Morning Call

Revisão de gastos entra na pauta em semana de Copom

Atualizado 16/06/2024 às 23:46:45

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Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[17/06/24]

… Divulgados de madrugada, indicadores da China antecedem a reunião do PBoC, que decidirá sobre juros nesta 4ªF à noite, horas após o Copom, que é o grande suspense da agenda. A aposta majoritária é de manutenção da taxa Selic em 10,5%, com placar unânime, o que evitaria uma nova crise de credibilidade do BC. Além da deterioração das expectativas de inflação, o momento de tensão com o risco fiscal contribui para o conservadorismo do mercado. Neste sentido, a semana será decisiva com as esperadas medidas de revisão dos gastos públicos que Haddad deve levar a Lula para fechar o Orçamento de 2025. Ainda lá fora, o BoE decide sobre a taxa no Reino Unido na 5ªF e nos Estados Unidos são destaques os números de maio das vendas no varejo e da produção industrial.

… Em entrevista a jornalistas na Itália, antes de voltar ao Brasil, o presidente Lula voltou a defender o ministro da Fazenda, alvo de fritura nos últimos dias, afirmando no fim de semana que “Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente da República”.

… Lula confirmou que os dois conversarão para discutir as propostas que Haddad vai levar, e que, se houver gastos desnecessários, serão cortados. Mas, desde já, disse: “Eu vou falar em alto e bom som: a gente não vai fazer ajuste [fiscal] em cima dos pobres.”

… O presidente criticou a ideia de mexer nos pisos da saúde e da educação, afirmando que isso é feito há 500 anos no Brasil. “Haddad é o meu ministro para inverter prioridades e incluir os pobres no Orçamento. Há 500 anos os pobres estão fora do Orçamento.”

… Lula identificou uma campanha na mídia e em alguns setores para fragilizar Haddad, em meio a dificuldades no Congresso de emplacar ações que melhorem a arrecadação do governo, como o fim das desonerações que diminuem as contribuições previdenciárias.

… Segundo ele, os que “ficam criticando os gastos do governo” são os mesmos que foram para o Senado pressionar pela desoneração. O presidente voltou a desafiar parlamentares e empresários a apresentarem uma alternativa para cobrir esses custos.

… A Receita calcula perda de R$ 25,8 bilhões na arrecadação deste ano com a prorrogação do benefício fiscal às empresas e municípios.

… O governo contava com o fim da desoneração para reduzir o déficit, mas a proposta foi barrada pelo Congresso, assim como a Medida Provisória que foi apresentada como alternativa para restringir o uso de créditos tributários, alterando as regras do PIS/Cofins.

… “Eu disse para o Haddad: não é mais problema do governo, o problema agora é deles. Agora os empresários que se reúnam, discutam e apresentem para o ministro da Fazenda uma proposta de compensação [para a prorrogação da desoneração da folha].”

… Lula se queixou que o País está cada vez mais “refém de um sistema financeiro que praticamente domina a imprensa, observando que a questão do déficit fiscal sempre tem muito mais destaque no noticiário do que os juros de 10,25% com uma inflação abaixo de 4%”.

… Em novo ataque a Campos Neto, disse que aqueles que “foram na festa para o presidente do Banco Central em São Paulo [o jantar que governador Tarcísio de Freitas ofereceu a RCN] devem estar ganhando dinheiro com a taxa de juros”.

… Dizendo que trabalha por uma ascensão social dos pobres, previu que a economia vai crescer mais do que todas as previsões, e que o seu governo vai continuar investindo em saúde e educação, “porque precisamos dar ao povo o respeito que ele merece”.

… O fiscal é a pauta principal que movimenta o mercado financeiro, que está sob o sentimento de aversão a risco, justamente quando os ventos no exterior melhoram, devido às incertezas no cumprimento das regras do novo arcabouço fiscal.

… À espera das medidas prometidas por Haddad e Simone Tebet, na semana passada, o risco é de que as propostas não sejam suficientes e acabem decepcionando e desencadeando nova onda de desconfianças e perdas para os ativos domésticos.

MAIS UMA – Enquanto Haddad enfrenta o desgaste político de ver a devolução da MP dos créditos do PIS/Cofins, Pacheco avisa que deve se antecipar ao Ministério da Fazenda e apresentar nesta semana um projeto de lei para a renegociação da dívida dos Estados.

… Como escreveu na Folha a jornalista Adriana Fernandes, a se confirmar, será um atropelo sem precedentes para o ministro, com chances de contaminar ainda mais o ambiente de incerteza com os rumos das contas públicas.

