Morning Call
PPI serve como primeiro teste
Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*
[13/01/25]
… A escalada do petróleo acima de US$ 80 e os juros dos Treasuries perto de 5% mantêm dois focos de pressão nos negócios globais. Dentro de um ambiente inflacionário, o índice de preços ao produtor (PPI) nos EUA em dezembro ganha atenção redobrada hoje (10h30), na véspera do CPI, indicador econômico mais importante da semana. Dados fortes, na sequência do payroll, devem reforçar a expectativa de menos cortes do Fed no ano ou mesmo de nenhuma flexibilização ou quem sabe até de um aperto, nas especulações mais agressivas. A atividade e inflação aquecidas nos EUA coincidem com o medo do tarifaço de Trump, embora ninguém ainda esteja seguro do que virá.
… NY já estava fechada ontem, quando reportagem da Bloomberg apontou que integrantes da equipe econômica do presidente americano eleito discutem promover um aumento gradual das tarifas sobre as importações, mês a mês.
… Uma abordagem gradativa fortaleceria a posição dos EUA nas negociações e, ao mesmo tempo, ajudaria a evitar um repique na inflação, de acordo com as fontes. Pelo cronograma, as tarifas subiriam cerca de 2% a 5% ao mês.
… Também dependeriam de autoridades executivas sob a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional.
… As informações não chegam a ser novidade. Pouco mais de uma semana atrás, matéria do Washington Post havia indicado que as tarifas comerciais serão mais “seletivas e brandas” que o esperado, com foco em setor específicos.
… Naquele dia, Trump se apressou a fazer postagem em rede social dizendo que tudo não passa de fake news da imprensa. O mercado está acostumado às bravatas, mas continua inseguro sobre a concretização das ameaças.
… Quanto menos pesado o novo governo de Washington pegar em sua política tarifária e tanto menor forem as extravagâncias fiscais, melhor, para não deflagrar um horizonte ainda mais carregado de pressões para o Fed.
… A dinâmica exterior continua sendo observada muito de perto pelos mercados domésticos, que ainda têm que administrar os seus próprios dilemas. Ontem, porém, houve espaço de alívio (abaixo), com Guillen e Durigan.
… Entrevistado pelo jornal O Globo, o secretário executivo do Ministério da Fazenda, afirmou que o governo “naturalmente” cogita novas medidas de cortes de despesas este ano para garantir a preservação do arcabouço.
… Segundo ele, a equipe econômica deve voltar a insistir em impor limites aos “supersalários”, porque a revisão de gastos deve atingir “o andar de cima”. Também a questão da idade mínima para militares voltará à agenda.
… Durigan disse que as novas propostas podem diminuir as frustrações dos investidores com o pacote aprovado em 2024 e devem começar a ser debatidas após a aprovação pelo Congresso do Orçamento/25, prevista para fevereiro.
… Nos bastidores de Brasília, o Palácio do Planalto rejeita um novo ajuste fiscal antes de abril.
… Auxiliares próximos ao presidente Lula ouvidos pelo Valor não admitem medidas extras tão cedo, defendendo ser preciso esperar pelo menos três meses para avaliar se a situação das contas públicas registrou uma melhora.
… O governo, que em março fará um pente-fino no relatório de receitas e despesas, vai tentando ganhar tempo.
… Em evento da Bradesco Asset, ontem, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, disse que a meta fiscal do ano tende a ser cumprida, considerando o limite inferior estabelecido, mas o quadro ainda demanda atenção.
… Agradaram as suas declarações de que, “dada a política fiscal, vamos atuar para trazer a inflação para a meta” e de que “meta só existe uma: não é nem centro da meta, é a meta”, de 3% como alvo a ser perseguido pelo BC.
DÍVIDAS DOS ESTADOS – O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), indicou apoio aos vetos que o presidente Lula deve fazer no projeto de renegociação da dívida dos Estados, segundo o Broadcast.
… Semana passada, Haddad disse que o governo deve vetar todos os pontos do PL que afetem o resultado primário. Pacheco se reuniu ontem com Haddad, Rui Costa (Casa Civil) e Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso.
… Na conversa, os integrantes do governo disseram que o essencial do projeto aprovado na Casa no ano passado será mantido, como a redução dos juros, alongamento da dívida e uso dos ativos para o abatimento da dívida.
MAIS AGENDA – A Anfavea divulga às 10h os dados de produção e venda de veículos em dezembro. Às 11h, o publicitário Sidônio Palmeira toma posse como novo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom).
NOS EUA – A aposta para a inflação ao produtor (PPI) é de desaceleração para 0,3% em dezembro, contra 0,4% em novembro. O núcleo deve permanecer em 0,2%. Na base anual, o dado cheio deve vir em 3% e o núcleo, em 3,8%.
… Dois integrantes do Fed participam hoje de eventos públicos: Jeffrey Schmid, ao meio-dia, e John Williams, às 17h.
JAPÃO HOJE – O BoJ elevará o juro semana que vem se a inflação se comportar segundo as previsões, disse o vice-presidente do BC japonês, Ryozo Himino. Ele afirmou que os preços estão no caminho certo para a meta.
