Morning Call
PIB forte reforça apostas em alta da Selic
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[04/09/24]
… Novas evidências de desaceleração da economia dos EUA, com dados muito fracos da atividade e da construção, resgataram o medo de recessão e elevaram a expectativa para o payroll, na 6ªF, que deverá ser decisivo para o tamanho do corte de juro pelo Fed. Hoje, o relatório Jolts (11h), com a abertura de vagas de emprego, já pode dar uma ideia do mercado de trabalho. Às 15h, o Livro Bege também é importante. Enquanto em NY cresceram as apostas em queda de 50pbs em setembro, aqui o PIB acima do esperado levou o mercado a reforçar sua perspectiva de alta mais forte da Selic. Na agenda, a produção industrial de julho (9h) é o destaque, com estimativa de recuo de 0,9% na mediana de pesquisa Broadcast. Logo cedo, Fernando Haddad concede entrevista ao vivo à GloboNews (8h30).
… O ministro deve abordar o crescimento surpreendente do PIB/2Tri, de 1,4%, bem acima do consenso (+0,9%), com um plus adicional na revisão do 1Tri, de 0,8% para 1%. O resultado desencadeou uma série de revisões no mercado, com o PIB do ano perto de 3%.
… A mediana para 2024 subiu de 2,5% para 2,8%, em comparação ao levantamento antes do dado, com projeções entre 2,4% e 3,3%.
… Após a divulgação do IBGE, diversos bancos e instituições revisaram para cima suas estimativas para o PIB/2024, como Goldman Sachs (de 2,5% para 3%), Citi (de 2% para 3%), Barclays (2,7% para 2,9%), Bradesco (2,3% para 2,6%) e BTG Pactual (de 2,4% para 2,7%).
… Em novo levantamento após o PIB, o Broadcast apurou que a mediana para 2024 avançou de 2,5% para 2,8%.
… Também o governo vai revisar sua projeção para o PIB deste ano, que está em 2,5%. À CNN, Haddad disse que, “muito provavelmente”, a projeção será reestimada – “para algo próximo dos 2,9%”, segundo Dario Durigan, secretário-executivo da Fazenda.
… “A atividade se consolidou ainda mais no 2Tri, impulsionada pela demanda interna final robusta, sustentada pelo aumento da renda das famílias e pelos fluxos de crédito mais firmes”, disse Alberto Ramos (Goldman Sachs), em relatório aos clientes.
… A expectativa do banco é que a atividade continue se beneficiando dos estímulos fiscais, aumento do salário mínimo, virada no ciclo de crédito e crescimento da renda real. Contudo, diz ele, a demanda mais forte elevou significativamente as chances de alta de Selic.
… Ramos cita clara deterioração do cenário inflacionário e, ainda, o mercado de trabalho apertado, o hiato do produto positivo, a política fiscal e parafiscal expansionista e o real pressionado para reforçar a cautela do Copom nas próximas decisões.
… Já o Citi avalia que a força da demanda segue como principal motor da economia no ano. “No geral, o PIB do segundo trimestre de 2024 reforçou a visão de um descompasso entre a expansão da demanda e da oferta”, destacam seus analistas.
… No seu relatório, o banco prevê que o Copom deve iniciar um ciclo de aperto da Selic em 25 pontos-base nas próximas quatro reuniões.
… Ainda a economista e coordenadora do boletim macro do Ibre-FGV, Silvia Matos, elevou a sua projeção para o PIB do ano, de 2,3% para 2,7%, afirmando que a economia brasileira tem crescido acima do seu potencial, o que tende a gerar pressão inflacionária.
… Já o Itaú adicionou um viés de alta à projeção de 2,5% do PIB/24, mas, embora o banco tenha mantido a previsão da Selic em 10,5% até o fim do ano, a economista Julia Gottlieb reconhece a possibilidade de uma eventual alta nos juros.
… Na curva dos juros, o PIB/2Tri levou o mercado a reforçar as apostas em uma elevação de 50pbs da Selic em setembro, com chances em 80%, seguida de altas da mesma magnitude em novembro e dezembro, além de um último ajuste de 25pbs em janeiro (abaixo).
MAIS AGENDA – Às 14h30, o BC divulga os dados semanais do fluxo cambial e o Tesouro faz uma divulgação referente ao Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2024, seguido de entrevista coletiva à imprensa, às 15h.
… Analistas consideram que o PAF possa ser revisado, tirando o pé das LFTs, diante da potencial alta da Selic.
LÁ FORA – Nos EUA, além do relatório Jolts e do Livro Bege, saem a balança comercial de julho (9h30), que deve aprofundar o déficit para US$ 78,5 bilhões, e as encomendas à indústria (11h), com previsão de alta de 4,8%.
