Morning Call

Opep, payroll e balanços fecham a semana

Atualizado 04/08/2023 às 00:31:01

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[4/8/2023]

… A reunião da Opep hoje pode sustentar a alta do petróleo, se confirmar as expectativas de novos cortes da produção da Arábia Saudita e exportação da Rússia, enquanto nos EUA sai o payroll (9h30). O relatório de emprego, porém, tem que vir muito forte para abalar a aposta de que o Fed deve fazer uma pausa no aperto do juro em setembro. A festa da Amazon no after hours (+8,73%) é boa notícia para a abertura em Wall Street, onde ainda pesa o downgrade da Fitch. Mas a Apple caiu 2%. Aqui, com a agenda sem indicadores, repercutem os balanços de Bradesco e Petrobras, que fazem teleconferências às 10h30. Na primeira reação, ontem à noite, o ADR de Bradesco PN ampliou a queda em NY (-1,18%). Já o ADR de Petrobras PN fechou estável (+0,08%).

… O Bradesco, que já tinha recuado 0,72% na B3, reportou lucro líquido recorrente de R$ 4,518 bilhões no 2Tri, resultado 35,8% menor que o de igual intervalo do ano passado, mas veio 5,6% acima do registrado no 1Tri e em linha com as estimativas.

… Já Petrobras fechou o 2Tri com lucro líquido de R$ 28,7 bilhões, 47% menor do que há um ano e 24,6% abaixo do registrado no trimestre anterior. Mas o resultado superou em 8,7% a média das apostas apuradas pelo Broadcast.

… O Conselho de Administração da Petrobras aprovou também o pagamento de dividendos a acionistas de R$ 14,8 bilhões, o que equivale à remuneração de R$ 1,14/ação. As ações serão negociadas “ex-direitos” na B3 e na NYSE a partir do dia 22.

… Esse é o primeiro pagamento a acionistas após a mudança da política de dividendos da companhia, que agora tem previsão de proventos na ordem de 45% do fluxo de caixa livre (diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos).

… O valor é 83% inferior ao mega dividendo de R$ 87,8 bilhões do 2Tri/22 e bem abaixo do que foi pago no 1Tri (R$ 24,7 bilhões), quando o porcentual mínimo de dividendos era fixado em 60% no caso de dívida bruta menor ou igual a US$ 65 bilhões.

… Embora menor, o novo porcentual (45%) foi bem recebido, já que a expectativa era de uma regra mais próxima do que prevê o mínimo legal, de 25% do lucro líquido. Só pouco antes do anúncio, o mercado passou a projetar algo em torno de 40%.

… Dona de 36,6% do capital da empresa, a União deve ficar com até R$ 5,4 bilhões dos dividendos aprovados. Somando a parcela do Tesouro referente ao 1Tri, R$ 8,8 bilhões, a arrecadação com dividendos já chega a R$ 14,2 bilhões em 2023.

… Em 2022, a União ficou com cerca de R$ 79 bilhões do total de R$ 215,7 bilhões distribuídos a acionistas naquele exercício.

PÓS COPOM – O corte inicial mais ousado da Selic provocou um forte aumento do volume de negociação, sobretudo no mercado de juros, onde a ponta curta da curva afundou, e também nos futuros do câmbio, com o dólar tocando R$ 4,90.

… Até na bolsa o giro financeiro foi mais elevado, mas o Ibovespa frustrou quem esperava reação mais entusiasmada (abaixo).

… No DI, a primeira reação do mercado foi desafiar o forward guidance do comunicado, lançando apostas em uma queda do juro de 75pb em setembro, embora o Copom tenha contratado um corte de igual magnitude (50pb) para a próxima reunião.

… O ajuste das taxas curtas era esperado já que, nas últimas horas antes do Copom, muita gente saiu do 50pb para a aposta mais conservadora (25pb). Mas o mercado extrapolou, colocando em dúvida a intenção do BC de manter um ritmo moderado.

… Pela manhã, o DI chegou a projetar 50% de probabilidade de um corte de 50pb e 50% de um corte de 75pb. No meio da tarde, essa proporção foi apenas levemente aliviada, com 40% de chance ainda dedicadas para 75pb.

… Operadores passaram a falar em “preocupações com a inflação futura”, que se somaram à pressão dos yields americanos para acentuar a inclinação da curva, com os vencimentos longos adicionando prêmios de risco.

… Um relatório do Santander circulou pelas mesas indicando “surpresa” com o voto decisivo de Campos Neto e destacando o voto da “ala técnica” pelo corte de 25pb, “visando dar suporte à ancoragem das expectativas e estabilidade ao câmbio”.

… De agora em diante, o cenário mudou com o Banco Central mais propenso a tomar riscos, afirma o Santander, concluindo que a nova composição do colegiado para 2024 indica que o alvo da inflação será entre 4% e 4,5%.

… No fim do ano, dois diretores que votaram pelo corte de 25pb, Fernanda Guardado e Mauricio Moura, deixarão o BC.

PAYROLL – Relatório de empregos nos Estados Unidos tem estimativa de criação de 205 mil vagas em julho, de +209 mil/junho. A taxa de desemprego deve permanecer em 3,6% e o salário deve manter o ritmo de 0,30% de crescimento.

