Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[03/05/24]

… A ação da Apple saltou quase 6% no after hours em NY, na primeira boa notícia do dia, mas ainda falta o payroll surpreender com uma piora “significativa” nas condições do mercado de trabalho, como avisou Powell, para que o investidor passe a apostar com mais força na queda do juro, nos EUA. Um novo susto do emprego em abril, depois da criação de 303 mil vagas em março, esvaziaria o entusiasmo que tomou os negócios nos dois últimos dias, provocando nova onda de estresse. O consenso é de criação de 225 mil postos. O dado sai às 9h30; até lá ninguém vai se arriscar a fazer nada… Se tudo der certo, a festa está contratada, agora que Wall Street voltou, até mesmo, a acreditar nas chances de dois cortes pelo Fed neste ano. O payroll também é importante para projetar o Copom na próxima 4ªF.

… Na esteira do discurso de Powell, que pode não ter sido dovish, mas ficou longe de vir hawk como se temia, o monitoramento do CME Group resgatou uma pequena possibilidade de queda do juro em junho (15%), o que parece bastante improvável.

… Setembro segue como o primeiro mês em que o ciclo de relaxamento aparece como majoritário, mas a probabilidade de dois cortes de 25pbs até dezembro avançou sensivelmente, nesta 5ªF, para 33,5%, contra 35% para uma única redução.

… O que está em jogo hoje, portanto, é a expectativa dos próximos movimentos do Fed, depois que Powell afastou o risco de uma alta do juro, pelo menos “neste momento”, devolvendo ao mercado a confiança de que a inflação não fugirá ao controle.

… Ainda sobre o payroll, atenção para a taxa de desemprego, que deve se manter estável em 3,8%, e para o crescimento do salário médio por hora trabalhada, que deve permanecer no mesmo ritmo de marco, com alta de 0,30%, ou 4% anualizado.

… Às 10h45 e 11h, saem os índices PMI de Serviços em abril nos EUA: primeiro o dado da S&P Global, que deverá recuar para 50,9 de 51,7 em março, e na sequência o dado do ISM, com previsão de leve alta para 51,7, de 51,4 em março.

… Nesta 5ªF, indicadores fortes, como do custo unitário do emprego, pedidos de auxílio desemprego e encomendas à indústria, chegaram a pressionar pontualmente o dólar e os juros, mas a convicção de que o payroll será o catalisador maior predominou.

… Houve correção expressiva nas taxas dos Treasuries e do dólar, que replicou na valorização do real e na queda dos juros futuros na B3, na contagem regressiva ao Copom, enquanto as bolsas ficaram livres para voar, em Wall Street e no Ibovespa (leia abaixo).

… Entre os economistas do mercado, a desaceleração do ritmo de cortes da Selic na reunião da semana que vem já se tornou majoritária. De 45 casas consultadas em sondagem do Broadcast, 25 delas (55%) esperam queda de 25pbs e não de 50pbs.

… A mediana para a Selic no fim do ciclo subiu de 9,50% para 9,75%, em comparação à pesquisa realizada no dia 18 de abril e a mediana para o final deste ano também foi ajustada, de 9,50% para 9,75%. Para 2025, a mediana permaneceu estável em 9,00%.

… A percepção de que o Fed poderá demorar mais para cortar os juros foi mencionada por Campos Neto, em várias declarações recentes, como fator de risco, juntamente com o aumento das tensões fiscais e as expectativas de inflação ainda fora da meta.

… Entre as instituições que atualizaram seus cenários para um corte de 25pbs em maio, apostando que o Copom vai abandonar seu plano de voo comunicado em março – quando contratou queda de 50pbs – estão BofA, ABC Brasil, BNP Paribas, JPMorgan e XP.

… RCN deixou claro que o forward guidance estava condicionado a uma evolução da conjuntura, que não ocorreu conforme o esperado.

… De qualquer forma, do mesmo modo que um payroll enfraquecido hoje avançaria apostas em NY, também pode recuperar projeções de uma Selic terminal mais baixa. O problema é que o inverso também é verdadeiro. Se piorar lá, piora aqui.

