Morning Call

Powell fala às 11h em Jackson Hole

Atualizado 23/08/2024 às 00:41:37

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[23/08/24]

… A fala de Jerome Powell no seminário de Jackson Hole (11h) é o único interesse dos mercados globais nesta 6ªF, quando os investidores esperam que ele não apenas confirme o início dos cortes do juro nos EUA em setembro, mas também sinalize a magnitude da primeira queda e, com alguma sorte, dê uma ideia do ciclo total. O caminho das pedras poderá ser dado pela preocupação que Powell mostrar com o mercado de trabalho. Na véspera do evento, um forte ajuste das apostas mais agressivas elevou a 75% as chances de uma redução de 25pbs. O movimento disparou os juros dos Treasuries, o dólar e derrubou as bolsas, na reprecificação reproduzida pelos ativos brasileiros. Galípolo achou que tinha ajudado na pressão, quis se explicar. Não precisava, o mercado já entendeu que ele é confiável.

… O provável substituto de RCN, que deve ser anunciado em breve, não se cansa de dizer que o Copom está pronto para subir os juros, se for necessário, fazendo questão de revelar que, para ele, o balanço de riscos é assimétrico, com mais riscos para a alta da inflação.

… Aí vai o mercado e faz o quê? Exagera, apostando em altas de 50 pontos-base da Selic em cada uma das últimas três reuniões do ano.

… Vem, então, Campos Neto e faz uma advertência contra a rápida intensificação das expectativas de aumento da taxa Selic, e vem Diogo Guillen e critica o “excesso de ênfase dado ao balanço de riscos”. Ambos tentando baixar um pouco o poeira.

… Galípolo insiste na mensagem de alta da Selic, mas não quer que o mercado tome suas avaliações sobre o balanço de riscos assimétrico como “guidance”, ao mesmo tempo em que diz estar contente com a interpretação que o mercado faz de suas palavras.

… O mercado começa a achar que eles não estão falando a mesma linguagem e parte para o vaivém das taxas na curva do DI.

… Galípolo ouve falar em posições dissonantes e faz um mea culpa, dizendo que se explicou mal na palestra na Fenabrave e queria corrigir na palestra da FGV. Não tinha a menor necessidade. Falar o mercado fala, mas isso estava bem longe de ser uma crise.

… O candidato ao comando do BC já provou que realizará uma condução técnica quando assumir em janeiro de 2025, que não terá medo de subir a Selic, que não se intimidará com Lula, que respeitará a meta de 3% e que o mercado pode acreditar.

… Mas, a cada vez que ele volta ao assunto, acaba dando margem a interpretações, porque é disso que o mercado vive, de interpretar os fatos e antecipar cenários. Galípolo está falando demais, e dando muita importância ao que pensa o mercado.

… Nesta 5ªF, por exemplo, a alta generalizada dos juros futuros na B3 refletiu a disparada dos yields americanos, que também corrigiram os exageros recentes, antes que Powell chegue e jogo um balde de água fria no mercado hoje.

… Do mesmo modo, o dólar se ajustou lá fora e aqui, em um pregão de expectativas que não autoriza tendências até as 11h.

DESONERAÇÃO – Haddad chamou a imprensa ontem à tarde para informar que projetos de lei prevendo aumento das alíquotas da CSLL e da tributação sobre JCP serão encaminhados junto ao Orçamento, semana que vem.

… De acordo com o ministro da Fazenda, as medidas servirão como uma espécie de garantia caso as propostas aprovadas pelo Senado não sejam suficientes para compensar a desoneração da folha no ano que vem.

… Faltando uma semana para o envio pelo Executivo ao Congresso da peça orçamentária de 2025, os auditores do TCU alertaram que as projeções do governo para o resultado primário em 2025 apresentam um “duplo risco”.

… Segundo eles, existe a possibilidade de frustrações de receitas e aumento das despesas obrigatórias.

… O TCU considera “otimistas” as estimativas para a receita primária líquida, que estariam de R$ 35,6 bilhões a R$ 50,7 bilhões acima das projeções feitas com base em dados do mercado, sinalizando decepção com as receitas.

… A equipe técnica do TCU também observa que a projeção do governo federal de aumento das despesas primárias totais ultrapassa o limite de crescimento real de 2,5% ao ano permitido pelo novo arcabouço fiscal.

ESTOUROU – Reportagem no Valor apurou que a alíquota média do IVA pode ficar em 28%, acima do limite de 26,5% definido pelo grupo de trabalho da reforma tributária.

… O estouro é consequência das várias concessões a setores beneficiados por isenções e regimes especiais.

… A Fazenda tentará ajustar a alíquota na tramitação da PEC no Senado, definindo compensações a benefícios concedidos. Se a alíquota de 28% se confirmar, o Brasil terá o maior imposto sobre o consumo do mundo.