… O projeto “alternativo” de Pacheco estava na gaveta desde o ano passado, quando o presidente do Senado colocou a renegociação da dívida de Minas Gerais nos acordos para aprovação de medidas de arrecadação da equipe econômica e a reforma tributária.

… Haddad prometeu, em março, que enviaria “nas próximas semanas” o projeto, após reunião com o governador Tarcísio (São Paulo), o Estado que tem a dívida mais alta, mas boa situação financeira. Quer usar a renegociação para abrir espaço para mais investimentos.

… A agenda, que era urgente em março, entrou em banho-maria, e a suspensão do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul, depois da tragédia das inundações, reforçou a justificativa para empurrar a apresentação do projeto, desagradando a Pacheco.

… O projeto de Pacheco cria o programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados junto à União e prevê o uso de créditos que o Estado de Minas tem junto ao setor privado para o abatimento de dívidas, além de permitir o desconto da dívida.

MAIS AGENDA – Nos reflexos do IPCA alto de maio, divulgado semana passada, o Focus (hoje, 8h25) deve trazer nova rodada para cima nas projeções de inflação, mais próximas de 4%, e da Selic, na direção de 10,50%.

… Antes, às 8h, saem a prévia do IPC-S e o IGP-10, que deve desacelerar para 0,77% em junho (mediana do Broadcast), depois de ter subido 1,08% em maio. Amanhã, sai a segunda parcial do mês do IPC-Fipe.

LÁ FORA – Antes do feriado do Juneteenth, que fecha as bolsas de NY na 4ªF, o investidor tem para conferir amanhã as vendas no varejo e a produção industrial dos EUA em maio. Hoje, sai o Empire State industrial de junho (9h30).

… Ainda nesta 2ªF, os Fed boys John Williams (13h) e Patrick Harker (14h) participam de eventos públicos.

… Na 6ªF, o PMI/S&P Global composto de junho sai nos EUA, Alemanha e zona do euro, onde amanhã tem CPI.

… Os BCs do Chile e da Austrália divulgam as suas decisões de política monetária amanhã.

CHINA HOJE – A produção industrial teve alta anualizada de 5,6% em maio, abaixo da previsão de 6%. As vendas no varejo subiram 3,7% na mesma base de comparação, pouco menos do que a estimativa de 3,8%.

… Ainda ontem à noite, o BC chinês manteve o juro da linha de empréstimos de médio prazo (MLF) de 1 ano em 2,5%, sinalizando que a principal taxa (LPR) não deve sofrer alterações na reunião de política monetária de 4ªF.

O BENEFÍCIO DA DÚVIDA – O mercado doméstico voltou a responder, na 6ªF, com alguma tranquilidade à sinalização de que o governo entendeu o recado de que tem que transmitir uma mensagem de revisão de gastos.

… Além do apoio manifestado por Lula a Fernando Haddad, também foi importante o apoio público dos bancos a Haddad, manifestado pelo presidente da Febraban, após reunião dos principais banqueiros com o ministro da Fazenda.

… O investidor, que vinha cobrando maior ênfase do governo no compromisso com o controle das contas públicas, depôs as armas e baixou o estresse da semana, quando o DI escalou e o dólar chegou a cruzar R$ 5,40. 

… Junto com o alívio, a nova rodada de quedas nos retornos dos Treasuries e uma atividade mais fraca mostrada pelo IBC-Br abriram espaço para a curva dos juros futuros devolver prêmio.

… Jan26 caiu a 11,205% (de 11,248% na véspera); Jan27, 11,500% (de 11,606%); Jan29, a 11,885% (de 12,039%); e Jan31, a 12,030% (de 12,216%). O Jan25 ficou perto do ajuste (10,660%, de 10,667%) por causa do Copom.

… O “PIB do BC” veio praticamente estável (+0,01%) em abril contra março, abaixo do que se esperava (+0,4%), mas, nem de longe, resgatou alguma esperança de que o Banco Central possa continuar cortando a Selic esta semana.

… Depois do racha da última reunião de política monetária, o mercado está fechado para a aposta de que o Copom vai interromper o ciclo de relaxamento, diante dos desafios fiscais e expectativas de inflação.

… Apesar do ritmo frustrante do IBC-Br, o mercado manteve em 0,5% a mediana para o PIB/2Tri (Broadcast).

… A impressão de que o governo se convence de que não pode ficando bancando o discurso de que a só a arrecadação dará conta do ajuste fiscal autorizou uma melhora pontual de humor no câmbio pela manhã.

… À tarde, porém, a onda de alta do dólar no exterior, diante da expectativa de juro alto por mais tempo nos EUA, tirou a moeda americana da mínima por aqui, abaixo de R$ 5,35 (R$ 5,345), e impôs leve alta de 0,25%.

