Morning Call

Risco de shutdown nos EUA é afastado

Atualizado 27/09/2023 às 01:37:43

Por Rosa Riscala e Mariana Ciscato*

[27/9/2023]

… Um acordo “temporário”, que prorroga até meados de novembro o financiamento do governo dos EUA, foi alcançado, ontem à noite, entre democratas e republicanos, afastando o risco de shutdown já a partir deste domingo, dia 1º. A ameaça de paralisação era apenas um dos fatores que pressionam os mercados externos e contagiam os ativos domésticos, junto com a expectativa de juros elevados por longo tempo e a crise na China. Aqui, também voltam a pesar as incertezas fiscais, com a proposta da Fazenda de quitar os precatórios com crédito extraordinário e as dificuldades da pauta no Legislativo. Hoje, isso deve ser assunto de Campos Neto em audiência na Câmara (9h). No fim da tarde (17h30), o presidente do BC se encontra pela primeira vez com Lula.

… Haddad estará junto com RCN na conversa com o presidente, que, até aqui, só se refere a ele como “aquele cidadão”.

… Durante o dia, o ministro da Fazenda tem uma agenda cheia, com vários encontros políticos, reassumindo a articulação direta para dar ritmo ao que não está andando bem no Congresso, como a reforma tributária, que vai atrasar no Senado.

… Nesta 3ªF, o mercado, que já vinha pesado principalmente pelo clima ruim no exterior, piorou nos últimos minutos com notícias de que o relator da reforma tributária no Senado, Eduardo Braga, não vai entregar seu texto na semana que vem.

… Braga alegou problemas pessoais, como um acidente que sofreu, mas também citou pressões políticas. Segundo ele, ainda falta acertar os ajustes que fez no parecer com a Câmara, para onde a matéria pode voltar se for modificada pelos senadores.

… O cronograma de entrega do relatório estaria mantido para até o final de outubro, pelo menos no dia 20. Resta saber quando será a votação, uma vez que o mês de novembro possui dois feriados (nos dias 2 e 15), que podem atrasar as discussões.

… O encontro de Haddad com Eduardo Braga será no início da noite, após reuniões com relatores de outras matérias importantes para a equipe econômica, como do projeto da LDO, da Lei Orçamentária e do programa Desenrola.

… Para o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias, deputado Danilo Forte (União), que analisa o Orçamento/24, o compromisso de zerar o déficit é “quase impossível”. “Ou o governo terá que cortar despesas, ou aumentar a arrecadação ou mudar a meta.”

… O governo também está preocupado com o prazo apertado do programa Desenrola, já que a MP perderá a validade se não for votada até o dia 3 de outubro, próxima 3ªF. O texto está no Senado. Se for modificado, terá que voltar à Câmara.

CAIU MAL – O governo sugeriu uma “prática contábil heterodoxa” ao propor alteração no modelo de pagamento de precatórios, afirmou o economista-chefe da Ryo Asset, Gabriel Leal de Barros, ao Broadcast.

… Especialista em contas públicas, ele está convencido de que o objetivo é abrir espaço fiscal para mais gastos nos próximos anos. “Não dá para ser ingênuo: tem o objetivo de abrir espaço fiscal no orçamento, se não for em 2024, em 2025 e 2026.”

… Segundo Barros, a proposta viola a prática de pagar precatórios como despesa primária, adotada no País há mais de 30 anos.

… Na sua avaliação, “isso vai criar uma confusão na contabilidade pública e dificultar que os agentes econômicos acompanhem a posição fiscal do governo, o que pode resultar em aumento dos prêmios de risco”.

… Quanto ao impacto fiscal, acredita que possa chegar a R$ 25 bilhões no ano que vem.

MAIS CRÉDITOS EXTRAORDINÁRIOS – Nesta 3ªF, a CMO aprovou projetos que abrem créditos extraordinários de R$ 2,25 bilhões no Orçamento deste ano. A liberação dos recursos ainda precisa passar pelo plenário do Congresso.

… O projeto de maior impacto libera R$ 1,3 bilhão para as pastas da Agricultura, Educação, Minas e Energia, Saúde e Integração e Desenvolvimento Regional. Outro projeto libera R$ 129,9 milhões para acabar com as filas da Previdência Social.