… No mercado, a perspectiva é de que o BoJ aperte as taxas em um futuro próximo, mas o momento ainda não está claro, porque as tendências salariais no Japão e as políticas econômicas de Trump têm de ser avaliadas.
… Alguns economistas esperam que o BoJ tome medidas neste mês e outros acham que pode esperar até março.
SENTIU FIRMEZA – Os comentários de Guillen sobre o esforço do BC para mirar o alvo do IPCA, combinados à sinalização de Durigan sobre novos de cortes de despesas no ano, descolaram o DI do rali dos juros dos Treasuries.
… A curva aqui também conseguiu descontar a piora na Focus. O documento mostrou que a mediana para a inflação suavizada dos próximos 12 meses subiu de 4,96% para 5,01%, desgarrando-se cada vez mais do centro da meta (3%).
… Para a taxa Selic, o boletim trouxe manutenção da mediana de 2025 em 15% e também para 2026, em 12%.
… Os contratos futuros dos juros conseguiram corrigir parte da pressão desencadeada na última 6ªF pelo payroll e IPCA de dezembro. Mas os longos fecharam perto da estabilidade, com a queda limitada pelas taxas dos Treasuries.
… O DI para janeiro de 2026 caiu a 14,955% (de 15,095% na sessão anterior); Jan/27 recuou para 15,315% (de 15,465%); e Jan/29, a 15,340% (de 15,400%). Já o Jan/31 pagou 15,240% (de 15,230%); e Jan/33, 15,100% (15,070%).
… No câmbio, a força das commodities, diante das novas sanções dos EUA contra Rússia e a balança comercial chinesa melhor que o esperada, blindou o real do impacto da valorização externa do dólar com Trump e o Fed.
… Mas, se não subiu, tampouco a moeda americana efetivamente conseguiu cair, fechando estável (-0,06%, a R$ 6,0985). O viés contratado ainda é de alta, com o investidor na contagem regressiva para a inflação nos EUA.
… Além disso, o alívio cauteloso responde à proximidade da posse de Trump (2ªF), que promete chegar chegando na Casa Branca, com decretos de impacto logo que assumir, contratando pressões nas expectativas inflacionárias.
EM CÓRNER – Acima de US$ 80, o petróleo redobra a pressão para a Petrobras reajustar os combustíveis e reduzir a defasagem contra os preços praticados lá fora, que já chega a 22% no caso do diesel e em 13% na gasolina (Abicom).
… O preço do diesel não sofre alteração há 383 dias nas refinarias da estatal e a gasolina está estável há 188 dias.
… Em resposta a questionamento do Broadcast sobre o impacto da alta do Brent, a empresa informou que evita o repasse da volatilidade externa para os preços internos, conferindo assim períodos de estabilidade para os clientes.
… No fim/24, Magda Chambriard descartou intenção de mexer na tabela, já que a Petrobras estava ganhando dinheiro mesmo com os preços “abrasileirados”. O diretor Fernando Melgarejo rejeitou uma “correria” para reajuste.
… A diferença de lá para cá é que o petróleo ainda não havia batido os US$ 80, o que pode fechar o cerco. Em agosto de 2023, quando o Brent bateu no patamar atual, a companhia reajustou o diesel em 25% e a gasolina em 16%.
… Sérgio Rodrigues, presidente da Abicom, diz que a Petrobras não precisa trabalhar com uma defasagem de preços tão grande. “Prejudica não só importadores como produtores de etanol”, disse.
… Segundo ele, se a petroleira praticar um preço “só um pouco abaixo da defasagem já ganha muito dinheiro”.
… Para André Braz, coordenador do IPC-S na FGV, o reajuste deve vir em breve, o que vai pesar no IPCA de janeiro e, principalmente, fevereiro. Só a gasolina compromete 5% do orçamento familiar no país, afirmou.
… Ontem, Petrobras acompanhou de longe a alta do Brent (+1,56%; US$ 81,01), mas ajudou a amparar a pequena alta de 0,13% do Ibov, que voltou aos 109 mil pontos (119.006,93), novamente com giro muito baixo, de R$ 16,7 bi.
… O papel PN subiu 0,35% (R$ 37,07) e ON ficou estável (+0,07%), em R$ 40,95. O Brent voltou a repercutir as sanções dos EUA ao petróleo da Rússia, que devem afetar radicalmente o fornecimento do país para China e Índia.
… Vale ficou estável (-0,02%), em R$ 51,51, mesmo com a forte alta de 1,92% do minério de ferro em Dalian.
… Entre os bancos, Bradesco chegou a recuar, pressionado pelo rebaixamento da recomendação de compra para neutra pelo Itaú BBA. Mas reagiu com a notícia de que iniciou conversas com investidores para emissão externa.
… O banco pode emitir ao menos US$ 500 milhões em bonds de 5 anos. Na bolsa, o papel PN subiu 0,36% (R$ 11,22) e o ON avançou 0,19% (R$ 10,33).