… Na zona do euro, saem o PPI de julho e a leitura final de agosto do PMI/S&P Global composto (5h), que será divulgada também na Alemanha (4h55) e no Reino Unido (5h30). O BC do Canadá decide juro às 10h45.
CHINA HOJE – A leitura final do PMI de serviços medido pelo setor privado (S&P Global/Caixin) recuou de 52,1 em julho para 51,6 em agosto. O indicador veio abaixo do projetado pela FactSet, que era de 51,8.
… O PMI composto chinês, que engloba serviços e indústria, permaneceu em 51,2. As leituras acima do nível de 50 indicam que a atividade econômica da China segue em território de expansão.
O CALL DO CONSERVADORISMO – A surpresa com o “Pibão” veio se juntar às expectativas de inflação desancoradas e desprestígio da política fiscal para jogar para 80% na curva a termo a aposta de alta de 0,5pp da Selic em setembro.
… O DI, como se viu, precifica ainda mais duas doses de meio ponto de aperto monetário nas reuniões seguintes (novembro e dezembro) e elevação adicional de 0,25pp no primeiro encontro do Copom do ano que vem (janeiro).
… Assim, os contratos futuros dos juros curtos se mantiveram ontem perto dos ajustes da véspera, enquanto os longos caíram, dentro da interpretação de que, se o BC for mais agressivo agora, pode aliviar a barra lá na frente.
… No fechamento, o DI para Jan/25 ficou em 10,975% (de 10,998% no pregão anterior); Jan/26 subiu a 11,925% (de 11,886%); Jan/27 cedeu a 11,960% (de 11,977%); Jan/29, a 12,130% (de 12,166%); e Jan/31, a 12,120% (de 12,159%).
… No câmbio, as apostas consolidadas pelo PIB/2Tri de que o ciclo de alta da Selic será retomado chegaram a atrair capital estrangeiro, derrubando o dólar na primeira reação. Mas, à tarde, a moeda norte-americana virou para alta.
… O movimento acompanhou a trajetória externa, diante do apelo defensivo provocado pelos dados fracos nos EUA.
… A liquidação das commodities também colaborou nesta 3ªF para depreciar as moedas de países produtores, caso do real. No fechamento, o dólar à vista exibia alta de 0,46%, cotado a R$ 5,6404, perto do nível técnico de R$ 5,65.
REALIZA NO HIGH –Hoje faz uma semana que o Ibovespa estabeleceu seu recorde de fechamento de todos os tempos (137.343,96 pontos) e, de lá para cá, dá para dizer que a bolsa está dando demonstrações de resistência.
… Sem queimar etapas, a correção natural das máximas históricas tem acontecido e o índice à vista completou ontem o quarto pregão consecutivo de queda. Mas o que se vê é que o processo de ajuste tem sido moderado.
… Ontem, apesar de NY ter exibido picos de estresse, de o dólar ter continuado próximo da faixa de R$ 5,65, de o minério ter levado um tombo de 3% e o petróleo ter derretido quase 5%, o Ibovespa manteve o sangue-frio.
… Limitou a queda a 0,41% e conseguiu preservar os 134 mil pontos (134.353,48). A alta firme das ações dos grandes bancos com o PIB refreou parte do impacto da derrocada dos papéis diretamente ligados às commodities.
… Vale figurou entre as maiores quedas do dia (ON, -3,73%, a R$ 56,55), acompanhando o tombo de 4,7% no preço do minério de ferro em Dalian (China). Acionista da companhia, Bradespar caiu 3,86% (R$ 18,42).
… Petrobras ON cedeu 1,05% (R$ 42,31) e PN perdeu 1,21% (R$ 38,53), com o Brent afundando 4,7%, a US$ 73,75 por barril, diante da perspectiva de uma demanda global morna e aumento de oferta da Opep.
… Petroleiras juniores afundaram: 3R Petroleum (-5,28%; R$ 25,47) e Prio (-5,16%; R$ 44,30).
… Na outra ponta, o Itaú subiu 1,62%, a R$ 36,98. Bradesco ON avançou 1,43% (R$ 14,21) e Bradesco PN valorizou 1,09% (R$ 15,75). Banco do Brasil subiu 0,91% (R$ 28,68) e Santander teve alta de 0,19% (R$ 31,46).
… Azul disparou 10,20% (R$ 4,86) com a notícia de que a empresa iniciou rodada de conversas com bondholders para captar recursos.
BACK TO BLUE – A expectativa pelo início do ciclo de queda dos juros nos EUA e de uma bem-sucedida temporada de balanços no 3Tri tem consolidado o retorno do fluxo gringo à B3.
… Dados divulgados ontem pela bolsa mostraram entrada de R$ 10,013 bilhões no acumulado de agosto, reduzindo o saldo negativo de 2024 a R$ 26,557 bilhões.