REPATRIAÇÃO – No Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou ontem o projeto de lei do novo Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT), a chamada repatriação de ativos.

… O texto estabelece que o Imposto de Renda devido terá alíquota de 14% e deverá ser aplicada uma multa de 90% sobre o valor devido. Como tem caráter terminativo, o texto vai à Câmara, a menos que haja recurso ao plenário.

… Inicialmente, o relator, Renan Calheiros (MDB), chegou a cogitar multa de 165%. Depois, reduziu o valor para 140%. A quantia caiu mais na reta final das discussões para viabilizar a aprovação do texto.

… O objetivo é estimular a regularização de bens não declarados no exterior, com aumento da arrecadação. Em 2016, com alíquota de 15% e multa de 100%, a repatriação foi de R$ 170 bilhões e o impostos, de R$ 50,9 bilhões.

REBELIÃO – Na Câmara, a bancada ruralista reagiu ao julgamento do marco temporal no STF e iniciou obstrução. Deputados planejam não marcar presença no plenário e em nenhuma comissão para impedir quórum.

SEM CAVALO DE PAU – Numa referência ao ceticismo de economistas sobre o cumprimento da meta do ano que vem, de zerar o déficit primário, o presidente Lula reforçou as promessas do governo na área econômica.

… Dizendo que “ninguém vai dar cavalo de pau na economia”, afirmou que o foco continuará sendo a população mais pobre.

… “Todo mundo será tratado com muito respeito, mas as pessoas mais necessitadas e trabalhadores terão atenção especial.”

MAIS AGENDA – Saem aqui a nota do BC de crédito em agosto (8h30), o relatório mensal da dívida do Tesouro no mês passado (14h30) e os dados semanais do fluxo cambial (14h30), em semana de formação de ptax.

LÁ FORA – O dia começa com a confiança do consumidor da Alemanha (3h) em outubro. Nos EUA, os estoques de petróleo do BoE (11h30) têm previsão de queda de 600 mil barris. Ontem à noite, o API reportou +1,6 milhão.

SÓ RUÍDOS – Ao clima pesado do exterior (com a China e o Fed), somou-se ontem o estresse doméstico, com rumores de pressão política na Petrobras e a notícia de que a tramitação da reforma tributária vai atrasar.

… Além disso, a ata do Copom e o fôlego dos serviços no IPCA-15 não deram espaço para o investidor sonhar com corte de 0,75pp na Selic e houve ainda desconforto com o desejo do governo reclassificar os precatórios.

… O Ibovespa queimou 1.700 pontos de uma só vez, o dólar quis encostar nos R$ 5 e a curva do DI saltou.

… O índice à vista da bolsa doméstica (-1,49%) engatou o quarto pregão seguido de queda, entregou os 115 mil pontos e não ficou longe de furar os 114 mil (114.193,43), rodando nas mínimas em três meses, desde junho.

… O volume financeiro somou R$ 22,9 bilhões e apenas dez ações subiram no Ibovespa no pregão de ontem.

… Não foi o caso de Petrobras, que fechou nas mínimas do dia (ON, -2,76%, a R$ 36,35; e PN, -2,31%, a R$ 33,46), abalada por rumores de reunião entre Prates e Lula esta semana, o que levantou a bola de ingerência.

… A estatal se vê cada vez mais pressionada a reajustar os combustíveis, com a escalada do petróleo rumo a US$ 100, e o mercado teme que o Planalto queira interferir para evitar o desgaste da gasolina e diesel mais caros.

… Após uma pausa recente no rali, a commodity voltou a subir, às voltas com a extensão dos cortes dos sauditas e russos. O Brent/dez ganhou 0,72%, a US$ 93,96, e o WTI/nov (+0,79%) retornou à faixa de US$ 90 (US$ 90,39).

… Ainda entre as commodities, o minério de ferro, que até bem recentemente vinha se entusiasmando com os estímulos na China, agora resgata os receios de que a crise imobiliária comprometa o crescimento econômico.

… Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman disse ontem, em evento no Rio, que o tempo de “crescimento heroico da China acabou”. A S&P Global cortou a projeção do PIB chinês no ano de 5,2% para 4,8%.