… Apesar do repique, foi positivo o dólar ter fechado em marca inferior a R$ 5,40, cotado a R$ 5,3821. Na semana passada, porém, ainda acumulou alta de 1,08%, sob o risco fiscal doméstico e as incertezas sobre o Fed.

NÃO DECOLA – Parado no lugar, o Ibov (+0,08%, aos 119.662,38 pontos) ainda não conseguiu reconquistar os 120 mil pontos, apesar dos esforços para conter os ruídos sobre a credibilidade de Haddad e da agenda fiscal.

… A falta de apetite do investidor estrangeiro assusta: em um único dia, na última 4ªF, os gingos retiraram mais de R$ 3 bilhões da B3 (R$ 3,085 bilhões), elevando a fuga em junho para R$ 7,225 bilhões.

… Apesar de 6ªF ter sido dia de vencimento de opções sobre ações no Ibov, o volume financeiro não empolgou (R$ 17,7 bilhões) e ficou até mesmo abaixo das médias diárias recentes, que já têm sido pouco expressivas.

… Além de o k externo estar batendo em retirada, ainda na 6ªF, o desempenho negativo das ações da Petrobras impediu qualquer melhora mais firme da bolsa, com incertezas sobre as indicações para a nova diretoria da estatal.

… Para a diretoria Financeira (CFO), que trata dos dividendos, foi convidado Fernando Melgarejo, diretor da Previ. Sylvia dos Anjos foi indicada para Exploração e Produção e Renata Baruzzi, para Engenharia, Tecnologia e Inovação.

… Economistas dizem ainda ser cedo para avaliar os nomes, mas concordam que as mudanças geram insegurança, em meio à súbita demissão de Prates, que trouxe de volta à tona as evidências de ingerência política.

… Segundo fontes consultadas pelo Broadcast, os três nomes indicados à diretoria da Petrobras não devem enfrentar dificuldades e podem ser aprovados em reunião ordinária do conselho marcada para o fim do mês (dia 28).

… Petrobras PN se destacou entre as maiores perdas do Ibovespa, caindo 2,20%, a R$ 34,68. Petrobras ON cedeu 1,05%, a R$ 36,63. Os papéis tiveram performance muito pior à do petróleo Brent para agosto: -0,16%, a US$ 82,62.

… Contrariando a alta de quase 2% do minério, Vale recuou 0,35% (R$ 60,62); CSN Mineração, -2,2%, e Gerdau PN, -1,9%. Apesar das perdas das blue chips das commodities, as ações do Bradesco neutralizaram o impacto negativo.

… ON subiu 0,89% (R$ 11,38) e PN ganhou 1,02% (R$ 12,83). Santander teve alta moderada de 0,30% (R$ 27,08), Itaú fechou em leve queda de 0,10% (R$ 31,14) e BB ON, -0,38% (R$ 26,45). Pior recuo do dia, Embraer (-5,35%) realizou.

… As primeiras colocações do ranking positivo foram de Vamos (+5,94%), CVC (+4,15%) e MRV (+3,63%).

DOIS OU UM? – A pergunta que vale um milhão de dólares em NY – se o Fed vai cortar o juro este ano uma ou duas vezes – continua sem resposta. Powell disse, na semana passada, que tanto uma chance quanto a outra são “plausíveis”.

… No domingo, o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, disse que a previsão do mercado financeiro de que a autoridade de política monetária reduzirá os juros uma vez em 2024 é “razoável”.

… Segundo ele, o início do relaxamento monetário deve ocorrer “provavelmente mais para o fim do ano”, já que os EUA têm de esperar mais evidências de que a inflação está convergindo de volta para 2%”.

… Na 6ªF, o Fed boy Austan Goolsbee recomendou esperar os próximos indicadores para projetar o relaxamento monetário, enquanto Loretta Mester veio mais hawkish, comentando que a inflação só deve voltar à meta em 2026.

… As falas fizeram preço no câmbio, puxando o dólar, que foi atingido ainda pelo aprofundamento da crise política na França, com o favoritismo da extrema-direita nas pesquisas sobre as eleições legislativas do fim do mês.

… O enfraquecimento de Macron estimulou um movimento de fuga para ativos de segurança, do dólar aos Treasuries, e provocou uma liquidação de ativos de risco na Europa, com ecos nos EUA e no mundo.

… A ansiedade aumentou após uma coligação de partidos de esquerda apresentar manifesto para desmantelar a maior parte dos sete anos de reformas econômicas de Macron e entrar em rota de colisão com a UE na política fiscal.

