Morning Call
Petrobras reduz gasolina no meio da guerra
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[20/10/2023]
… A tensão geopolítica no Oriente Médio, junto com a nova onda de pressão nos Treasuries, continua no foco dos investidores, enquanto aqui soma-se a decisão da Petrobras de anunciar, ontem à noite, a redução do preço da gasolina, com o petróleo escalando e no meio da guerra que ninguém sabe onde vai dar. O anúncio dos combustíveis foi feito poucos minutos antes do pronunciamento de Biden, que praticamente liberou Netanyahu para ocupar Gaza, na volta de sua viagem a Tel Aviv. O presidente dos EUA atacou igualmente o Hamas e Putin para defender o pacote de segurança que enviará hoje ao Congresso em apoio a Israel e a Ucrânia. A agenda prevê, ainda, o balanço da Amex e discursos de dois Fed boys em NY e, no Brasil, o IBC-Br (9h), uma entrevista de Haddad e um painel de Campos Neto.
… A fala de Biden, esperada pelo mercado como uma sinalização do que poderá acontecer no Oriente Médio nas próximas horas, incluiu ressalvas ao direito dos palestinos e contra a islamofobia, mas omitiu qualquer referência a uma negociação para a paz.
… Mais de uma vez, ele insistiu que o sucesso de Israel é importante para a segurança dos Estados Unidos.
… “Não podemos deixar terroristas como o Hamas ou tiranos como Putin ganharem.” Para a Rússia, deu um aviso adicional: “Se atacar um aliado da Otan, vamos reagir como prevê a aliança.” Sobre Israel, disse que “estão fortes, mas com raiva”.
… Segundo a agência Dow Jones, o pacote de Biden prevê recursos suplementares da ordem de US$ 100 bilhões para investimentos em segurança. Desse montante, ao menos US$ 10 bilhões iriam para Israel e US$ 60 bilhões para a Ucrânia.
… A proposta deve enfrentar dificuldades no Congresso, diante da crise política na Câmara, que está sem presidência há semanas por falta de acordo entre os republicanos, que têm uma estreita maioria. O deputado Jim Jordan tentará uma nova eleição.
… Além disso, há resistências para o fornecimento de mais dinheiro à Ucrânia, embora a ajuda a Israel seja consenso.
… Em meio às incertezas da guerra e receios de que os conflitos possam se espalhar pela região, o petróleo voltou a subir nesta 5ªF com o Brent para dezembro fechando a US$ 92,38 (+0,96%), em Londres. Já o WTI subiu para US$ 88,37 (+1,26%), em NY.
… Especialistas ainda avaliam o peso do petróleo venezuelano para a oferta global, em acordo fechado pelos EUA, mas os rumores de que Israel orientou suas tropas a se prepararem para uma invasão terrestre a Gaza prevaleceram para sustentar os preços.
… O motivo alegado para a Petrobras reduzir o preço da gasolina é a defasagem negativa de 5% estimada pela Abicom. Com o corte de 4%, praticamente zerou a diferença com os preços internacionais. A partir de amanhã, o litro fica R$ 0,12 mais barato, a R$ 2,81.
… Já no caso do diesel, a alta de 6,6% reduziu em menos da metade a defasagem com o preço internacional, calculada em 14%. Também amanhã, o diesel será elevado em R$ 0,25 por litro, para R$ 4,05 por litro.
… Minutos antes do anúncio, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, havia declarado que a empresa estava “no limiar” de fazer um reajuste nos combustíveis. Na sequência, uma nota citou a “estratégia comercial bem-sucedida da companhia”.
… Segundo o comunicado, a prova disso é que, mesmo, com o Brent mais alto este ano, os preços acumulam quedas, diferentemente de 2022. A Petrobras afirma estar tornando a “empresa mais competitiva, evitando o repasse de volatilidade para o consumidor”.
