Morning Call

Recesso esvazia reunião de Pacheco sobre reoneração

Atualizado 09/01/2024 às 01:08:10

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[09/01/24]

… O petróleo testava reação moderada (+0,50%) no pregão asiático, o que pode ser positivo para o Ibovespa nesta 3ªF de agenda fraca. Circularam comentários de que a reunião de Pacheco com os líderes do Senado para debater a MP da reoneração da folha, prevista para as 9h, poderia nem acontecer, esvaziada pelo recesso parlamentar. De qualquer modo, seis senadores estão com a presença confirmada. Único indicador previsto aqui é a prévia do IGP-M (8h). Nos EUA, sai a balança comercial de novembro (10h30) e o Fed boy Michael Barr participa de evento às 14h. O investidor cumpre a espera pela 5ªF, que promete a emoção do CPI americano, neste momento em que o mercado já não tem tanta certeza se o juro vai cair seis vezes nos EUA e nem se o primeiro corte do Fed virá em março.

… NY já tinha fechado ontem, quando a diretora do Fed Michelle Bowman disse, em conferência, que ainda não é o momento de discutir o início do ciclo de queda e que não descarta até mesmo um aperto se a inflação estagnar.

… Por outro lado, ela observou que a política monetária do Fed já é restritiva o suficiente para trazer a inflação de volta à meta de 2%, caso mantida no patamar atual pelo “tempo necessário” (que ninguém sabe qual é).

… Mais cedo, Raphael Bostic, que também vota este ano, afirmou que espera só dois cortes de 25pb no juro e apenas no final do ano, ressaltando que ainda não se sente confortável para declarar vitória sobre a inflação.

… “Por agora, a política deve seguir restritiva.” Apesar disso, reconheceu que os preços têm caído além do esperado.

… Os comentários parecem vir na mesma linha da ata do Fed, que semana passada deu uma esfriada na precificação mais dovish, embora as apostas no CME em corte do juro em março ainda continuem rodando acima de 60%.

… Todo o suspense está transferido esta semana para o CPI de dezembro, apontado como o próximo desafio do Fed.

… Por aqui, não existe desafio maior do que a questão fiscal. Na briga para assegurar o déficit mais próximo de zero, a equipe econômica não pode abrir mão de nenhuma renúncia de arrecadação e abre confronto com o Congresso.

… Ao vetar a desoneração da folha e baixar a MP que prevê a extinção gradual do benefício até 2027, Lula peitou a decisão do Legislativo, encampou a luta da Fazenda, deu capital político a Haddad e irritou o Parlamento.

… No Estadão de hoje, em meio à pressão de parlamentares pela devolução imediata da MP que revogou a desoneração, a Fazenda articula uma saída para convencer Pacheco a colocar o tema em votação no Congresso.

… Vai argumentar que a tramitação via MP dá protagonismo aos senadores na discussão de um tema caro aos parlamentares. Se a tática de sensibilização falhar, pode partir para uma outra alternativa, segundo a reportagem.

… O governo apresentaria um projeto de lei sobre o mesmo assunto, começando a discussão pela Câmara.

… A tramitação via PL chegou a ser defendida pelo relator da desoneração, senador Angelo Coronel (PSD-BA), logo que o ministro Fernando Haddad anunciou a edição da MP alterando a desoneração da folha de pagamentos.

… Se nada vingar na frente política, a Fazenda já avisou que vai partir para o “tudo ou nada”, recorrendo ao STF.

… A estratégia de convencimento dos senadores foi discutida ontem, em reunião de Haddad com Randolfe e Jaques Wagner, líderes do governo no Congresso e Senado. Ainda Padilha (Relações Institucionais) participou da conversa.

… Para o encontro de hoje de Pacheco com as lideranças, seis senadores confirmaram presença. Das principais bancadas, porém, apenas o líder do União Brasil, Efraim Filho (PB), deverá estar na capital federal para participar.

