contábeis” e entrar em recuperação judicial…

… Na petição, à qual a Folha teve acesso, o banco fala em “conduta suspeita e peculiar” do grupo Americanas, “que merece atenta e específica avaliação”.

COPEL aprovou a distribuição de R$ 958 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1450 por ação ON, R$ 0,1595 por ação PNA e PNB e R$ 0,7830 por unit, com pagamento em duas parcelas (30/11/23 e 30/6/24); ex em 2/10…

… Companhia anunciou a contratação de assessorias para potencial desinvestimento na Compagas.

CEMIG aprovou a distribuição de R$ 417 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1899 por ação, com pagamento em duas parcelas (uma até 30/6/24 e outra até 30/12/24); ex em 26/9.

GAFISA. Conselho de Administração homologou aumento de capital social da companhia no valor de R$ 11,08 milhões; assim, o capital social da empresa passou a ser de R$ 1,41 bilhão, dividido em 63,2 milhões de ações ON.

BTG PACTUAL concluiu compra da FIS Privatbank, de Luxemburgo, por € 21,3 milhões.

BANCO DO BRASIL e CAIXA reduziram juros de linhas de crédito após corte da Selic pelo Copom.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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