Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[08/11/2023]

… A fala de Powell (11h15) é aguardada com expectativa pelos investidores em NY, que esperam ver confirmadas as apostas de que o juro americano não subirá mais e começará a cair já em maio. Esse cenário otimista, desde o payroll fraco, tem sustentado o entusiasmo dos mercados em Wall Street e ajudado na recuperação do Ibovespa e do câmbio, embora alguns Fed boys estejam fazendo alertas no sentido contrário. No Brasil, a agenda é intensa, repleta de indicadores – com IGP-DI, dados fiscais, vendas do comércio – e de balanços, com Eletrobras e BTG, antes da abertura, e mais 16 companhias depois do fechamento, incluindo o BB, Braskem, Casas Bahia e Minerva Foods. Destaque, ainda, para palestra de Campos Neto nos EUA (15h40) e para a votação da reforma tributária no plenário do Senado.

… Após o parecer do relator Eduardo Braga (MDB) passar na CCJ, os senadores dispensaram as cinco sessões de debates e aprovaram por 48 votos a 24, ontem à noite, o requerimento de cronograma especial para acelerar a tramitação da matéria na Casa.

… O presidente Rodrigo Pacheco antecipou a sessão, que normalmente começa às 16h, para as 14h, em um sinal de que há a intenção de concluir a votação hoje. Se o plenário do Senado aprovar o texto, a proposta retornará à Câmara por causa das alterações que sofreu.

… Já Lira defendeu o fatiamento da reforma, afirmando que o Congresso pode promulgar primeiro a parte da proposta que tiver consenso nas duas Casas. Braga disse estar “à disposição” de Lira, mas desde já considerou “complexa” a proposta de fatiar a PEC.

… “O sistema tributário é um sistema bastante complexo. O fatiamento vai depender muito do tamanho do consenso que acontecer, sob pena de nós termos uma inviabilidade da aplicação do sistema tributário”, disse o relator após a sessão da CCJ.

… Nos últimos ajustes, Eduardo Braga acatou no Senado mais de 30 emendas que ampliaram as exceções, além de fazer mudanças para “premiar” os Estados e municípios que aumentarem sua arrecadação com a parcela que será repartida do IBS.

… As sugestões aumentam o número de setores com tratamento diferenciado, ampliam o uso do cashback (devolução de imposto à baixa renda) e atendem a interesses de governadores do Centro-Oeste e Nordeste e do setor financeiro.

… Mesmo com as novas emendas acatadas, a aprovação da reforma tributária na CCJ do Senado foi comemorada pela equipe econômica, que avalia que as alterações no sistema tributário continuam sendo positivas, do ponto de vista de custo e benefício.

… Também o mercado está mais animado com os avanços dessa importante proposta da agenda econômica, embora o desconforto com a questão fiscal permaneça e tenha sido apontado pela ata do Copom e elevado as projeções para a Selic terminal (abaixo).

LDO – Na Comissão Mista de Orçamento (CMO), o relatório preliminar do deputado Danilo Forte (União Brasil) foi votado também ontem, como previsto, sem um pedido de revisão da meta de 2024. Mas isso não significa o fim da história.

… Depois de se reunir com Rui Costa, o relator disse que o ministro da Casa Civil pediu um prazo até o dia 16 para o governo decidir se vai ou não pedir a mudança da meta zero. Ou seja, a briga da ala política com Haddad continua viva.

… Formalmente, o Executivo não pode mais fazer esse pedido, mas ainda pode acionar um aliado para apresentar uma emenda. O próprio relator estaria disposto a um ajuste no seu texto, como já anunciou várias vezes, mas desde que o governo formalize o pedido.

… “O governo está estudando a possibilidade da emenda para fazer a revisão da meta. Essa decisão depende do governo, eu deixei muito claro que essa iniciativa não é nossa”, disse Danilo aos jornalistas, repetindo a posição de Lira no início da semana.

… O relator, que já defendia a mudança da meta, disse ainda que “quatro meses seguidos de queda de arrecadação não estimulam uma previsibilidade com relação a essa meta”. Segundo ele, Rui Costa está esperando “uns anexos da Fazenda”.

… Deu a entender que a equipe econômica espera uma definição sobre as chances do projeto de subvenção do ICMS, de grande impacto para as receitas do ano que vem, para jogar (ou não) a toalha. Danilo acha difícil que o texto seja aprovado este ano.

… “O maestro [o presidente Lula] precisa pegar na batuta e dizer qual é o tom. O governo precisa dizer como é que vai fazer. Se tivermos receitas, o ideal é ter a meta zero. Agora, precisa ter as receitas, até agora nós não temos”, concluiu o deputado.

