Morning Call

Meta fiscal e Powell no radar

Atualizado 22/03/2024 às 01:21:13

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[22/03/24]

Powell participa de evento às 10h e, se falar de política monetária, a torcida é para que confirme a orientação do gráfico de pontos de três cortes de juro este ano nos EUA, com o chance de o ciclo começar em junho. É o que tem embalado as bolsas em NY, que ontem, pelo segundo pregão consecutivo, cravaram recordes históricos simultâneos. Sem a mesma sorte, o Ibov não acompanhou, sob o desconforto do comunicado do Copom, que não comunicou direito. O investidor está no escuro sobre quais são as “incertezas domésticas” que levaram o BC ao ajuste no guidance, sinalizando que nova queda de 0,5pp da Selic só vale, por enquanto, na próxima reunião de política monetária (maio). A suspeita de que é o fiscal que está pegando pode limitar maior entusiasmo hoje com o relatório bimestral de receitas e despesas (10h). Deve vir bloqueio de só R$ 3 bilhões e meta de déficit fiscal ainda zero.

… A projeção inicial era de que seria necessário bloquear de R$ 5 bilhões a 15 bilhões para continuar bancando no relatório a ser enviado ao Congresso a promessa da Fazenda de zerar o déficit das contas públicas em 2024.

… Mas a surpresa positiva da elevação das receitas (com a arrecadação melhor neste início de ano) e da revisão de gastos previdenciários com o INSS deve permitir que o Executivo congele menos recursos aos ministérios.

… Divulgados ontem, os dados oficiais da arrecadação confirmaram o melhor fevereiro da história: R$ 186,522 bi. Nos dois primeiros meses do ano, o volume arrecadado (R$ 467,158 bi) também foi recorde para o período.

… Os picos refletiram o pacote de medidas adotado no ano passado pela Fazenda para turbinar a arrecadação, como a mudança na taxação sobre os fundos exclusivos (“super-ricos”), que sozinha gerou R$ 4 bilhões em receitas.

… A estratégia do governo agora é usar esse fôlego para esvaziar e adiar o debate sobre flexibilização da meta fiscal.

… O bom desempenho da receita libera a abertura de crédito suplementar para gastos, como prevê o arcabouço.

… Em entrevista ao Estadão, porém, o secretário Rogério Ceron (Tesouro) disse que a equipe econômica só lançará mão da abertura de crédito extra, se for compatível e não prejudicar o cumprimento do alvo fiscal (déficit zero).

… Ele revelou, ainda que a abertura de crédito permitida para maio (quando sai o segundo relatório de receitas e despesas) pode ser parcial, apenas para cobrir parte das despesas obrigatórias, como benefícios previdenciários.

… Especialistas em contas públicas ouvidos pelo jornal alertam, no entanto, que a eventual abertura do crédito suplementar para gastos pode “canibalizar” o cumprimento da meta zero, com o governo elevando as despesas.

… O mercado, que nunca acreditou na meta, teme que ainda neste primeiro semestre (maio) o governo se veja obrigado a alterar o target fiscal, para déficit de 0,25% do PIB ou algo pior, pressionado pelos gastos maiores.

… Uma política fiscal mais expansionista está contratada não apenas pelas eleições municipais, mas especialmente pela corrida do governo para reverter a queda de popularidade de Lula revelada pelas pesquisas de opinião.

… No final da tarde de ontem, a Datafolha apontou que, um ano e três meses depois de assumir a Presidência da República pela terceira vez, Lula vê a sua aprovação empatar tecnicamente com a rejeição ao seu governo.

… Segundo o levantamento, 35% consideram o trabalho do presidente ótimo ou bom, de 38% antes. A reprovação (avaliação como ruim ou péssimo) subiu de 30% para 33%. A margem de erro é de 2pp para mais ou menos.

… O clima de insatisfação já havia sido captado em outras pesquisas e também pela cúpula do Planalto, que levou Lula a convocar reunião ministerial na última 2ªF para cobrar entregas e viagens pelo Brasil para divulgar ações.

