Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[25/01/24]

… Com a agenda doméstica esvaziada e as novidades fiscais transferidas para a semana que vem (Lira convocou reunião com líderes para 2ªF), é o exterior que rouba toda a cena hoje. O BCE (10h15) deve manter o juro estável e dificilmente mudará a linguagem do comunicado. Lagarde, que já sinalizou que a política monetária só deve ser relaxada no verão europeu (junho a setembro), dá entrevista coletiva às 10h45. Nos EUA, em meio à onda recente de euforia com as gigantes de tecnologia e a inteligência artificial, sai o balanço da Intel, após o fechamento. No after hours, IBM disparou 8%, mas Tesla afundou 6%. A maior expectativa do dia fica, porém, para a primeira leitura do PIB/4Tri americano (10h30), com a torcida por um pouso suave da economia.

… O indicador deve confirmar uma desaceleração do ritmo de crescimento anualizado para 2,00% no último trimestre do ano passado, resultado bem mais fraco que o observado no 3Tri, quando os EUA cresceram 4,9%.

… Mesmo com a perda de fôlego projetada, o Wells Fargo vê a economia norte-americana “notavelmente resiliente” e com “crescimento razoável”, apesar do ciclo de aperto monetário de 525 pontos-base até aqui.

… É difícil de imaginar que o mercado recupere a precificação de corte antecipado do juro (março), ainda que o PIB frustre as apostas e venha mais enfraquecido que o esperado. NY já caiu na real do pivô dovish só em maio.

… Agora que o mercado finalmente se dobrou às falas orquestradas dos Fed boys, antes do período de silêncio, de que é cedo para ajustar a política monetária, o PIB teria de vir muito fraco para colocar tudo à prova de novo.

… Também o PCE de dezembro, amanhã, teria de causar uma grande surpresa para virar o jogo, após os dirigentes do BC americano já terem cantado a bola de que não dá ainda para cantar vitória contra a inflação.

… Com efeitos diretos sobre o fluxo, não é a melhor notícia para os mercados emergentes que o Fed demore mais para baixar o juro. Mas o câmbio comportado dá a medida de que está tudo mais ou menos absorvido.

… Na bolsa, deve repercutir hoje sobre as ações das aéreas a decisão anunciada ontem à noite pelo ministro Costa Filho (Portos e Aeroportos) de que o governo criará um fundo de até R$ 6 bilhões para socorrer o setor.  

… O valor exato será discutido com a Fazenda e o BNDES, e o projeto será apresentado em dez dias.

… O ministro disse também que o Executivo trabalha para baixar o preço do querosene usado em aviões, que há “sensibilidade” da Petrobras sobre o assunto e que será marcada uma reunião para discutir o assunto.

… Costa Filho afirmou ainda, a jornalistas no Palácio do Planalto, que o Voa Brasil, programa de passagens aéreas baratas do governo federal, será anunciado pelo presidente Lula em 5 de fevereiro e passará a valer no mesmo dia.

MANTEGA – O mercado não está gostando nada nada desta história de que Lula estaria pressionando para colocar o ex-ministro no comando da Vale. O rumor renovado reduziu o fôlego dos papéis da mineradora ontem (abaixo).

… O colunista Lauro Jardim (O Globo) afirmou que o ministro Alexandre Silveira (MME) ligou para mais de um acionista importante da companhia e disse que Lula não abre mão de ver Mantega na presidência da empresa.

… As especulações sobre a sucessão na mineradora podem ganhar um desfecho já na semana que vem.

… Segundo apuração do Broadcast, a permanência de Eduardo Bartolomeo na presidência da mineradora deve ser decidida até a próxima 3ªF, com a convocação de uma reunião extraordinária do conselho de administração.

… Já sem a mesma influência política que um dia teve na mineradora, o governo resolve conduzir uma operação considerada de alto risco. Para o conselho de acionistas, a chance de o ex-ministro vencer essa parada é improvável.

… Não há dúvida, porém, que o governo tem à disposição instrumentos para “apertar a Vale”, se for preciso, dificultando as obtenções de licenças e concessões de ferrovias e direitos de exploração de minerais.

… Resta saber até onde está disposto a esticar a corda e comprar uma briga que é um desgaste anunciado.

MUITO BARULHO POR NADA – Em relatório, e na contramão das críticas do mercado, o UBS BB disse não esperar um grande impacto da nova política industrial, considerando que o Tesouro não pretende financiar as linhas do BNDES.