MAIS AGENDA – Aqui, só sai a prévia do IPC-S (8h). Nos EUA, as vendas de casas novas (11h) têm previsão de +2,1% em julho. Às 14h, saem os dados de petróleo da Baker Hughes. O BoE solta às 12h a fala de Bailey em Jackson Hole.

DEU RUIM – O flerte do dólar com R$ 5,60 e a escalada dos juros futuros responderam ao esfriamento das apostas em um corte de juro mais agressivo pelo Fed e ao “bate-cabeça” em relação aos recados que Galípolo tem passado.

… Logo cedo, a moeda americana rompeu um nível importante (R$ 5,55), seguindo o ajuste lá fora, e a partir daí foi só ladeira acima, com o investidor procurando abrigo em meio à interpretação de discursos sem coesão no BC.

… Ao Broadcast, Nicolas Borsoi (Nova Futura) disse que as declarações recentes de Campos Neto e dos diretores do BC não combinam com a percepção anterior de que o Copom estava unido na avaliação sobre a condução do juro.

… “O Comitê parece agora não ter uma mensagem harmônica. Essa mudança é ruim e adiciona mais volatilidade.”

… No mercado à vista, o dólar fechou com alta de 1,98%, em R$ 5,5904, bem próximo da máxima intraday de R$ 5,5955. A mínima foi de R$ 5,4813.

… O cenário de incerteza do BC e do Fed apareceu também na curva dos DIs, achatada, com as taxas dos vencimentos mais curtos próximas aos longos. Ontem, a diferença entre o Jan26 e o Jan33 era de apenas 0,06pp.

… O DI para Jan/25 subiu para 10,845% (de 10,75% no pregão anterior); o Jan/26 avançou a 11,590% (de 11,45%); o Jan/27 foi a 11,590% (de 11,415%); o Jan/29 pagou 11,665% (de 11,485%); e Jan/31, 11,670% (de 11,520%).

… A Quantitas revisou para cima o call da Selic, de manutenção para alta de 0,25pp em setembro, e projeta agora  ciclo total de aperto de 1,5pp, com duas doses de meio ponto depois da próxima reunião e mais 0,25pp em janeiro.

… A casa cita o desconforto dos diretores do BC com a desancoragem das expectativas de inflação. Mas outras instituições financeiras ainda estão confiantes de que o Copom vai resistir a tirar o juro de onde está (10,50%).

… O Barclays reconhece que há chance de aperto de 1,50pp à frente, mas ainda mantém a aposta em Selic estável, mesmo antecipando uma economia mais aquecida e tendo subido a projeção para o PIB do ano de 2,2% para 2,7%.

… Do mesmo modo, o Banco Inter confia em manutenção da taxa de juro até o primeiro semestre do ano que vem, embora ressalve que o risco é de alta, diante das revisões nas estimativas de inflação e de crescimento econômico.

… O banco elevou a projeção de IPCA de 4,2% para 4,4% e a do PIB de 2,1% para 2,5%.

… Para o Bradesco, a Selic está restritiva o suficiente para garantir a convergência do IPCA à meta. O banco diz que estimativas próprias apontam uma meta implícita na atual condução da política monetária muito próxima de 3,0%.

TRÊS É DEMAIS – A reprecificação para o Fed, antes de Jackson Hole, facilitou o ajuste em baixa do Ibovespa, que entrou em bom ponto de venda, depois da sequência de três pregões nas máximas históricas de fechamento.

… Deixando na promessa a conquista dos 137 mil pontos, o índice à vista fechou em baixa de 0,95%, aos 135.173,39 pontos, com giro de 22 bi. Mas não quer dizer que a bolsa vá estacionar. Pode ter sido só uma parada estratégica.

… Entusiasmado com a força do crescimento econômico doméstico neste ano, o JPMorgan elevou a projeção para o Ibovespa de 135 mil para 143 mil pontos no fim do ano. A XP Investimentos não duvida de até mais: 147 mil pontos.

… Mas mantém um posicionamento ainda cauteloso, diante da volatilidade e riscos fiscais e políticos do País.  

… Ontem, as apostas no gradualismo do Fed e a percepção de sinais trocados dentro do Copom abriram uma onda de correção no Ibov, que poupou só 13 papéis, entre eles, as duas maiores blue chips de commodities (Vale e Petro).

… Já os bancos realizaram em bloco parte das altas recentes. BB puxou a fila do setor: -2,44% (R$ 28,01). Itaú caiu 0,92% (R$ 36,74); Bradesco PN, -0,70% (R$ 15,52); Bradesco ON, -0,07% (R$ 14,03); e Santander, -0,32% (R$ 30,97).

… CVC (-6,52%) apagou metade dos ganhos conquistados no dia anterior, após a gestora WNT ter elevado sua fatia.

… A alta do DI cobrou seu preço de papéis mais sensíveis ao ciclo econômico. MRV (-5,28%), Magazine Luiza (-4,84%), Eztec (-4,68%), Yduqs (-4,63%) e Cogna (-4,32%) figuraram entre as maiores perdas do Ibovespa.

