Morning Call
O tira-teima da ata
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[04/02/25]
… Os mercados estavam fechados quando Trump confirmou uma pausa de 30 dias na adoção de tarifas para o Canadá, como já havia feito mais cedo com o México. A expectativa agora é para um acordo com a China, após a ameaça do presidente americano de elevar “substancialmente” as tarifas a Pequim, se não houver entendimento. Trump quer conversar com Xi Jinping nas próximas horas. O caso da China, que promete retaliar, pode ser mais difícil. Também a UE avisou que responderá “de maneira decisiva” se for alvo das tarifas de Trump. O risco de uma escalada da guerra comercial não está descartado e deve continuar a orientar os mercados de câmbio. Na agenda, destaque para o relatório Jolts e o balanço da Alphabet nos EUA e aqui, para a ata do Copom, daqui a pouco (8h).
… A maior expectativa é para mais detalhes sobre o balanço de riscos, após o comunicado ter colocado a desaceleração da atividade como fator baixista para a inflação. Esse foi um dos pontos mais citados por quem considerou a mensagem dovish.
… O Copom manteve o balanço de riscos com assimetria altista, mas alterou os dois riscos de baixa para a inflação.
… No comunicado de dezembro, pontuou uma desaceleração da atividade global maior que a esperada e os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes que o esperado.
… Já no comunicado de janeiro, introduziu uma eventual desaceleração da atividade mais acentuada que a projetada e um cenário menos inflacionário para as economias emergentes, como reflexo de choques sobre o comércio internacional.
… Os economistas do mercado também esperam mais considerações do BC sobre a trajetória de elevação da taxa Selic, se há limites para combater a desancoragem das expectativas por meio dos juros e se há preocupações adicionais do Comitê.
… “O mercado quer ver se o Copom segue preocupado em combater a aceleração na inflação e a desancoragem das expectativas ou se há novos pontos de preocupação que justificariam um BC menos duro daqui para frente”, disse Danilo Passos (WHG) ao Broadcast.
… O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Souza Leal, também espera mais detalhes sobre os novos pontos de atenção do BC, em especial, sobre o impacto que o nível elevado de juros pode ter sobre a atividade econômica.
… Já para Alvaro Frasson (BTG) seria importante o Banco Central corrigir na ata o pouco destaque que o comunicado deu à deterioração das expectativas de inflação, que continuaram piorando na pesquisa Focus desta 2ªF (leia abaixo).
… Após o Copom de janeiro, a ampla maioria do mercado espera mais uma elevação da Selic na reunião de março, com alta de 1,00 ponto porcentual, para 14,25%, em linha com o guidance do BC. Este é o cenário base de todas as 49 casas consultadas pela AE.
… A mediana indica a taxa a 14,75% na reunião de maio, encontro que permanece sem indicações futuras da autoridade monetária, e a estimativa intermediária para junho subiu de 15% para 15,25%, mesma estimativa para a reunião de julho.
… A estimativa intermediária para o juro básico ao final de 2025 manteve-se em 15% e as projeções variam de 12,25% a 16,25%.
… Já a mediana para o 3Tri/2026, atual horizonte relevante da política monetária, subiu para 13,13%, entre 10,75% e 15,25%.
PETROBRAS – Os ADRs da estatal exibiram leve alta de 0,20% após o fechamento, apesar de o relatório do 4Tri ter apontado nova queda relevante, de 10,5%, na produção de óleo e gás na comparação com um ano antes.
… O volume médio produzido foi de 2,628 milhões de barris diários (boed) de óleo equivalente.
… Na comparação com o 3Tri, a queda foi de 2,1%, devido ao maior número de paradas de manutenção, que foram compensadas apenas em parte pela entrada em operação de novos navios-plataforma no pré-sal.
… Apesar dos números frustrantes, a piora nas receitas da Petrobras, a ser divulgada dentro do balanço trimestral no fim do mês (dia 26), será atenuada pela melhora na venda de derivados, especialmente gasolina.
… O volume total de vendas de derivados no mercado interno registrou alta anualizada de 1,4% no 4Tri, para 1,758 milhões de barris por dia (Mbpd), com crescimento de 6,1% na gasolina, para 432 mil bpd.