… “Em geral, consideramos que o anúncio é muito barulho para um impacto muito pequeno”, escreveram os economistas do banco, que avaliaram ainda que o programa gerou muito alvoroço “por nada”.

… O UBS BB lembra que a participação dos financiamentos do BNDES no PIB encolheu de cerca de 10% em meados da década passada para algo atualmente entre 3,5% e 4%. Além disso, os desembolsos do banco já estão rodando um pouco acima R$ 100 bilhões.

… A informação de que o Tesouro não vai dar mais dinheiro ao BNDES para financiar a reindustrialização é do vice, Geraldo Alckmin.

… Nesta 4ªF, Alckmin disse que o programa Nova Indústria Brasil “não tem nada a ver” com a questão fiscal do País e que a iniciativa não terá nenhum tipo de impacto nas despesas do governo além daquelas já previstas no Orçamento.

… “Parte do dinheiro será captado no mercado. Não tem nenhum dinheiro do governo. Na realidade, não tem impacto fiscal.”

FICOU PARA SEGUNDA – Lira desembarca em Brasília no domingo à noite e já convocou para o dia seguinte encontro com as lideranças da Câmara para discutir a MP da reoneração e o veto de Lula às emendas de comissão.

… A ideia é discutir estes pontos antes mesmo do fim do recesso parlamentar, que termina no dia 5 de fevereiro.

… A Fazenda informou que o governo deve enviar ao Congresso no início de abril os projetos de lei que vão regulamentar a reforma tributária do consumo, na intenção de que os textos sejam aprovados ainda este ano.

… Em nota à imprensa divulgada pelo ministério, Haddad reiterou a importância de que a regulamentação da reforma ocorra em 2024, para que não haja atrasos no cronograma de transição para os novos tributos.

ALFREDO MENEZES – Em entrevista concedida ao Bom Dia Mercado, o CEO da Armor Capital falou sobre o câmbio em 2024, projetando uma apreciação no primeiro trimestre, com o dólar até R$ 4,60, mas com fechamento no ano de R$ 4,90/R$ 4,80.

… “Eu não vejo tanta apreciação do câmbio. Vejo uma moeda lateral. Esses R$ 4,90 para o final do ano está bem precificado. No primeiro trimestre, o fluxo é bom, especialmente nos investimentos diretos, e as contas financeiras são mais suaves em termos de saídas.”

… Alfredo Menezes diz não ver motivos para uma apreciação maior do câmbio, “até porque o agronegócio não deverá dar a mesma contribuição para a balança comercial e o nosso diferencial de juros tende a cair no decorrer de 2024”.

… Sua projeção é baseada na expectativa de que o déficit em conta corrente deverá se manter em torno de 1,5% do PIB, como em 2023, financiado com folga pelos investimentos diretos.

… “Se você fala em um dólar de R$ 4/R$ 3,90, está falando de um déficit acima de 3% e a economia mundial não vai financiar um déficit desse tamanho”, disse o gestor da Armor Capital, anotando que o histórico dos emergentes tem sido um déficit entre 1,5% e 2%.

… Confira a entrevista do CEO da Armor Capital aqui no site do BDM: https://www.bomdiamercado.com.br/alfredo-menezes-cambio-pode-ter-apreciacao-no-1tri-mas-fechar-2024-em-r-490/

MAIS AGENDA – O BC divulga os dados semanais do fluxo cambial às 14h30, o CMN promove reunião às 15h e o ministro Haddad e o presidente Lula participam no início da noite (19h) da solenidade dos 90 anos da USP.

… Nos EUA, além do PIB, saem às 10h30 mais três indicadores: o auxílio-desemprego, com previsão de alta de 13 mil pedidos, para 200 mil; as encomendas de bens duráveis em dezembro (+1%); e a atividade nacional do Fed/Chicago.

… As vendas de moradias novas serão divulgadas ao meio-dia e a estimativa é de avanço de 10% em dezembro.

… Yellen (Tesouro) fala sobre economia às 15h35. Ontem à noite, o Fed confirmou que encerrará em março a linha de empréstimo emergencial para os bancos criada em 2023, após o estresse com o colapso do Silicon Valley Bank.

… American Airlines divulga balanço antes da abertura dos mercados e Visa solta seu resultado após o fechamento.

… Além do BCE, os BCs da Turquia (8h) e da África do Sul (10h) divulgam decisões de política monetária.      

JÁ VIMOS ESTE FILME –O corte de 50 pb no compulsório pela China embalou o Ibovespa até a máxima dos 129.445 pontos pela manhã, mas já à tarde o efeito se dissipou com a piora externa e o “efeito Mantega”, que pegou mal.