HADDAD – Sob forte pressão da ala política do governo para mudar a meta, o ministro usou sua participação no Brasil Investment Forum, nesta 3ªF, para fazer um discurso de responsabilidade fiscal que poderia ter sido redigido pelo mercado.

… “O Brasil pode e deve investir e gastar, mas isso precisa ser feito de forma a manter a sustentabilidade das contas públicas.”

… Haddad reconheceu que a tarefa de organizar a trajetória fiscal do País não é “simples”, mas defendeu que é preciso ter “convicção no trabalho”, além de “compreensão por parte de todos os Poderes”.

… Desde o primeiro ataque de Lula, Haddad não admitiu uma vez sequer que estava desistindo da meta zero. Nos bastidores, o ministro tem mantido o compromisso de que o governo vai zerar o déficit público em 2024.

CARTÃO DE CRÉDITO – Terminou sem acordo ontem à noite a reunião convocada pelo BC sobre o teto dos juros. Segue o impasse entre as empresas de cartão de crédito e segmentos de varejo, de um lado, e bancos, de outro.

… A Febraban defende limitar o parcelamento a seis vezes e sugeriu uma junção com uma ideia do PicPay:

… No caso de o cliente não pagar a fatura do cartão de crédito, quando ele renegociar o débito para pagar com juros, as parcelas futuras de um parcelamento sem juros seriam incorporadas à renegociação.

… Ou seja: essa fatia da dívida passaria a ter a incidência de taxas de juros.

MAIS AGENDA – O IGP-DI de outubro (8h) deve acelerar para 0,55%, na mediana das estimativas de pesquisa Broadcast, contra 0,45% em setembro. No mesmo horário, sai a primeira prévia de novembro do IPC-S.

… Na sequência (8h30), vem o resultado consolidado das contas do setor público, com estimativa de superávit primário de R$ 9,60 bilhões em setembro, depois do saldo negativo de R$ 22,830 bilhões verificado em agosto.

… O intervalo das estimativas vai de um déficit de R$ 20,107 bilhões até um superávit de R$ 14,50 bilhões.

… Às 9h, o IBGE divulga as vendas no varejo, com previsão de alta de 0,1% em setembro contra agosto pelo conceito restrito (exclui veículos e materiais de construção) e de estabilidade pelo conceito ampliado.

… Ainda do lado da atividade, saem a produção industrial regional de setembro (9h) e a produção de outubro da Anfavea (10h).

… Haddad participa, às 9h, do Congresso Internacional de Direito do Seguro CJF e estará em duas reuniões à tarde (15h e 16h) com Lula. Pela manhã (11h30), o presidente participa de cerimônia para duplicar a BR-423 (PE).

MAIS BALANÇOS – A lista para depois do fechamento inclui, além de BB, Braskem, Casas Bahia e Minerva, a 3R Petroleum, Alpargatas, Cogna, Copel, Equatorial, Soma, Hapvida, MRV, Oi, SLC Agrícola, Taesa e Ultrapar.

… Confira abaixo no Em Tempo… os balanços divulgados ontem à noite, após o fechamento do mercado.

LÁ FORA – Além de Powell, outros quatro integrantes do Fed falam: Lisa Cook (7h15), John Williams (15h40), Michael Barr (16h) e Philip Jefferson (18h45). Único dado nos EUA, os estoques no atacado em setembro saem às 12h.

… Normalmente divulgados às 4ªFs, os estoques de petróleo do DoE foram adiados para daqui a uma semana. Ontem à noite, o API estimou aumento de 11,9 milhões de barris na semana passada nas reservas americanas.

… Na Europa, o presidente do BC inglês (BoE), Andrew Bailey, discursa em evento às 6h30. No BCE, o economista-chefe, Philip Lane, disse após o fechamento desta 3ªF que os cortes no juro devem demorar para acontecer na zona do euro.

MELANDO A SELIC – Mais hawkish do que o comunicado, a ata do Copom endureceu o discurso sobre a política fiscal, reforçou as incertezas com o cenário externo, citou o hiato do produto e retirou um trecho importante:

… Aquele que apontava condicionantes para a aceleração no ritmo de queda da taxa básica de juro.

… Embora Campos Neto tenha repetido que o ritmo de corte da Selic em 0,50pp é, por enquanto, apropriado, ele próprio reconheceu que o Copom só tem “visibilidade” para as próximas duas reuniões (dezembro e janeiro).