… Essa fragilidade política torna o governo dependente de choques positivos e pode respingar na política fiscal por três canais diferentes, comentou ao Broadcast o cientista político e sócio da consultoria Tendências, Rafael Cortez.

… O primeiro diz respeito à governabilidade. Diante de uma base já fragmentada no Congresso, as medidas da equipe econômica de recuperação de receitas podem enfrentar maior dificuldade para passar.

… No segundo foco de pressão, os gastos tendem a subir se a aprovação do governo continuar caindo. Um terceiro risco no horizonte seria, no limite, a intervenção em preços administrados (combustíveis) para conter a inflação.

… Se serve de alívio às contas públicas, o STF derrubou a revisão da vida toda dos segurados do INSS e poupou a União de gastar R$ 480 bi. A decisão marcou uma reviravolta, invalidando decisão tomada há pouco mais de um ano.

… A revisão incluiria salários antigos, pagos em outras moedas, no cálculo de benefícios, elevando as aposentadorias.

MAIS AGENDA – O secretário do Orçamento, Paulo Bijos, comenta o relatório bimestral de receitas e despesas às 10h30. Ontem, no boletim macrofiscal de março, a Fazenda reduziu a previsão do IPCA/24, de 3,55% para 3,50%.

… A estimativa para a inflação no ano que vem foi mantida em 3,10% e a previsão do PIB/23 seguiu em 2,2%.

LÁ FORA – Os diretores do Fed Michelle Bowman e Philip Jefferson estarão junto com Powell no evento de hoje. Além deles, outros dois integrantes do Fed participam de conferências: Michael Barr (13h) e Raphael Bostic (17h).

… Baker Hughes divulga poços de petróleo operando nos EUA (14h). Rússia (7h30) e Colômbia (15h) decidem juro.

GUERRINHA DE APOSTAS – Perdido em combate, o mercado espera pela ata do Copom (3ªF), que ainda pode reprecificar as apostas da Selic em junho, quando está valendo tudo: corte de 0,5pp, corte de 0,25 ou nenhum corte.

… Até que o BC detalhe no documento de quais “incertezas domésticas” estava falando no comunicado para ter tirado o plural da orientação sobre os próximos passos, o espaço para volatilidade continuará aberto nos negócios.

… Em pesquisa Broadcast, a mediana dos economistas para a Selic terminal já subiu de 9,00% e 9,25% e, como disse Leonardo Cappa (da consultoria Traad), “a barra para cortar [o juro] para 9%, ou abaixo de 9%, está ficando alta”.

… A curva do DI também vai puxando a régua, para mais perto de dois dígitos, a 9,75%, de 9,65% antes do Copom. O que se diz é que, ainda que o BC chegue ao mesmo ponto final planejado na Selic, pode demorar mais para chegar lá.

… O UBS BB mudou projeção do juro em junho de 9,50% para 9,75%. Estimava corte de 75pbs e, agora, vê 50pbs.

… Na B3, os vértices intermediários dos DIs, mais sensíveis às expectativas para o ciclo da Selic, ampliaram as altas.

… O juro para Jan25 subiu a 9,940% (de 9,906%). O Jan26 avançou a 9,865% (de 9,808%). O Jan27 foi a 10,105% (de 10,047%); o Jan29, a 10,590% (de 10,533%); o Jan31, a 10,840% (de 10,788%); e o Jan33, a 10,950% (de 10,892%).

… Corte menor ou queda mais lenta da Selic, tanto faz. Qualquer cenário é pior à bolsa. Assim, sem poder surfar no humor dovish que tomou conta do mercado internacional ontem, os investidores domésticos ativaram o risk-off.

… Descolado de NY, o Ibovespa até tentou um rali no início do dia, mas sucumbiu ao desempenho negativo dos setores financeiro e de consumo. As blue chips também não ajudaram.

… Banco do Brasil caiu 1,40% (R$ 55,64), seguido por Santander unit, -1,22% (R$ 28,26), Bradesco ON, -0,93% (R$ 12,76), e PN, -1,12% (R$ 14,14), além de Itaú Unibanco (-1,03%, a R$ 34,44).