… À tarde (14h), saem os dados da Baker Hughes de poços de petróleo em operação nos EUA. Na zona do euro, serão divulgadas as vendas no varejo em junho (6h) e, na Alemanha, as encomendas à indústria no mesmo mês (3h).

DITO E FEITO – Já logo após o Copom, profissionais de mercado cantavam a bola sobre o comportamento do câmbio com o corte do juro, antecipando a pressão do dólar. Veio mesmo a estilingada, para R$ 4,90 na máxima.

… Há relativa perda de apelo do real diante da redução do diferencial de juros com os EUA, onde o Fed diz que a decisão de setembro ainda está em aberto, condicionada a indicadores, apesar de muita gente prever pausa.

… O melhor cenário para o Brasil seria Copom hawkish (alternativa que já ficou para trás) + Fed dovish. O pior seria Fed hawkish (que ainda é risco) + Copom dovish. E o meio termo seria os dois dovish (é esta a esperança).

… É verdade que existe um outro lado da moeda quanto ao fluxo, já que o recuo da Selic apoia entrada de k externo na renda variável, o que pode fortalecer o real. Mas o impacto ontem foi de forte depreciação cambial.

… A queda nas commodities agrícolas importantes ao Brasil também estimulou a busca por proteção no dólar, que há quase um mês não ficava tão caro. Saltou 1,94%, a R$ 4,8987, após ter tocado R$ 4,9002 no pico do dia.

… Na curva do DI, enquanto os juros futuros curtos cumpriram o script dovish, no day after do Copom, o “miolo” operou em alta moderada e os longos exibiram pressão mais forte, sintonizados aos juros dos Treasuries.

 … O Itaú rebaixou sua projeção para a Selic deste ano de 12,00% para 11,75% e informou que aguarda a ata do Copom, na próxima 3ªF, para considerar mudanças adicionais e mais profundas em seu cenário para o juro.

… Em pesquisa Broadcast realizada depois do anúncio do Copom, a mediana do mercado para a Selic no ano diminuiu em 0,25 ponto porcentual, de 12,0% para 11,75%. O intervalo das estimativas vai de 11,0% a 12,0%.

… No fechamento, o contrato de DI para jan/24 caiu, mas fechou na máxima de 12,480% (contra 12,636% na véspera); jan/25 recuou a 10,505% (de 10,668%); e jan/26 furou os dois dígitos, a 9,985% (de 10,041%).

… O jan/27 subiu a 10,135% (de 10,083%); jan/29, a 10,610% (de 10,455%); e jan/31, a 10,850% (de 10,668%).

DEIXOU A DESEJAR – Mesmo nos melhores momentos do pregão pós-Copom, o Ibovespa só conseguiu engatar algum “voo de galinha”. Na máxima intraday, foi até 122.619,14 pontos, e depois saiu devolvendo.

… Para todo mundo que estava esperando que a bolsa fosse ligar o turbo com a largada agressiva dos cortes da Selic, a repercussão foi frustrante. Só mesmo o volume financeiro é que deu uma melhorada, a R$ 27,2 bilhões.

… Na reta final do pregão, o Ibovespa virou para o negativo (-0,23%) e fechou aos 120.585,77 pontos, perto da mínima (120.365,38). Até as ações diretamente ligadas ao consumo e à Selic traíram as expectativas otimistas.

… Analistas e traders ouvidos pelo Broadcast atribuíram os tombos da Via (-8,65%) e Magazine Luiza (-5,11%) à guerra no e-commerce, depois de mais um trimestre forte para o Mercado Livre, que saltou 13,5% na Nasdaq.

… Também os papéis da Méliuz (-6,24%) e da Alpargatas (-5,26%) operaram em espiral de queda nesta 5ªF.

… Entre os bancos, só BB subiu e, mesmo assim, bem pouco: +0,17%, a R$ 47,65. À espera do balanço divulgado no início da noite, Bradesco ON caiu 1,01%, a R$ 14,67. Itaú cedeu 0,77% (R$ 28,40) e Santander, -0,25%.

… O contraponto positivo veio das blue chips das commodities. Petrobras, que também operou na expectativa de seu resultado trimestral, colou no petróleo e subiu 1,28% (PN), a R$ 30,92, e 1,42% (ON), a R$ 34,32.

… Lá fora, o barril acelerou com o anúncio de que a Arábia Saudita vai estender hoje, na reunião da Opep+, o corte voluntário de 1 milhão de bpd por mais um mês, com possibilidade de prolongar este prazo.

… Ao mesmo tempo, a Rússia cortará as exportações em 300 mil bpd em setembro. Os anúncios ajudaram a commodity a ignorar o quadro de recordes nos estoques dos EUA e recuperação moderada na China e Europa.

… O Brent para outubro subiu 2,33%, a US$ 85,14, e o WTI para setembro avançou 2,59%, a US$ 81,55 por barril.

… A decepção com o ritmo da retomada da economia chinesa continua pesando para o minério de ferro, que caiu quase 3%. Mas Vale (ON, +0,63%, a R$ 67,51) driblou a onda vendedora e corrigiu quedas recentes.