… Itaú teve alta de 0,72% (R$ 30,86), Santander subiu 0,29% (R$ 23,88) e Banco do Brasil ficou estável, em R$ 24,21.
… Os destaques positivos do Ibov foram IRB (+4,60%; R$ 48,20), Eneva (+3,46%; R$ 11,06) e BTG (+2,13%; R$ 28,32).
… Minerva liderou o ranking negativo, com -5,31% (R$ 4,81). Grupo Pão de Açúcar, que teve recomendação e preço-alvo rebaixados pelo BofA, recuou 4,71% (R$ 2,63) e Carrefour perdeu 4,37% (R$ 5,25).
ROTINA DE ALTA – O juro da note-10 anos avançou um pouco mais e bateu em 4,8% pela primeira vez desde nov/23, em meio à economia que mostra força nos EUA, o suspense com o CPI e a cautela com as políticas de Trump 2.
… A taxa do título fechou um pouco abaixo da máxima do dia, em 4,79% (de 4,764% na sessão anterior). A marcha em direção aos 5% pesou sobre as ações de tecnologia. O Nasdaq cedeu 0,38%, aos 19.088,10 pontos.
… Na note de 2 anos, o juro subiu a 4,394% (de 4,379%) e, no T-bond de 30 anos, a 4,965% (de 4,944%).
… O noticiário também pressionou as techs. Nvidia (-1,97%) e Micron Tech (-4,31%) cederam após o governo dos EUA dizer que vai restringir ainda mais as exportações de chips e tecnologia de IA.
… S&P 500 chegou a cair à mínima de dois meses durante a sessão (5.773 pontos), mas fechou com leve alta de 0,16% (5.836,22), sustentado pelo setor de energia (acompanhando o petróleo) e bancos (à espera dos balanços).
… Dow Jones se beneficiou da rotação de posições para fora das techs em direção ao setor financeiro, como JPMorgan, e outros papéis, como Caterpillar e UnitedHealth. Subiu 0,86% (42.297,12 pontos).
… A perspectiva de um Fed menos dovish seguiu pressionando o dólar e o índice DXY subiu 0,28%, a 109,956 pontos.
… Ninguém quer apostar contra o dólar forte às vésperas da posse de Trump, diz o ING, mesmo com a taxa de câmbio ajustada à inflação no maior nível desde 1985, segundo cálculo do banco.
… O próximo presidente americano, lembra o ING, promete tarifas, controles de imigração, estímulo fiscal e flexibilização regulatória, o que, além de uma economia forte dos EUA, pode pressionar ainda mais a inflação.
… Enquanto isso, a libra se enfraquece em meio à preocupação com o Orçamento no Reino Unido. Ontem, a moeda caiu 0,25%, a US$ 1,2177. O euro cedeu 0,24%, a US$ 1,0219. Na contramão, o iene subiu 0,29% (157,26/US$).
EM TEMPO… PETROBRAS informou não ter sido notificada pelo TCU e que não tem conhecimento dos termos da apuração sigilosa sobre o procedimento licitatório para construção e afretamento de 12 embarcações do tipo PSV…
… O posicionamento atendeu à solicitação de esclarecimentos da CVM. A concorrência foi vencida pela Bram Offshore e Starnav e contestada pela Associação Brasileira dos Usuários dos Portos, de Transportes e da Logística.
B3 encerrou programa de recompra de ações, após atingir a quantidade máxima de 340 milhões de papéis recomprados, equivalentes a 6% do capital social.
SABESP. Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) obteve liminar que impede a empresa de saneamento de rescindir os contratos com os associados da entidade, que garantem condições de tarifa mais favoráveis…
… No fim de outubro, a Sabesp anunciou a grandes consumidores que rescindiria os contratos com os clientes de maior porte. A empresa rompeu 555 contratos.
MRV. Lançamentos somaram R$ 2,935 bilhões no 4Tri24, alta de 50,8% sobre o 4Tri23. O Valor Geral de Vendas cresceu 19,2%, para R$ 2,611 bilhões, na comparação anual.
AZUL elegeu Daniel Tkacz para o cargo de diretor vice-presidente de operações da companhia…
… Também foram reeleitos o diretor-presidente, John Peter Rodgerson, o diretor de RI, Alexandre Wagner Malfitan, e o diretor vice-presidente de receitas, Abhi Manoj Shah.
CCR. Bradesco BBI, um dos principais credores do grupo Mover, tenta assumir as ações da companhia no grupo CCR, que informou ter recebido uma cópia de notificação do banco…
… O Bradesco diz que pediu para consolidar a propriedade fiduciária sobre 281,5 milhões ações da CCR, praticamente toda a participação da antiga empreiteira, dadas em garantia de dívidas do grupo Mover.
ELETROBRAS iniciará 2ª fase do plano de gestão de provisões relativas ao empréstimo compulsório criado em 1960, com o objetivo de reduzir a carteira de processos, focando nas ações judiciais de valor menor do que na 1ª fase…
… Em dois anos, a companhia reduziu em 55,8% o estoque de provisões, caindo de R$ 25,8 bilhões em setembro de 2022 para R$ 14,4 bilhões em setembro de 2024.
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