… Cogna liderou as perdas, com -11,90%, a R$ 2,37, afetada não apenas pela alta dos juros futuros, mas pelo prejuízo no 4Tri. CVC perdeu 5,04% (R$ 3,39) e Casas Bahia baixou 3,10% (R$ 7,81).

…  Petrobras caiu forte, destoando do recuo leve do petróleo. O papel ON recuou 2,04% (R$ 36,57) e o PN cedeu 2,72% (R$ 35,70).

… O mercado não gostou dos nomes indicados pela União e pelos minoritários para as eleições dos conselhos administrativo e fiscal, no dia 25/4. Além disso, o “efeito Copom” não passou batido nos papéis, muito líquidos.

… Na ICE, o Brent/maio cedeu 0,20%, a US$ 85,78 por barril. O WTI/maio recuou 0,25%, a US$ 81,07, na Nymex.

… Vale ignorou a alta forte de 2,72% do minério de ferro em Dalian, que voltou para perto dos US$ 120/t, e caiu 0,24% (R$ 61,66).

… No lado oposto, Marfrig (+2,69%; R$ 10,30), São Martinho (+1,94%; R$ 28,89) e LWS (+1,85%; R$ 6,05) foram bem.

… O dólar seguiu o exterior, mas a valorização por aqui foi limitada pela mudança do guidance do Copom.

… Ao deixar em aberto os passos da política monetária em junho, o colegiado levou a especulações de que a Selic pode terminar 2024 acima do esperado.

… Uma perspectiva de juro doméstico maior favorece o carry trade e colabora para uma menor saída de capital estrangeiro da renda fixa.

… Também abriram espaço para um dólar mais suave ontem a forte alta do minério, que beneficia países produtores, como o Brasil, e os Treasuries ecoando os sinais dovish do Fed na 4ªF (ao menos no início do dia).

… No fechamento, a moeda à vista subiu 0,11%, a R$ 4,9798, sem ter batido os R$ 5 em nenhum momento.

COMBINAÇÃO PERFEITA – Dados mostrando que a economia americana segue firme e o Fed com disposição de cortar juros este ano formaram a receita para mais um dia de recordes históricos simultâneos nas bolsas em NY.

… O S&P 500 registrou o 20º recorde do ano, aos 5.241,53 pontos (+0,32%), e o Dow Jones subiu 0,68% (39.781,37).

… O Nasdaq avançou 0,20% (16.401,84), mesmo com Apple caindo 4,1%, diante da notícia de que o Departamento de Justiça dos EUA está processando a companhia por monopólio em smartphones.

… Os BCs da Suíça e da Inglaterra ainda ajudaram no risk-on em Wall Street.

… O primeiro cortou o juro de forma inesperada, em 0,25pp, para 1,5%. Foi a primeira entre as economias avançadas a cruzar o sinal da flexibilização, algo que o mercado esperava apenas para junho.

… Depois, o BoE seguiu o curso esperado e manteve o juro em 5,25% pela 5ª vez consecutiva. Mas dois de seus falcões, que vinham votando por apertos, juntaram-se à maioria (8 a 1) para manter as taxas.

… O BoE também disse que a inflação britânica está evoluindo “na direção correta”, fornecendo a indicação de que o início do ciclo de relaxamento monetário já aparece no horizonte, talvez em junho.

… Nos EUA, a rodada de indicadores da economia pós-reunião do Fed veio melhor que as previsões.

… Na mais surpreendente, a venda de moradias usadas aumentou 9,5% nos EUA em fevereiro ante janeiro, segundo a NAR. A previsão era de queda de 1,7%.

… O número de pedidos de auxílio-desemprego caiu a 210 mil, quando se esperava alta a 215 mil. Na indústria, o PMI aumentou a 52,5 em março, de 52,2 em fevereiro, segundo a S&P Global. A aposta era de queda a 51,8.