… Questionado pela GloboNews sobre rumores de que radicais do PT estariam tentando emplacar Mantega no comando da mineradora, Haddad disse que nunca ouviu nada do governo e de Lula. “E não procurei saber.”

… Pressionadas pelos balanços, CSN (ON, -1,43%) e CSN Mineração (ON, -0,69%) fecharam no vermelho. 

… Controladora de Angra 3, Eletrobras (ON, -5,15%; e PNB, -4,89%) se destacou em queda, com declarações de integrantes do governo de que as obras da usina nuclear podem ficar de fora do PAC, que sai na próxima 6ªF. 

… No campo positivo, Dexco (ON, +5,27%) liderou os ganhos do Ibovespa. Apesar do balanço considerado fraco, na teleconferência de resultados, a empresa informou esperar melhora das atividades ao longo do 2º semestre.

… Os números positivos do 2Tri impulsionaram Prio, que disparou 4,22%. Também Suzano acionou rali (+3,65%), sob influência do balanço e ainda da alta do dólar e da perspectiva de valorização dos preços da celulose.

ESTICANDO A CORDA – Na véspera do payroll, os juros dos Treasuries deram uma forçada nas altas, apesar de o mercado continuar amplamente precificado para uma pausa do juro pelo Fed em setembro, como se vê no CME.

… Nesta 5ªF, o auxílio-desemprego aumentou em 6 mil pedidos, para 227 mil, em linha com o esperado. Mas ainda evidencia um mercado de trabalho forte, marcado por níveis historicamente baixos de desemprego e demissões.

… O presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, disse que a situação da mão de obra continua “notavelmente resiliente”. Sobre a inflação, afirmou que existe uma “história plausível de que os preços se normalizam”.

… Ele não abordou a necessidade de juros ainda mais altos, disse que alguns setores tiveram “mini-recessões”, mas que grande parte da economia tem resistido e que a queda na inflação pode ser sinal de aterrissagem suave.

… No suspense do payroll e ainda absorvendo o downgrade dos EUA pela Fitch, a taxa da Note-10 anos quase encostou em 4,20% na máxima intraday (4,198%) e sustentou no fechamento os maiores níveis desde novembro.

… Saltou para 4,179%, contra 4,074% no pregão da véspera, na pressão que tirou fôlego das bolsas em NY. O Dow Jones caiu 0,19%, a 35.215,89 pontos; o S&P 500 recuou 0,25%, a 4.501,89 pontos; e o Nasdaq, -0,10% (13.959,72).

… No câmbio, a libra esterlina esteve em foco, em dia de decisão do BoE. De um lado, a moeda foi prejudicada pela alta de 25 pb do juro, quanto parte do mercado cogitava um aperto monetário mais agressivo, de 50 pb.

… De outro, a divisa reverteu as perdas, depois que o presidente do BC inglês, Andrew Bailey, expressou preocupação com a inflação de serviços (“ainda uma pedra em nosso sapato”), sugerindo novas altas do juro.

… Dividida entre as forças hawkish e dovish, a libra fechou praticamente estável (-0,02%), cotada a US$ 1,2703. O euro não oscilou, a US$ 1,0944, e índice DXY também terminou o dia de lado (-0,05%), aos 102,542 pontos.

EM TEMPO… PETROBRAS informou que conselho de administração analisará a possível celebração de acordo com a Sete Brasil e empresas de seu grupo econômico; negociações são protegidas por acordos de confidencialidade.

LOJAS RENNER registrou lucro líquido de R$ 230 milhões no 2TRI, queda de 36% na comparação anual; Ebitda ajustado somou R$ 482 milhões, recuo de 31% ante mesmo período de 2022.

ALPARGATAS teve prejuízo líquido normalizado de R$ 43,4 milhões no 2TRI23, ante lucro no 2TRI22; Ebitda normalizado somou R$ 4,8 milhões, queda de 97,3% na comparação anual.

AMERICANAS SA adiou divulgação do balanço do 2TRI, previsto para 10/8; empresa não comunicou a nova data.

CCR teve lucro líquido de R$ 270,2 milhões no 2TRI23, queda anual de 7,2%; lucro líquido ajustado caiu 30,2%, para R$ 203,3 milhões, na mesma comparação; Ebitda ajustado somou R$ 1,8 bilhão, queda de 1,3%.

FLEURY registrou lucro líquido de R$ 117,7 milhões no 2TRI, alta de 66,9% na comparação anual; Ebitda somou R$ 429,1 milhões, avanço de 44% sobre o mesmo período de 2022.

AES teve lucro líquido de R$ 35,9 milhões no 2TRI23, alta anual de 286%; Ebitda somou R$ 347,5 milhões (+45,2%).

BR PROPERTIES registrou prejuízo líquido de R$ 2,3 milhões no 2TRI, contra prejuízo líquido de R$ 1,4 bilhão em igual período do ano passado.

EMBRAER informou que fechou o 2TRI com uma alta de 47% no volume total de entregas de aeronaves em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando 47 jatos entregues, sendo 17 comerciais e 30 executivos.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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