Morning Call
Negociações do pacote estão concluídas, diz Haddad
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[12/11/24]
… Passado o meio-feriado em NY, o mercado de Treasuries volta a funcionar, com a provável pressão dos yields, que seguem se ajustando ao Trump Trade junto com o dólar, enquanto Wall Street renova recordes. Sem indicadores relevantes lá fora hoje, o destaque é para o balanço da Home Depot, antes da abertura. Aqui, estão previstos mais dez resultados, incluindo CSN, após o fechamento. A curva de juros espera pela ata do Copom (8h) com especial interesse nas questões fiscais, depois que o comunicado alertou sobre a importância da “apresentação e execução de medidas estruturais” para a ancoragem das expectativas. Ontem à noite, Haddad falou com os jornalistas na saída de uma reunião com Lula sobre o pacote de contenção de gastos e, segundo o ministro, está tudo praticamente acertado.
… Haddad confirmou que as negociações com os ministérios que foram chamados a participar foram concluídas no final de semana. Isso significa que houve acordo com as áreas sociais, como Saúde, Educação, Desenvolvimento Social e Trabalho.
… O ministro disse, ainda, que Lula pediu a inclusão de mais um ministério para contribuir com o esforço fiscal, mas não revelou qual seria esse ministério. O Valor e a GloboNews citam a Defesa como alvo.
… Haddad informou que as propostas já estão com a Casa Civil para “os ajustes de redação” e que, nesta tarde, voltará a conversar com o presidente Lula para decidir o encaminhamento das medidas ao Congresso.
… Auxiliares de Lula dizem que pacote de gastos só deve ser enviado ao Legislativo depois da reunião do G20, que ocorrerá no Rio de Janeiro na semana que vem (dias 18 e 19), segundo fontes do Broadcast.
… Perguntado se o pacote virá desidratado, Haddad admitiu que houve ajustes para tornar as medidas mais palatáveis, mas considerou “benéfico” o resultado. O ministro não quis cravar a data do anúncio, que será decidida por Lula.
… Haddad não quis comentar sobre a atitude do PT, que assinou manifesto contra a pressão pelos cortes, junto com movimentos sociais e partidos de esquerda. Depois de receber críticas por isso, Gleisi Hoffmann disse que apoiará a decisão de Lula.
… Nesta 2ªF, foi só surgir a notícia de que Haddad estava no Planalto com Lula para o investidor devolver o pessimismo e recuperar algum ânimo. Somada à percepção de risco fiscal, a perspectiva das políticas de Trump para os emergentes tem pesado.
… E porque as condições do mercado externo se tornaram mais adversas é que o pacote é esperado com ansiedade ainda maior.
… Não que as medidas conseguirão zerar os efeitos de um dólar fortalecido e de juros mais elevados nos EUA, nem tampouco as ameaças de Trump de punir a China com taxas de importação, que podem inviabilizar a recuperação de sua economia.
… Mas se existe uma coisa que pode tornar o ambiente para os negócios menos difícil no Brasil é um pacote fiscal consistente e que possa desviar a trajetória da dívida pública de projeções explosivas. A expectativa é muito alta e esse também é um perigo.
… As especulações sobre o montante do pacote se mantêm em um mínimo de R$ 30 bilhões, mas só os cortes podem não ser suficientes, já que investidores esperam por medidas estruturais envolvendo o crescimento das despesas, que garantam o longo prazo.
… Se as medidas não convencerem, o mercado pode reagir muito mal, ampliando a pressão sobre o dólar e os juros.
… Até conhecer os cortes de gastos, o mercado trabalha com um Copom agressivo para compensar o fiscal expansionista.
… Enquanto o real acentuava a desvalorização, ontem, com o dólar a R$ 5,80 na máxima, na curva do DI, as chances de uma aceleração do ritmo de alta da Selic, para 75pbs, estavam em 100% para dezembro e mais de 70% para janeiro (abaixo).
ATA DO COPOM – A percepção do BC sobre a política fiscal, destacada na mensagem do Copom na reunião de novembro, estará na mira do mercado financeiro na ata da reunião, que será divulgada daqui a poucas horas.
… Segundo levantamento do Broadcast, a leitura dos economistas é de que houve uma mudança de tom em relação ao fiscal, já que o BC defendeu, no comunicado da semana passada, a execução de medidas estruturais para o orçamento.
… Os economistas do mercado também têm expectativas de mais detalhes sobre a atividade, cenário externo e nível do juro real neutro.