… Embora o relatório da noite de ontem não tenha empolgado, a Petrobras atingiu dois recordes em 2024.
… A produção total operada no pré-sal atingiu 3,23 milhões de boed, superando a marca de 3,15 milhões de boed de 2023. Além disso, a produção própria no pré-sal também foi recorde: 2,19 milhões de boed.
… Outro assunto que está no radar do investidor em relação à Petrobras é a indicação de Lula, feita ontem a Alcolumbre, de que o governo deve destravar em breve estudos sobre exploração na Margem Equatorial.
… A notícia, ainda não oficial, foi antecipada por Lauro Jardim/O Globo.
… O Amapá, Estado de Alcolumbre, é um dos principais beneficiados com a exploração de petróleo na Bacia da Foz do Rio Amazonas. O senador já declarou em diversas oportunidades o desejo de ver avançar o projeto.
MAIS AGENDA – O dia começa com o IPC-Fipe (5h), que deve desacelerar para 0,28% em janeiro, contra 0,34% em dezembro, segundo a mediana de pesquisa Broadcast. Sem horário, saem os dados de janeiro da Fenabrave.
… À tarde (15h30), o Tesouro publica o Relatório da Dívida de 2024 e o Plano Anual de Financiamento de 2025.
LÁ FORA – Na preparação para o payroll, na 6ªF, o relatório Jolts de vagas abertas nos EUA em dezembro (12h) deve mostrar um recuo discreto, a 8,02 milhões de postos, contra 8,09 milhões em novembro.
… As encomendas à indústria (12h) devem reduzir o ritmo de queda à metade, para 0,2% em dezembro, de 0,4% em novembro. Três Fed boys falam: Raphael Bostic (13h), Mary Daly (16h30) e Philip Jefferson (21h30).
… Após o fechamento, Austan Goolsbee disse que as políticas de Trump podem desacelerar os cortes de juros.
… “Agora temos de ser um pouco mais cuidadosos e prudentes com relação à velocidade com que as taxas do Fed podem cair, porque há riscos de que a inflação comece a subir novamente”, alertou em programa de rádio.
ARRIBA! – Sem parada para tomar fôlego, o real completou ontem onze pregões consecutivos em alta, na sequência de valorização mais longa em 20 anos, diante da tática de negociação de Trump de dar mais tempo ao México.
… Poupado até agora do protecionismo de Washington, o Brasil surge como opção para quem foge da instabilidade do peso mexicano e ainda tem tido a oportunidade de ampliar vendas à China, que já é nosso maior parceiro.
… Mais do que tudo isso, o alívio do dólar por aqui tem respondido ao fluxo positivo de capital estrangeiro, tanto em direção a ativos considerados baratos na bolsa doméstica, como atraído pelas taxas elevadas da renda fixa.
… Desde que o ano começou, a moeda americana já caiu quase 6%, consolidando-se abaixo dos R$ 6.
… Num primeiro momento, os ruídos de Trump sobre a imposição das tarifas pelos EUA sobre importações do Canadá, México e China levaram pressão ao dólar, até R$ 5,9053 na máxima intraday, antes de a poeira baixar.
… A pausa de 30 dias acertada com o governo mexicano aliviou e a moeda americana fechou a R$ 5,8160 (-0,35%).
… Juntou o dólar mais barato com a queda das taxas dos Treasuries e o caminho ficou livre para a curva do DI queimar prêmio de risco, especialmente no miolo e na ponta longa. A curta caiu menos, inibida pelo boletim Focus.
… Em nova rodada de piora nas expectativas de inflação, a mediana para o IPCA 12 meses à frente subiu de 5,64% para 5,74%. Esta medida ganhou importância nas análises do mercado após a regulamentação da meta contínua.
… Ainda no levantamento, as apostas para o IPCA deste ano tiveram alta marginal (5,50% para 5,51%), mas seguem firmes e fortes acima do teto da meta, de 4,50%. A estimativa para o IPCA/26 passou de 4,22% para 4,28%.
… No fechamento, o DI para janeiro de 2026 caía para 14,865% (de 14,940% no pregão anterior); Jan/27 recuava a 14,825% (de 15,035%); Jan/29, a 14,445% (de 14,775%); Jan/31, a 14,390% (14,720%); e Jan/33, 14,350% (14,670%).