… Vale resistiu à queda de 1,14% do minério de ferro e virou para leve alta na reta final: ON, +0,14%, a R$ 58,38. O papel, porém, ainda acumula queda de 18,50% este ano, abalado pelo cenário de fragilidade econômica da China.

… Com tombo de 3,46%, Usiminas PNA continuou refletindo os receios com o ritmo de consumo de commodities pelos chineses. CSN perdeu 1,62%; Metalúrgica Gerdau PN caiu 1,41%; CSN Mineração, -1,10%; e Gerdau PN, -0,81%.

… Petrobras subiu de leve (ON, +0,10%, a R$ 39,78; e PN, +0,13%, a R$ 37,12), de olho no petróleo, que reagiu após quatro quedas seguidas. No fechamento, o Brent para outubro subiu 1,54%, a US$ 77,22 por barril, na Ice londrina.

VAI DE ESCADA – A percepção de que o discurso de Jerome Powell em Jackson Hole, logo mais, vai indicar que o Fed pegará a escada em vez do elevador na descida dos juros levou os investidores a ajustarem suas posições em NY.

… Mohamed El-Erian comentou que o mercado estava exagerando nas apostas de corte de 50 pb e, de fato, no fim dos negócios ontem, o CME indicava 75% de chance de -25 pb, contra 62% na véspera.

… Discursos de vários Fed boys foram na linha da cautela. Jeffrey Schmid (Kansas City) disse que quer ver mais dados antes de apoiar qualquer corte.

… Sua contraparte de Boston, Susan Collins, também precisa de mais informações e disse que “um ritmo gradual e cauteloso” de redução é mais apropriado.

… Patrick Harker (Filadélfia) defendeu um corte em setembro, mas deixou a magnitude em aberto.

… Mistos, os indicadores do dia prescreveram cuidado. O PMI composto dos EUA veio em agosto (54,1) um pouco acima do esperado (54,0) graças aos serviços, que subiram de 55,0 para 55,2, contrariando previsão de queda a 54,1.

… Mas a indústria marcou o pior nível do ano: 48, ante 49,6 em junho. A expectativa era de estabilidade.

… As vendas de moradias usadas em julho subiram 1,3% ante junho, de uma previsão de +0,8%, segundo a NAR. Foi o primeiro aumento em cinco meses.

… Os pedidos de auxílio desemprego (232 mil) na semana passada vieram um pouco abaixo do esperado (233 mil).

… Em NY, as techs – sensíveis à política monetária – lideraram as perdas, com o Nasdaq em forte baixa de 1,67%, aos 17.619,35 pontos.

… “Os investidores estavam tentando ajustar posições antes da divulgação do balanço da Nvidia, na semana que vem, e diminuir risco antes do discurso de Powell”, disse Scott Ladner (Horizon Investments), à Reuters.

… O profissional vê o presidente do Fed sinalizando um corte em setembro. “Powell será discreto quanto à magnitude do corte, mas tentará colocar o mercado na direção dos 25pbs”, disse.

… No S&P 500, o bloco de tecnologia também comandou as baixas. O índice cedeu 0,89%, a 5.570,64 pontos. O Dow caiu 0,43%, a 40.712,78 pontos.

… Esse ajuste de posições para o corte do Fed em setembro levou a note de 2 anos de volta aos 4%, em 4,011% (de 3,933% na véspera.

… O resto da curva também subiu. O juro da note de 10 anos avançou a 3,858% (de 3,801%) e o do T-bond de 30 anos foi a 4,130% (de 4,078%).

… Depois de cravar a mínima do ano na véspera, o dólar avançou sobre a maioria dos pares. O DXY subiu 0,46%, a 101,508 pontos. O iene devolveu parte dos ganhos recentes, com queda de 0,76%, a 146,252/US$.

… Apesar do PMI composto em terreno de expansão no bloco europeu (51,2), o euro caiu 0,39%, a US$ 1,1111.

… Já a libra fechou praticamente estável (-0,03%), a US$ 1,3087, porque respondeu melhor ao dado positivo do PMI composto do Reino Unido, que teve alta inesperada, para 53,4 em agosto, maior nível em 4 meses.

EM TEMPO… ITAÚ emitiu R$ 3,1 bilhões em letras financeiras subordinadas nível 2, com vencimento em 2034.

ENERGISA. Problema externo no SIN gerou interrupção no sistema que abastece Acre e Rondônia.

EVEN concluiu a venda de 9.800.000 ações de emissão da Melnick, representativas de 4,75% do capital social; valor representa a totalidade das ações até então aprovadas pelo conselho de administração da companhia…

… Empresa ainda detém 29.983.107 ações da Melnick, representativas de 14,54% do capital social; venda foi feita na bolsa de valores.

ALLOS. Guepardo Investimentos passou a deter 27.356.400 de ações ON de emissão da companhia, o equivalente a 5,04% do capital social.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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