… Fez o alerta de que um eventual afrouxamento de meta fiscal de 2024 poderá piorar as expectativas à frente. Muita gente ficou achando que o BC está dando um aviso em dois de Selic mais alta no final do ciclo de cortes.

… Já desde a semana passada, o Goldman Sachs e o BTG Pactual chamavam a atenção para o risco potencial de o Copom ter de reduzir a dose de queda da Selic para 0,25pp a partir da reunião de política monetária de março.

… Ontem, o PicPay e o BNP Paribas ajustaram em alta a projeção do juro terminal de 8,5% para 9,5%, equiparando-se à estimativa do Itaú, BofA e ASA Investments, que estão posicionados acima da mediana do Focus, de 9,25%.

… É verdade que, se os juros dos Treasuries se consolidarem em níveis bem mais tranquilos do que os picos de estresse recentes, o prêmio de risco com o exterior pode ser aliviado. Mas ainda sobrará a polêmica da meta fiscal.

… Haddad continua na corrida contra o tempo para turbinar a arrecadação e salvar a promessa do déficit zero.

… Apesar de a ata do Copom ter subido o sarrafo da Selic, a curva do DI descontou ontem o risco hawkish e focou no recuo dos rendimentos dos Treasuries, no efeito desinflacionário do tombo do petróleo e na agenda do Congresso.

… Com exceção do DI jan/24, que pouco tem se mexido (12,008%, de 12,010%), jan/25 caiu a 10,820% (de 10,861%); jan/26, 10,620% (de 10,716%); jan/27, 10,765% (10,915%); jan/29, 11,130% (11,309%); e jan/31, 11,320% (11,509%).

… Campos Neto disse que, embora o diferencial entre os juros interno e externo tenha diminuído, continua alto e que o real tem se destacado como moeda relativamente estável entre as divisas dos mercados emergentes.

… O petróleo barato e a frustração com o superávit comercial chinês, que poderiam ter comprometido nesta 3ªF o desempenho do real (moeda de país produtor de commodities), não abalaram o ânimo do câmbio doméstico.

… De olho no andamento da reforma tributária em Brasília, o dólar (-0,26%, a R$ 4,8750) emplacou o quinto pregão consecutivo de baixa, tomando a tendência oposta da moeda no exterior. No mês, acumula queda de 3,30%.

A FILA ANDOU – O avanço da pauta econômica no Congresso, o rali dos bancos com o balanço do Itaú e a queda do DI com a trégua dos juros dos Treasuries ofuscaram o estresse das blue chips das commodities no Ibovespa.

… Até o giro foi bom na bolsa (R$ 28,3 bi), na retomada do apetite comprador, que levou o índice à vista a subir 0,71% e reconquistar os 119 mil pontos (119.268,06), apesar da balança chinesa fraca e do tombo do petróleo.

… Vale aprofundou as perdas à tarde e fechou em queda firme de 1,99%, a R$ 70,08. Petrobras (ON, -2,21%, a R$ 37,65; e PN, -1,66%, a R$ 34,92) não conseguiu escapar do mergulho do Brent para janeiro (-4,19%), a US$ 81,61.

… A cotação do barril derreteu ao pior nível em pelo menos três meses, afundada por sinais de fraqueza na China e dados desfavoráveis na Europa, que remetem à menor demanda global pelas commodities e estimulam vendas.

… Ainda o dólar forte derrubou o petróleo, mesmo com a guerra e a extensão dos cortes de oferta russo e saudita.

… Sorte que o Ibovespa pôde contar ontem com outros drivers positivos. Considerado sólido, o resultado trimestral do Itaú (PN, +2,8%, a R$ 28,98) contagiou o setor: Bradesco PN, +2,64% (R$ 15,15); Santander, +2,77%; e BB, +1,13%.

… O alívio nos juros futuros turbinou os papéis ligados ao consumo na sessão desta 3ªF. Disparada na liderança das altas do Ibovespa, Magalu saltou 23,78%. Em seguida, Casas Bahia escalou 11,76% e Hapvida arrancou 8,54%.

QUEIMOU A LARGADA – Antes mesmo que Powell eventualmente confirme o fim do ciclo de altas do Fed, a taxa da Note-10 anos voltou a rodar abaixo de 4,60% e a do T-Bond pagou menos de 4,80%, para o alívio do mundo inteiro.

… A trajetória agora descendente dos juros dos Treasuries longos desafia até mesmo comentários conservadores de alguns Fed boys mais radicais, como Michelle Bowman, que afirmou não descartar um novo aperto monetário.