… Nesta 2ªF, ainda o tom conciliatório das declarações do presidente Lula após reunião com os novos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, ajudou a melhorar a percepção de risco doméstica.
… Lula disse que não mandará nenhum projeto às duas Casas sem anuência dos líderes e da cúpula do Congresso, e assegurou uma relação política harmônica entre os Poderes, enquanto Alcolumbre mandava recado ao STF.
… “A recente controvérsia sobre emendas parlamentares ao Orçamento ilustra a necessidade de respeito mútuo e diálogo contínuo. É indispensável garantir que este Parlamento não seja cerceado em sua função de legislar.”
A COR DO DINHEIRO – Sai hoje o informe da B3 sobre o fluxo de capital estrangeiro em janeiro, que já beira R$ 7 bilhões, marcando uma reviravolta em relação ao ano passado, lembrado pela falta de apetite do k externo.
… Em boa parte, o retorno do interesse neste início de 2025 se deve à movimentação desencadeada pela Cosan com a venda da fatia na Vale. Mas, além disso, a maior simpatia dos gringos pelo Brasil reflete o carry trade.
… Apesar da instabilidade fiscal doméstica, a melhor perspectiva de rentabilidade com a Selic alta tem feito a diferença e pode melhorar ainda mais se Trump aliviar a sua retórica protecionista e facilitar a vida do Fed.
… Ontem, diante da pausa de um mês na imposição das tarifas pelos EUA, o Ibovespa operou flat, em leve queda de 0,13%, aos 125.970,46 pontos e com volume financeiro de R$ 19,5 bilhões.
… Petrobras contrariou a alta do petróleo, com a ação ON em queda de 1,22% (R$ 41,14) e a PN, -0,50% (R$ 37,50). Os papéis podem ter operado em stand-by antes do relatório de produção e vendas, divulgado após o fechamento.
… Na ICE, o Brent/abril subiu 0,38%, a US$ 75,96 por barril, longe da máxima do dia (+3%) depois que a aplicação de tarifas dos EUA sobre o México foi adiada.
… Ontem, a Opep+ decidiu manter a política de aumentar gradualmente a produção a partir de abril.
… Vale inverteu o sinal e zerou as perdas (+0,07%; R$ 54,21), após queda de quase 1% no início da tarde.
… Para analistas ouvidos pelo Broadcast, não há risco direto de a política comercial dos EUA afetar a mineradora, já que a pressão tarifária de Trump pesa mais contra o aço.
… Nos bancos, a contagem regressiva pelos balanços já garante uma dose extra de volatilidade. Ontem, o setor fechou no vermelho. Itaú caiu 0,92%, a R$ 33,48, e Santander, -0,50% (R$ 25,83). Ambos soltam resultados amanhã.
… Bradesco PN registrou -0,17% (R$ 12,07) e Bradesco ON, -0,09% (R$ 11,01). O banco traz seus dados trimestrais na 6ªF. Banco do Brasil perdeu 0,25%, a R$ 27,61.
… A sessão foi favorável para algumas cíclicas por causa do alívio nos juros futuros. Automob liderou as altas, com +3,23% (R$ 0,32). Carrefour subiu 2,75% (R$ 6,36) e Hypera ganhou 2,57% (R$ 18,75).
… Na ponta oposta, Azul afundou 5,65%, a R$ 4,34; Braskem (-5,07%; R$ 13,11) e Marfrig (-4,97%; R$ 15,10).
PASSO ATRÁS – As bolsas em NY voltaram a cair em meio à escalada tarifária de Trump, mas fecharam longe das fortes perdas iniciais depois que o presidente dos EUA adiou a imposição de tarifas sobre o México por 30 dias.
… O Dow Jones caiu 0,27% (44.422,31 pontos); S&P 500 recuou 0,76% (5.994,65); e Nasdaq, -1,20% (19.391,96).
… Apesar da retórica incendiária de Trump, a pausa das tarifas sobre o México e Canadá reforçou a visão de alguns analistas de que está é uma ferramenta de negociação e que os investidores não deveriam reagir exageradamente.
… De forma geral, os profissionais não creem em tarifas duradouras.
