Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[11/06/24]

… Na véspera do Fomc, nesta 4ªF, a agenda nos Estados Unidos é vazia, sem indicadores ou eventos relevantes. Na zona do euro, diversos dirigentes do BCE discursam e, no final da noite, a China divulga dados de inflação. O destaque da agenda internacional é o relatório de petróleo da Opep. Aqui, é dia do IPCA (9h), que deve acelerar a 0,40% em maio (de 0,38% em abril), com estimativas entre 0,32% e 0,46%. A inflação em 12 meses deve subir de 3,69% para 3,87%, após sete meses consecutivos de queda. A mediana para 2024 indica alta de 3,90%, mas somente uma das 38 instituições consultadas pelo Broadcast prevê resultado acima do teto da meta (4,50%). Em maio, a alta do IPCA deve ser puxada pelas passagens aéreas, que devem subir 6%, após a queda de 12,09% em abril.

… Mesmo diante dos primeiros efeitos altistas da tragédia no Rio Grande do Sul, os economistas ainda esperam desaceleração do grupo Alimentação e bebidas e da alimentação no domicílio, com desinflação de alguns alimentos.

… O arrefecimento aguardado para Comunicação, com devolução dos avanços em correios e planos de telefonia, também deve ajudar.

… Já a média dos núcleos tem previsão de acelerar entre abril e maio, de 0,27% para 0,33% (mediana), com alta dos preços livres (0,26% para 0,35%), bens industriais (0,21% para 0,27%) e serviços (0,05% para 0,34%). Serviços subjacentes deve permanecer em 0,33%.

… Apenas os preços administrados (0,74% para 0,62%) e a alimentação no domicílio (0,81% para 0,44%) devem desacelerar.

… O resultado do IPCA, no entanto, não deve ter impacto nas apostas para o Copom, mais associadas às expectativas de inflação de longo prazo, que continuam subindo na Focus, confirmando a desancoragem apontada pela última ata.

… Na nova rodada de piora nas apostas do mercado, a mediana para a inflação voltou a subir no boletim Focus em 2024 (de 3,88% para 3,90%) e no ano que vem (de 3,77% para 3,78%), que é o horizonte relevante da meta.

… Semana após semana, as projeções dos economistas se afastam do alvo central de 3% fixado pelo CMN. 

… A estimativa para a taxa Selic deste ano no levantamento foi mantida em 10,25%, mas o Itaú já está mais conservador e puxou a sua aposta para 10,50%, apesar de ter mantido a previsão para o IPCA/2024 em 3,80%.

… No final da tarde de ontem, durante webinar organizado pela FGV, o diretor do BC Paulo Picchetti reconheceu a desancoragem das expectativas de inflação e disse que os preços dos serviços estão rodando bem acima da meta.

… Ele voltou a mencionar a força do mercado de trabalho doméstico, mas observou que não existe transmissão direta da renda para os preços. Mesmo assim, advertiu que é necessária atenção do BC com esse tema.

… Segundo ele, as enchentes no Rio Grande do Sul vão levar a uma inflação mais alta e a um PIB menor este ano. “Estimativas preliminares colocam esses números em casas decimais, mas não é um impacto desprezível.”

… Picchetti ponderou que o crescimento econômico do Brasil não deve ser tão grande quanto o registrado nos últimos dois anos, mas que ainda há possibilidade de o PIB surpreender e superar a projeção oficial atual de 2,2%.

… Ele admitiu que, por trás do juro neutro alto, está a “grande” preocupação com o cenário fiscal e reforçou que o racha no último Copom se deveu a divergências sobre o forward guidance e não sobre o diagnóstico da economia.

… À noite, em evento na Alesp, Campos Neto afirmou que a reancoragem das expectativas de inflação depende, entre outros fatores, do pulso firme do BC na condução da política monetária e da credibilidade fiscal.

… Ontem, sob o efeito combinado da desconfiança com as contas públicas domésticas e a percepção de que o Fed pode demorar mais para relaxar a política monetária, o dólar voltou à faixa de R$ 5,35 (leia mais abaixo).

… Com muita coisa jogando contra (câmbio depreciado, fiscal, Fed e desancoragem das expectativas de inflação), o Copom tem cada vez menos espaço para continuar cortando a Selic e cresce a chance de placar unânime em junho. 

A LUTA CONTINUA – No esforço para salvar o arcabouço, Haddad vai propor a Lula que se estabeleça o mesmo teto do arcabouço (2,5% acima da inflação) para despesas hoje vinculadas ao salário mínimo, saúde e educação.

… Segundo Alvaro Gribel/Estadão, a ideia é corrigir a distorção dos gastos obrigatórios, que atualmente crescem num ritmo muito superior e que comprimem o espaço para investimentos e custeio da máquina pública.