… A questão é o timing. Se a Petrobras já evitou o ajuste da gasolina, de outras vezes, estendendo a defasagem por tempo maior, por que se apressou em reduzir os preços, justo quando o petróleo opera sob a pressão de uma guerra que está longe de ser resolvida?
… O impacto positivo já surge em uma série de revisões para o IPCA deste ano, que irrompeu no mercado tão logo foi anunciado o corte. Segundo apurou o Broadcast, economistas estimam um impacto negativo em torno de 0,10pp com a queda da gasolina.
… Considerando que a mediana do último Focus já indicava um IPCA de 4,75%, no teto da meta, as chances de fechar o ano abaixo disso são melhores, “salvo uma disparada nos preços do petróleo”, em consequência de um recrudescimento da guerra.
… Resta torcer, por todos os motivos, para que o pior não venha se concretizar.
REFORMA TRIBUTÁRIA – Relator no Senado, Eduardo Braga (MDB) estuda a possibilidade de criar uma quarta alíquota para acomodar as pressões de setores que querem ser beneficiados por uma tributação menor e não foram atendidos na votação da Câmara.
… Segundo o Estadão, a quarta alíquota reduziria o custo para atender às pressões dos descontentes, que têm encontrado eco junto aos senadores. Uma das possibilidades é fixar o valor numa faixa de 70% da alíquota cheia, ou seja, com desconto de 30%.
… O texto aprovado pelos deputados previu três alíquotas: a alíquota cheia (referência); uma alíquota de 40% da cheia (reduzida); e outra zerada, para produtos, por exemplo, da cesta básica nacional e medicamentos de combate ao câncer.
… Fontes disseram ao jornal que alguma exceção adicional pode ser inevitável para garantir a aprovação do projeto.
… Em outra frente, Braga não está disposto a ceder à pressão do agronegócio, que quer um desconto maior, de 80% da alíquota cheia. Na votação da Câmara, entrou para a lista de exceções com a alíquota reduzida equivalente a 40% da cheia (desconto de 60%).
MAIS AGENDA – O desempenho negativo do setor de serviços e das vendas no varejo em agosto deve impor queda ao IBC-Br no mês, após duas altas seguidas. A mediana no Broadcast é de contração de 0,6%, após +0,44% em julho.
… As projeções dos analistas de mercado são todas de baixa para o “PIB do BC”, de 1,10% (piso) até 0,30% no teto.
… À 11h, Haddad, participa de coletiva, em SP, sobre resolução da CVM para o Plano de Transformação Ecológica. Em Miami, Campos Neto (BC) estará em evento sobre o PIX (13h35) e receberá prêmio da Americas Society (19h30).
… Mais dois Fed boys falam hoje: Patrick Harker/Filadélfia (10h) e Loretta Mester/Cleveland (13h15).
… O balanço da American Express (AMEX) sai antes da abertura de NY. Os dados da Baker Hughes saem às 14h.
… Ontem à noite, o Western Alliance Bancorp subiu forte no after hours (quase 3%), após lucro líquido de US$ 216,6 milhões no terceiro trimestre, com lucro por ação ajustado de US$ 1,97, acima do esperado por analistas da FactSet (US$ 1,91).
… Mais cedo, no pregão regular, a ação do Morgan Stanley fecharam em queda de 2,62% depois de balanço com queda no lucro.
CHINA HOJE – O PBoC manteve os juros de referência para empréstimos (LPR) de 1 ano (3,45%) e 5 anos (4,320%).
A BARRA ALTA – O corte na gasolina reforça a bola que já vinha sendo cantada pela Focus, de IPCA abaixo do teto da meta pela primeira vez em três anos, mas não serve de garantia nenhuma de Selic terminal de um dígito em 2024.
… A rotina de máximas em quase duas décadas dos rendimentos dos Treasuries e o risco de o petróleo estourar, dependendo dos impactos (imprevisíveis) da guerra no Oriente Médio, reduzem o espaço para o Copom manobrar.
… Economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa acredita que os juros mais altos nos EUA podem fazer com que a taxa Selic encerre o ciclo de aperto monetário mais próxima de 10% do que de 9% no ano que vem.
… Seguindo à risca a pressão externa, a curva do DI embutiu prêmio de risco ontem, pelo terceiro dia consecutivo. Com exceção do contrato de juro para jan/24, que ficou de lado (12,160%, contra 12,159%), os demais dispararam.
… O jan/25 investiu para 11,245% (de 11,073% no pregão da véspera); o jan/26 saltou para 11,270% (de 10,961%); o jan/27 pagou 11,450% (de 11,123%); o jan/29, 11,790% (de 11,510%); e o jan/31 foi até 11,980% (de 11,723%).
… É curioso que o dólar, aqui e lá fora, venha resistindo ao fôlego dos juros. No câmbio doméstico, o petróleo caro pode estar ajudando o real a segurar a onda. A moeda americana fechou estável (-0,03%), valendo R$ 5,0528.
FINGIU INDIFERENÇA – Desconsiderando o novo rali dos juros dos Treasuries e as perdas nas bolsas em NY, o Ibov conseguiu fechar no zero a zero (-0,05%) e defender, ainda que por pouco, os 114 mil pontos (114.004,30).
… A resistência aos focos de estresse externos (guerra e Fed) levanta a dúvida se a bolsa doméstica já pode ter reagido mais especulativamente ontem aos interesses relacionados ao game das opções sobre ações, hoje.
… O volume financeiro somou R$ 21,9 bilhões, mas é possível que melhore nesta 6ªF com o exercício.
… Em véspera de disputa entre comprados e vendidos, os bancos avançaram em bloco: Itaú (+1,16%; R$ 27,06), Santander (+1,13%; R$ 26,81), BB (+0,77%), Bradesco ON (+0,64%; R$ 12,61) e Bradesco PN (+0,49%; R$ 14,43).
… Caminho contrário foi tomado pelas blue chips das commodities. Vale (-1,44%) foi à mínima do dia (R$ 64,42), digerindo o pedido de indenização de R$ 100 bi à empresa, Samarco e BHP pela ruptura da barragem do Fundão.
… Petrobras corrigiu a máxima histórica em valor de mercado atingida na véspera, quando foi avaliada em R$ 524,5 bilhões, e registrou queda de 0,72% (ON, a R$ 41,26) e de 0,47% (PN, a R$ 38,34), ignorando a alta do petróleo.
… Após liderar os ganhos na sessão de 4ªF, Magalu (-6,94%) ocupou ontem o topo da lista negativa, em meio à pressão da curva do DI com os juros dos Treasuries, que derrubou também CVC (ON, -5,54%) e Gol (PN, -4,97%).
… A maior valorização do dia no Ibov foi de Cielo (+6,53%). Analistas observaram que a movimentação ocorreu em meio às negociações sobre proposta do BC envolvendo tarifas pagas por empresas de maquininha de cartão.
… Copel (+2,97%) repercutiu positivamente o PDV, que deve levar a empresa a economizar R$ 428 mi por ano.
NÃO PAROU O TREM – Powell liquidou a chance de o juro subir em novembro, ao dizer que o Fed se moverá “cautelosamente”, mas não quis se comprometer com dezembro, deixando correr as taxas dos Treasuries longos.
… Segundo ele, “evidências adicionais de crescimento econômico persistente ou de tensão no mercado de trabalho podem colocar em risco novos progressos na inflação e podem justificar um maior aperto da política monetária.”
… Apesar de recentemente muitos Fed boys terem incorporado um discurso mais dovish e sugerido que a escalada dos retornos dos Treasuries dispensaria aperto monetário adicional, o cenário é repentinamente agitado pela guerra.
… As consequências desconhecidas, dependendo da proporção que o conflito tomar, além das pressões fiscais dos gastos militares defendidos por Biden junto ao Congresso, muito provavelmente levaram Powell a fazer o hedge.