… Foi o segundo mês positivo no ano. Em julho, entraram R$ 3,552 bilhões. Para analistas, a tendência é de o fluxo externo continuar chegando ao Brasil.
… Segundo o Itaú BBA, a bolsa brasileira está com ‘valuations’ atraentes. O banco prevê o Ibovespa saltando de 145 mil no fim deste ano para 165 mil no fim de 2025, ou um potencial retorno de 27% em relação ao atual nível.
… Na média, o potencial de crescimento do lucro por ação é de 12% ao ano entre o período de 2023 a 2025, com quase 10% em 2024 e avanço de dois dígitos em 2025.
DÉJÀ VU – O mercado em NY voltou do feriado com o pé esquerdo e reviveu os piores momentos do início de agosto, quando um payroll ruim derrubou as bolsas.
… Desta vez, indicadores fracos de atividade nos EUA pesaram sobre o sentimento dos investidores e ativaram a busca por ativos considerados seguros, como Treasuries e dólar.
… Assim como no “crash” do mês passado, as techs tiveram o pior desempenho entre os setores, seguidas por ações de energia, que reagiram ao tombo do petróleo.
… Da mesma forma que há um mês, o Vix, índice do medo, saltou 33,2%, para 20,72 pontos, a maior alta porcentual e o maior nível desde 5 de agosto.
… O índice Philadelphia SE Semiconductor, que reúne ações de empresas de fabricantes de chips, despencou 7,8%.
… Uma dessas companhia é a Nvidia, que caiu quase 10%, perdendo US$ 279 bilhões em capitalização de mercado. Foi o maior declínio em capitalização num só dia para uma companhia americana.
… Suas companheiras no grupo das sete magníficas também foram mal: Alphabet (-3,6%), Apple (-2,7%), Microsoft (-1,8%), Meta (-1,8%), Tesla (-1,6%) e Amazon (-1,3%).
… Como resultado, o Nasdaq levou um tombo de 3,26% (17.136,30 pontos) ontem. Também dragado pelas techs, o S&P 500 recuou 2,11% (5.529,06). O Dow Jones caiu 1,51% (40.936,93).
… Nada fora do script já que, historicamente, setembro costuma ser um dos piores meses para as bolsas.
… Dado responsável por reacender as preocupações em torno da desaceleração do crescimento na economia dos EUA, o PMI industrial medido pelo ISM subiu para 47,2 em agosto, ante 46,8 em julho.
… Mas o resultado, além de continuar indicando contração da indústria, ficou abaixo da previsão de 47,5.
… Outro PMI industrial, medido pela S&P Global, caiu de 49,6 em julho para 47,9 (agosto), abaixo dos 48 esperados.
… Para completar a lista de indicadores negativos, os investimentos em construção nos EUA caíram 0,3% em julho ante junho, quando se esperava alta de 0,2%.
… O conjunto de dados do dia ampliou as apostas de corte de 50 pb nos juros pelo Fed daqui a duas semanas, de 30% para 39%, mas as chances de 25 pb ainda são majoritárias – caíram de 71% para 60%, segundo o CME.
… Os juros dos Treasuries cederam, com a note-2 anos abaixo dos 3,90% (em 3,868%, contra 3,926% antes do Labor Day). O retorno da note-10 anos caiu a 3,833% (de 3,906%) e o do T-bond-30 anos recuou a 4,125% (de 4,193%).
… No câmbio, sinalizações de altas de juros pelo BoJ fizeram o iene avançar 1% sobre o dólar, a 145,448/US$.
… Kazuo Ueda, presidente do BC japonês, reiterou durante encontro de autoridades do governo, que a autoridade monetária deve continuar aumentando juros se a economia evoluir conforme o esperado.
… Euro (-0,30%, a US$ 1,1043) e libra (-0,30%, US$ 1,13109) fecharam com queda e puxaram o índice dólar para cima. O DXY subiu 0,17%, a 101,825 pontos.
EM TEMPO… PETROBRAS confirmou emissão de bonds de 10 anos no valor de US$ 1 bilhão.
CPFL. Cinco empresas do grupo devem emitir nas próximas semanas debêntures que totalizam mais de R$ 2,6 bilhões. (Valor)
LIGHT. AGE aprovou aumento de limite de capital autorizado para 1,648 bilhão de ações ON.
LOJAS RENNER. Morgan Stanley atingiu participação de 7,2% das ações ON da companhia.
AMERICANAS informou ao mercado que seus acionistas de referência e afiliados passarão a deter ações de emissão da companhia representativas de um percentual superior a 50% do capital social e votante.
IGUATEMI aprovou o 5º programa de contratos de swap, no valor de até R$ 120 milhões.
RUMO. BlackRock reduziu participação de 5,89% para 4,92%, passando a deter 91.317.192 de ações ON.
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