… “Não acreditamos em tarifas permanentes sobre aliados dos EUA”, disse Thierry Wizman (Macquarie) à CNBC. “Fazer concessões é uma maneira mais fácil de lidar com Trump, que gosta de fazer acordos”, afirmou.
… Para Wizman, a pressão política e do mercado também deve pesar sobre as decisões do governo, como ocorreu em 2018.
… Seja como for, entre as grandes incertezas da guerra comercial, está a dúvida sobre como a economia dos EUA vai se comportar se esse cenário de materializar.
… Isso se refletiu nos Treasuries, com o juro curto em alta, enquanto os demais caíam.
… O da note de 2 anos subiu a 4,251% (de 4,207% na sessão anterior) e o da note de 10 anos caiu a 4,532% (de 4,536%). O do T-bond de 30 anos cedeu a 4,759% (de 4,788%).
… Para o JPMorgan, uma guerra comercial poderia adicionar 1pp, ou mais, à inflação americana. O Morgan Stanley calcula um aumento de 0,3 a 0,6pp, mais redução no PIB de 0,7 a 1,1 ponto percentual.
… Em relatório, a corretora Charles Schwab disse que, segundo o modelo do Fed, o núcleo de inflação pode ter uma alta adicional de 0,7pp.
… Susan Collins, do Fed/Boston, disse ontem que há risco inflacionário. “Tarifas de base ampla como as anunciadas não provocariam apenas aumento nos preços dos bens finais, mas também nos bens intermediários”, disse.
… Raphael Bostic, do Fed/Atlanta, revelou que empresas consultadas sobre eventuais impactos de tarifas têm afirmado que repassarão 100% dos custos para seus clientes.
… A cautela nos Treasuries longos se sobrepôs aos PMIs, que indicaram recuperação na indústria dos EUA.
… O indicador medido pelo ISM subiu de 49,2 em dezembro para 50,9 em janeiro, de uma expectativa de 49,5. O número da S&P Global avançou a 51,2, de 49,4, e previsão de 50. Foi a primeira expansão em sete meses.
… O dólar reduziu a alta após a trégua entre México e EUA. O índice DXY chegou a bater em 109,881 pontos, mas fechou em 108,99 pontos, ainda com ganho expressiva de 0,57%.
… Com a UE na mira de Trump, o euro caiu 0,81%, a US$ 1,0299, a despeito da aceleração do CPI de janeiro no bloco para 2,5% (preliminar), de 2,4% em dezembro.
… Já a libra ficou estável (-0,04%), a US$ 1,2405, em meio a negociações mais amigáveis entre EUA e Reino Unido. Visto como ativo de segurança, o iene subiu 0,25%, a 154,817/US$.
… O dólar canadense fechou estável (+0,08%), a 1,441/US$, enquanto o peso mexicano subiu 1,64%, a 20,339/US$.
EM TEMPO… PETROBRAS recebeu o pagamento contingente (earnout) de R$ 2,161 bilhões dos parceiros nos blocos de Sépia e Atapu. Também recebeu R$ 516 milhões da Karoon Petróleo & Gás referente à venda do campo de Baúna.
MOVIDA cancelou o registro de companhia aberta da Movida Locação. O cancelamento foi aprovado pela CVM.
RUMO. Citi rebaixou a ação de compra para neutro e reduziu o preço alvo de R$ 22,50 para R$ 19,50. Perspectiva para transporte de soja é positiva, mas para o transporte de milho “não é tão promissora”, diz o banco.
KLABIN recebeu primeira parcela, de R$ 800 milhões, prevista em acordo com a Timo. O aporte da segunda parcela de R$ 1,0 bilhão, sujeito a eventuais ajustes, segue previsto para o segundo trimestre.
COPEL. Mercado do segmento de distribuição cresceu 4,7% no 4Tri24 sobre o 4Tri23, para 9.226 GWh…
… O volume é composto pelo mercado cativo, pelo suprimento a concessionárias e permissionárias e pela totalidade dos consumidores livres…
… Segundo a empresa, o crescimento reflete, principalmente, o aumento da atividade econômica e o padrão de consumo mais elevado da base de clientes.
CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL aprovou a 2ª emissão de debêntures, no valor de R$ 300 milhões. O vencimento é em 5 de fevereiro de 2030.
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