… Diante do agravamento dos temores, o minério caiu mais 1,64% e levou a Vale junto (ON, -1,56%, a R$ 65,56).

… O ambiente de risk-off também desencadeou vendas nos bancos, que caíram em bloco: Itaú (-1,48%; R$ 26,60), Bradesco ON (-1,45%; R$ 12,27), BB (-1,42%), Bradesco PN (-1,06%; R$ 13,96) e Santander (-0,73%).

… A sessão também foi desfavorável para as varejistas, que se destacaram entre as maiores perdas, diante da pressão nos juros futuros. Petz recuou 5,60%, Pão de Açúcar caiu 5,10% e Lojas Renner perdeu 4,64%.

… Mas Natura subiu 0,52%, com o BB Investimentos elevando a recomendação do papel de neutra para compra.

… Ainda entre as altas isoladas do dia, o papel da BRF (+2,79%) ficou no topo do ranking, influenciado pela notícia de que a Marfrig (+0,29%) passou a deter 40,0529% do total das ações de emissão da companhia.

… Também agradou ao mercado o anúncio de troca de CFO da Eletrobras (PNB, +1,88%; e ON, +0,92%).

… Elvira Baracuhy Cavalcanti Presta renunciou ao cargo de vice-presidente Financeira e de RI da companhia. Em razão disso, o conselho de administração elegeu Eduardo Haiama como novo vice-presidente da Eletrobras.

FLERTANDO COM O PERIGO – Uma briga interessante se observou no câmbio ontem, quando o dólar atraiu vendas ao se aproximar dos R$ 5, mas acionou compras em R$ 4,95, sinalizando que o piso é mais em cima.

… A corrida global pela moeda americana, puxada pela perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos EUA, elevou a barra do dólar (+0,42%, a R$ 4,9871) e depreciou o real nesta 3ªF para as mínimas em três meses.

… A resistência psicológica dos R$ 5 foi respeitada – só não se sabe por mais quanto tempo, porque já ontem mesmo o dólar rompeu R$ 4,99 na máxima (R$ 4,9936) e tem menor margem de alívio com o Fed hawkish.

… Como disse Galípolo, em evento ontem na FGV, o real é uma moeda de “carry trade” e a queda do diferencial de juros entre emergentes e países desenvolvidos gera um debate sobre o impacto para a economia doméstica.

… No câmbio futuro, o contrato do dólar para outubro registrou valorização de 0,39%, para R$ 4,9915.

… Nos últimos minutos do pregão, o recuo de Braga sobre o cronograma da reforma tributária no Senado colocou maior pressão nos negócios e levou a curva do DI a acelerar o ritmo de alta, embutindo prêmio de risco.

… Na reta final, houve movimento de zeragem de posições vendidas (stop loss). Mas a disparada dos juros futuros já se desenhava desde cedo, quando o mercado olhou para a ata e para pontos de pressão no IPCA-15.

… A prévia da inflação de setembro (+0,35%) veio abaixo da mediana das apostas (+0,37%), mas os serviços subiram de 0,13% para 0,53% e a desaceleração dos serviços subjacentes (4,5% para 3,8%) foi considerada lenta.

… O Barclays baixou a projeção do IPCA/23, de 5,1% para 4,9%, após a queda da alimentação no domicílio (-1,89%), mas o banco avaliou que a dinâmica de curto prazo é insuficiente para um recuo mais firme da Selic.

… De seu lado, a ata do Copom confirmou o comunicado, endossando cortes de meio ponto da Selic até dezembro e tirando 0,75pp do radar. Mas o teor do documento gerou debate sobre o juro terminal.

… No trecho da ata sobre extensão do ciclo de cortes, o Copom defendeu a “necessidade da política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante” e reiterou o “firme compromisso com a convergência à meta”.

… Jogando com as incertezas, o BC puxou para os dois dígitos (10%) a precificação na curva do DI da Selic no fim do ciclo, que chegou a cair abaixo de 9% semanas atrás, quando se duvidava da maior agressividade do Copom.