… Ele é autor do projeto de lei que prorrogou a desoneração da folha de pagamentos até 2027. Os líderes do MDB e do PSD não estarão no encontro. Com o quórum esvaziado, a chance de o encontro perder sua efetividade é grande.

… Na ausência da maior parte dos representantes das bancadas, as discussões sobre a MP devem se aprofundar só no fim do mês ou na volta dos trabalhos do Legislativo, em 2 de fevereiro. O governo ganha tempo para negociar.

… Também Pacheco, que sofre pressão de representantes empresariais e de frentes parlamentares ligadas ao setor produtivo para rejeitar a MP, terá um prazo maior para sentir a temperatura em Brasília nas próximas semanas.  

… Ontem, nove frentes parlamentares entregaram a Pacheco um documento pedindo a devolução da medida.

DEMOCRACIA INABALADA – Alegando problemas de saúde na família, Lira permaneceu em Maceió e não compareceu à cerimônia no Congresso para marcar um ano dos ataques golpistas de 8/1, em que discursaria.

… Nos bastidores, a informação é a de que o gesto de Lira foi calculado, em aceno aos bolsonaristas.

… O evento não conseguiu arregimentar líderes oposicionistas nos Estados. Os governadores dos maiores colégios eleitorais do País – São Paulo, Minas e Rio – e outros 12 chefes de Executivos estaduais não foram também.

… Zema chegou a anunciar sua presença, mas desistiu horas depois, por pressão de integrantes do Novo.

… Durante suas falas no ato Lula e o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, reforçaram a necessidade de regulamentação das redes sociais e atribuíram as invasões à desinformação que circula nas plataformas.

DOIS EM UM – Lula não pensa em dividir o Ministério da Justiça e Segurança Pública em duas pastas, como no governo Temer, mas estuda um comando duplo, segundo a jornalista Eliane Cantanhêde/Estadão.

… Na configuração pretendida, o ex-presidente do STF Ricardo Lewandowski ficaria como ministro e Ricardo Cappelli ganharia status como um super secretário executivo, com carta branca para cuidar da segurança pública.

CUMPRE TABELA – Gastando tempo, à espera do CPI e IPCA, o DI preferiu exibir alguma cautela com o risco fiscal e inflação do que queimar prêmio com o efeito desinflacionário do tombo do petróleo e alívio dos juros dos Treasuries.

… Em relatório, o Goldman Sachs chamou a atenção para o fato de que, no Focus, a mediana das expectativas para o IPCA deste ano permanece 90 pb acima da meta (3%). Em um mês, caiu apenas 3 pb, de 3,93% para 3,90%.

… Para 2025 e 2026, já faz quase 30 semanas que as medianas (ambas em 3,5%) seguem estagnadas 50pb acima do target de 3%. “Provavelmente, refletindo a previsão de que o governo não cumprirá a meta fiscal”, diz o Goldman.

… Na avaliação do BNP Paribas, o mercado tem como absorver uma proposta da equipe econômica que indique como meta um déficit fiscal de até 0,5% do PIB. Mas qualquer coisa acima disso pode causar estresse nos negócios.

… O primeiro grande desafio das contas públicas está previsto para março, deadline para a Fazenda decidir se manterá a promessa de déficit zero, que há muito tempo vem sendo desacreditada pelos investidores.

… Para o BNP, ainda que o governo tenha obtido a aprovação no Congresso das medidas para incrementar as receitas, uma margem de contingência de despesas ainda será necessária este ano, desencadeando pressão.

… A equipe econômica deve continuar sendo colocada na parede para alterar o alvo zero. “Caso a meta de 2024 seja alterada em março, é possível que as metas de 2025 e 2026 também sejam modificadas”, antecipa o banco.

… No Focus, o déficit primário esperado para 2024 seguiu em 0,80% do PIB. Mas o de 2023 passou de 1,5% para 2,0%, bem longe do 1% prometido por Haddad e mesmo do 1,3% estimado pelo Tesouro em novembro.