… Até a ultima reunião de política monetária deste ano, em 13 de dezembro, tem muita água para rolar, particularmente com relação aos desdobramentos no Oriente Médio, e Powell não precisa se arriscar à toa.
… Assim, preferiu manter as opções em aberto, sem descartar nova alta, ganhando tempo para decidir o que fazer.
… Se Powell não fechou a porta para mais um aperto, os juros dos Treasuries não viram motivo para encerrar o rali, cada vez mais autorizado pelo impacto da guerra nas cotações do petróleo, que contrata viés inflacionário.
… Além disso, a força do mercado de trabalho nos EUA (os pedidos de auxílio-desemprego caíram para o nível mais baixo desde janeiro, a 198 mil) botou pilha ontem para os retornos dos Treasuries longos ampliarem a escalada.
… O juro da Note-10 anos voltou a flertar com a perigosa marca dos 5%: fechou em 4,985%, contra 4,897% na véspera. A taxa do T-Bond de 30 anos rompeu 5,100%, nos níveis mais altos em 16 anos, a 5,108%, de 4,989%.
… Frustrada a esperança de Powell encerrar o ciclo de aperto do Fed e esgotar o salto das taxas dos Treasuries, as bolsas em NY caíram: Dow Jones, -0,75% (33.414,17 pts); S&P 500, -0,85% (4.278,00); e Nasdaq, -0,96% (13.186,18).
… Em teoria, o dólar teria tudo para ter subido, mas não foi o que aconteceu na prática: DXY, -0,29%, aos 106,253 pontos. O euro avançou 0,43%, a US$ 1,0587, e a libra esterlina (US$ 1,2146) e iene (149,83/US$) fecharam estáveis.
EM TEMPO… VALE solicitou à Justiça do Reino Unido permissão para recorrer à segunda instância em ação relacionada ao rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG)…
… Em primeira instância, foi rejeitado o pedido da mineradora para recorrer de decisão que reconhecia a competência do tribunal britânico para julgar a ação de contribuição contra a empresa, movida pela BHP.
PETROBRAS. O presidente da estatal, Jean Paul Prates, afirmou que a companhia petrolífera considera fazer investimentos na Venezuela, após os EUA terem reduzido as restrições ao país.
AMERICANAS. TJ de SP suspendeu até 24/11 a ação movida pelo Bradesco que pede a produção antecipada de provas contra a varejista; pedido de suspensão foi feito pela Americanas, mas teve a concordância do banco.
LOCALIZA. Fitch reafirmou rating da empresa em BB+, com perspectiva estável.
YDUQS. FMR reduziu participação na companhia de 5,05% para 4,88%, passando a deter 15,1 milhões de ações.
MRV. Resia venderá projeto Biscayne Drive no 4TRI e demais propriedades (Hutto Square, Tributary, Dallas West e Old Cutlerao) ao longo de 2024; empreendimentos têm valor geral de vendas (VGV) estimado de US$ 400 milhões.
DIRECIONAL aprovou 10ª emissão de debêntures, no valor de até R$ 312,5 milhões.
GRUPO MATEUS abriu três atacarejos em Pernambuco, passando a operar quatro lojas no Estado; inaugurações chegam a 19 lojas e quatro centros de distribuição em 2023.
CARREFOUR. O CEO de Varejo, Daniel Mora, deixou a empresa, após a integração com o Grupo Big. (Valor)
EMBRAER. Primeiro KC-390 Millennium da Força Aérea Portuguesa (FAP), fabricado pela empresa, entrou em serviço ontem na Base Aérea de Beja.
OI, em recuperação judicial, realizará a partir de 2ªF leilões das frações resultantes do grupamento anunciado em dezembro; frações foram reagrupadas em 285.767 ON e 282.807 PN, que serão vendidas em leilões sucessivos.
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*com a colaboração da equipe do BDM Online
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