… Após o comunicado do Copom, o mercado calibrou suas expectativas para os encontros seguintes, prevendo, em sua maioria, um nível mais alto de Selic ao final do atual ciclo de aperto monetário.
… Houve elevação nas expectativas intermediárias para a reunião de janeiro (12% para 12,25%); março (12,13% para 12,50%) e para o nível da Selic no fim de 2025 (11,25% para 11,75%), na comparação com levantamento realizado antes da reunião.
… A mediana para a Selic no 2Tri/2026, atual horizonte relevante da política monetária, também subiu, passando de 10% para 10,50%.
… Diferente do mercado, entre os economistas é unânime a expectativa de nova alta de 50pbs no juro básico em dezembro.
MAIS AGENDA – O mercado de trabalho forte deve impulsionar as vendas no varejo restrito em setembro, que o IBGE divulga às 9h. A mediana em pesquisa Broadcast indica alta de 1,4%, após recuo de 0,3% em agosto.
… As estimativas do mercado para esta leitura, todas de crescimento, vão de 0,2% a 3%.
… Dois diretores do BC falam em evento da Febraban: Otavio Damaso (9h) e Renato Dias Gomes (14h).
BALANÇOS – Antes da abertura, tem BTG Pactual. Após o fechamento, além de CSN, vêm CSN Mineração, CVC, Eneva, Hapvida, IRB Re, Raízen, SLC Agrícola e Stone. Leia no Em tempo… os resultados de ontem à noite.
LÁ FORA – Opep divulga relatório mensal sobre o petróleo, sem horário. Nos EUA, falam quatro dirigentes do Fed: Christopher Waller (12h), Tom Barkin (12h15 e 19h30), Neel Kashkari (16h) e Patrick Harker (19h).
CHINA – Em apoio fiscal para reanimar o mercado imobiliário, o governo estuda proposta para que grandes cidades, como Xangai e Pequim, reduzam o imposto sobre escrituras na compra de casas de 3% para 1%.
VIVENDO PERIGOSAMENTE – Apesar da convicção de Lula de que “vai vencer” o mercado, que “fala bobagem todo dia”, um eventual decepção com o pacote fiscal ameaça colocar o governo em um confronto arriscado.
… Se o controle de gastos públicos pretendido for considerado insuficiente para enfrentar os desafios, o investidor ameaça levar o dólar rapidamente R$ 6,00 e projetar um choque de 0,75pp na Selic em dezembro.
… “Vai ser difícil manter ritmo de 50 pontos-base de alta dos juros com um pacote de corte de gastos que deve trazer uma melhora apenas efêmera [dos prêmios de risco]”, disse o sócio fundador da Legacy, Pedro Jobim.
… Ainda em evento organizado pelo UBS em São Paulo, o chefe de pesquisa da Kapitalo Investimentos, Carlos Viana de Carvalho, afirmou que a tentação do BC de intervir no câmbio é crescente e desperta preocupação.
… “A gente sabe que o dólar fazer movimentos que geram sensação de crise é o que faz Brasília começar a se mexer. Já ouvimos argumentos pedindo intervenção. Vejo o atual Banco Central mais suscetível a essa pressão.”
… Apesar da combinação de cenário exterior adverso e dinâmica ruim do endividamento público no Brasil, o BC ainda não parece estar vendo um câmbio disfuncional, a ponto de precipitar qualquer atuação mais firme.
… Como todo mundo, também o BC continua à espera do anúncio do pacote fiscal para ver onde tudo vai dar.
… Sem urgência, pelo menos por enquanto, para entrar com leilão à vista ou de linha, o BC só anunciou ontem à noite que iniciará hoje a rolagem integral dos contratos de swap cambial (US$ 15,75 bi) que vencem em janeiro.
… Em nota, o economista André Perfeito tem dúvidas se as pressões no dólar irão tão mais longe.
… “Os efeitos defasados do início do ciclo de alta dos juros no Brasil ainda irão ser sentidos e o câmbio, por mais que a tendência seja ainda de alta, não deve ter altas adicionais na margem na mesma velocidade”, acredita.
… Ele pondera que, embora um corte de gastos pelo governo seja “inescapável”, o mercado pode estar no pico do estresse, precificando Trump e a inflação mais elevada, mas que existe margem de melhora no humor.