… Assim, o DI para jan/25 subiu a 10,095%, de 10,054% no ajuste de 6ªF. Jan/26 foi a 9,720% (de 9,664%); jan/27, a 9,855% (de 9,791%); jan/29, a 10,265% (10,205%); jan/31, a 10,520% (10,449%); e jan/33, a 10,630% (10,562%).

… Se serve de consolo, a boa notícia do Focus ficou com o PIB do ano, revisado de crescimento de 1,52% para 1,59%.

… O dólar não definiu tendência frente ao real, em dia de agenda vazia e fechou estável (-0,04%), a R$ 4,8702, à espera dos dois drivers da semana (CPI nos EUA e IPCA aqui), com potencial para dar uma agitada no câmbio.

… Comenta-se que a balança comercial deve continuar dando suporte ao real ao longo de 2024. Bancos e analistas não veem um novo recorde depois do superávit de US$ 98,8 bilhões de 2023, mas o resultado deve seguir robusto.

… O Goldman Sachs, que prevê saldo comercial acima de US$ 70 bilhões neste ano, diz que os grandes superávits são “uma âncora-chave para a conta corrente, motor para entrada de moeda forte e suporte fundamental para o real”.

… Para o Citi, o desempenho da balança colocou as contas externas brasileiras em uma posição ainda mais confortável quando comparada às contas fiscais.

DIA DO VAREJO – Depois de passar o dia numa gangorra, sem definir direção e com giro menor do que R$ 20 bilhões, o Ibov (+0,31%) deu um jeito de defender os 132 mil pontos (132.426,54), de olho no rali de fim de dia em NY.

… Ações voltadas à economia doméstica neutralizaram o impacto da queda das blue chips das commodities. Casas Bahia disparou 6,73%, seguida de Magalu (+6,09%); Renner (+3,85%), Arezzo (+5,44%), Assaí (+4,34%) e CVC (+4,4%). 

… A forte queda do petróleo impulsionou Azul, que liderou os ganhos do Ibov: +7,66%. Gol subiu 2,75%.

… Já Petrobras ON liderou o ranking negativo do índice, com -1,86%, a R$ 39,64. O papel PN baixou 0,75% (R$ 38,43). Na ICE, em Londres, o petróleo Brent caiu 3,35%, a US$ 76,12. Na Nymex o WTI/fev cedeu 4,12%, a US$ 70,77.

… O gatilho foi a redução de preços anunciada pelos sauditas para diversos destinos, lida como mais um sinal da fraqueza da demanda global. Para os clientes da Ásia, o valor caiu US$ 2, para o menor patamar em 27 meses.

… Vale recuou 0,51%, a R$ 74,27, acompanhando mais um dia de baixa do minério no mercado asiático: -0,38% em Cingapura e -1,10% em Dalian. CSN Mineração foi pelo mesmo caminho, com-1,40%, a R$ 7,75.

… Os bancos novamente caíram em bloco. Itaú cedeu 1,07% (R$ 33,34), Bradesco PN (-0,77%; R$ 16,75) e ON (-0,33%; R$ 15,10), e unit do Santander caiu -0,65% (R$ 31,92). A exceção ficou com BB, que ganhou 0,86% (R$ 55,35).

EFEITO DOMINÓ – O petróleo caiu, derrubou os juros dos Treasuries e aliviou o sentimento de risco, engatando um rali no Nasdaq, enquanto os ganhos no Dow Jones eram moderados pela crise de credibilidade da Boeing.

… Os papéis da aérea fecharam em queda livre de 8,03%, contaminados pela suspensão de voos dos jatos 737 Max 9, depois que um avião da Alaska Airlines perdeu parte da fuselagem durante um voo na 6ªF passada.

… Com a alta mais tímida entre os principais índices, o Dow Jones subiu 0,58%, a 37.683,01 pontos.

… O Nasdaq (+2,2%, a 14.843,77 pontos), já animado pelo respiro das taxas dos Treasuries, acelerou com o desempenho das big techs, em especial Nvidia (+6,43%), que anunciou novos produtos para impulsionar a IA em PCs.