… Outro que ainda não tirou de cena o risco potencial de o Fed ainda ter mais trabalho a fazer é Neel Kashkari. Para ele, a luta contra a inflação não acabou, mesma opinião compartilhada por Austan Goolsbee e Michael Barr.

… Mas as esperanças de cortes rápidos nas taxas de juros foram reforçadas pela declaração de Christopher Waller de que o mercado de trabalho está perdendo fôlego, e de Lorie Logan, de que a economia dos EUA está desacelerando.

… O yield da Note-10 anos caiu a 4,569%, de 4,648% na véspera, e o do T-Bond de 30 anos, a 4,736%, de 4,818%.

… A liquidação nos rendimentos dos Treasuries animou as gigantes de tecnologia Microsoft (+1,12%), Meta (+0,96%) e Apple (+1,45%), dando gás especialmente ao Nasdaq, que engatou valorização de 0,90%, aos 13.639,86 pontos.

… O Dow Jones (+0,17%, a 34.152,60 pontos) e o S&P 500 (+0,28%, a 4.378,38 pontos) subiram mais de leve.

… No câmbio, o dólar subiu (DXY, +0,31%, a 105,546 pontos), porque o euro (-0,19%, a US$ 1,0698) caiu com mais um indicador fraco: a produção industrial da Alemanha em setembro (-1,4%) veio bem pior que o esperado (-0,3%).

… A libra (-0,39%, a US$ 1,2298) continuou repercutindo declarações do economista-chefe do BoE, Huw Pill, de iniciar o ciclo de afrouxamento monetário em meados do ano que vem. O iene perdeu 0,28%, a 150,42/US$.

EM TEMPO… REDE D´OR registrou lucro líquido de R$ 760,3 milhões no 3TRI, alta de 91,9% sobre um ano antes. O Ebitda somou R$ 1,912 bilhão, avanço de 26,8% na comparação anual, e a receita alcançou R$ 12 bi, salto de 98,2%.

AREZZO teve lucro líquido recorrente de R$ 107 milhões no 3TRI23, alta de 4,2% s/ 3TRI22; Ebitda recorrente somou R$ 217,5 milhões, alta de 27,9%.

IGUATEMI registrou lucro líquido ajustado de R$ 101,9 milhões no 3TRI, alta de 80,1% na comparação anual; Ebitda ajustado somou R$ 247,9 milhões, aumento de 35,9% em relação ao mesmo período de 2022.

CURY teve lucro líquido de R$ 112,9 milhões no 3TRI23, alta de 19% s/ 3TRI22; Ebitda somou R$ 141,9 milhões, aumento de 18,1%; receita líquida cresceu 20%, para R$ 751,9 milhões.

DIRECIONAL teve lucro líquido de R$ 82,7 milhões no 3TRI23, alta de 94,1% s/ 3TRI22; Ebitda ajustado subiu 29,5%, para R$ 139,6 milhões; receita líquida caiu 2,9%, para R$ 557,7 milhões.

MOVIDA registrou prejuízo líquido de R$ 65,7 milhões no 3TRI, revertendo lucro de R$ 94 milhões de um ano antes; Ebitda somou R$ 868 milhões, queda anual de 6,2%.

TOTVS teve lucro líquido ajustado de R$ 200,9 milhões no 3TRI23, alta de 31,7% s/ 3TRI22; Ebitda ajustado cresceu 18,3%, para R$ 294,9 milhões; receita líquida subiu 18,9%, para R$ 1,202 bi…

… Empresa aprovou programa de recompra de até 18 milhões de ações, cerca de 3,5% dos 516 milhões de papéis da empresa em circulação…

… O Citi reiterou a recomendação de compra da Totvs, com preço-alvo de R$ 36, após o balanço.

DEXCO teve lucro líquido recorrente de R$ 94,806 milhões no 3TRI23, queda de 41,8% s/ 3TRI22. Ebitda ajustado caiu 30,7%, para R$ 287,943 milhões; receita líquida recuou 18,2%, para R$ 1,768 bi.

TAURUS teve lucro líquido de R$ 26 milhões no 3TRI23, queda de 74,8% s/ 3TRI22.

SABESP. Oposição de Tarcísio vai entrar com mandado de segurança hoje para barrar a privatização.

ELETROBRAS. Planta de hidrogênio verde (H2V) de Furnas, em Itumbiara (GO), obteve certificado de fonte renovável da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

ZAMP informou que a gestora de ativos Mubadala Capital passou a deter 30,1% do capital social.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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