… “Embora, normalmente, o que acontece em Paris fique em Paris (ou pelo menos na Europa), o episódio atual assumiu caráter mais preocupante aos mercados globais do que o esperado”, observou o BMO Capital Markets.

… Para Matt Malley, da Miller Tabak + Co., embora a situação esteja longe de evoluir para uma crise de dívida soberana, os níveis muito altos das dívidas e orçamentos inchados na Europa levantam preocupações.

… Desde que Macron chamou eleições antecipadas, os juros dos bonds franceses de 10 anos atingiram recordes e a bolsa de Paris perdeu 6% e cerca de US$ 210 bi em capitalização de mercado (o equivalente à economia da Grécia).

… Integrantes do BCE dizem estar tranquilos e ainda não consideram a necessidade de recorrer a ferramentas de crise. Mas o euro caiu 0,35%, a US$ 1,0700, com o índice DXY (+0,63%) na máxima em cinco semanas (105,550 pts).

… A libra recuou 0,60%, a US$ 1,2689. O iene caiu 0,26%, a 157,426/US$, apesar do anúncio do BoJ de que reduzirá o ritmo das compras dos bônus locais (JGB) na reunião do mês que vem. O mercado se ressentiu de maiores detalhes.

… Em NY, os retornos dos títulos americanos de longo prazo chegaram a tocar nos menores níveis desde março. O juro da note de 2 anos caiu a 4,692% (de 4,694%), depois de ter rodado no nível de 4,90% durante a semana.

… O da T-note de 10 anos recuou a 4,207% (de 4,238%) e o do T-bond de 30 anos cedeu a 4,341% (de 4,395%).

… Apesar da Europa mais conturbada, do discurso de Mester e da queda inesperada da confiança do consumidor (Michigan) para 65,6 em junho, contra previsão de 73, não dá para dizer que as bolsas em NY tenham ido mal.

… O Dow Jones caiu 0,15% (38.589,49 pontos) e o S&P 500 ficou estável (-0,04%), aos 5.431,66 pontos, enquanto o Nasdaq fechou em alta discreta de 0,12%, a 17.688,88 pontos, suficiente para marcar o quinto recorde seguido.

… Foi ajudado pelo salto de 14,5% nas ações da Adobe, que apresentou balanço do 2Tri fiscal e perspectivas favoráveis, diante da crescente demanda pela inteligência artificial.

EM TEMPO… Governo recorreu para bloquear R$ 80 bilhões da VALE, BHP e Samarco em caso de Mariana (MG)…

… Lula ainda não desistiu de emplacar um nome para ocupar a presidência da Vale, depois da indicação frustrada de Mantega ao cargo. Mas operação não deve deslanchar, segundo Lauro Jardim/O Globo.

PETROBRAS. O presidente do Conselho de Administração, Pietro Mendes, informou que o colegiado se reúne hoje, mas não quis antecipar a pauta.

BB iniciará escolha de substituto de Fernando Melgarejo após diretor da Previ ter sido indicado para a Petrobras.

SABESP. O conselho de administração aprovou a nova política de dividendos, que podem chegar a 100% do lucro.

TIM aprovou a distribuição de R$ 300 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1240 por ação, com pagamento até 23/7; ex a partir de 24/6.

TELEFÔNICA aprovou a distribuição de R$ 175 milhões em JCP, o equivalente a R$ 0,1060 por ação, com pagamento até 30/4/25; ex em 27/6.

COGNA. O conselho de administração da Cogna aprovou a abertura de um programa de recompra de até 44.216.191 ações ordinárias de emissão da companhia, que corresponde a até 2,357% das ações em circulação.

EZTEC informou que BlackRock atingiu participação acionária de 5,18% na companhia. Segundo o último formulário de referência, de 31/5, gestora não detinha participação relevante na empresa.

VAMOS informou que a FMR LLC atingiu o total de 55.336.195 ações ordinárias, passando a deter 5,01% do total desta classe de ações emitidas pela empresa.

ZAMP. Ariel Grunkraut deixará cargo de diretor-presidente no dia 28/6; companhia não informou o substituto.

DASA. Citi tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 5. A empresa Ímpar, fruto da combinação das operações de hospitais e oncologia de Dasa e Amil, deve se beneficiar com sinergias naturais de escala, diz o banco.

AUREN/AES. A Superintendência Geral do Cade aprovou, sem restrições, proposta de combinação de negócios.

ASA INVESTMENTS. Fabio Kanczuk assume como novo diretor. Jeferson Bittencourt chefiará a área econômica. Marcio Fontes deixou a gestora. Em seu lugar, como chefe da área de multimercados, assume Filippe Santa Fé.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

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