… A pressão do governo para emplacar o ex-ministro na Vale irritou o mercado e contribuiu para virar o índice à vista da bolsa doméstica para o negativo (-0,35%), de volta à faixa dos 127 mil pontos (127.815,70), com giro de R$ 20 bi.

… O papel da Vale, que subia 1,80% com a China, desacelerou o fôlego e fechou abaixo de R$ 70, cotado a R$ 69,90 (+1,01%). O temor de interferência política também cobrou seu preço da Petrobras, que passou a cair.

… O papel ON cedeu 0,93% (R$ 39,24) e o PN, -0,76% (R$ 37,88), na contramão do petróleo, que subiu com a forte queda dos estoques nos EUA (-9,2 milhões de barris).

… O Brent/abril avançou 0,66%, a US$ 79,63 por barril, na ICE. O WTI/março, +0,96%, a US$ 75,09, na Nymex.

… Impulsionadas pela China, CSN Mineração subiu 2,44% (R$ 6,73) e Gerdau, +1,83% (R$ 10,04). No topo do ranking Usiminas avançou 3,82%, a R$ 8,97.

… Outros destaques positivos foram Marfrig (+2,99%, a R$ 9,63) e Alpargatas (+2,52%, a R$ 8,54).

… Com exceção de BB (+0,19%; R$ 56,65), os demais bancos ficaram no vermelho: Santander unit, -0,77% (R$ 29,50); Bradesco ON, -0,51% (R$ 13,73); Bradesco PN, -0,39% (R$ 15,32); e Itaú Unibanco, -0,46% (R$ 32,40).

… Natura (-5,38%, a R$ 16,35), Casas Bahia (-4,50%, a R$ 8,70) e Yduqs (-3,72%, a R$ 20,42) lideraram as quedas.

… Faltando uma semana para a virada de mês, o Ibovespa caminha para terminar o pior janeiro em 8 anos, com queda acumulada de quase 5% e fuga mensal de aproximadamente de R$ 5 bilhões em capital estrangeiro na B3.

… Analistas ouvidos pelo Broadcast dizem que a reversão do humor, depois do rali dos dois meses anteriores, é natural e não é exclusividade do Brasil: outras bolsas de pares emergentes, como México e Chile, caem 3,5%.

… Segundo eles, os ruídos fiscais domésticos têm sido coadjuvantes na retirada do capital externo do Ibovespa e o verdadeiro vilão tem sido mesmo o Fed, com tudo sinalizando que o corte de juro nos EUA só virá em maio.

SEM SUSTO – Apesar da saídas de k externo, das pressões internas e externas, o dólar se segura abaixo de R$ 5.

… Ontem, fechou em queda pelo segundo dia consecutivo (-0,47%, a R$ 4,9374), embalado pelas medidas de estímulo na China, que elevaram os preços das commodities.

… A baixa, no entanto, perdeu força à tarde com a alta dos yields dos Treasuries e a virada para baixo no Ibovespa.

… Sócio e diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli disse ao Broadcast que o cenário para o Brasil e o real não mudou.

… A economia, afirmou, vai rodar no positivo, o diferencial de juros ainda é favorável e o saldo comercial ainda deve ser forte, com o fluxo de recursos da safra a partir de fevereiro servindo de barreira para proteger o real.

… Se as próximas leituras de inflação nos EUA confirmarem a aposta de corte de juro no 1º semestre, o dólar pode buscar as mínimas do ano passado, afirmou o gestor.

… Ontem, os DIs trilharam o mesmo caminho do dólar, com queda de mais de 0,12pp na primeira parte do pregão, após a China, mas com a pressão dos Treasuries reduzindo a baixa das taxas domésticas.

… A queda do dólar ajudou a segurar o recuo tímido das taxas e agradou o mercado a declaração de Alckmin de que o governo não fará nenhum tipo de aporte no BNDES para financiar o programa Nova Indústria.

… No fechamento, o DI para Jan25 caiu a 10,060%, (de 10,073%), o DI Jan26 recuou a 9,750% (de 9,772%). O Jan27, a 9,925% (de 9,949%); o Jan29, a 10,350% (10,380%); Jan31, a 10,580% (10,620%); e Jan33, a 10,670% (10,718%).

BONDE DO TOURÃO –Analistas internacionais avaliam que, nos últimos dias, além da euforia com as ações de tecnologia, um temor de perder o bonde do otimismo também tem ajudado nas altas das bolsas de NY.