… Cálculos ao Broadcast do economista-chefe do BMG, Flávio Serrano, indicam que o DI praticamente tirou de cena a esperança de o juro cair 0,75pp nas próximas reuniões até janeiro. Esta probabilidade se limita a 10%.

… No fechamento, o contrato DI para jan/24 subiu à máxima de 12,265% (contra 12,254% na véspera); jan/25 saltou para 10,790% (de 10,575%); jan/26, 10,610% (de 10,332%); e jan/27 avançou a 10,885% (de 10,624%).

… O jan/29 fechou no pico do dia, a 11,470% (de 11,204%), e o jan/31 arrancou até 11,760% (de 11,510%).

SEM FREIO – Nada segura os juros dos Treasuries, que estão achando que recordes existem para serem batidos.

… O retorno da Note-10 anos voltou à barreira de 4,550%, contra 4,537% na véspera, e a taxa do T-Bond de 30 anos superou a marca de 4,7% pela primeira vez em mais de 12 anos no intraday e fechou a 4,688%, de 4,666%.

… Já o rendimento do título do Tesouro americano de 2 anos avançou a 5,140%, contra 5,114%. No dia nervoso, o indicador VIX de volatilidade (“índice do medo”) chegou a saltar quase 20% no pregão. Fechou em +12%.

… O combo de fatores negativos incluiu dados ruins sobre a atividade nos EUA, perspectiva de juros altos por mais tempo, receios com a economia da China e o risco de shutdown, que à noite parece ter sido contornado.

… A forte queda da confiança medida pela Conference Board, de 108,7 para 103 em setembro, e o recuo bem maior (-8,7%) que o esperado (-2%) nas vendas de moradias novas em agosto aumentaram a cautela em NY.

… As preocupações também foram acentuadas pela posição mais conservadora do Fed, depois de mais um integrante (Neel Kashkari) ter defendido nova alta no juro e manutenção em nível elevado por mais tempo.

… O sentimento hawkish ampliou a alta do dólar contra as moedas rivais. O euro caiu 0,19%, para US$ 1,0569, a libra esterlina recuou 0,44%, a US$ 1,2159, e o iene (-0,12%, a 149,04/US$) atingiu mínimas em quase um ano.

… A divisa japonesa sofre em dobro: pelo Fed mais agressivo e pelo BoJ, que não cansa de ser dovish.

… Dominadas pela aversão a risco, as bolsas em NY foram mal. O Dow Jones (-1,14%, a 33,618,62 pontos) teve a pior perda diária desde março. O S&P 500 recuou 1,47% (4.273,51 pontos) e o Nasdaq caiu 1,57% (13.063,61).

… O setor de tecnologia potencializou as perdas. Amazon afundou 4,03%, após a Comissão Federal de Comércio ter entrado com ação judicial contra a empresa, acusada de monopólio. Microsoft cedeu 1,7% e Alphabet, -1,9%.

… As ações das montadoras também foram mal: GM perdeu 2,42% e Ford, -1,19%. Em movimento sem precedentes na história americana, Biden aderiu à greve dos trabalhadores e disse que merecem aumento significativo de salário.

EM TEMPO… CPI que investigou o rombo bilionário da AMERICANAS terminou com aprovação de relatório considerado inconclusivo por deputados, sem apontar culpados, por 18 votos a favor e 8 contrários ao texto.

BR PARTNERS. Follow on saiu a R$ 12,75/unit, desconto de 7,6% s/ fechamento de ontem… (fontes do Valor)

… A oferta, que foi exclusivamente secundária, movimentou R$ 214,5 milhões; demanda alcançou 3,2 vezes, mas lote adicional não foi colocado.

CCR celebrou novo aditivo ao contrato de concessão entre sua controlada VLT Carioca e o município do Rio.

NEOENERGIA finalizou contrato de permuta com Eletronorte envolvendo Energética Águas da Pedra – EAPSA (UHE Dardanelos) e Usina Hidrelétrica de Teles Pires.

AOS ASSINANTES DO BDM, BOM DIA E BONS NEGÓCIOS!

*com a colaboração da equipe do BDM Online

AVISO – Bom Dia Mercado, produzido pela Mídia Briefing, não pode ser copiado e/ou redistribuído.

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