APPLE – A big tech informou depois do fechamento lucro líquido de US$ 23,636 bilhões no 2Tri fiscal, 2% abaixo dos US$ 24,160 bilhões, mas o resultado diluído por ação, de US$ 1,53, ficou acima do esperado pelo mercado (US$ 1,50).

… A empresa ainda anunciou a recompra de US$ 110 bilhões em ações, 22% a mais que em 2023 e no valor da história da empresa.

… A receita caiu para US$ 90,75 bilhões, mas o valor ficou acima dos US$ 90 bilhões estimados.

… Já as vendas de iPhone caíram 10%, para US$ 45,96 bilhões, abaixo dos US$ 46 bilhões previstos pelo mercado.

… A Apple vendeu menos nas Américas, no Japão e, principalmente, na China, onde registrou a maior redução em receita na comparação anual, de US$ 17,81 bilhões para US$ 16,37 bilhões. Mas esperava-se um recuo maior, para US$ 15 bilhões.

… Os papéis subiram 5,94% no after hour de NY. Além da receita acima do esperado e da recompra, o mercado gostou da previsão de um retorno ao crescimento ainda neste ano fiscal, gerando otimismo de que a desaceleração de vendas da big tech está diminuindo.

… No Washington Post, o CEO da Apple, Tim Cook, poderá anunciar novos recursos de Inteligência Artificial (IA) na próxima semana, o que causou a expectativa de que a empresa embarque na onda da IA e invista no próximo iPhone.

VALE – ADR caiu 0,40% no after hours em NY, refletindo o risco de o acordo de Mariana ser rejeitado; a decisão sairá hoje, dia 3.

… A proposta feita pela mineradora e pela BHP, sócias da Samarco, responsável pelo desastre ambiental de Mariana, em 2015, teria sido recebida com fortes críticas pelo governo federal e Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, apurou o Estadão.

… O acordo prevê o pagamento de R$ 72 bilhões em indenização, além dos R$ 37 bilhões que já foram pagos às comunidades.

HOJE – Não há balanços previstos em NY e nem no Brasil, onde serão realizadas as teleconferências da AES Brasil (10h), Iguatemi (10h), de Marcopolo (11h) e de Weg (11h0. Confira abaixo no Em tempo… os balanços divulgados após o fechamento.

LULA & PACHECO – Durou três horas e meia o jantar de ontem à noite, no Palácio da Alvorada, do presidente Lula com Rodrigo Pacheco.

… O encontro, que contou com a participação de vários ministros (exceto de Fernando Haddad), faz parte da reaproximação do governo com o presidente do Senado, após o mal-estar gerado pelo recurso junto ao STF para a desoneração da folha de pagamentos.

… Pacheco se sentiu traído porque ficou sabendo da ação justamente no momento em que adiava a sessão do Congresso para analisar os vetos presidenciais, em um gesto de apoio ao Executivo, que não tinha dia votos para ganhar.

… A questão da desoneração continua em suspenso, após pedido de vista do ministro Luiz Fux, que interrompeu o julgamento no plenário virtual, depois do voto favorável ao relator Cristiano Zanin de quatro ministros da Corte.

… A recomposição do relacionamento do governo com Pacheco, liderada pessoalmente por Lula, é importante para alguns dos temas que estão na pauta da sessão do Congresso, para a semana que vem, como as emendas parlamentares.

MAIS AGENDA – Entre os indicadores domésticos, é destaque a produção industrial de março, que o IBGE divulgará às 9h, com a mediana apontando para expansão de 1,4%, sobre o recuo de 0,3% em fevereiro. As estimativas variam entre -0,6% e 1,9%.

… Mais cedo, o IPC-Fipe de abril abre o dia (5h), com estimativa de aceleração para 0,32%, após 0,26% em março.

… Às 8h30, o Banco Central divulga o estoque de crédito em março, com dados de concessões, juro médio e inadimplência.

HADDAD – Ministro se reúne (10h) com o presidente da CVM, no gabinete da Fazenda em São Paulo.

… À tarde (15h), Haddad recebe o presidente da Abimaq, José Velloso, e o presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Jr.