… Ontem, o levantamento Focus voltou a mostrar desancoragem das expectativas para o IPCA deste ano (de 4,59% para 4,62%), do ano que vem (de 4,03% para 4,10%) e de 2026 (de 3,61% para 3,65%).
… Houve piora também na mediana para o câmbio/2024 (R$ 5,50 para R$ 5,55) e 2025 (R$ 5,43 para R$ 5,48).
… Ainda na agenda do dia, o déficit do setor público consolidado em setembro veio em R$ 7,3 bilhões, menor do que o esperado (R$ 8,2 bilhões). Mas não aliviou, porque continua em níveis bastante preocupantes.
… “O déficit primário de R$ 245,605 bilhões em 12 meses até setembro, o equivalente a 2,15% do PIB, indica que as contas públicas estão bem distantes da banda estabelecida pelo arcabouço fiscal”, segundo a Stonex.
… Apesar de tudo, os negócios domésticos resolveram descontar parte dos riscos nesta 2ªF. A expectativa de que o pacote fiscal está no jeito para sair despertou na reta final do pregão uma queda na percepção de risco.
… Exibindo algum alívio, os juros futuros e o dólar desaceleraram o ritmo de alta e o Ibov zerou as perdas.
… No fechamento, o DI para Janeiro de 2026 marcava 13,115% (de 13,060% na 6ªF); Jan/27 estava em 13,200% (de 13,090%); Jan/29, 12,975% (de 12,925%); Jan/31, 12,820% (de 12,760%); e Jan/33, 12,690% (de 12,620%).
… Em uma reviravolta depois de ter rompido R$ 5,80 na primeira metade dos negócios, quando chegou a R$ 5,8164, o dólar se afastou das máximas e fechou cotado a R$ 5,7695 no final do dia, em alta de 0,59%.
BENEFÍCIO DA DÚVIDA – Inclinado à esperança de que o pacote fiscal está para sair, depois da reunião fora da agenda de Lula e Haddad nesta 2ªF, também o Ibovespa testou alguma melhora, em clima de esperar para ver.
… Não chegou a subir efetivamente, mas também não caiu, optando pela estabilidade (+0,03%), aos 127.873,70 pontos. O volume financeiro piorou contra o pregão anterior, a R$ 20,3 bilhões, em dia de meio-feriado em NY.
… Vale foi novamente destaque de queda (-3,27%; R$ 58,65), operando abaixo de R$ 60 pela primeira vez desde setembro, diante da decepção com os estímulos chineses (o minério derreteu 2,87%) e o protecionismo de Trump.
… “O Brasil é a China. É a nossa maior corrente de comércio, responde por quase 60%. Se Trump tiver sucesso em bater na China, o Brasil terá um problemão”, disse André Bannwart (UBS), em fórum de investimentos em SP.
… Outras metálicas também foram mal. Na véspera de seu balanço, CSN recuou 3,91% (R$ 11,29). Usiminas caiu 2,56% (R$ 6,09) e Bradespar, acionista da Vale, cedeu 1,86% (R$ 19,00).
… Entre os bancos, faltou fôlego. Santander caiu 1,16%, para R$ 26,37, na mínima do dia. Bradesco ON registrou -0,42% (R$ 11,99) e PN, -0,37% (R$ 13,46). BB fechou estável (+0,08%), a R$ 26,01, e Itaú subiu só 0,11%, a R$ 35,12.
… Petrobras teve alta discreta, mas até que foi bem diante do tombo de 2,76% no Brent/jan (US$ 71,83), puxado pela alta do dólar. O papel ON da petroleira avançou 0,15% (R$ 39,14) e o PN ganhou 0,19% (R$ 36,25).
… A estabilidade do Ibov se sustentou na forte alta de Embraer (+3,46%), que renovou o preço recorde a R$ 55,65, após notícia do acordo para vender aviões à Suécia. Cogna saltou 8,82%, a R$ 1,48, e Yduqs, +5,87%, a R$ 10,83.
… Petrorecôncavo subiu 4,71%, a R$ 18,46, apoiada no balanço do 3Tri.
ROTINA DE RECORDES – A agenda Trump continua a fazer preço em NY. Numa sessão de liquidez reduzida pelo Dia dos Veteranos, as bolsas tiveram ganhos discretos. Ainda assim, alcançaram novos níveis históricos.
… Em alta pela 5ª sessão, o Dow Jones (+0,69%) fechou pela 1ª vez acima dos 44 mil pontos (44.293,69 pontos). O S&P 500 ganhou 0,10% (6.001,42). O Nasdaq ficou perto da estabilidade (+0,06%), aos 19.298,76 pontos.