… Apple encerrou cinco pregões de perdas e avançou 2,42%, após confirmar que lançará o óculos de realidade aumentada no dia 2/2. Também influenciado pelo setor de tecnologia, o S&P 500 avançou 1,41%, a 4.763,54 pontos.

… Nos Treasuries, o juro da Note-10 anos chegou a furar a marca psicológica de 4%, de carona na onda vendedora do petróleo, mas desacelerou a queda no fechamento para 4,017%, contra 4,041% na última 6ªF do payroll.

… Num leve ajuste de posição, após alta de 1% na semana passada, o índice dólar (DXY) cedeu 0,20%, a 102,209 pontos. O euro fechou estável (+0,08%), a US$ 1,0953. Um corte precoce do juro tem sido colocado à prova.

… Dirigente do BCE, o croata Boris Vujcic disse não esperar um relaxamento monetário antes do verão local, que vai de junho a setembro. Uma flexibilização, disse, virá quando o processo de desinflação se mostrar estável.

… A libra subiu 0,25%, a US$ 1,2749. Para o Wells Fargo, o BoE pode até cortar juros a partir de maio, mas o processo será mais lento do que o mercado precifica. O iene subiu 0,28%, a 144,23/US$, recompondo parte da perda recente.

EM TEMPO… ELETROBRAS aderiu ao processo arbitral que envolve a ação direta de inconstitucionalidade (Adin) impetrada pelo governo no STF que questiona a limitação do poder de voto da União na empresa…

… Segundo a companhia, sua decisão representa uma “tentativa de conciliação e solução consensual e amigável entre as partes”.

ENERGISA. Citi elevou preço-alvo da ação de R$ 59 para R$ 64, mantendo indicação de compra; atualização tem como base os dados trimestrais mais recentes, que trouxeram volumes e Ebitda maiores para a companhia.

AUREN ENERGIA. Citi reduziu preço-alvo da ação de R$ 16 para R$ 15, mantendo recomendação de compra…

… Ajuste incorporou os últimos resultados trimestrais, os dividendos e a nova projeção da empresa sobre como modelar o portfólio de energia.

ACELEN. Cade deve decidir no início de fevereiro se será reaberto o processo que investiga se a Refinaria de Mataripe, na Bahia, estaria ou não comercializando gasolina A e Diesel S10 por preços mais elevados no Estado.

PETRORECÔNCAVO informou que a economista Marília Nogueira vai ocupar o cargo de diretora de RI da empresa.

J&F notificou a Paper Excellence a desfazer, de forma consensual, o contrato de venda da Eldorado Celulose, cumprindo o que seria uma determinação do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra). (Painel/Folha)

CARREFOUR anunciou que fará a sua 7ª emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, da espécie quirografária, em até cinco séries, no valor de R$ 1 bilhão.

TENDA passou a integrar o Índice Brasil 100 (IBrX100) da B3, indicador do desempenho dos 100 ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado…

… Companhia projeta vendas líquidas entre R$ 3,2 bi e R$ 3,5 bi em 2024; Ebitda ajustado deve ficar entre R$ 375 milhões e R$ 425 milhões.

GAFISA informou que acionista ESH Theta Master Fundo de Investimento Multimercado, detentor de mais de 5% do capital votante da companhia, sugeriu cinco candidatos para a eleição do Conselho de Administração da empresa.

ALLOS celebrou terceiro aditivo a acordo de acionistas, para adequar disposições, considerando exclusão da opção de venda de ações de propriedade da Sierra Brazil 1 S.À.R.L e Sierra Investments Holdings B.V.

INFRAESTRUTURA. Lula deve sancionar sem vetos a nova lei das debêntures de infraestrutura de concessionárias, na Folha. Com a medida, estima-se que as empresas possam levantar até R$ 1 trilhão com a emissão de papéis…

… O projeto foi aprovado no fim do ano passado e autoriza que o dinheiro captado no mercado seja usado para financiar projetos de infraestrutura, como a construção de ferrovias ou a duplicação de rodovias.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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