LÁ FORA – Também o Reino Unido divulga hoje o PMI de Serviços de abril (5h30), que pode subir de 53,1 em março para 54,9, e às 6h sai a taxa de desemprego da zona do euro, com previsão de que seja mantida em 6,5% em março.

… Feriados fecharam os mercados hoje na China e no Japão.

FESTA DO CAQUI – Com duas boas notícias para repercutir – Powell e Moody’s – o mercado doméstico engatou um rali pós-feriado com queda forte nos juros e no dólar e alta no Ibovespa, com a nova reprecificação dos ativos em NY.

… O “improvável” aumento de juros decretado pelo presidente do Fed, maior alívio do mercado, afundou os retornos dos Treasuries, que aprofundaram a queda da véspera, com a Note-2 anos se afastando ainda mais dos 5% e da Note-10 abaixo de 4,6%.

… As posições mais conservadoras formadas em meio às expectativas de uma eventual alta de juros, foram desmontadas. No fim da tarde em NY, o yield de 2 anos recuava a 4,880% (de 4,9602%), de 10 anos, a 4,575% (de 4,6345%), e de 30 anos, a 4,721% (de 4,7514%).

… As chances de redução do juro em 25 pbs em setembro voltaram a superar 50%; a aposta majoritária ainda é de um corte neste ano.

… Yuri Seliger, analista do BofA, classificou a fala de Powell como “dovish”.

… “Ele sinalizou que qualquer flexibilização da política viria mais tarde do que o esperado anteriormente, mas, ao reconhecer que não haverá novos aumentos de juros, deu força à compra dos títulos do Tesouro, derrubando os rendimentos.”

… Por aqui o resultado foi um tombo na curva dos juros, ajudado pela elevação da perspectiva da dívida soberana brasileira, de estável para positiva, pela Moody’s, e pela baixa do dólar, de 1,53%, a R$ 5,1128. Na mínima, a moeda chegou a tocar nos R$ 5,10.

… Na B3, a taxa para Jan25 recuou a 10,215% (de 10,311%) e do Jan26, a 10,465% (de 10,634%). Jan27 cedeu a 10,785% (de 10,989%); o Jan29, a 11,310% (de 11,523%), o Jan31, a 11,550% (de 11,766%) e o Jan33, a 11,650% (de 11,845%).

… Mas, em sintonia com os economistas, a curva seguiu indicando dois cortes de 0,25pp no Selic, um deles na semana que vem.

… O recuo dos juros ajudou vários setores no Ibovespa, como viagens e varejo. O índice subiu 0,95%, a 127.122,25 pontos.

… CVC disparou 12,44%, a R$ 2,26. A ação tinha fechado abril como o pior desempenho do Ibov (-30,69%). Grupo Pão de Açúcar subiu 8,53% (R$ 3,18) e Magazine Luiza avançou 7,35% (R$ 1,46).

… Entre os perdedores, Embraer cedeu 1,89% (R$ 32,72), Weg recuou 1,77% (R$ 38,85), após balanço. E Prio caiu 1,21% (R$ 47,42).

… Entre os bancos, Santander subiu 2,49% (R$ 29,62), Itaú, +1,47% (R$ 31,80) e Banco do Brasil, +1,06% (R$ 27,71).

… Já Bradesco caiu (PN, -1,14%, e ON, -0,24%), após declarações do CFO Cassiano Scarpelli na teleconferência do balanço divulgado nesta 5ªF, indicando que a margem da instituição deve ficar perto do piso do guidance neste ano. 

… As blue chips também fecharam no azul e Petrobras subiu mesmo com a queda do Brent (-0,27%, US$ 83,67). Petrobras ON fechou com ganho de 0,38% (R$ 44,43) e Petrobras PN, de +0,38% (R$ 42,18). Vale teve alta de 1,00% (R$ 63,92).

… Em NY, a retração dos juros dos Treasuries deu mais força às techs, especialmente afetadas por essas taxas.

… O setor de tecnologia já vinha positivo, reagindo à disparada da Qualcomm (+9,8%), após o balanço na véspera. Maior fornecedora global de chips para celulares, a empresa teve lucro e vendas trimestrais acima do esperado.