… “Após o forte rali do quarto trimestre e essa reviravolta em janeiro, depois de um início de ano fraco, o medo de ficar de fora é altíssimo nos mercados”, disse Louis Navellier, da Navellier.

… “Mesmo com a quantidade crescente de guidances cautelosos, é provável que vejamos novos fluxos de dinheiro entrando para apoiar essas novas máximas.”

… Mark Neumann, da Constrained Capital, concorda que os investidores estão com medo de perder [o próximo rali]”, diante do entusiasmo com a IA e com os retornos sobre as ações das big techs”, disse ao MarketWatch.

… Ontem, um leilão frustrante de Treasuries, que pressionou os yields, tirou as bolsas de NY das máximas, que reagiram ainda à percepção reforçada pelo PMI dos EUA de que o Fed não vai correr para cortar juro.

… Mas o S&P 500 ainda conseguiu marcar seu 4º fechamento recorde consecutivo (+0,08%, 4.868,55 pts). O Nasdaq subiu (0,36%, 15.481,92), embalado pela Netflix (10,7%), e só o Dow Jones ficou fora da festa (-0,26%; 37.806,39).

… Nos Treasuries, o rendimento do T-bond de 30 anos alcançou o maior nível do ano até agora na máxima do dia (4,4236%). Fechou em 4,410%, de 4,3657% na véspera.

… O juro da note de 2 anos avançou a 4,377% (de 4,363%), e o de 10 anos subiu a 4,182%, de 4,135%.

… No câmbio, as moedas europeias avançaram sobre o dólar com leituras mais fortes do que o esperado dos índices de gerentes de compras (PMIs) do Reino Unido e zona do euro.

… O PMI composto do bloco europeu subiu para 47,9 em janeiro, na máxima em seis meses, segundo a S&P Global. O mesmo indicador da economia britânica avançou a 52,5 na leitura preliminar deste mês, acima da previsão: 52,1.

… Para o ING, os números dão mais motivos para BoE e BCE adiarem os cortes de juros neste ano. O euro subiu 0,34%, a US$ 1,0886, enquanto a libra avançou 0,30%, a US$ 1,2724. O iene avançou 0,54%, a 147,42/US$.

… O dólar chegou a reduzir as perdas após o PMI composto americano também ter vindo forte. Mas não conseguiu impedir que o índice DXY fechasse em baixa de 0,37%, a 103,236 pontos.

… OPMI de serviços dos EUA avançou de51,4 em dezembro a 52,9 em janeiro, acima do esperado (51,5).

… O dado relativo ao setor industrial virou para o território de expansão (acima de 50): aumentou de 47,9 para 50,3 no período, maior nível em 15 meses, também acima da projeção do mercado, de 47,8.

EM TEMPO… PETROBRAS manifestou interesse do direito de preferência em bloco da Bacia de Campos.

VALE. 300 pessoas afetadas pelo desastre em Brumadinho se juntaram à ação que exige indenização bilionária no processo coletivo que corre na Justiça alemã contra a TÜV SÜD, encarregada de atestar estabilidade de barragem…

… Agora, são 1.400 autores e o valor pleiteado subiu de € 450 milhões para € 600 milhões (cerca de R$ 3,2 bilhões).

SANTANDER. Conselho aprovou programa de recompra de até 5% das units em circulação (36,2 milhões papéis) pelo prazo de 18 meses.

BB. Jaime Pinto Jr renunciou à diretoria de Agronegócios e Agricultura Familiar; entra Everton Kapfenberger.

TELEFÔNICA aprovou a redução do capital social no valor de R$ 1,5 bilhão; com isso, o capital será alterado de R$ 63,571 bilhões para R$ 62,071 bilhões…

… Redução será concretizada mediante restituição aos acionistas, do valor de R$ 0,9076 por ação ON de emissão.

CASAS BAHIA. BlackRock atingiu participação acionária de 5,13% no grupo; segundo o último formulário de referência divulgado pela empresa em dezembro, a BlackRock não detinha participação relevante na companhia.

VAMOS LOCAÇÃO fará 10ª emissão de debêntures, no valor de R$ 500 milhões.

GAFISA. Conselho aprovou aumento do capital social no valor de R$ 42,2 milhões, mediante a emissão de 6.016.070 de ações pelo preço de R$ 7,02 cada; segundo a empresa, trata-se de um bônus de subscrição…

… Assim, o capital social da Gafisa passará de R$ 1.416.171.071,34 para R$ 1.458.403.882,74, dividido em 63.267.210 ações ON.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.