… Tesla continuou dando saltos. Ontem, foi de 9%, com a perspectiva de que a empresa vai se beneficiar dos laços de Elon Musk com Trump.
… Desde a eleição do republicano, o S&P 500 subiu 4% e o Nasdaq avançou 5%, o que pode provocar alguma realização de lucro no curto prazo, segundo analistas.
… Um possível catalisador é o CPI de outubro, que sai amanhã e deve trazer números próximos aos de setembro.
… Mas a perspectiva é de alta para as ações, segundo Andrew Tyler, chefe de inteligência de mercado do JPMorgan. “Os retornos do fim de 2024 devem ser maiores que os do fim de 2016 [quando Trump ganhou a 1ª eleição].”
… “A grande vantagem do S&P 500 é que as economias da China, UE, Reino Unido, Canadá e México estão mais fracas que em 2016”.
… Também em nota a clientes, Lisa Shalett, diretora de investimentos do Morgan Stanley WM, disse ver força nos mercados de ações, apesar de os índices estarem bem esticados.
… “A vitória decisiva dos republicanos acendeu o ‘espírito animal’ dos investidores”, disse.
… Outro que citou o ânimo comprador com a postura pró-corporações de Trump foi o estrategista veterano Ed Yardeni, que prevê o S&P 500 em 6.100 pontos no fim deste ano, 7.000 no fim de 2025 e 8.000 no fim de 2026.
… No câmbio, o índice DXY avançou 0,52% e voltou a superar a barreira dos 105,500 pontos (105,543), em mais um dia de alta sob o efeito do resultado da eleição americana.
… O euro caiu 0,60%, a US$ 1,0656. A libra cedeu 0,44%, a US$ 1,2865, e o iene recuou 0,72%, a 153,722/US$.
EM TEMPO… SABESP registrou lucro líquido ajustado de R$ 6,1 bilhões no 3TRI24, mais de sete vezes acima do 3TRI23; Ebitda ajustado somou R$ 10,5 bilhões, cerca de 3,5 vezes maior que o reportado um ano antes.
ITAÚSA teve lucro líquido recorrente de R$ 3,9 bilhões no 3TRI24, alta anual de 13%; ROE sobre PL médio foi de 18,3%, alta de 0,8pp ante 3TRI23; ativo total aumentou 8,1%, para R$ 95,883 bilhões…
… Endividamento líquido caiu 45,6%, para R$ 939 milhões, no período.
LOCALIZA teve lucro líquido de R$ 812 milhões no 3TRI24, alta de 22,2% na comparação anual; Ebitda subiu 24,1%, para R$ 3,3 bilhões.
MOVIDA aprovou programa de recompra de até 23,278 milhões de ações, equivalente a 15% do total em circulação, por 18 meses.
CCR. Tráfego de veículos nas rodovias subiu 4,3% em outubro na comparação anual.
SÃO MARTINHO apurou lucro líquido de R$ 187,449 milhões no 2Tri24, queda anual de 55,2%; Ebitda somou R$ 943,108 milhões, alta de 44%.
3TENTOS registrou lucro líquido de R$ 318,4 milhões no 3TRI, alta de 46,1% na comparação anual; Ebitda ajustado somou R$ 342 milhões, salto de 194% em relação ao mesmo período de 2023.
GRUPO SBF, dono da Centauro, teve lucro líquido de R$ 133,7 milhões no 3TRI24, alta de 84% na base anual.
FERBASA ampliou lucro líquido em 38,9% no 3TRI24, para R$ 103,5 milhões.
EVEN teve prejuízo líquido de R$ 109,9 milhões no 3Tri24, revertendo lucro do 3Tri23; excluindo Melnick, prejuízo líquido foi de R$ 3,9 milhões no período.
LOJAS QUERO-QUERO reduziu prejuízo líquido em 69,7% no 3TRI24 s/ 3TRI23, para R$ 3,7 milhões.
TRACK & FIELD informou lucro de R$ 24,5 milhões no 3Tri24, queda anual de 9,9%. Ebitda subiu 9%, a R$ 45 mi.
PETROBRAS, GERDAU E SULBRÁS firmaram contratos de fornecimento de gás natural no âmbito do mercado livre; contratos vão atender a unidades produtivas da siderúrgica no Rio Grande do Sul.
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