… Essa solução já havia sido apresentada por Haddad no encontro fechado com investidores, na última 6ªF, quando os participantes ficaram incomodados com a percepção de que o ministro da Fazenda não tem carta branca de Lula.

MP DO PIS/COFINS – Pacheco deu ontem um ultimato e disse, em reunião com Lula, que o governo tem até hoje para indicar alguma alternativa para o impasse em torno da medida provisória editada para bancar a desoneração.

… Se não houver solução, o presidente do Senado sinalizou ao Palácio do Planalto que devolverá a MP.

… No Broadcast, uma das opções na mesa para reduzir a resistência de empresários, industriais e parlamentares é permitir que os exportadores sejam ressarcidos pelos créditos de PIS/Cofins e que isso ocorra em prazo mais rápido.

… A pressão contra a medida já chegou ao Supremo. O PP de Lira entrou com uma ação no STF alegando que a MP é inconstitucional e que foi violado o princípio da anterioridade, ou seja, de carência para a entrada em vigor.

… Na estratégia para tentar baixar a temperatura e abrir a negociação, Lula recebe hoje (9h) o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, que também se reúne à tarde (14h) com Haddad.

… O ministro receberá também o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), João Martins da Silva Jr, e terá agenda (16h) com a Petrobras, Shell, Repsol e Galp, em meio à insatisfação do setor produtivo com a MP.

… Distribuidoras e representantes de postos informam que, como impacto da MP do PIS/Cofins, os preços dos combustíveis podem aumentar a partir de hoje em até 11 centavos, a depender do repasse ao consumidor.

… O potencial reajuste da gasolina seria mais uma fonte de pressão para a conta das expectativas de inflação.

MAIS AGENDA – RCN palestra (10h) no evento Valor´s Emerging Tech Summit, promovido pelo Valor Capital Group. Na agenda da inflação, além do IPCA de maio, saem as primeiras prévias de junho do IPC-Fipe (5h) e IGP-M (8h).

GOLPE DUPLO – Não bastasse a aposta mais conservadora para o Fed, que pode deixar para cortar o juro só em novembro, a pressão fiscal doméstica escala o dólar, que já sobe 2% este mês e dois dígitos no ano (10,37%).

… O mercado volta a remoer o sentimento de que a Fazenda não tem todo o capital político para mandar na agenda econômica e que será de Lula a palavra final sobre o tamanho do ajuste pretendido nos gastos públicos.

… Na escadinha de alta, o dólar à vista já começou a semana encostando nos R$ 5,39 na máxima de ontem (R$ 5,3891), ainda sob os reflexos do payroll e do mal-estar com o ruído vazado da reunião fechada de Haddad.

… A moeda renovou o patamar mais caro desde o início do governo Lula, cotada a R$ 5,3569, com avanço de 0,60%. Se vai chegar a R$ 5,50 no curto prazo, é o que ainda se verá. Amanhã, o câmbio terá que passar pelo desafio do Fed.

… Enquanto o dólar dava seus pulos, o mercado de juros tentou corrigir os excessos de 6ªF, mas com a cautela exigida numa sessão pré-IPCA, as taxas não foram muito longe no ajuste para baixo.

… O Jan26 caiu a 11,275% (11,319%); o Jan27, a 11,600% (11,697%); o Jan29 cedeu a 11,940% (12,069%); Jan31, a 12,060% (12,211%); e Jan33, a 12,080% (12,232%). Só o Jan25 teve ligeira alta, para 10,635%, de 10,626%.

… Neste caso, o mercado continua precificando um cenário de fim nos cortes da Selic pelo Copom neste ano.

… O mercado monitorou o discurso de Campos Neto, que disse que a mudança da classificação das expectativas de inflação de “reancoragem parcial” para “desancoradas” foi um dos pontos para a redução do ritmo de corte da Selic.

… Depois do tombo na 6ªF e com uma agenda carregada à frente, o Ibovespa não saiu do lugar (-0,01%), fechando em 120.759,51 pontos. O giro foi bem fraco, R$ 16,4 bilhões.

… Petrobras e Vale foram bem, mas o setor financeiro, com peso relevante no índice, neutralizou os ganhos.

… A perspectiva de Selic alta por mais tempo, mostrada pelo Focus, pressiona parte das ações, segundo analistas, já que taxas mais altas podem levar a um aumento de inadimplência.

… Bradesco PN caiu 0,69% (R$ 12,86) e ON ficou estável (+0,09%,a (R$ 11,49). Itaú recuou 0,79% (R$ 31,20) e Santander unit cedeu 1,03% (R$ 27,00). Banco do Brasil subiu 0,11% (R$ 27,21).