… O otimismo gerado pelos resultados levou outros papéis junto, como Nvidia (+3,34%), com o Nasdaq liderando os ganhos entre os índices (+1,51%, 15.840,96 pontos). O Dow Jones subiu 0,85% (38.226,45) e o S&P500 avançou 0,91% (5.064,22).

… No câmbio, novamente o iene deu as cartas, com um salto de 2,67% sobre o dólar, a 153,17/US$. O que foi determinante na queda de 0,43%, a 105,299 pontos, do índice DXY. Os rumores de intervenção do BoJ continuam persistentes e sem confirmação oficial.

… Masato Kanda, do Ministério das Finanças, disse que “há momentos em que a volatilidade excessiva não pode ser ignorada”.

… Dados do BoJ indicam intervenção no valor de 3 trilhões de ienes (US$ 22,5 bilhões), segundo cálculos de corretores entrevistados pelo WSJ. Para o Rabobank, há cada vez mais sinais de possível aperto da política monetária do BoJ nos próximos meses.

… O euro avançou 0,26%, a US$ 1,0729 e a libra subiu 0,24%, a US$ 1,2538.

… Entre os indicadores do dia, mais dois dados mostraram a força do mercado de trabalho americano.

… Os pedidos de auxílio-desemprego ficaram estáveis em 208 mil na semana passada, abaixo da previsão de 211 mil, e o custo unitário da mão de obra subiu 4,7% no 1Tri24, mais que o dobro dos 2,3% estimados. Esse dado é preliminar.

… As encomendas à indústria nos EUA cresceram 1,6% em março ante fevereiro, também mais que a previsão de alta de 1,4%.

EM TEMPO… PETROBRAS. Moody’s disse que rating Ba1 da companhia não é afetado por mudança na perspectiva do Brasil…

… Mas a agência alertou que a empresa pode enfrentar maiores riscos de crédito se o governo começar a usá-la para cobrir o déficit fiscal, controlar os preços de combustíveis e conter a inflação.

SABESP. Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, sancionou lei que permite a adesão da capital à privatização da companhia, aprovada pela Câmara de Vereadores, nesta 5ªF.

GERDAU teve lucro líquido de R$ 1,245 bilhão no 1TRI24, queda de 47,9% ante 1TRI23; Ebitda ajustado somou R$ 2,813 bilhões, queda de 34,9% no período. Empresa distribuirá R$ 589 milhões em dividendos, ou R$ 0,28/ação; ex dia 16; pagamento em 27/5…

… Companhia fará a 17ª emissão de debêntures simples, no valor de R$ 1,5 bilhão; S&P Global atribuiu rating BrAAA à proposta.

METALÚRGICA GERDAU distribuirá R$ 196,2 milhões em dividendos, ou R$ 0,19/ação; ex dia 16; pagamento em 28/5.

MARCOPOLO teve lucro líquido de R$ 316,9 milhões no 1Tri (+34,1% ante 1Tri/23); Ebitda cresceu 7,7% na base anual (R$ 315,4 milhões).

IGUATEMI registrou lucro líquido ajustado de R$ 108,4 milhões no 1TRI, alta de 63% na comparação anual; Ebitda ajustado somou R$ 225,2 milhões, crescimento de 13,2% em relação ao mesmo período de 2023.

EZTEC registrou lucro líquido de R$ 56,706 milhões no 1TRI, alta de 34,3% na comparação anual; Ebitda somou R$ 31,967 milhões, crescimento de 9,5% em relação ao mesmo período de 2023.

AES BRASIL registrou prejuízo líquido de R$ 102,4 milhões no 1TRI; Ebitda somou R$ 340,2 milhões, queda de 14,6% em relação ao mesmo período de 2023.

ENERGISA MATO GROSOS fará a 19ª emissão de debêntures simples, no valor de R$ 240 milhões.

B3 quer limitar o número de empresas onde os conselheiros podem atuar; essa é uma das propostas apresentadas na consulta pública de evolução das regras do Novo Mercado.

GRUPO PÃO DE AÇÚCAR informou que vendeu os imóveis que compõem a sua sede administrativa localizada na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, na capital paulista, por R$ 218 milhões; nome do comprador não foi divulgado.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.