… Em tese, dados de atividade mais fortes num cenário de inflação persistente assustariam o mercado, mas desde o Fomc e as declarações de Powell, investidores voltaram a olhar com mais carinho a tese de pouso suave.

… Destaque do dia nas bolsas em NY, a fabricante de semicondutores Micron Technology disparou14,9% depois de reportar um lucro muito acima do esperado no 2Tri fiscal.

… Ainda no setor, Nvidia (+1,18%), Intel (+0,52%) e Broadcom (+5,64%), acompanharam a festa. Reddit disparou 48% após o IPO.

… Bancos também subiram no pós-Fed. Goldman Sachs registrou um rali de 4,35% e Morgan Stanley, Citigroup e o Bank of America avançaram mais de 2%.

… Os retornos dos Treasuries ficaram sem direção única. O curto prazo subiu com os indicadores mais fortes e a taxa da note de 2 anos acelerou a 4,641% (de 4,602%).

… A de 10 anos teve alta tímida a 4,274% (4,271%) e a do T-bond de 30 anos recuou a 4,442% (4,453%).

… Com a libra (-1%, a US$ 1,2655) e o franco suíço (-1,32%, a 0,8983/US$), em queda, o índice DXY do dólar avançou 0,60%, a 104,306 pontos. O euro caiu 0,57%, a US$ 1,0859, e o iene recuou 0,38%, para 151,71/US$.

EM TEMPO… B3 aprovou a distribuição de R$ 292,5 milhões em JCP, o equivalente ao valor líquido de R$ 0,0444 por ação, com pagamento em 5/4; ex em 27/3.

SABESP registrou lucro líquido de R$ 1,18 bi no 4Tri23, alta de 84,7% em base anual.

QUALICORP registrou prejuízo de R$ 58,7 milhões no 4TRI23, queda de 26,5% ante prejuízo do 4TRI22; Ebitda ajustado somou R$ 169,7 milhões, recuo de 21,2% na comparação anual.

MINERVA concluiu oferta da 14ª emissão de R$ 2 bilhões em debêntures simples, divididas em 3 séries.

REDE D’OR aprovou a distribuição de R$ 300 milhões em JCP, o equivalente, a R$ 0,1330 por ação, com pagamento em 5/4; ex em 27/3.

CEMIG aprovou a distribuição de R$ 386 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1755 por ação, com pagamento em 2 parcelas (até 30/6/25 e até 30/12/25); ex em 27/3.

CPFL registrou lucro líquido de R$ 1,32 bilhão no 4TRI, queda de 3,5% na comparação anual; Ebitda consolidado somou R$ 3,11 bilhões, recuo de 18,2% em relação ao mesmo período de 2022.

COPEL. Conselho vai submeter plano de outorga com diluição de até 1% do capital social à AGE, em 22/4.

EQUATORIAL concluiu venda de 100% das ações representativas do capital social da Integração Transmissora de Energia (Intesa) para a Infraestrutura e Energia Brasil por R$ 320,91 mi…

… Resta ainda valor remanescente de até R$ 84,49 mi referente a earn-out.

COPASA registrou lucro líquido de R$ 355,2 milhões no 4TRI, alta de 32,4% na comparação anual; Ebitda somou R$ 679,7 milhões, crescimento de 28,3% em relação ao mesmo período de 2022.        

EVEN teve lucro de R$ 57,2 mi no 4TRI23, salto contra o lucro de só R$ 150 mil um ano antes; Ebitda somou R$ 142,6 mi, bem acima dos R$ 12,3 mi do 4TRI22; e receita líquida totalizou R$ 938,5 milhões, alta de 89% na base anual.

WILSON SONS teve lucro líquido de R$ 113,5 milhões no 4TRI23, alta de 0,8% s/ 4TRI22.

ESPAÇOLASER registrou prejuízo de R$ 19 milhões no 4TRI, incremento de 18,3% sobre a perda de R$ 16 milhões apresentada um ano antes; Ebitda somou R$ 41,7 milhões, alta de 6% na comparação anual.

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*com a colaboração da equipe do BDM Online

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