… A ação ON da Petrobras avançou 1,84% (R$ 39,30), figurando entre as maiores altas do índice, e a PN ganhou 1,52% (R$ 37,50), na esteira da forte alta de 2,5% no Brent/agosto, US$ 81,63 por barril, na ICE.

… Vale subiu 1,09% (R$ 61,07) sem a referência do minério de ferro em Dalian por causa de um feriado na China.

… De olho em uma alta dos combustíveis, Ultrapar ganhou 1,58% (R$ 22,51) e Vibra avançou 2,40% (R$ 2,40). No topo da lista, São Martinho valorizou 6,19%, a R$ 30,00. Ainda entre os destaques, Prio subiu 2,20% (R$ 40,80).

… Varejo e consumo apareceram no lado negativo do índice. A maior desvalorização da sessão foi do Grupo Soma (-4,67%; R$ 5,72), seguido por Arezzo, com -4,14%, a R$ 48,40, e Vivara, com -3,59%, a R$ 20,95.

RESCALDO – Wall St ainda viu ontem o copo meio cheio do payroll, aquele em que o mercado de trabalho forte é bom para as ações, o que levou S&P 500 e Nasdaq a novos fechamentos recordes, num dia sem dados relevantes.

… Tudo bem que as altas não foram expressivas, mas os índices resistiram bem a mais um dia de elevação nos juros médios e longos dos Treasuries, em meio às expectativas para o Fed amanhã.

… O juro da note de 10 anos subiu a 4,465% (de 4,435%) e o do T-bond de 30 anos avançou a 4,591% (4,556%). O da T-note de 2 anos caiu a 4,881% (4,888%).

… Ninguém espera que o BC americano mude algo nos juros, mas o gráfico de pontos vai apontar a postura – provavelmente dura – dos Fed boys nos meses à frente.

… O Dow Jones fechou com leve alta de 0,18% (38.868,17 pontos), o S&P 500 ganhou 0,26% (5.360,89) e o Nasdaq subiu 0,35% (17.192,53).

… Apple caiu 1,91% após apresentar seus recursos de IA, chamados Apple Intelligence, e anunciar uma parceria com a OpenAI, criadora do ChatGPT.

… Elon Musk criticou a iniciativa, dizendo que a Apple não tem ideia do que acontecerá ao entregar seus dados à OpenAI. O dono da Tesla ameaçou banir os dispositivos da Apple de suas empresas.

… As incertezas na UE, onde a extrema direita avançou sobre o Parlamento, derrubaram o euro, que liderou as perdas entre as moedas desenvolvidas. Caiu 0,34%, a US$ 1,0766, depois de bater mínima em um mês, a US$ 1,0733.

… Em entrevista a jornais europeus, Christine Lagarde sinalizou que o BCE pode pular novos cortes do juro, já que as taxas não estarão numa “trajetória linear descendente”.

… “Haverá vezes em que manteremos os níveis atuais”, afirmou, acrescentando que a manutenção dos juros por mais de uma reunião consecutiva é uma possibilidade, a depender da evolução dos indicadores econômicos.

… Segundo ela, o BCE monitora, em particular, o avanço dos custos de mão de obra e dos salários.

… O iene também perdeu espaço para o dólar, com queda de 0,17%, a 157,025/US$. Já a libra ficou quase no zero a zero (+0,05%), a US$ 1,2731. O índice DXY subiu 0,25%, a 105,150 pontos.

EM TEMPO… MINERVA fará resgate antecipado facultativo total das debêntures da 7ª emissão, previsto para 14/6.

LOJAS MARISA aprovou a 7ª emissão de notas comerciais escriturais, no valor de R$ 50 milhões.

REDE D´OR comunicou que foi informada do término da vigência do acordo de acionistas firmado em 2015 entre a família Moll e o Grupo Carlyle. Em maio, o Carlyle vendeu todas as ações que detinha na empresa, por R$ 2,2 bi.

IRB informou que o Departamento de Justiça dos EUA selecionou a Kroll como administrador independente para gerir e distribuir os fundos a serem pagos pela companhia em acordo pelo caso Berkshire Hathaway…

… Valores, que somam US$ 5 milhões, são a título de compensação aos acionistas que venderam suas ações em 4 de março de 2020.

TAESA. Governo do Paraná concedeu licença de instalação para trecho LT 525 kV Bateias – Curitiba Leste, com extensão de 79 km, que inclui obras de ampliação das subestações Bateias e Curitiba Leste, da concessão Ananaí.

ULTRAPAR assinou, via subsidiária Ultragaz, contrato para compra de 51,7% de participação da Witzler Participações, por R$ 110 mi.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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